Hoje é dia de Maria, 1ª Jornada – Parte 1


Que fazer com essa sensação de melancolia que a série me deixa?
Hoje é dia de Maria é algo tão nosso – eu adoro como parece a representação de parte do povo brasileiro; toda a narrativa do sertão e do sertanejo, repleto de cantigas folclóricas típicas cantadas sem muita pretensão, que são perfeitamente comoventes. O estilo dessa bonita produção brasileira de 2005, baseada na obra de Carlos Alberto Soffredini tem a cara da literatura e o estilo do teatro. Tudo é muito bem feito, e um deleite aos olhos… belíssimos figurinos, e cenários que misturam estúdio com pinturas, fora os elementos teatrais tão presentes. Trata-se de uma melancólica história de uma garota que sofre eternamente – Hoje é dia de Maria é bastante forte e triste, e me deixa arrepiado tanto sofrimento e tantas lágrimas.
A série tem uma introdução bastante forte e um tanto revoltante: Maria é uma menina órfã de mãe que quase foi abusada pelo pai; ela também é seduzida com mel por uma viúva para que ela convença seu pai a casar-se com ela, e assim que ela o faz e o pai sai em uma viagem, a madrasta a maltrata de maneira horrível, por fim a enterrando. É tudo muito simbólico, como a madrasta apaga a vela que é a “alma” da Mariazinha, e Maria morre, e no lugar onde ela caiu, um capim muito verde cresce. Quando o pai retorna, ele escuta a cantoria da menina, e acaba a encontrando e a desenterrando, o que a traz de volta à vida. Depois disso, e as discussões do pai e da madrasta, Maria foge de casa em busca das franjas do mar, iniciando sua jornada.
Constança, meu bem, Constança.
Nesse caminho, a belíssima produção valoriza mais da cultura brasileira e ela anda por importantes contos, sempre demonstrando seu lindo coração em uma tentativa incessante de ajudar a todos. O homem com a perna machucada, ou mesmo o morto que volta a apanhar toda noite! Enquanto Maria caminha em busca das franjas do mar em um mundo que não conhece a noite, ela encontra pessoas importantes enquanto o pai busca pela filha. Uma das cenas de mais partir o coração é quando ela encontra aqueles que desistiram, que estão voltando. “Se a menina conseguir chegar ao mar, não se esqueça de quem se perdeu no caminho”. A menina também tem o constante amparo de Nossa Senhora da Conceição, o que concede bonitas cenas entre as duas, em contraponto às cenas cruéis que Maria presenciará, enquanto o Mal tenta lhe vencer. O caminho de Maria acaba se cruzando ao do demônio Asmodeu, quando ela descobre um grupo de crianças que são escravizadas pelo Diabo que lhes comprou as almas. A princípio, ela segue seu caminho sem ter o que fazer.
Que lindos olhos, que lindos olhos tem você.
Mas Maria conhece Zé Cangaia enquanto o demônio está tentando lhe comprar a sombra, e ela tenta impedir… sem qualquer sucesso, ela passa a andar com Zé Cangaia, em uma tentativa de reaver a sua sombra. Mesmo sem saber, é invocando o demônio que ela acaba salvando o próprio pai, e ganha de volta a sombra de Zé em uma das mais célebres cenas da série, quando ela e o demônio se desafiam, tanto com uma série de perguntas (que ela responde astutamente) quanto com uma competição de canto que eu acho fascinante. Irado por ter o seu caminho cruzado por Maria, o demônio Asmodeu lhe rouba a infância em uma cena bem forte e quase chocante, e é quando Maria acordará se dando conta que não é mais a Carolina Oliveira, mas sim Letícia Sabatella. A segunda parte nos revelará a identidade do Pássaro que a segue, e a perfeita finalização dessa obra que é um clássico brasileiro!

Sobre Carolina Oliveira: BELÍSSIMO TRABALHO! Dava para acreditar que ela só tinha 10 anos? Emocionando perfeitamente como Maria, com suas lágrimas, com seu jeito sertanejo de falar, com todo o sofrimento pelo qual a menina passa. Realmente, uma interpretação digna de aplausos. Com muita força, Hoje é dia de Maria se impõe como uma história séria, triste e belíssima! Tenho um livro da série que a define como uma “viagem, a um só tempo poética e trágica”. Não acredito que haja maneira melhor de defini-la.

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