On Broadway – Avenue Q


Does it suck to be you?
Eu acho encantadora a proposta de Avenue Q. E não encantadora do jeito “que coisinha mais fofa, você devia levar o seu filho pra ver”. Porque se você sabe o mínimo sobre Avenue Q, você sabe que ele não tem nada de infantil... é um musical delicioso, uma experiência única que eu recomendo a todo mundo! Você sai do teatro se sentindo tão bem... e cantarolando aquelas canções para sempre. Apaixonado pelos personagens, pelas histórias, pela maneira como eles escolheram falar sobre cada uma das coisas sobre as quais falaram. Nós rimos. Rimos do começo ao fim, porque é um musical incrivelmente engraçado. O TEMPO TODO. Você ri cena após cena, você adora as canções e as coisas que elas trazem, e outra coisa: a agilidade do roteiro. Tudo muda muito depressa. De uma coisa a outra, a outra, a outra... e falamos sobre tantas e tantas coisas nesse processo!
Avenue Q, se você ainda não conhece, é um musical com poucos atores em cena – um “pequeno” musical que se tornou grande. Famoso no mundo todo, eu sou apaixonado por isso tudo! E os atores contracenam com bonecos, fantoches. São vários fantoches (uns 9 ou 10 no total), que exigem demais dos atores, que precisam atuar, com expressões faciais e corporais, e ainda manipular o fantoche... e às vezes falar “com eles mesmos”, quando interpretam mais de um personagem na mesma cena, por exemplo. Essa aparência é a que engana quem não conhece o musical. É um musical liberal e libertador – ele trata de assuntos polêmicos, faz piadas com coisas consideradas tabus, e pouco se importa com a reação de qualquer um. Eles falam mesmo, se divertem. E nos divertem.
No musical, Princeton acabou de se formar, não sabe o que fazer da sua vida, e vai morar na Avenida Q, porque é a única que cabe no seu orçamento. E o musical é a história dos moradores daquele lugar.
Em relação aos temas, eles mudam drasticamente e rapidamente. “How do you go from racism to homosexuality to getting out of your apartment to porn? Então eles estão falando sobre uma coisa polêmica como o racismo, fazendo piadas com negros, loiras, judeus, orientais e assim por diante... tudo em meio a risadas, de maneira descontraída, mas sabe o quê? Aí está o grande trunfo de Avenue Q! Eles não precisam de muito para serem provocantes. Porque eles expõem a realidade que tanta gente tenta esconder: como de que todo mundo é um pouco racista, por exemplo. E fazem críticas impressionantes em forma de piadas, levantando bandeiras “no dia em que sabermos aceitar que somos, sim, racistas, nós podemos ser pessoas melhores”. Porque aceitar nossos erros ao invés de negá-los é um passo e tanto. Uma sátira muito bem-feita, e é isso o que mais me fascina no musical. A naturalidade com a qual eles falam sobre qualquer coisa que tenham escolhido falar.
Desse modo, olha algumas coisas importantes que aprendemos assistindo a Avenue Q: que todo mundo é um pouco racista, não importa o que eles digam; que a internet é mais usada para o pornô que para qualquer outra coisa, e que o mercado pornô é o único investimento certo; que você pode fazer o barulho que você quiser quando estiver fazendo amor; que se formar na faculdade é só o começo, e a parte mais difícil ainda está por vir; que as pessoas podem gravar fitas para te contar como elas se sentem a teu respeito; nem sempre o que você quer que seja realmente é; que tem vida fora do apartamento; que rir das desgraças alheias (coisa de alemão) realmente te deixa mais feliz; que quando você ajuda os outros você fica mais perto de Deus; que existe uma diferença muito tênue entre amor e uma perda de tempo; e que não importa o que for, bom ou ruim, é passageiro. Everything in life is just for now.
Nesses ensinamentos todos acima, temos músicas realmente interessantes que representam cada um deles. Alguns sobre os quais eu falarei no segundo texto, ao falar detalhadamente sobre todos os personagens. Mas é legal que comentemos alguns ótimos momentos, como It Sucks To Be Me, que é a apresentação de todo mundo, que é esse momento em que você descobre que o musical terá, sim, palavrões, e que esses personagens são “sérios”. Cada um falando sobre suas próprias vidas horríveis, enquanto todo mundo tem uma. Everyone's A Little Bit Racist, que é uma descontrução incrível da moral falsa que muita gente impõe e I Wish I Could Go Back to College que nos leva a pensamentos, nos deixa tristes em pensar em momentos de nossas vidas em que somos felizes.
E não sabemos.
O musical estreou na Broadway em 2003, onde ficou em cartaz até Setembro de 2009, conseguindo a 23ª posição entre os musicais a mais tempo em cartaz. Mas já em Outubro de 2009 estreou, Off-Broadway, no New World Stages, onde está em cartaz até hoje, e é onde eu pude assistir! Música e letra de Robert Lopez e Jeff Marx e livro de Jeff Whitty. Avenue Q foi vencedor de três Tony Awards, dentre eles o de Melhor Musical. Tivemos uma produção muito boa no Brasil, que eu conferi em 2013, e você pode ler minhas reviews aqui. Não vejo Avenue Q acabando jamais. É um musical grande demais, inteligente demais e revolucionário demais para ser esquecido. Ainda teremos muitos e muitos e muitos anos de Avenue Q, e várias viagens a Nova York podem ser acompanhadas por esse espetáculo. Realmente vale a pena, e se você tiver a oportunidade, você deveria ver!



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