Gone Girl – Garota Exemplar
Excelente. [O TEXTO CONTÉM SPOILERS]
Há muito tempo que eu não via um filme de suspense
tão intenso, com uma trama tão amarrada de nos deixar apreensivos do começo ao
fim. De nos deixar sair do cinema embasbacados, cheios de comentários que
queremos fazer com quem quer que tenha assistido conosco. Baseado no livro
homônimo de Gillian Flynn, a história é surpreendente. Sabe aquilo que o
trailer te mostrou? Esqueça. Foi bastante útil para nos chamar às salas de
cinema, e eu agradeço imensamente os editores por não terem estragado a
surpresa de assistir ao filme, mas ele é realmente muito mais profundo e
complexo do que o trailer nos quer fazer acreditar.
Estrelado por Ben Affleck e Rosamund Pike, o filme
conta a história do desaparecimento de Amy Elliott-Dunne. Amy e Nick parecem
levar uma vida muito comum, quase perfeita – com bonitos aniversários de
casamento, por exemplo. Até que, no quinto aniversário, Amy desaparece. O que
aparentemente é um seqüestro, devido às mesas viradas na sala de estar, o ferro
de passar ainda ligado, e uma pequena marca de sangue na cozinha, se revela
algo muito maior do que isso. Durante as investigações, marcas do sangue de Amy
são encontradas no chão da cozinha, e a desconfiança de um homicídio é a crença
que prevalece… e Nick se torna o principal suspeito do crime.
O que mais me interessa no filme é a maneira como
a história é contada. Através de flashbacks
ligados à investigação, a história vai se desenrolando sem que tenhamos um
panorama completo, e estamos uma hora acreditando em uma coisa, e muito
depressa acreditando em outra. Passamos da raiva de um personagem ao outro
muito depressa. A fantasia dos primeiros anos perfeitos chega a ser
angustiante, os presentes de casamento, e as primeiras crises que acompanham a
perda dos dois empregos, a mudança de cidade, a traição de Nick… e tudo é
meticulosamente calculado para que ela aparente medo do marido: a briga na
beira da escada, o anseio por comprar uma arma de “Dia dos Namorados”, o medo
de que aquele homem “poderia me matar”.
Tudo muito bem articulado.
Filha de famosos escritores, Amy apresenta um
talento muito maior do que os pais para a escrita. Enquanto toda a investigação
vai acontecendo, pensamos conhecer Nick e chegamos a julgá-lo, uma trama muito
mais surpreendente se desenvolve. Filho para segurar um casamento? Isso é coisa
do passado! O que não faz uma mulher traída? Eu adoro toda a discussão de
sociopata/psicopata. Porque é isso que querem que acreditemos quando vemos o
filme: que o Nick é um sociopata, quando na verdade sua mulher é uma psicopata
em todas suas características: a meticulosidade de pensar em todos os detalhes,
a frieza com que age, a capacidade de nunca ser descoberta. Tudo é
incrivelmente surpreendente, mas é o que torna o filme realmente valioso.
Porque não é um simples caso de desaparecimento
que precisa ser investigado. Não é o caso de um marido, culpado ou não,
tentando provar sua inocência. Não é nada disso. As narrações do diário são
profundas, a voz de Amy nos envolve, e quando todo o plano é desvelado, nós
realmente ficamos surpreendidos. Inicialmente eu realmente gostei da maneira como ela fez tudo, por mais doentio que isso
pareça – mas eu admiro sua capacidade de planejamento, isso sem dúvida. E então
eu não sabia mais para onde estávamos indo, quais eram os planos a longo prazo
de Amy, como aquilo tudo terminaria enquanto ele continuava oficialmente
preocupado com a mulher, mas na verdade quase aliviado que ela tivesse ido
embora.
E tudo se torna incrivelmente doentio. Passamos,
inesperadamente, a torcer por Nick, e a sentir medo de Amy. Sério, eu não
assisti Anabelle, e eu quase acho que
eu fiquei com mais medo de Amy do que eu ficaria da novela – graças àquela
mente psicótica. As coisas vão se tornando previsíveis próximas ao fim, e
sabemos exatamente o que ela está planejando, o que não torna as cenas menos
chocantes – a despedida de Neil Patrick Harris do filme, por exemplo, foi
angustiante. E o filme passava as emoções com uma intensidade incomparável,
pois não estávamos nos contendo nos comentários, nas risadas nervosas, no roer
de unhas… sorrindo satisfeitos com a maravilha de filme que estava chegando ao
fim, mas horrorizados com os atos daqueles personagens.
Um fim angustiante, exatamente como todo o desenrolar
do filme. Um medo profundo de dormir com a porta aberta, de andar pela casa…
Ben Affleck não é meu ator favorito nem nada, mas ele interpretou muito bem.
Mas a grande surpresa fica para Rosamund Pike: QUE INTERPRETAÇÃO FASCINANTE!
Ela nos convenceu em todas as facetas da personagem: uma doce mulher no começo,
uma mulher traída e vingativa depois, uma psicopata aterrorizante por fim. Seus
olhares, sua projeção de voz… tudo, no fim, nos amedrontava, e ela fez isso
muito bem. Eu acho que todo mundo deveria assistir a esse filme, independente
de gostar ou não do gênero. Eu assisti esperando algo incrível por causa das
críticas, mas ainda assim eu consegui me surpreender. Porque a complexidade da
trama me deixou embasbacado.
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