A Mediadora, Livro Seis – Crepúsculo
Suzannah Simon é uma mediadora.
Sua habilidade especial lhe permite não somente ver fantasmas, como também
interagir com eles. Além dos desafios comuns a qualquer menina de 16 anos, sua
função é entender as mágoas dos mortos e ajudá-los a resolver os problemas com
os vivos.
Suze já se acostumou com
fantasmas em sua vida. Eles a acordam no meio da noite, reviram seu armário e
aprontam coisas ainda mais sinistras. Mas dessa vez Suzannah é forçada a tomar
uma difícil decisão: permitir que Jesse, o fantasma por quem é apaixonada,
volte para sua antiga vida no século XIX, perdendo para sempre o amor dele; ou
ser egoísta e mantê-lo a seu lado.
“O corpo de
Jesse estivera sem alma assim como, por tantos anos, a alma de Jesse estivera
sem corpo”. Não acho que Meg Cabot poderia ter finalizado A Mediadora de uma forma melhor que
essa. Bem, ela retornou à série depois de tanto tempo com Lembrança, mas Crepúsculo
é e sempre vai ser o fim original d’A
Mediadora e é, de toda maneira, a última vez que vemos Suzannah Simon como
uma adolescente, uma adolescente apaixonada por um fantasma que estivera no seu
quarto pelos últimos 150 anos e que ela conhecera quando se mudou para Carmel e
o encontrou. Lindo, absolutamente sedutor, com olhos brilhantes, um sotaque
latino, uma pele morena e uma camisa aberta que revelava abdominais de acabar
com qualquer um. Suzannah conheceu Jesse assim que se mudou e, embora não
admitisse na época, ela se apaixonou por
ele instantaneamente. Meg Cabot conta, de forma lindíssima, uma história de
amor improvável entre uma garota capaz de ver e falar com os mortos (entre
outras coisas) e um jovem assassinado a caminho de desmanchar um noivado com
uma prima por quem nunca fora apaixonado.
E agora ela finaliza essa história de forma
comovente.
Crepúsculo
é um dos melhores livros de toda a série, se não o melhor. É bastante diferente. Meg Cabot mudou seu tom, mudou seu
estilo quase parece ter saído daquilo a que se propôs. Não sei como foi o
processo de escrita. Não sei se quando ela apresentou aquele fantasma gato que
morava no quarto de uma mediadora ela já sabia como ela ia fazer para que eles
conseguissem ficar juntos e serem felizes. De todo modo, a saga parece se
dividir em duas trilogias. A primeira é sobre uma mediadora, ajudando fantasmas
que a atormentam. A segunda trilogia apresenta Paul Slater, o termo
“deslocador” e as coisas saem completamente dos trilhos e ganham proporção. Crepúsculo termina toda a narrativa com
VIAGEM NO TEMPO. Bem, e vocês sabem como eu sou apaixonado por viagens no tempo. Desde o começo do livro, ouvimos
falar sobre “deslocar-se livremente
através da quarta dimensão”, mas a Suzannah não entende muito bem o que o
Dr. Slaski quer dizer com isso, nem o que é a quarta dimensão. Assim como Marty
McFly, ela tem um pouco de dificuldade em pensar
em quatro dimensões, ao que parece.
Mas está ali. Está ali desde sempre.
É eletrizante. A leitura ágil de Crepúsculo nos prende
surpreendentemente. É um dom de Meg Cabot, o de nos envolver em uma leitura
cativante, com um senso de humor incrível e adolescente, além um suspense
gostoso. O livro já começa com muita coisa acontecendo e nós nos envolvemos do
início ao fim. Suzannah Simon fez um acordo com Paul Slater: ela teria “aulas de mediação” semanais com
ele em troca de ele não se livrar de Jesse. As coisas pareciam estar até
ocorrendo muito bem, até que Paul Slater comece a ameaçar fazer alguma coisa com Jesse. Alguma coisa que
ela não entende, mas que é bastante humano. Quer
dizer, ao invés de matá-lo, Paul Slater está pensando em salvar a vida de
Hector “Jesse” de Silva. Por mais estranho que isso possa parecer. E ele
sabe que seus planos para o “namorado” de Simon são muito mais humanos do que
os planos dela para ele… quer dizer, ela não admite isso de verdade, mas não dá
para negar que tirar a alma de Paul de seu corpo para poder dá-lo a Jesse
realmente passa pela cabeça dela.
Talvez ela nunca cogite isso de fato.
Mas passa por sua cabeça.
Com inteligentes referências à cultura pop, que envolvem Tubarão, E.T., O Poderoso Chefão, Star Wars e até Lost, a história vai lentamente nos
focando em um caso específico: a viagem
no tempo, com referência a De Volta
Para o Futuro, como não poderia faltar. É um tipo específico de viagem no
tempo, próprio de mediadores, ou deslocadores.
Eles só podem viajar no tempo possuindo algo da pessoa que pretendem encontrar
no tempo para o qual irão, e essa pessoa precisa ser um fantasma por eles
mediado. É um tipo particular de viagem no tempo que não se preocupa muito com
explicações complexas e reflexões sobre os possíveis paradoxos, porque Meg
Cabot não se dispõe a uma narrativa de ficção científica. Não, é apenas uma
maneira de salvar o Jesse para que Suzannah Simon possa, enfim, realmente ter
um namorado como o merece. Mas a trama não pode ser tão simples, e por isso ela
é marcada por uma série de questionamentos e dúvidas adolescentes tão palpáveis
que nos deixa profundamente angustiados ao lado de Suzannah, porque parecemos
estar sentindo, com ela, tudo o que ela sente.
Em igual intensidade.
Parece uma incrível angústia moral. Suzannah pensa
em voltar no tempo e salvar o seu pai. Parecia justo que ela fizesse isso,
quase correto. Mas então ela pensa em como sua vida se transformaria caso ela
fizesse isso. Se ela fizesse isso, sua mãe jamais conheceria Andy, e então eles
nunca se mudariam para Carmel, e Suze jamais conheceria Jesse. Parece um tanto
egoísta pensar que ela não vai salvar o pai por causa do fantasma gostoso de
seu quarto por quem ela se apaixonou, mas a vida adolescente não é assim? Eu
achei muito bonita a conversa que Suze teve com o pai na cozinha, em que ele
disse que não queria que ela fizesse isso por ele mesmo, porque ele adoraria
estar de novo vivo e com a família, mas ele não ia querer isso se representasse
qualquer tipo de risco para a sua filha amada. E isso foi tão tocante. Mas se
as coisas com o pai parecem até se resolver de forma simples, o que fazer em
relação a Jesse? Quer dizer, ela não quer que ele sobreviva lá em 1850, porque
então ele nunca se tornaria um fantasma e ela nunca viria a conhecê-lo… mas se Paul Slater está realmente disposto a
voltar no tempo, correr os riscos que existirem, para salvar a vida de Jesse,
que direito ela tem de impedi-lo?
Ah, não que Paul Slater esteja fazendo isso pela
bondade em seu coração. De maneira alguma! A esperança dele é que, ao salvar a
vida de Jesse, Suzannah jamais o conheça, e então eles vão poder ser felizes
juntos… é meio doentio, sim. Mas como
Suze pode lidar com isso tudo? É uma questão de moral. Ela insiste tanto que
ama Jesse que não parece fazer sentido ela NÃO querer permitir que Paul salve a
sua vida. Ele não merece uma segunda
chance como tanta gente acha que ele merece? Quer dizer, Jesse morreu
incrivelmente jovem e de forma injusta. E Paul está determinado. Ele droga o
avô para que ele não possa ajudar Suzannah. Ele compra uma fivela que pertenceu
a Felix Diego por 1.100 dólares para que possa se ancorar no passado… resta a Suzannah saber o que Jesse iria
querer? Suzannah tem emoções intensas à flor da pele do início ao fim do
livro, tipicamente adolescente. Ela está apavorada com a perspectiva de perder
o amor de sua vida, como se ela não fosse mais fazer sentido depois disso…
E os sentimentos oscilam.
Oscilam perigosamente o tempo todo.
Até que o clímax se aproxime. E você prende a respiração
porque é deveras eletrizante e Meg Cabot parece ter feito um de seus melhores
trabalhos nessa incrível composição. Suze volta para o passado pelo seu quarto
mesmo, segurando aquele retrato que ela tem de Jesse desde A Hora Mais Sombria. E, em sua própria casa (mas em 1850), ela é
expulsa pela Sra. O’Neil porque ela parece uma “moça da vida”. É eletrizante
pensar na perspectiva de viagem no tempo, é incrível pensar que Suzannah Simon,
uma garota do século XXI, esteja em 1850. E ela nem sabe direito para fazer o
quê ainda. Por isso parece bom que ela tenha um dia inteiro no passado no qual
ela vai poder pensar no que fazer, deixar seus sentimentos se assentarem na
esperança de que, eventualmente, façam algum sentido. Ela passa uma noite de tempestade
escondida em um celeiro ao lado de Paul Slater – o Paul que a amarra no dia seguinte quando vai atrás de Felix Diego,
tentando concretizar um plano potencialmente paradoxal.
Sem sucesso.
As cenas no passado são incríveis. Especialmente
quando Suzannah conhece o Jesse. O JESSE. O Jesse de verdade, o Jesse Vivo, o
Jesse que emana tanta vida e energia que deixa o Jesse Fantasma (o do quarto de
Suzannah, que ela tanto ama) parecendo um pálido eco do Verdadeiro Jesse. E é
emocionante. Porque eu não consigo sentir por aquele Jesse o que sentimos pelo
Jesse Fantasma, porque ele não tem os 150 anos de história e não tem as
lembranças todas de tudo o que passou ao lado de Suze, mas é um Jesse que emana
energia. Aquele Jesse Vivo é ainda
mais bonito que o Jesse com quem passamos todos os outros livros, é um Jesse
cujo brilho no olhar se intensifica mais que tudo, um Jesse cujas mãos grandes
e morenas emanam calor que nunca antes emanaram, um Jesse que tem uma
intensidade que imaginávamos ver no Jesse Fantasma mas nunca vimos de fato. E bem, é difícil. Eu digo que é muito
difícil porque não dá para saber direito o que fazer, o que pensar. Ele é e não
é, simultaneamente, o Jesse de Suzannah.
Mas ela não resiste. Ela diz: “Jesse, meu nome é Suzannah Simon. […] Sou o que chamamos de mediadora.
Venho do futuro. E vim aqui impedir que você seja assassinado esta noite”.
Porque, apesar de tudo, ELA O AMA. Apesar de ter voltado a 1850 com a ideia
fixa de impedir Paul Slater de salvar a vida de Jesse, ela não pode permitir que ele morra. O que é doloroso. Porque ela o
está deixando partir, está abrindo mão de seu amor, abrindo mão de conhecê-lo,
para que ele possa viver em toda sua glória, como merece. Para que tenha sua segunda chance. Ela não vai permitir que ele
morra tão injustamente. Assim como ela não permitiria que sua mãe ou David
(acho lindo como ela cita o David nesse momento, o David que cresceu, que tem
nova voz, que é o membro da família que mais sabe sobre ela) morressem. Então,
nesse momento, precisamos admirar a força de Suzannah, a coragem para fazer o
que ela sabia que era certo por mais que ela pudesse sofrer como consequência
disso tudo. E então lentamente você vai percebendo como a viagem no tempo foi a
melhor escolha para essa finalização.
Porque conhecemos o Jesse Vivo e, embora não seja
Nosso Jesse, ele ainda é um Jesse encantador. Um Jesse que pula para salvar a
Suzannah, mesmo mal a conhecendo, quando ela está no meio do incêndio no
celeiro. Um Jesse que pula lá de cima com ela… e então ela se desloca de volta para o presente levando com ela o
Jesse, “vivo”, do passado. É uma tensão incrível. Dolorosa. Ela percebe que
está perdendo Jesse para sempre. Paul Slater a ajuda a levá-lo para o hospital,
mas ele está em um estado de coma que não pode ser explicado por nenhum médico.
Bem, as cenas são lindas e de arrepiar. Especialmente quando as coisas se
tornam tão melhores e ele aparece ao lado dela no Hospital, o Jesse Fantasma, e
temos, por algum tempo, dois Jesses.
E quando eles estão lindamente se preparando para se despedirem, uma coisa
muito linda acontece e Jesse Fantasma toca a perna de Jesse Vivo e é sugado
para dentro dele. Não tem nada que nos faça abrir um sorriso mais verdadeiro do
que o momento em que a vida volta ao corpo de Jesse, ele abre os olhos,
reconhece Suzannah e diz, na sua linda voz:
“Hermosa”.
O último capítulo é lindíssimo, alegre, para cima.
Traz muita informação e finaliza a série de forma linda. Maravilhosa. Jesse
finalmente é visto por todos na família, e ele está lá na casa como
acompanhante de Suze para o baile, pronto para buscá-la. São a Suze e o Jesse
que conhecemos, mas agora ele está de smoking,
absolutamente gato, e capaz de levá-la para o baile da escola, para deixar
pessoas como Kelly Prescott morrendo de inveja! Jesse vai começar um novo
emprego, começando uma nova vida com a ajuda do Padre Dom. Suzannah permitiu a
Paul Slater um novo recomeço, e a maneira como eles conversam no final e ele
fala do avô é realmente reconfortante, bonito. Cee Cee está absolutamente feliz
com Adam e feliz por finalmente conhecer o Jesse por quem Suzannah era
apaixonada, mesmo que para ela ele ainda fosse um fantasma. E, claro, aquela
belíssima e comovente cena em que o pai de Suze aparece fraco para ela,
finalmente podendo seguir seu destino,
ir para onde quer que ele vá… uma lindíssima despedida que, ainda por cima,
ajuda Suze a descobrir que Jesse, agora, também é um mediador.
Sim, não podia ser um final mais lindo.
Me deixou às lágrimas!
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