On Broadway – Avenue Q – “Everything in life is only for now”
Except for death and paying
taxes.
Quando vamos falar sobre Avenue Q, eu gosto
sempre de relembrar: ele não é o que você pensa, se você não conhece o musical.
Como está avisado do lado de fora do espetáculo: “Esse show contém nudez
total de alguns fantoches”. Eu ADORO a ironia que guia todo o roteiro, as
músicas, os personagens... é a história dos moradores da Avenida Q, em Nova
York, cada um trazendo à tona temas muito pertinentes, muitas vezes tidos como
polêmicos (famosos tabus – como sexo, homossexualidade, racismo, pornô),
e o musical fala sobre isso despreocupadamente. Fazendo críticas, piadas, e
realmente abrindo nossos olhos para algumas coisas. E algumas atitudes. Mas
mais do que isso: eles revelam mesmo a natureza humana, nossos piores segredos
que temos vergonha de admitir: como o fato de que ver os outros mal nos deixa
felizes. É um musical completamente descarado, que fala o que quiser, como
quiser e quando quiser. E você se diverte e ri do começo ao fim! O tempo
inteiro.
Para ser um ator de Avenue Q, você realmente
precisa de muita coisa. O espetáculo em si exige demais dos atores, o que faz
com que gostemos ainda mais deles. A grande diferença e grande marca de Avenue
Q são, certamente, os fantoches. São vários fantoches no palco, enquanto os
manipuladores deles não estão escondidos como convencionalmente. Portanto o
ator ainda tem que interpretar ele mesmo o que ele está fazendo o boneco
interpretar. E eles contracenam com pessoas reais que são personagens por si
só, sem carregar fantoches. Toda essa dinâmica é bem interessante. E gera
momentos épicos como quando Kate Monster está discutindo com Lucy the Slut,
afinal as duas são interpretadas pela mesma atriz! O mesmo vale para quando Rod
e Princeton compartilham a mesma cena, embora eles tenham bem menos interação
entre eles. Mas o melhor: tanto Princeton e Rod quanto Lucy e Kate são
absurdamente diferentes um do outro; em tudo. Voz, personalidade... isso é o
mais interessante!
O grande destaque sempre fica para quem está
interpretando Princeton e Rod – dois papéis importantes no musical, e muito
diferentes entre si. Em Janeiro, assisti com Matt Dengler. E posso fazer um
comentário bem rápido: ele é lindo! Mas fora isso, o cara tem um talento
incrível, consegue interpretar tanto a fofura e incerteza de Princeton, como o
medo e tristeza de Rod. Princeton é um rapaz que acabou de se formar, chega a
Avenida Q, e não sabe o que fazer da sua vida – “Hey there! I'm Princeton. I just got out of college! I don't
really know who I am”. Ele está procurando um rumo em sua vida (“Purpose”).
Já Rod é um banqueiro que não quer admitir que é gay – “Good afternoon. My name is Rod. I love Broadway musicals, antique
shopping, and Hugh Jackman. I have a girlfriend in Canada, whom I love very
much. She's sooo hot”; nunca parei para uma análise tão profunda como o livro diz, de a forma retangular
de seu rosto ajudar a expressar sua rigidez e ansiedade, enquanto o tom de azul
claro mostra sua tristeza. É um ótimo personagem, um dos meus favoritos!
Já chorei com Fantasies Come True!
Depois, quem seria a segunda protagonista do musical é
Kate Monster. Assim como Lucy the Slut, ela é interpretada por Veronica Kuehn.
E eu também posso fazer comentários aqui: minha primeira reação foi de “que
cabelo é esse?”, acostumado com o cabelo como o da própria Kate aqui no Brasil,
mas depois eu gostei tanto da atriz, que achei o cabelo lindo! Ela é fofa, toda
bonitinha e bobinha, adorei. Kate é uma garota sonhadora, que trabalha como
professora e quer abrir uma escola especial para monstros e arranjar um
namorado – “Hello. I'm Kate
Monster. I'm a sweet girl who teaches kindergarten (sort of), is looking for
her soul mate, and just happens to be a Monster”. Tem alguns momentos muito marcantes como a engraçada e
quase romântica Mix Tape e There's a Fine, Fine Line, que é
realmente MUITO bonita, e me emociona toda vez que eu escuto. Já Lucy é uma famosa e sensual cantora de cabaret –
“Calling all studes, I'm Lucy the Slut. I'm the girl your mother warned
you about. So let's hang out together, baby. Just don't get all mushy, cuz I'm
into you for the short haul”.
Como ela interpreta diferente. E como soa em Special.
Incrível.
Para completar os personagens principais que estão em
fantoche, temos Nicky, que é o colega de quarto de Rod – “Howdy! I'm Nicky. I just like hangin' out, drinking beer, and
taking life as it comes. Can you spare a
quarter?” –, ele também tem certeza que o amigo é gay.
Rimos muito em If You Were Gay. Ele é interpretado por Jason Jacoby, que
também interpreta um dos Bad Idea Bears e o Trekkie Monster. Trekkie Monster é
um monstro recluso viciado em pornô – “Go away! Me Trekkie Monster. Me up all night honking me horn to
porn, porn, porn”. Aquela cena toda de The Internet is for Porn é
engraçadíssima, e levanta coisas que realmente não queremos admitir: e o pornô?
A interação com o público também está excelente!
Fora dos fantoches, temos Gary Coleman, interpretado
por Danielle K. Thomas, que é uma ex-estrela mirim, cujo dinheiro foi roubado
por seus pais; ela passa o musical inteiro com piadas em relação a isso, e ao
processo que infligiu a seus pais. Schadenfreude é um ensinamento seu,
bem como de que You Can Be as Loud as the Hell You Want (When You're Makin'
Love). Também temos Christmas Eve (sim, que nome é esse?), interpretada por
Grace Choi, que é uma das melhores coisas do musical! A terapista japonesa sem
clientes, que grita com o marido, tem discursos tão legais como em The More
You Ruv Someone, e geniais como o do bebê passarinho que é empurrado para
fora do ninho. E Brian, interpretado por Nick Kohn, que é um aspirante a
comediante sem sucesso na vida. Uma das minhas partes favoritas está na
Christmas Eve gritando “Get a job!” quando ele termina sua performance
de I'm Not Wearing Underwear Today.
Também temos Stacie Bono como outro Bad Idea Bear, e
Mrs. Thistletwat. E Lisa Helmi Johanson e Jed Resnick no Ensemble. Estou muito
feliz por ter visto essa produção de Avenue Q em Nova York, porque eu
estava muito curioso para ver em inglês depois de ter visto a nossa versão. Mas
eu já amo tanto e há tanto tempo a nossa versão brasileira que eu não posso nem
mudar de idéia. Adorei Avenue Q, mas acho que eu ainda continuo adorando
mais ainda Avenida Q. Sei lá, estou dividido. Que bom que eu não preciso
escolher. Ambas são fantásticas!
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