Mockingjay, Part 1 – A Esperança, Parte 1


Que filme sensacional. Também escuro e profundamente melancólico.
A grande revolução contra a Capital quase atinge seu ápice, e o teria feito caso o filme não tivesse sido dividido em duas partes, como todos decidiram fazer nos últimos anos. Em uma sessão de pré-estréia, lotada em duas salas de cinema, às 00h01, podemos ver o Tordo se erguendo, levantes por toda a Panem, e uma revolução contra a Capital. Katniss Everdeen assume sua posição como símbolo da revolução, enquanto Peeta Mellark está prisioneiro, sendo torturado e forçado a fazer vídeos contra a revolução. Tudo se encaixa na brilhante narrativa criada por Suzanne Collins, e o mundo distópico dessa Panem destruída é novamente trazido com maestria às grandes telas de cinema. Uma visão capaz de nos deixar embasbacados, tremendo, angustiados.
Tudo bem que eu sabia o que ia acontecer, mas nada inibe a emoção do momento.
O filme se inicia com Katniss Everdeen já no Distrito 13, depois dos eventos catastróficos que acabaram Em Chamas abruptamente, nos deixando com um monte de perguntas não respondidas, dentre as quais a principal parecia ser: onde está o Peeta? O Distrito 13, conforme o filme se preocupa em explicar, mas faz isso de maneira extremamente rápida para não perder seu ritmo, foi supostamente destruído na Guerra contra a Capital, 75 anos atrás – mas sendo eles a força militar da Capital, eles se esconderam no subsolo, e sobreviveram desde então, sem jamais parar de se preparar para uma luta. E Katniss e Peeta, ao se levantarem, de certo modo, contra as normas nos 74ª Jogos Vorazes, começaram a lhes dar material suficiente para uma revolução.
Levantes começam por toda a Capital, e temos flashes interessantíssimos nos outros lugares. Temos cenas chocantes que se passam em outros Distritos. O Distrito 12 destruído nos causa angústia, um certo nojo, e ver a casa dos Vencedores quase intacta, com uma rosa branca na mesa. Aquilo me deu calafrios! Depois temos o terrível momento do Distrito 8, com aquele hospital tão comovido em ver Katniss ao seu lado, para quem ela promete que vai lutar. E o símbolo do Distrito 12 feito em todos os lugares, assim como o Tordo simbolizando a luta. Por fim, o Distrito 5, naquela tentativa de diminuir as forças da Capital, destruindo a Hidrelétrica que lhes proporcionava energia elétrica, o que aparentemente os derruba temporariamente, permitindo mais ações rebeldes.
Mas o foco todo está em fazer a revolução crescer. Ela já nasceu, isso é evidente e incontestável por causa de todos os levantes – e essa mentalidade crítica que quer uma mudança. Katniss agora precisa se tornar o símbolo, o Tordo, e dar voz a essa revolução. Mas diferentemente dos outros dois filmes, nos quais ela está forte e sempre com uma presença impactante, dessa vez parece que ela está sentindo a morte de Rue em todos os momentos. Ela está naquele desespero do primeiro Jogos Vorazes, quando a garota foi assassinada. É desesperador ver essa aparente “fraqueza” de Katniss, a maneira como ela tenta saber quem ela é, onde ela está… como sonha com Peeta e os momentos de segurança ao seu lado, como ela sussurra por ele, ou como chora, ou como seus olhos vidrados são realmente desesperadores.
Tudo isso nos comove.
E vê-la se tornar o Tordo é um processo lento e complicado. Ela não quer ser o Tordo, e não tem nenhum motivo para realmente o ser. É interessante vê-la aceitar qualquer coisa apenas pelos outros. Foi para salvar Prim que ela se voluntariou a entrar nos Jogos Vorazes. É para salvar Peeta que ela aceita ser parte da revolução. E posteriormente para salvar toda uma nação abusada pela Capital, após ver o bombardeio ao Distrito 8, que é realmente no mínimo revoltante. E sim, ela assume o seu papel de Tordo, nas vestes desenhadas por Cinna, em vídeos intensos que não são mais falas decoradas, mas verdades ditas em momentos de angústia, como o belo discurso do Distrito 8.
“Se nós queimarmos, você queimará conosco” – a cena das árvores depois!
Todo o filme está sendo guiado incrivelmente bem, como os dois primeiros, e uma transcrição precisa da obra de Suzanne Collins, uma adaptação perfeita de se tirar o chapéu. De aplaudir. Interpretações impressionantes de todos os atores que sustentam esse filme, que transmitem emoção e que nos fazem acreditar na revolução – Peeta com aqueles terríveis vídeos da Capital, vídeos em que coisas absurdas são ditas, vídeos nos quais ele apresenta uma aparência cada vez mais acabada, que nos fazem pensar o que está acontecendo com ele na Capital. Finnick Odair, infelizmente tão apagado nesse filme, mas que transmitiu a dor e o sofrimento de perder Annie. Gale, cada vez mais determinado a participar dessa guerra. E por mais que o filme tenha sido muito maior, criando toda uma organização e uma guerra, o filme foi da Jennifer Lawrence. Parabéns garota.
O final, bem… o final. Daquele jeito angustiante que sabíamos que teríamos. Embora eu achei que fosse acabar naquela ótima cena da bandejada, sem que explicassem o tele-sequestro e isso tudo. Ficou tudo incrível. Foi chocante ler o retorno de Peeta no livro, foi ainda mais chocante assistir. Eu estava tremendo, com o coração disparado, suando frio – e aquele momento de esperança despedaçada, de expectativa que não se concretiza, é frustrante. Os olhos de Peeta e Katniss, a alegria dela por ele estar ali, e ele tenta matá-la… foi forte, foi angustiante, e eu estava em estado de pânico. Foi tudo muito intenso, muito bem construído, e agora esperamos para ver a segunda parte, que explica isso tudo melhor, e trabalha em cima dessas possibilidades todas. Um filme que será ainda mais revoltante, porque a guerra é repleta de coisas absurdas que nos fazem questionar o nosso próprio mundo e pensar em política… aquele que está se levantando contra um sistema não pode ser tão ruim quanto ele?
QUE VENHA A SEGUNDA PARTE!

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