Os últimos dias de Krypton (Kevin J. Anderson)


Antes da calamidade que fez com que o pequeno Kal-El – Superman – fosse enviado num foguete rumo a um futuro extraordinário em que viveria como herói, seu planeta natal, Krypton, prosperava. Antes da traição, da tecnologia e da natureza conspirarem para condenar uma civilização incomparável, os pais de Kal-El – o brilhante cientista Jor-El e a bela artista e historiadora Lara – se conheceram, se apaixonaram e se casaram. Houve grandes heróis naqueles dias tranqüilos. Mas, claro, apareceram os vilões: o andróide maligno Brainiac,que capturou a cidade de Kandor, e o diabólico General Zod, que usou de mentiras e do caos para tomar o poder e ascender à liderança em uma era de crueldade, repressão e terror. E, em meio a tudo isso, uma tragédia fatal se aproximava – um destino catastrófico profetizado por Jor-El, que mudaria a história kryptoniana para sempre, mas daria à Terra um dos maiores super-heróis de todos os tempos.

Uma narrativa intensa e brilhante.
O romance escrito e magistralmente guiado por Kevin J. Anderson não é uma daquelas leituras mais rápidas – as tramas intrincadas precisam no mínimo de alguns minutos de reflexão, e você precisa ir com calma enquanto conecta os eventos e os personagens, dando dentro da própria trama, como com o Universo da DC Comics que já conhecemos. Ou quase. Porque eu, infelizmente, não sou um grande conhecedor da Mitologia da DC Comics, e pouco sei do Superman mais do que aquilo que foi mostrado nos filmes… mas, de todo modo, essa é uma história de origem um tanto diferente daquelas que conhecíamos. Não é uma história de origem do Superman – o livro acaba com o pequenino e inofensivo Kal-El na nave de Donodon, rumo à Terra –, mas sim a história de um planeta, de um povo. E muita política.
Trata-se de um épico, e isso foi o que mais me interessou. O primeiro capítulo me deixou eletrizado, exultando de pura alegria e não me deixou mais largar o livro – a possibilidade da criação de um portal que levaria a universos paralelos, universos que o genial cientista Jor-El poderia explorar. No entanto, isso acaba sendo nada mais do que a Zona Fantasma, um lugar fora de Krypton no qual as pessoas ficam aprisionadas. O completo vazio. E isso é fundamental para toda a trajetória do livro, especialmente o seu desfecho; esperado e ainda assim surpreendente. Então não, não é uma intensa ficção científica com viagem no tempo ou universos paralelos, e eu não esperava que fosse… embora a ciência estivesse muito presente em falas um tanto complexas de Jor-El e Zor-El, por exemplo, que me deixaram confuso.
Mas não, foi um ÉPICO. Aqueles mais clássicos épicos, mas em outro planeta.
Adorei a maneira como a crítica estava implícita em todos os momentos da narrativa de Anderson. E foi o que mais me chamou a atenção nas primeiras partes do livro – quando o antigo governo ainda reinava em Krypton, e o planeta vivia numa pretensa paz. Que eu detestei! Porque convenhamos, que tipo de realidade era aquela? Jor-El, um personagem nem tão carismático, mas admirável, vivia em um mundo no qual sua inteligência era negligenciada, na qual um Conselho conservador não aceitava qualquer mudança, e vivia com medo. No qual novas invenções eram submetidas e retiradas por uma Comissão com esse fim. Mas a característica de Jor-El era justamente esse pensamento inteligente e avançado para o seu planeta, planeta isolado no espaço que não se relacionava com o restante do Universo por causa de medo.
E rejeitava ameaças iminentes como Rao entrando em super-nova.
Os últimos dias de Krypton usa esse governo vergonhoso, o início de sua narrativa, enquanto apresenta os personagens de maneira isolada e vai criando conexões. Infelizmente, eu devo dizer que o romance de Jor-El e Lara não é a coisa mais convincente nesse mundo. Eu sei que não é Crepúsculo, e o foco de Anderson estava mais nos “últimos dias de Krypton” do que no “romance do cientista e a artista”, mas… é sobre o nascimento de Kal-El, seus pais são os protagonistas! As coisas acontecem depressa, ainda que ternas. Muito tempo se passa durante o livro, e esse deve ser o motivo. Então vemos, muito rapidamente, eles se conhecerem, se apaixonarem, se casarem, e terem filho – mas é o tipo de coisa que realmente se acelera em tempos de crise como aqueles. E aqueles obeliscos que ela pintou! SIM, FORAM LINDOS!
Depois da queda do Conselho, as coisas ficam ainda mais revoltantes… porque Donodon, um alienígena, faz uma visita e acaba brutalmente assassinado no que parece um acidente. E, depois, outro alienígena acaba vindo e raptando Kandor. Porque tudo é possível. E com isso, o Comissário Zod ascende ao poder da maneira mais corrupta possível. Já sendo um personagem desprezível desde antes, ele usa de todo tipo possível de manipulação e comete os crimes mais hediondos enquanto se proclama o novo governante e “salvador” de Krypton. Chegando a General Zod. Não é à toa que várias das melhores cenas do livro estão nos momentos contra ele: o magnífico diário de Lara que conta a história como ela de fato está acontecendo, e as bonitas respostas que ela dá a Zod e a Aethyr; ou então as sabotagens de Jor-El.
E A QUEDA DE ZOD. QUE FOI MARAVILHOSA!
Foi toda uma interessante trama que culminou com a destruição de Krypton. Com ou sem o Novo Conselho, provavelmente Krypton teria morrido de todo modo – seja com a entrada de Rao em super-nova, ou qualquer outro desastre. Afinal, Jor-El e Zor-El previram a destruição do planeta e o “fim do mundo” no mínimo umas três vezes ao longo de todo o livro. Mas acho que a maneira como o planeta finalmente sucumbiu (isso precisava acontecer eventualmente) foi a mais acertada – porque matou a todos (menos Kal-El, salvo na nave de Donodon, rumo à Terra), mas provou que Jor-El estava certo uma última vez, e fez o Novo e absurdo Conselho entrar em desespero, admitir que estavam errados, e clamar pela ajuda de Jor-El. Aquilo foi toda a satisfação que eu precisava para terminar o livro. E a corrupção daquele planeta só acabaria com a aniquilação total do mesmo.
Sounds familiar?
Falando nisso, adorei ver Marte, e saber que uma civilização próspera existira lá no passado, muitos e muitos anos antes de nós sabermos. E foram todos mortos, com seu povo tendo um destino muito similar ao dos kryptonianos, embora o planeta tenha continuado a existir.
Por fim, foi uma ótima viagem ao Universo da DC Comics, e aposto que aqueles que têm amplo conhecimento da Mitologia do Superman devem ter aproveitado ainda muito mais. Afinal, eu pude pegar as referências mais conhecidas e batidas, como o cachinho insistente na testa do pequeno Kal-El, ou o comentário de “Será um pássaro? Um avião?” quando a nave alienígena está pousando em Krypton, mas deixei passar muitas outras coisas, certamente, e deixei de entender profundamente alguns detalhes, como: por que junto com a lava que estava saindo do interior do planeta, também estava saindo uma “lava” verde esmeralda? Pelas cores, e pela ameaça, acredito que deva ter algo a ver com a kryptonita, mas enfim… e não consigo encaixar Brainiac em nenhuma outra história, nem conferi-lo uma face e uma importância, embora o nome não me seja estranho e eu tenha certeza que o autor brincou com alguma coisa ali… enfim, uma ótima leitura!

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