Reinações de Narizinho – O casamento de Narizinho

O Doutor Caramujo foi chamado para examinar o príncipe. Tomou-lhe o pulso. Pediu para ver a língua. Depois, erguendo para a testa os óculos de tartaruga, disse com toda a gravidade: “Vossa Majestade está sofrendo de narizinho-arrebitadite, doença muito sério, cujo único remédio é casamento com uma certa pessoa.” O príncipe arregalou os olhos, cheio de espanto. Era a primeira vez que aquele médico não receitava pílulas.

E assim, Narizinho aceita o pedido de casamento do Príncipe Escamado!

No começo dessa nova história presente no livro Reinações de Narizinho, o Príncipe Escamado fica doente de saudades depois que Narizinho volta para o Sítio do Picapau Amarelo – como conseqüência, perde o interesse em tudo, perde o apetite e o Reino das Águas Claras cai em profunda tristeza. Pela primeira vez, o Doutor Caramujo não receita pílula, mas sim casamento… e se propõe a conseguir o tal “remédio” para o Príncipe Escamado… afinal, caso ele consiga esse remédio, ele será tornado Duque! E aparentemente, nessas histórias, quem é que não quer um título de nobreza?

Certo, senhora Marquesa de Rabicó?

Depois que o Doutor Caramujo já examinou o Príncipe Escamado devidamente, e descobriu que o único remédio seria o casamento com Lúcia, a menina do narizinho arrebitado, o fundo do mar se organiza e manda o pedido de casamento, redigido pelo polvo e escondido dentro de uma conchinha-envelope que Pedrinho encontra quando vai pescar no Ribeirão… muito animada e encantada com a proposta, Narizinho aceita o convite (com um entusiasmado “sim” seguido por um ponto de exclamação!), mesmo com as idéias contrárias de Dona Benta e Tia Nastácia, que acham aquilo tudo muito esquisito. Afinal menina não pode se casar com peixe! Pode?

Os dois começam a trocar cartas de amor e presentinhos, dentre os quais o mais célebre é uma rosquinha que Lúcia mesma fez, à qual o Príncipe transforma em sua bela coroa real, contente com o resultado do pedido…

Eu adoro presenciar a transformação do Visconde de Sabugosa naquele sábio que todos nós conhecemos e amamos… e a informação de que isso já acontecera nos é dada durante os preparativos para a viagem de casamento de Narizinho: Emília, como madrinha, ganha um vestido novo; assim como Visconde, padrinho, ganha fita nova para a cartola. E Narizinho comenta: “Esse Senhor Visconde está mudando de gênio. Depois que caiu atrás da estante de vovó e lá ficou esquecido três semanas, embolorou e deu para sábio. Parece que os livros pegaram ciência nele. Fala difícil! É só física pr’aqui, química pr’ali…” Fora que todos sabemos que Visconde sempre foi apaixonadinho por Emília… teríamos os primeiros indícios de tal paixonite aqui? Dando os nomes científicos dos animais do fundo do mar, ele classifica Emília como um “animal artificial que não está classificado em nenhuma zoologia”, ao qual Emília responde, após as tentativas de provocação de Narizinho, com um simples “Não ligo a vegetais”.

Uhm.

Bem, depois de todos os preparativos e viagem, é chegado finalmente o momento do casamento. Rabicó passa por algumas encrencas, que são protagonizadas pelos garotos: o Marquês, Pedrinho e o Visconde. Rabicó é capturado, por fim, por um polvo e termina com um siri preso no rabinho, enquanto Emília e Narizinho escolhem seus vestidos para a cerimônia. E Narizinho vê o vestido mais lindo, feito com cor do mar e todos os peixinhos de enfeite, e casa-se com o Príncipe em uma bonita e rápida celebração, que acaba abruptamente em um acesso de fúria do Príncipe quando alguém rouba sua coroa, aquela que é o bem mais precioso de seu Reino… aquela que foi devorada por Rabicó por ser, na verdade, uma rosquinha feita pela menina do narizinho arrebitado.

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