Doctor Who: Season Two (2006) – Allons-y!
“Allons-y!”
Como é bom ver David Tennant no papel do Décimo
Doctor. É fascinante demais! Essa é a sua primeira temporada completa depois do
Especial de Natal que o introduziu de fato à série, mas é em New Earth que ele e Rose Tyler saem em
uma aventura pela primeira vez em uma temporada normal. E é fantástico. Os dois
apresentam uma sintonia impressionante, e toda uma química que lamentamos ao
fim da temporada quando é desfeita, mas também entendemos qual a necessidade de
Rose Tyler sair da série – ela representa e sempre representará a primeira companion da nova era de Doctor Who, e as pessoas sempre sentirão
sua falta, mas a rotatividade da série precisa ser mantida. Se o Doctor foi
trocado entre a primeira e a segunda temporada, eles trocaram a companion entre a segunda e a terceira,
astutamente apresentando Donna no fim do episódio, de forma divertida e alegre
(depois de todas as lágrimas), mesmo que ela só fosse se tornar a companion do Doctor lá na QUARTA temporada.
Claro, ninguém tinha noção disso ainda quando a atriz foi chamada para fazer
uma participação especial no Episódio de Natal daquele ano.
Mas sobre a temporada… é uma temporada
divertidíssima, e bem melhor do que a primeira temporada, que eu já amo. Mas a
maneira como David Tennant compõe o seu Doctor é um máximo! Ele é brincalhão,
alegre e um tanto quanto infantil… a série não pode ser levada a sério enquanto
ele está com Rose Tyler, porque os dois parecem estar muito mais brincando e
ocasionalmente se metendo em encrencas feias do que de fato fazendo alguma
coisa séria. E não precisa ser sério. Eles só estão se divertindo e se
aventurando no espaço e tempo! Eu admiro esse clima, essas piadas e
referências, e essa interessante construção dos vilões da série, como os
Cybermen, sendo que o primeiro ano tinha sido muito mais sobre os Daleks. Não
que eles não retornem eventualmente. Daleks sempre serão parte de Doctor Who! Rose e o Doctor têm química,
tem energia, e as risadas e sorrisos são verdadeiros e bonitos, e mostram toda
uma cumplicidade importante para a relação dos dois… mas à parte de toda essa
alegria e espontaneidade, temos também um dos anos em que a série mais brincou
com o macabro e o terror.
Embora a amplitude de gênero de Doctor Who seja sempre admirável!
Assim, temos vários episódios realmente
maravilhosos. Eu gosto, particularmente, de THE
GIRL IN THE FIREPLACE, por exemplo, que traz toda uma interessante puxada
para uma era antiga da Inglaterra, de castelos e vestidos longos, e aquela proposta
de Doctor Who de ele sempre encantar
as pessoas e fazê-las esperar por ele. Talvez tenha me lembrado um pouco de
Amelia Pond. Foi lindíssimo, misturando a era vitoriana ao futuro do século
XXIII de uma forma que apenas Doctor Who
consegue fazer, em uma narrativa sólida e envolvente. Uhm, devo dizer que já é
na primeira temporada que nós nos apaixonamos
por David Tennant, e não apenas por ele ser lindo (porque ele é lindo e fofo!),
mas por todo seu carisma e presença. Quando ele coloca aqueles óculos ele fica
incrível (tenho uma queda por pessoas de óculos, não posso evitar!), ou mais
ainda quando ele diz coisas como “You
want weapons? We’re in a library. Books. Best weapons
in the world”. Bem, ainda não é nessa temporada que ele cita Harry Potter, mas nós sabemos que ele é
perfeitamente adorável em todas as maneiras, ainda mais fazendo isso!
David <3
Logo em seguida, a série evolui mais e apresenta
uma trama para a temporada, embora talvez ainda não fique claro na ocasião: RISE OF THE CYBERMEN, além de introduzir
os Cybermen, também introduz um conceito bastante interessante e importante
para o futuro da série – a angústia de prever o final de Rose Tyler como companion: universos paralelos. “Não é tão distante do seu, é só paralelo”.
Eu adoro as possibilidades dentro das histórias de universos paralelos (que precisam ter zepelins, isso é uma regra,
aparentemente), e esse two-parter (RISE e THE AGE OF STEEL) brincou com o sentimento dos personagens,
atiçando suas emoções ao trazer de volta a avó de Mickey e o pai de Rose, ambos
vivos nessa nova versão de Londres prestes a ser tomada pelos Cybermen. Uma
versão bastante assustadora, diga-se de passagem, com trechos bizarros como
todos os seres humanos controlados macabramente pelos fones de ouvido de última
tecnologia. E por mais macabro que seja, convenhamos: o quão próximo da realidade não estava? Adoro a maneira como o
Doctor trabalha, sem saber exatamente onde vai, mas indo, inventando coisas
conforme as coisas caminham: “Yep. But I do it brilliantly”.
“You’re genius, except I’m in the
room”
Toda a proposta dos Cybermen é uma ideia bastante
instigante, pois eles buscam uma maneira de “melhorar” o mundo (upgrade), acreditando nisso através não
apenas de transformar os seres humanos em Cybermen, homens de aço que não
sentem dor, mas tirando-lhes as emoções, porque coisas como luto, ódio e dor
deveriam ser erradicadas – é um tema pertinente e interessante, e eu adoro a
maneira como o Doctor, sendo um alienígena, soa incrivelmente humano ao
defender as suas emoções, ao falar sobre isso com toda a propriedade, afinal o
Doctor é uma pessoa que sofreu, que ainda pode sofrer, mas é isso que o torna,
que nos torna, o que ele é! O que seria do Doctor sem toda essa emoção
desacerbada que ele carrega em si? O episódio define claramente como as
emoções, boas e ruins, são parte integrante de nossas vidas e do que nós somos
– essa é uma proposta instigante, não? “You are proud of your emotions?”
“Oh yeah” “And tell me, Doctor. Have you know grief and rage and pain?” “Yes. Yes
I have” “And they hurt?” “Oh
yes”. QUE DIÁLOGO BELÍSSIMO! Uma vida sem dor não é uma vida at all, e essa é uma discussão
recorrente…
Como uma série de ficção com um alienígena de
protagonista pode ser tão humana?
A proposta dos universos paralelos deixou bem
claro, ao término do episódio, que revisitá-lo é impossível – quando Mickey
decide ficar e Rose lamenta, o Doctor explica que eles jamais poderão voltar
para visitá-lo, porque visitar universos paralelos é impossível, só ocorreu
daquela vez por acidente, por eles terem caído por uma fenda no contínuo de
espaço-tempo, e que precisava ser fechada. Ora, fendas podem ser reabertas, não
podem? Conhecendo toda a trama de Doctor
Who e o final lamentoso a que Rose Tyler estava fadada, nós já prendemos a
respiração ao longo daquelas falas, mas não era claro, na temporada, que toda a
tentativa de Ascenção dos Cybermen não era uma história finalizada naquele
episódio. Até que a promo antes dos dois últimos episódios nos levassem a uma
voz dolorosa de Rose Tyler, contando
sobre o dia que ela morreu. Metaforicamente, mas não deixa de ser uma morte
dolorosa. Antes de toda a emoção que finaliza a temporada de forma tão bela,
nós temos episódios independentes, ora assustadores e ora divertidíssimos e
leves, que contribuem para o clima da temporada, e nos proporciona deliciosas
cenas de aventuras entre o Doctor e Rose, as últimas aventuras de Rose ao lado
do Doctor.
Sinceramente, THE
IDIOT’S LANTERN é um dos meus episódios favoritos na temporada, e eu já
tive essa impressão quando a promo foi divulgada no episódio anterior… toda a
temática da televisão consumindo as identidades das pessoas era uma proposta
excelente! De volta a 1953, época da Coroação da Rainha Elizabeth, a Rose ficou
fofa em um vestido rosa anos 1950, enquanto o Doctor arrumou seu belo cabelo ao
melhor estilo Elvis Presley e conseguiu uma lambreta! Toda a fofura foi
brilhantemente mesclada a um roteiro bem escrito, que colocou a irreverência da
série ao lado do terror de nos fazer temer coisas simples, além de tirar o
Doctor do controle, afinal não se pode mexer com suas companions… “I am the Wire.
And I am hungry!” Além de que conhecemos Tommy Connolly, interpretado por Rory
Jennings, que estava tão simplesmente FANTÁSTICO em seu personagem, que eu
comecei uma campanha “Tommy para
companion” \o/ Teria sido ótimo (afinal eu ainda continuo reclamando que
nós precisamos de novos companions
masculinhos!), e foi um grande desperdício – mas adorei toda sua participação,
tanto inteligência e pró-atividade quanto humanidade e fofura.
Um excelente episódio!
E então chegamos a mais um two-parter e ele foi surpreendentemente assustador. Macabro é a
palavra correta, e eu fui pego desprevenido, confesso. THE IMPOSSIBLE PLANET e THE
SATAN PIT traz uma temática fortíssima que pode ser a origem do mito do
“diabo” em tantas culturas – e foi bem tenso.
“But yet, here we are, against the laws of Physics. Welcome
aboard”. Especialmente a Parte Um (e com todos aqueles momentos de Toby
possuído!), eu achei bastante esquisito, assustador, do tipo “posso ter pesadelos à noite”. Os Oods
são visualmente estranhos, e
inicialmente são tranquilos, até se tornarem de fato assustadores… mas nessa
dupla de episódios eu senti que Doctor
Who estava se conectando com o seu melhor estilo de terror, e algumas cenas
estavam na qualidade de O Exorcista.
Achei macabro sim, e precisei fazer uma pausa, sim. Por isso eu sempre gosto de
falar sobre a maleabilidade de Doctor Who,
e a maneira como eles podem alternar da ficção científica ao fantástico
divertido e ao macabro terrível naturalmente, sem parecer que está distoando do
estilo da série.
Já FEAR HER
eu adorei de verdade, e por vários motivos! A questão da conexão entre desenho
e realidade é algo amplamente explorado, mas não deixa de ser bacana… foi meio
assustador (ainda que não tanto quanto Satan’s
Pit), o que me fez pensar em quanto essa temporada de Doctor Who gostou de brincar com o gênero do terror – o final do
episódio, com a Rose Tyler achando a nave escondida no meio do asfalto de 6
dias atrás e jogando-a na tocha olímpica foi espetacular, o que também me fez
pensar que Rose era uma ótima companion
e não era tão dependente do Doctor a ponto de precisar ser constantemente salva
por ele. Mas ela era dependente dele por viver sua vida e não mais a dela… o
que seria perfeitamente compreensível. E o simpático Doctor de David Tennant
correndo com a Tocha Olímpica não foi adorável? Viu! Eu gostei desse episódio
por vários motivos a mais do que o fato de David Tennant ficar absolutamente
lindo com uma camiseta de gola V por baixo do sobretudo (!) ou que ele é uma
verdadeira graça de óculos.
Embora ambos tenham ajudado.
Para a finalização da temporada, nós precisamos
nos segurar, prender a respiração, agarrar os corações nas mãos e preparar-se
para a dolorosa separação do Tenth Doctor e Rose Tyler, envoltos em lágrimas. O
episódio anterior apresentava a promo que anunciava: “This is the story of how I died”.
É nessa perspectiva que entramos em ARMY
OF GHOSTS, um episódio excelente e com um roteiro denso e assustador –
repleto de elementos da série e da temporada. Acho que ele se inicia de uma
maneira mais leve e com uma proposta interessante de fantasmas de entes
queridos retornando, e aquele ar bobão do Doctor e da Rose, naquela bonita
relação que eles compartilham! Tem até um “Who
are we gonna call?” “Ghostbusters!”, com a trilha e tudo, e toda a
inocência idiota do Doctor de Tennant. É apaixonante. Também é o episódio que
estabelece o “Allons-y!”, mas todo o
roteiro intrincado nos mostra que há muitos elementos envolvidos: Torchwood, os
fantasmas, a esfera, o Vazio e os Cybermen… e toda a proposta da esfera
estabelece a teoria do multiverso, conecta as várias realidades e abre passagem
não apenas aos Cybermen, mas também aos Daleks, saindo de dentro da esfera no
fim da Parte 1…
Bem, é chocante vê-los saindo dali e Doctor Who se expandindo para um final
épico!
Me pareceu inteligentíssimo. Trazer de volta
personagens e monstros tão icônicos. Brincar com Mickey e Jackie Tyler (ela se
passando por Rose, por exemplo!) uma última vez, e colocar Cybermen e Daleks
lado a lado. E justificar o fato de Rose estar deixando o programa. Acredito
que Jackie Tyler dá uma das explicações mais convincentes em relação à rotatividade
necessária dos companions em Doctor Who. Ela observa a filha sozinha
dentro da TARDIS, e o quanto ela está parecida com o Doctor e,
consequentemente, o quanto ela não parece mais ela mesma. E explica: daqui uns 40 ou 50 anos, haverá uma mulher
fazendo compras em um supermercado, em um planeta a bilhões de quilômetros da
Terra, mas ela não será mais Rose Tyler; ele nem será mais humana. Essa
transformação e essa fala extremamente bem escrita e tocante nos mostra a
necessidade do Doctor de trocar suas companhias. De apresentar um novo mundo,
de transformar as vidas dessas pessoas, mas eventualmente deixá-las para viver
a vida delas de novo. Porque é a vida delas
que elas precisam viver, e não a dele.
Doloroso, bonito e real.
Assim despedimo-nos de Rose Tyler. Dolorosamente,
porque o companion sempre foi a nossa representação dentro da série, e nós entendemos o fato de ela não querer partir.
O episódio introduz o Culto de Skaro, quatro Daleks que possuem nomes, e a
Esfera e a Arca Gênesis que são, na verdade, tecnologia dos Time Lords – “Time Lord sciend. It’s bigger on the
inside”. Mas toda a aventura de Daleks vs
Cybermen e a consequente reabertura das fendas entre as realidades é um segundo
plano à despedida de Rose. É quase doentio como ela escolhe ficar com o Doctor,
como ela abre mão de uma vida normal e abre mão de sua própria mãe para
continuar ao lado do Doctor, mas por mais perigoso e assustador que pareça,
ainda é compreensível. E ela tem a chance de se despedir. A cena profundamente
emotiva na qual Rose encosta-se à parede e chora, e o Doctor lamenta do lado de
cá, e é quase óbvio que eles podem sentir o outro do outro lado… é de nos
deixar acabados. Bem como a despedida na Bad Wolf Bay, e o fato de o Doctor
nunca ter chegado a dizer a Rose Tyler que ele a amava, o que é lamentável.
Mas nós sabemos, Doctor. E a Rose sabia.
PRIMEIRA APARIÇÃO DE DONNA! \o/ E ela nem seria companion ainda!
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