Hoje é dia de Maria, 1ª Jornada – Parte 2
“Êta que lá no fundo, todo mundo sabe que não é a
espada, é a inocência que renova o mundo”
Que bela narrativa poética infelizmente chega ao
fim. Aquela vontade imensa de continuar acompanhando a jornada de Maria para
sempre, porque tudo é tão belo e tão incrivelmente bem produzido. De maneira
bonita e poética, a história da menina que saiu de casa em busca das franjas do
mar ganha uma nova perspectiva. E ao final temos mais do que uma representação
da cultura brasileira, de cantigas típicas do nosso folclore, de uma literatura
em forma teatral, temos uma bonita mensagem que nos arrepia, que nos deixa com
os olhos cheios de lágrimas. Tudo é muito bonito, do começo ao fim, mas o final
é ainda mais incrivelmente belo. Foi trágico e foi pesado? Parecia que sim, mas
a esperança e a inocência vencem por
fim.
Uma experiência sublime.
A primeira parte da versão resumida exibida no
especial Luz, Câmera, 50 Anos acabou
na terça-feira quando o demônio Asmodeu, revoltado com a maneira como Maria
conseguiu enganá-lo e reaver a sombra de Zé Cangaia, rouba da menina a sua
infância. É assim que, de uma hora para a outra, ela acorda e se vê adulta,
agora interpretada por Letícia Sabatella. “Mas
inda agora eu era menina”. Ainda estamos naquele mesmo mundo, naqueles
lindos cenários e figurinos belíssimos, mas a mudança é percebida fortemente em
Hoje é dia de Maria, que passa a
narrar um novo tipo de história. Letícia Sabatella e Rodrigo Santoro conferem
outra cara à obra literária e televisiva, uma parte da vida de Maria em que ela
descobre o amor, e luta por ele.
Teoricamente, parece uma parte mais simples da
história. Eu adoro essa segunda semana da série, mas ela parece bem mais
centrada em narrar a história de um amor impossível, e é bem diferente. Ao encontrar-se
grande, Maria se vê meio perdida de sua missão – e além de brincar com o
pássaro de lata que o seguiu desde a infância, ela vive uma história parecida
com a de Cinderela, até com a madrasta má e a irmã feia que vão a um baile na
corte. Os anos realmente se passaram, só não o foram vividos por Maria, e ela
dança com um príncipe um tanto macabro, perdendo seu sapatinho vermelho ao sair
desesperada do baile… e quase chega a se casar com o tal príncipe, não fora o
seu pássaro querido do lado de fora da janela, tentando desesperadamente
impedir que Maria fizesse aquilo, por amá-la tanto.
É então que Rodrigo Santoro é apresentado. Quando Maria
retira a flecha que lhe aflige, o pássaro se torna um homem amaldiçoado, que
volta a ser homem toda noite, mas vive uma vida condenada a passar os dias como
pássaro. Os dois vivem uma história de amor, enquanto o teatro garante andares
ao estilo de pássaro, e gritos desesperados. Tudo é muito bonito, e repleto de
intensidade. Tudo parece forte, impactante. O saltimbanco Quirino, apaixonado
por Maria e tentado pelo demônio, resolve prender o amor de Maria em uma
gaiola, de onde ele é liberado com a ajuda de uma amiga saltimbanco de Maria. Mas
mesmo depois dessa liberdade, o demônio resolve congelar tudo ao seu redor,
jogando sobre o mundo um inverno terrível…
As cenas do inverno são incrivelmente bem
produzidas. Além do visual ficar ainda mais belo, as coisas são bem filmadas. O
pai de Maria tem cenas importantíssimas. Depois de passar uma vida buscando a
filha e finalmente encontrá-la junto aos saltimbancos, ela lhe perde perdão, e
os dois compartilham uma bonita cena, logo após a qual ele diz que agora pode morrer em paz. E isso
acontece durante o inverno. Uma versão mais jovem dele mesmo vem lhe convidar a
sair, e então ele realiza sua passagem de maneira muito bonita e poética,
reencontrando Conceição, a mulher morta há tanto tempo, no lugar de seu
primeiro encontro. E os dois ficam juntos, sentados em um banco e comendo pão…
só dói ver Maria encontrando o pai morto. Aquilo parece um tanto desesperador.
Ainda nesse inverno, Maria encontra o seu amado
transformado em pássaro novamente, congelado e descobre que a chavinha que
carregara consigo, o seu tesouro, era a chave para seu coração. E faz de tudo
para descongelá-lo, para que eles possam estar juntos… juntos, quase felizes, o
demônio não vê outra alternativa para tirar essa sua nova felicidade: devolver-lhe
a infância.
O que eu acho que é perfeitamente cabível, e uma
maneira belíssima de terminar Hoje é dia
de Maria. Porque temos de volta o encanto de Carolina Oliveira
interpretando a Mariazinha – e ela é a cara dessa série! De maneira nenhuma
menosprezando o trabalho de Letícia Sabatella, que faz um belíssimo trabalho, a
interpretação de Carolina Oliveira é adorável. Ela convence em todos seus
momentos. Em sua emoção sem fim, nos seus sorrisos mais belos e bondosos, nas
lágrimas de puro sofrimento. E mesmo na intensidade das últimas cenas, quando
tem que enfim lutar de verdade contra o demônio para que ele possa deixar de
atormentá-la, e ela possa ser feliz em sua nova vida recém-descoberta. E a
maneira dela falar, e o figurino, a trouxinha às costas… e parece que esse
final, originalmente o capítulo 8, é perfeitamente intenso.
Emocionante, forte, amarrando tudo com perfeição e
cuidado.
Maria se vê novamente criança, e não sabe mais
onde está ou o que está acontecendo – meio perdida, ela pega sua trouxinha e
volta a caminhar. E em seu caminho, ela encontra novamente Zé Cangaia (linda
cena!), além da menina carvoeira, do homem dos olhos tristes que lhe ajudou em
toda a história do defunto que apanhava, aqueles que desistiram e não deixam de
caminhar e, por fim, aquele que estivera com a perna machucada na primeira
semana. Uma revisita a todos os elementos marcantes do começo de sua jornada,
de maneira breve e bonita, com centenas de mensagens emocionantes que nos
deixam arrepiados. Como o fato de ela deixar
saudade em todo lugar que passa, ou como foi Deus a recompensando por toda
a bondade de seu coração. Mas ainda assim ela senta e chora, porque percebe que
está retornando.
“E seja o
que Deus quiser. Espero que o pai não me bata muito por ter fugido de casa”.
E assim que ela chega em casa, ela percebe que as
coisas estão diferentes daquele horror que ela deixou para trás. O pai e os
irmãos estão trabalhando juntos, e a mãe continua ali, vivinha. O demônio, ao
devolver sua vida na ânsia de lhe separar de seu amor, devolveu sua infância antes da mãe morrer – o pai não se
largou ao álcool, os irmãos não saíram para trabalhar, e a madrasta não se
tornou parte de sua família. E ainda tem o ciganinho, um menino que vem
ajudá-los, futuramente seu amor, antes de ser amaldiçoado e virar pássaro de
lata. A maneira aflita como Maria chora nos braços da mãe, emocionada com tudo
que vê ali, é perfeitamente comovente. E nós ficamos felizes com a
possibilidade de que ela possa ser feliz dali em diante. Ela até encontra as
franjas do mar, em um belíssimo final repleto de esperança e de coração!
Belíssimo, simplesmente belíssimo. Uma obra-prima
para assistir inúmeras vezes.
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