O Teorema Katherine (John Green)
Quando se
trata de garotas (e, no caso de Colin, quase sempre se tratava), todo mundo tem
seu tipo. O de Colin Singleton não é físico, mas linguístico: ele gosta de
Katherines. E não de Katies, nem Kats, nem Kitties, nem Cathys, nem Rynns, nem
Trinas, nem Kays, nem Kates, nem – Deus o livre – Catherines.
K-A-T-H-E-R-I-N-E. Já teve dezenove namoradas. Todas chamadas Katherine. E
todas elas – cada uma, individualmente falando – terminaram com ele.
Uma prova da genialidade de John Green ao escrever
uma obra absurdamente complexa repleta de matemática tentando explicar uma
coisa muito natural do ser humano: o amor. E, mais do que isso, o fracasso de
tantos relacionamentos. John Green cria uma história um tanto quanto nerd, mas ao mesmo tempo tão fofa e
apaixonante, que nosso sentimento é muito confuso. Eu adoro a peculiaridade de
sua escrita, todos os mínimos detalhes, e todos os absurdos que devem ter
demorado horas de planejamento, mas também adoro o clima leve, o romance adolescente,
e tão bonita amizade que ele sabe retratar tão bem…
E resumindo, John Green é o homem da minha vida.
Vide isso: “Daniel
é mundialmente famoso nos círculos especializados, um pouco por causa de um
artigo que publicou há alguns anos que, aparentemente, comprova que os círculos
são basicamente triângulos gordos e inchados”, enquanto ele explica o
apêndice prometido, repleto de matemática, que ele deixou de lado durante o
livro [mais ou menos], para “não chatear aqueles que não entendem ou não gostam
muito de matemática”. Só ele para escrever uma coisa dessas… é tão gostoso ler
o que ele escreve, tudo, absurdamente tudo. Vê-lo em seu livro, ou nessa fala
que é realmente dele. Me sinto mais ou menos como Hazel Grace escrevendo para
Peter van Houten: “Eu leria até a sua
lista do mercado!”
O Teorema
Katherine é a história de Colin Singleton, um menino prodígio meio que em
crise existencial: ele acha que sua oportunidade de se tornar um gênio e “ser
importante no mundo” já passou, e ele está velho demais para isso. Até que ele
finalmente tem seu momento eureca: e
se ele pudesse criar uma fórmula matemática que pudesse prever qualquer
relacionamento amoroso entre duas pessoas? Ele tem certa experiência nisso,
afinal namorou dezenove Katherines, e todas elas [?] terminaram com ele. Não
existiria, então, um padrão que pudesse ser estudado, para que os
relacionamentos futuros fossem previstos de acordo com a razão?
Depois do fim do relacionamento com a Katherine
XIX, ele e Hassan saem em uma road trip,
como elas devem ser: aproveitam as férias de verão, entram no carro [o Rabecão
do Satã] e começam a andar sem destino – até que acabam atraídos pelo túmulo do
Duque Francisco Ferdinando, conhecem Lindsey, e acabam se estabelecendo no
interior do Tennessee, GUTSHOT! Ironicamente Lindsey já tem namorado, também
chamado Colin, e morando na casa dela com sua mãe, trabalhando em um emprego
inusitado por um bom salário, Colin começa a desenvolver o Teorema Fundamental
da Previsibilidade das Katherines.
E dá certo!
Mais uma obra deliciosa de se ler do começo ao
fim. A escrita de John Green é profundamente interessante, e dessa vez ele traz
Hassan como um personagem árabe, que dá um tom bem diferente dos seus outros
livros – repleto de ironia, como sempre, temos brincadeiras com vários idiomas,
e interessantíssimas e inusitadas notas de rodapé (num total de 87), que são
profundamente engraçadas. Podem ser informações pertinentes que são importantes
para a história, algumas curiosidades impensadas sobre gente famosa, ou apenas comentários
sobre o que está acontecendo que realmente valem a pena. O que torna a leitura
bem diferenciada, e bacana. Esse é o humor que ele explorou nesse livro.
Além de toda a brincadeira de John Green
linguisticamente falando – não apenas na matemática ele se aventura nessa obra,
bem como no mundo dos anagramas, um dos temas que mais me fascinam na
humanidade. Não tenho a habilidade nata de Colin Singleton para fazer anagramas
tão bons e tão depressa, mas eu enalteço o trabalho de Green por ter criado coisas
tão geniais e tão interessantes, bem como o trabalho de Renata Pettengill, a
tradutora, que teve a difícil missão de criar anagramas aceitáveis na língua
portuguesa, através de um original já anagramatizado, sem perder o sentido da
palavra original, nem a intenção dos anagramas, e dos “favoritos” de Colin.
GENTE, COMO ELA CONSEGUIU?
E a super frase com os primeiros 99 dígitos de PI?
Curiosidade para ver a original.
Sem contar, é claro, com o FUGGING! Infelizmente
essa é uma sutileza da língua inglesa que vai passar despercebida pelos não
falantes do idioma, ou que não tem pelo menos uma noção básica. Fucking é uma palavra amplamente usada
em inglês, de tantas maneiras diferentes, que realmente não tinha como
adaptá-la bem o suficiente para o português – porque ela é muito geral! Nosso
cérebro automaticamente faz a substituição de fugging para fucking,
imaginando a frase toda em inglês, e como aquilo faz perfeito sentido ainda com
uma pitada de humor que vale muito a pena. Portanto, fica maravilhoso ver Lindsey
Lee Wells usar a expressão pela primeira vez… que cena mais bonita!
Foi um trabalho árduo. Não conseguimos imaginar
John Green sentando-se para escrever O
Teorema Katherine com facilidade. Não me entenda mal, NENHUM livro é
escrito com facilidade, e eu sei disso, mas a complexidade escolhida pelo autor
nessa obra é enaltecedora. Todo o raciocínio matemático, as piadas repletas de
pesquisas, as informações úteis ou no mínimo curiosas.
Sabe o que resume meu sentimento pelo livro? “10-5 espaço 16-5-14-19-5 espaço 17-21-5
espaço 10-5 espaço 20-1-9-13-5”
Adorei o cavalo de Lindsey Lee Wells que se
chamava Hobbit, e Hassan pelo seu Diário do Capitão – “Diário do Capitão. Data estelar 9326.5. A caça ao javali é algo
inacreditavelmente entediante. Acho que vou tirar uma soneca e confiar ao meu
brilhante companheiro vulcano a tarefa de me avisar se algum javali extremamente perigoso aparecer por aqui”. Amo o
Hassan por suas piadas e seu senso de humor que parece nunca, nunca,
desaparecer, amo a Lindsey por sua humanidade e sua simplicidade, e amo a
amizade que Colin tem com essas pessoas, o amor tão incondicional que ele sente
por Hassan, mesmo não sabendo disso, e como ele é absolutamente fofo com
Lindsey. Admirável, no mínimo admirável.
Badalhoca.
As Katherines foram personagens superficiais
criadas por John Green muito mais para ilustrar o Colin do que elas mesmas –
porque nós não as conhecemos de fato, nenhuma delas, nem a Katherine I, mas
cada uma delas nos faz entender mais de Singleton, e é bom termos um capítulo
sobre todas elas. Sem contar que o final com Lindsey é ainda muito melhor,
naquela maravilhosa cena da caverna, absurdamente fofa que me fez suspirar.
Sim, me fez suspirar. Incrivelmente, o final do livro foi bastante previsível,
não nos deixou em nada surpresos, mas ainda assim era tudo o que queríamos. Era
exatamente o que queríamos. Foi bonito, foi fofo, foi reconfortante. Foi John
Green. E o bilhete depois dos 4 dias, quando supostamente a Lindsey deveria
terminar com ele de acordo com o Teorema? Quase morri de rir naquele momento!
O final é lindo. Simplesmente lindo. Deixando de
lado o Teorema Fundamental da Previsibilidade das Katherines, e se dando conta
que o futuro não pode ser previsto, Colin tem um BELÍSSIMO momento com Lindsey
e Hassan no Rabecão do Satã, e talvez só então eu tenha me dado conta do quão
apaixonado eu estava por esses três personagens, pela sua simplicidade, e pela
verdadeira interação e amor que eles têm um pelo outro. Foi bonito, foi natural
e foi inspirador. Fez com que eu me sentisse melhor, certamente… um final
revigorante e emocionante, com as bonitas palavras de sempre de John Green,
suas mensagens, e aquela dúvida: qual é o espaço entre o que lembramos e o que
aconteceu? E entre o que prevemos e o que vai acontecer?
E, maior do que isso, o que faremos com ele?
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