Vale o Piloto? – Frequency 1x01
“I spoke to him. […] Last night”
Eu sou APAIXONADO pela história de Frequency desde que o filme foi lançado
em 2000. Naturalmente eu fiquei extremamente empolgado com a perspectiva dessa
série assim que ela foi anunciada, e acabo de assistir ao Piloto. E ESTÁ PERFEITAMENTE INCRÍVEL. É gostoso saber que tivemos
um trabalho cuidadoso e respeitoso destinado a Frequency, uma história ainda muito tocante e com uma pegada
gostosa de ficção científica e uma jogada diferente de interferência no tempo
sem que haja, de fato, viagem no tempo propriamente dita. É uma experiência
magnífica. O episódio de estreia tem fôlego, tem emoção e os personagens já nos
conquistam com um carisma incrível e interpretações brilhantes. Temos, de fato,
uma série impressionante nas mãos, que segue cuidadosamente os passos do filme
original e para justamente em um momento de extrema tensão que deve ter deixado
quem não viu o filme um pouco angustiado. Agora Raimy Sullivan vai ter que
enfrentar os desafios de ter mexido com o tempo.
A personagem Raimy Sullivan é brilhantemente
interpretada por Peyton List (no original tínhamos John, interpretado por Jim
Caviezel), uma mulher com uma bonita relação com a mãe, uma decepção muito
grande com o pai (morto em 1996) e prestes a ser pedida em casamento, que
encontra um rádio antigo de comunicação na garagem de casa e, misteriosamente,
consegue fazê-lo funcionar. Trabalhando com a possibilidade de junção de dois
pontos do contínuo de espaço-tempo,
numa espécie de Ponte de Einstein-Rosen, uma tempestade liga a noite de 20 de
Outubro de 2016 à mesma noite, 20 anos atrás, em 1996, e com quem Raimy está
falando é ninguém menos que Frank Sullivan (interpretado por Riley Smith), seu
pai que está prestes a ser assassinado dentro de alguns dias. Eu adoro as
possibilidades que isso suscita e eu adoro a maneira como o roteiro trabalha
com tudo isso de forma convincente e humana.
Porque, como eu disse alguns anos atrás quando
escrevi sobre o filme Frequency para
o blog, eu acho que grande parte do roteiro é pautado na humanidade e isso
torna tudo muito mais bonito e emocionante. Nós temos, por exemplo, uma
belíssima sequência ao som de Wonderwall,
mostrando os tempos correndo em paralelo, enquanto conhecemos nossos dois
protagonistas. E é arrepiante ver a bonita relação de Frank com a filha
enquanto, no futuro, ela acredita que o pai era corrupto e acabou morrendo por
ter se envolvido com coisas erradas. E quando eles estão conversando, WQ2YV,
eles vão entendendo a natureza da conversa. E
é excepcional. O passado e o presente conversando, se interligando, aqueles
jogos de beisebol que Raim comenta com o pai. Coisas que para ela aconteceram 20 anos atrás. É incrivelmente belo
ver as peças se encaixando para eles,
vê-los começando a se dar conta de com quem estão falando, mesmo com toda a
improbabilidade de tal conceito. Aqueles presentes de aniversário de Frank para
Raim na lata de café… aquela queimadura na caixa que é simultânea…
E quando ela pergunta: “Dad?”
WOW!
Adoro como o tempo corre paralelamente, como ambos
estão vivendo o mesmo dia, de certa forma, um em 1996 e outro em 2016 – e eu já amo essa história de toda maneira.
Talvez tenha sido mais fácil gostar dessa maneira. Talvez não, porque minhas
expectativas eram bastante altas. E elas foram plenamente atendidas com louvor.
Me arrepia loucamente quando eles entendem que são pai e filha, falando da
mesma casa, no mesmo dia, separados no tempo e as provas são incontestáveis. A
bandeira dos EUA na caixa. A foto na lata de café. “So you’re 28. Your
birthday was yesterday. You’re older than me”. Essa cena não falha em trazer lágrimas
a meus olhos! E eu acho que dali em diante tudo só fica mais forte. Porque Raim
se conecta com o pai novamente de uma maneira que há anos não se conectava. E
ela está prestes a tê-lo tirado dela novamente. E dessa vez talvez ainda de
forma mais dolorosa, porque ela enfim descobre que ele não era corrupto como
ela pensava, nem se envolvera com coisas erradas… estava trabalhando disfarçado há 2 anos e foi isso que o afastou da
esposa e da filha.
E o matou,
eventualmente.
“You die
tomorrow”.
Como era mais fácil, talvez, aceitar a morte do
pai quando ela achava que ele era corrupto, ela pede: “Dad, please, don’t go” e com isso ela muda a história. Não que
ele não vá. Ele vai, mas dessa vez ele sobrevive. E então as coisas mudam
drasticamente. Primeiramente Raim está sofrendo novamente a dor da morte do
pai, mas então o rádio se acende, e ele está bem. E novas memórias
chegam. “I remember. I remember life both ways. Life
when he was murdered and life… life where he wasn’t”. É
perfeitamente lindo como ela se lembra de crescer ao lado do pai, de ser um
orgulho tremendo para ele quando se junta à polícia, e ela sai daquela garagem
falando do pai, que não foi assassinado… mas
morreu 5 anos atrás em um acidente de carro. Mas as mudanças não foram
todas positivas. Por exemplo, temos a brilhante cena do elevador, onde outra
Enfermeira deveria estar descendo com aquele material, mas a Enfermeira
Sullivan, mãe de Raim, está descendo por ter ido visitar Frank no hospital
depois de ele não ter morrido onde deveria ter morrido.
E o que acontece?
Ela morre no lugar, graças ao Assassino Rouxinol.
Apesar da dor profunda que é assistir a essa parte
da trama, eu adoro o que isso significa em termos de ficção científica. Me faz
pensar na maneira como tudo está intrinsecamente conectado, pequenos detalhes
aos quais às vezes não damos importância. A Teia. O Efeito Borboleta. Ao não
morrer na noite em que morreria, Frank fez com que a mãe de Raim estivesse no
hospital no dia em que o Assassino Rouxinol escolhia sua próxima vítima. Assim,
ela, “desaparecida” em 1997, foi assassinada, e o Assassino Rouxinol não parou
por aí, fazendo muitas outras vítimas ao longo dos anos. Como Raim conheceu
Daniel quando a mãe dela cuidou dele depois de um acidente, 2 anos atrás, eles não se conhecem mais, porque a
Enfermeira Sullivan já não existe. Por isso temos aquela angustiante cena
do restaurante em que ela acha que vai conhecer os pais de Daniel, mas ele nem a conhece. E é desesperador.
Mas são os riscos provindos da manipulação do tempo. Por isso é tão perigoso mexer com o passado, você nunca sabe o que você
pode causar.
São cenas fortes, angustiantes, emocionantes…
Eles trataram com muito respeito uma obra original
magnífica que eu adoro, e isso já fez com que eu gostasse da série quase automaticamente.
Aparentemente, parece funcionar muito bem como série, o Piloto traduz a
primeira parte do roteiro quase fielmente (com pequenas mudanças) e prende na
mesma fascinação e emoção. Fascinação porque a proposta é extremamente
interessante e promissora. Brinca com nossa vontade e as perspectivas da
maleabilidade do continuum. Por outro
lado, a emoção sobre a qual a trama é construída, na relação entre pai e filha,
com conversas tão bonitas e bem escritas. E, claro, bem interpretadas. O
sorriso, a surpresa, a emoção nos olhos. Tudo é milimetricamente colocado em
uma construção que beira o impecável. Adorei, e me apaixonei por Frequency, essa história incrível, uma
vez mais, quase como se fosse a primeira vez. E acabamos com Raim conversando
com a Raimy, em 1996. E eu adoro esse momento!
SÉRIE FANTÁSTICA, VAMOS CONTINUAR ACOMPANHANDO!
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