Doctor Who, 2010 Christmas Special – A Christmas Carol
“I don’t know. I’m the Ghost of Christmas Past”
Doctor Who
tem um histórico de belíssimos especiais natalinos. Eles conseguem trazer
elementos do Natal como o frio e a neve e incorporá-lo de formas inovadoras, às
vezes meio assustadoras. Mas também mágica, em ocasiões específicas – é a cara
de Matt Smith descer pela chaminé no começo do episódio. Com isso, o clima
mágico do episódio é garantido em uma filmagem peculiar que retrata uma
fantasia incrível de Natal, repleto da magia do período, imaginação, com um
pouquinho de exagero, mas é o exagero mágico do Natal que verdadeiramente nos
encanta. Vagamente inspirada pela obra clássica de Charles Dickens, A Christmas Carol, o episódio brinca com
possibilidades que, por fim, trazem temas sérios e mensagens muito bonitas,
além de reavivar o que foi muito discutido na temporada passada: Time can be rewritten. Porque é
justamente o que o Doctor, esperançoso, quer fazer com Kazran Sardick, um velho
amargurado e sem coração, passar a se importar com uma nave com 4003
passageiros prestes a cair.
“Better a broken heart than no heart
at all”
Uma das coisas que eu mais gostei no episódio é
que, apesar de finalmente trazer o nome de Arthur Darvill na abertura ao lado
de Matt Smith e Karen Gillan, eles não são realmente os companions do Doctor – como na maioria dos ótimos episódios
natalinos em Doctor Who, nós temos
aqueles companions passageiros que
são tão encantadores e contam uma história vagamente independente do restante
da série. Mas que são uma ótima maneira de apresentar a série aos nossos amigos
(been there, done that). Nesse
episódio, temos Kazran Sardick como companion,
da sua velhice à sua infância, e um pouco de Abigail, nas constantes aventuras
que acontecem em todas as Vésperas de Natal. É lindíssimo. Todos nos encantam
de forma imediata, e isso me fascina na série! Cheio de carisma, o episódio e a
trama nos conquistam, e Matt Smith garante, novamente, que tem uma dinâmica
maravilhosa com crianças. Nós lembramos da pequena Amelia Pond na temporada
passada, e o tempo rápido com Elliot.
Com Kazran Sardick, criança, não é diferente.
Matt Smith precisava MESMO de um companion criança!
A proposta do episódio é a de que Amy (de policial
de Eleventh Hour) e Rory (de
Centurião do Season Finale passado)
estão em uma nave prestes a cair e a
única pessoa que pode salvá-la, controlando as nuvens, não vai fazê-lo. É
triste que nossa versão de Scrooge reproduza exatamente os atos do pai que
tanto o traumatizou na infância. E o Doctor sabe que o problema está lá no passado.
Por isso ele se torna o Ghost of Christmas Past, para que as pessoas sejam
salvas – afinal de contas, em seus 900
anos de vida, ele nunca conheceu alguém que não fosse importante. A
vida de Kazran Sardick é brutalmente modificada desde o momento em que ele
perde a invasão dos peixes na escola e seu pai nunca deixa vê-los. Nós, por
outro lado, somos instantaneamente intrigados pela proposta inicial de peixes
que nadam nas neblinas, e que não são necessariamente perigosos, embora as
pessoas acreditem que sim. E eles se
acalmam com música. O lance dos peixes tem o tom perfeito de senseless e
bizarro e, ainda assim, muito interessante. O peculiar se torna interessante.
Quase instantaneamente.
“I’m coming
back. Way back. Way way back”
Como o Fantasma do Natal Passado, o Doctor
apresenta a Kazran Sardick, aquele velho cruel, o vídeo de uma das noites que o
traumatizou – e então ele aparece lá, naquela noite. Para recrutar Kazran para
toda uma aventura MARAVILHOSA que começa tanto tempo atrás e tem interferências
tão possíveis no futuro. Aquilo nunca aconteceu. Mas aconteceu. É um pouco perturbador pensar na história
brutalmente alterada e as memórias sendo mudadas. A proposta intrigante da
alteração do que aconteceu se reflete de forma muito bonita em uma narração de
incrível bom-gosto em Doctor Who, com
jogos excelentes de cena que tornam os momentos ternos e, sim, muito
emocionantes. Kazran, como criança, é um companion
adorável, e o Kazran, velho, recordando as coisas que não tinham acontecido até
aquela noite, mas, subitamente, agora aconteceram desde sempre, é emocionante
de uma forma totalmente nova. Um interessante e belíssimo momento de dois
tempos se desenrolando simultaneamente e criando memórias muito tocantes.
Emotivo na medida certa e igualmente aventuresco.
As aventuras de Kazran como criança, ao lado do
Doctor, são encantadoras. Você
sabe: “And you know what boys say in the
face of danger” “What?” “Mommy!”
e, claro, o velho Kazran começando o “It’s
bigger on…” para ser terminado no passado, com Kazran e Abigail na TARDIS.
Talvez tenha sido o momento mais encantador da TARDIS, o lugar mágico tão
repleto de possibilidades. A transformação da história, promovida pelo Doctor,
é gradual e insistente, e a cada ano ele retorna, na Véspera de Natal, para levar
o Kazran e Abigail para as deliciosas aventuras, depois daquela primeira noite
em que o tubarão entrou no quarto de Kazran e ele escolheu Abigail para
ajudá-los, tirando-a de seu congelamento para que ela cantasse de forma tão
linda. Enquanto Kazran tira uma foto de Abigail na entrada da TARDIS e o velho
Kazran a observa, antiga, tudo se desenvolve de forma fofa, mágica e leve. “New memories. How can I have new memories?”
Ao passar dos anos, Kazran se torna um jovem bonito e ainda encantador,
chamando a atenção de Abigail.
Com a gravatinha borboleta.
Tão simbólica nesse episódio! <3
A beleza toda do episódio atinge seu ápice,
talvez, quando o Doctor leva Abigail para uma ceia de Natal adiantada com sua
família, e eles sorriem, se divertem e têm um belíssimo momento. É
perfeitamente terno, com direito até a Nazran e Abigail segurando mãos sob a
mesa. O Kazran que pede conselhos ao Doctor para seu primeiro beijo (e os
conselhos fofos do Doctor) e beija Abigail e cria zilhões de novas memórias é
tão incrível! Penso no quanto de diferença o Doctor pode fazer na vida de
alguém. Mas infelizmente esse Kazran adorável vai desaparecendo. Mesmo com uma
montanha de fotos que remontam uma vida toda de Kazran ao lado do Doctor e de
Abigail, a amargura surge na última Véspera de Natal que eles passam juntos
(naquela que o Doctor supostamente canta com o “Frank” e acidentalmente fica
noivo de Marilyn Monroe), porque Abigail está prestes a morrer e não pode mais
ser descongelada. E Kazran decide dispensar o Doctor. Todo mundo precisa crescer, e essa é a última Véspera de Natal de
aventuras.
“Times change”
“Not as much as I’d hoped”
Infelizmente, o Fantasma do Natal Passado (o Doctor)
não consegue, ainda, o sucesso esperado com Scrooge/Kazran. Ele perde a Abigail
e dispensa o Doctor, mesmo que lhe doa dizer isso e ele tente fingir que não. Ele
envelhece amargurado, triste, distante, se tornando o Kazran que o Doctor
conheceu e desprezou, o Kazran disposto a deixar que 4003 pessoas morram,
porque ele não se importa. “I don’t and I
neve rever will care”. É só nesse momento, depois dos belíssimos e
significativos momentos de Abigail e Kazran como companions do Doctor que Amy e Rory retornam, como Ghosts of
Christmas Present, tentando fazer com que ele mude de opinião e ajude a nave.
Afinal de contas, “Time can be rewritten”.
Mas acho que com toda a dor daquele momento e todo o desespero de pensar que os
“anos” de investimento para tornar aquela noite uma vida toda, o Doctor tem uma
sacada final que é próxima da GENIAL para a finalização perfeita do episódio,
para a redenção final de Kazran Sardick.
The
Ghost of Christmas Future.
<3
Eu sabia que o Doctor precisava ter sucesso – e
por mais que Kazran continuasse sendo o velho insensível que conhecemos no
início do episódio, nós gostávamos dele. Porque nós o vimos criança e o vimos
jovem, e sabemos como ele se tornou quem se tornou. Mas eu não sabia como
aconteceria. “Is this what you want to
become, Kazran?” Kazran ainda não é o velho insensível que não se importa,
mas uma criança para quem o Doctor mostrou o futuro e o confundiu com seu
próprio pai. Ele escolhe não se tornar o pai, finalmente. É belíssima a cena em
que o Kazran velho e o Kazran criança se abraçam, e o Kazran do futuro pede
desculpas – extremamente forte, mas muito bonito. E é uma mensagem lindíssima.
E, por fim, para que as 4003 possam ser salvas, não depende mais apenas de
Kazran, uma pessoa diferente de quem ele era, mas de Abigail, porque ela
precisa cantar. No seu último dia. Como no primeiro dia. “We’ve had so many Christmas Eves, Kazran. I think it’s time for a
Christmas Day”.
Tocante e bonito, uma despedida de Kazran e
Abigail.
Uma bela releitura do clássico natalino de Charles
Dickens, por Doctor Who.
Comentários
Postar um comentário