Curtindo a Vida Adoidado (Ferris Bueller’s Day Off, 1986)


“Cameron, dear friend: you thought we would have no fun. Shame on you”
Ah, fala sério Curtindo a Vida Adoidado realizou, remotamente, o sonho DE TODO MUNDO! Com aquelas cenas enfadonhas da sala de aula, com aulas tediosas e insuportáveis que NINGUÉM aguenta, a justificativa de Ferris Bueller parece nem precisar de explicações, não é? Assim, curtimos “o dia de folga” de Ferris Bueller, quando ele decide não ir à escola porque o dia está perfeito demais para ficar sentado em cadeiras ouvindo professores chatos falarem infinitamente sobre coisas que não queremos ouvir. O filme, um clássico do gênero, continua perfeito, mais de 30 anos depois de seu lançamento. Atemporal e fascinante, as cenas são inesquecíveis e, possivelmente, inigualáveis. Ferris Bueller em cima de um carro alegórico cantando Twist and Shout no meio da cidade e se divertindo horrores deve ser a meta de vida de muita gente, não é?
Quer dizer, eu diria que pode ser a minha.
Curtindo a Vida Adoidado fala de um adolescente que sabe qual é o significado de VIVER. Eu adoro o filme porque ele não cai nos clichês comuns que adoram nos dar lições de moral ou coisas assim. O protagonista é o rapaz matando aula, e ninguém torce contra ele! Afinal de contas, “Life moves pretty fast. If you don’t stop and look around once in a while, you could miss it”. Uma ótima frase em cima da qual viver nossas vidas! Uma coisa que me fascina bastante também em Ferris Bueller’s Day Off é que Ferris está O TEMPO TODO conversando com a gente, quebrando a quarta parede, nos aproximando do filme e nos tornando cúmplices de cada coisa que ele faça. Tudo começa com um “They bought it”, depois de toda sua encenação inicial de que ele está doente e por isso não pode ir para a escola naquele dia… e quer saber? Seus pais acreditam!
Faz todo o sentido o que Ferris Bueller diz – na verdade eu já sou inclinado a concordar com ele, mas acho que mesmo que não fosse, ele me convenceria. Então estamos em seu 9º “sick day”, então ele tem que fazer O MÁXIMO COM ELE. As cenas são gostosas, divertidas, maravilhosas. Como ele cantando no chuveiro. Seu roupão vermelho e branco. Ou então aquele momento em que o diretor liga para a mãe dele para falar sobre como esse é o nono dia que ele não comparece à escola nesse semestre, e enquanto ele olha para a tela do computador, ele vê o número cair de 9 para 2! Pedir um carro de presente e ganhar um computador nem é tão ruim assim, no fim das contas. Detalhe, também para o diretor enfurecido gritando pela sua secretária, a Grace, que está discretamente cheirando branquinho. COMO EU AMO AQUILO!
São pequenas cenas que fazem TODA a diferença!
Tudo vai se organizando. Ferris Bueller liga para Cameron, seu melhor amigo que está em casa, deitado, supostamente doente, morrendo. E manda que ele venha lhe buscar, porque ele tem um carro. Então, entre exemplos de deboche e descaramento, enquanto ele liga para a escola com sons de tosse gravados, ou enquanto ele alterna entre falar com o pai no telefone, todo mal, ou falar com Cameron, ameaçando-o, ele consegue até tirar Sloane, sua namorada, da sala de aula, quando a enfermeira vai buscá-la porque “sua avó morreu”. Ferris Bueller realmente não tem limite, e eu ADORO. O diretor, claro, saca todo o plano depressa, então ele entra em uma tentativa de capturá-lo, mas aquele telefonema… AH, AQUELE TELEFONEMA! Um dos momentos mais épicos e mais perfeitos de Curtindo a Vida Adoidado está naquele telefonema.
O diretor acha que está dominando a situação, que tudo bem, que quem está falando com ele dizendo que é o pai de Sloane é, na verdade, Ferris Bueller, então diz coisas terríveis, E HILÁRIAS, como que ele quer ver o corpo da avó e só então liberará Sloane da aula, e se ele não gosta dessa política, então ele pode vir à escola e beijar a sua bunda… e se acha um máximo dizendo essas coisas. Sua reação (e a de Grace!) quando Ferris Bueller liga para a escola é IMPAGÁVEL. Depois que o diretor escuta Ferris Bueller sem dizer nada, ele retorna todo acanhado para o suposto “Sr. Peterson”, pede desculpas e tudo o mais… E ERA O CAMERON, CLARO! Devo dizer: eles não têm limites, mas eles são geniais. Eles sabem o que estão fazendo! E o final da ligação? CAMERON e FERRIS TÊM A MELHOR DINÂMICA POSSÍVEL EM CENA! Aquele duelo de “Where’s your brain?” versus “Why did you kick me?” é simplesmente sensacional.

“Remember who you’re dealing with”
“Bueller. Ferris Bueller”
COM TRILHA DO 007 E TUDO! *-*

Então o filme caminha cheio de bons momentos. Ferris convence Cameron a pegar a LINDÍSSIMA Ferrari vermelha de seu pai, que nunca sai da garagem. [Detalhe para a dissimulação incurável de Bueller em falas como “Look, I’m sorry. There’s nothing else we can do”] E então começa a aventura! “The question is not what are we going to do is what aren’t we going to do”. Cameron e Ferris buscam Sloane na escola (que por sinal está comovida com o estado de saúde de Ferris Bueller, até juntando dinheiro para comprar-lhe um novo rim!), e deixam o carro em um estacionamento com caras que saem para curtir com ele e tudo! Há conversas até sobre casamento, e aqui exploramos, timidamente, um pouco mais de Cameron com o “It’s like that car. He loves the car, he hates his wife”, em que é possível ver o motivo de Cameron sempre se esconder atrás de doenças inventadas…
…ele sofre bastante em casa com sua família problemática!
Mas isso tudo fica esquecido na MARAVILHOSA e INESQUECÍVEL cena seguinte, em que Ferris leva os amigos a um restaurante caro e disputadíssimo e se passa por Abe Froman para poder entrar. E é claro que ninguém acredita nele. No começo. “A) You can never go too far. B) If I’m getting busted it’s not gonna be by a guy like that!” Sua genialidade é admirável porque ele consegue artimanhas sensacionais para tudo… como quando ele ameaça ligar para a polícia, tira o cara do balcão e o faz falar pelo telefone com Sloane, que descreve “Abe Froman” exatamente como Ferris Bueller. E ELES ENTRAM! Ele ainda consegue dar umas patadas como “Don’t think twice. It’s understanding that makes it possible for people like us to tolerate a person like yourself”, que podem não ser tão educadas assim, mas que eu AMO. Quem nunca quis?
[Detalhe para o cara com a Ferrari e a trilha se Star Wars *-*]
As geringonças em casa também são memoráveis. Vemos a primeira quando a mãe aparece para ver “como ele está”, e quando ela abre a porta o boneco se mexe na cama e o som de ronco sai dos gravadores. Também tem o lance da campainha e da gravação quando o diretor Ed Rooney vai até a casa dele, e até que teria sido muito bom, caso o diretor não tivesse apertado continuamente a campainha e então a gravação se reiniciou, só provando que ele não estava lá… mas a casa e o destino deu conta de dar um jeito no Ed Rooney. Enquanto isso os adolescentes curtem uma tarde no museu, e têm uma cena incrível no táxi ao lado do carro onde está o pai de Ferris, e é sensacional… fora aquela matéria no jornal, sobre como COMUNIDADE SE MOBILIZA PARA AJUDAR JOVEM DOENTE.
Olha as proporções!
Tem como não amar?
E então, a maravilha das MARAVILHAS! A cena ÉPICA e MEMORÁVEL e inigualável. “We’d like to play a little tune for you. It’s one of my personal favorites. And I’d like to dedicate it to a young man who doesn’t think he’s seen anything good today. Cameron Frye, this one is for you”. Ferris Bueller em um carro alegórico, cantando o clássico dos Beatles, Twist and Shout. E Matthew Broderick está EM SEU MELHOR MOMENTO (e estava lindo). Cheio de energia, de empolgação, se divertindo horrores, dançando, fazendo TODO MUNDO DANÇAR. Uma delícia de cena, daquelas que você assiste quando está tristonho para te animar. COISA MAIS LINDA! Sim, eu me arrisco a dizer que essa É uma das melhores cenas da história do cinema, sim, demais! E ela exemplifica o que Ferris Bueller estava falando sobre curtir a vida, porque ela passa depressa e se você não prestar atenção, ela pode passar e você nem ver…

Well, shake it up baby now
Twist and shout
Come on, come on, come on, come on baby now
Come on and work it on out

Ah, certamente o dia VALEU APENA!
Ferris Bueller se divertiu e NOS divertiu perfeitamente!
Depois disso, é hora de voltar para casa… e a quilometragem da Ferrari assusta! Cameron entra em um estado de choque catatônico assustador. E ali Ferris fala conosco novamente, e é uma cena muito bonitinha, porque ele fala de seus sentimentos, ele fala sobre Cameron, sobre como se preocupa com ele, como queria que ele se divertisse e queria curtir porque no ano seguinte eles iriam para faculdades diferentes e tudo o mais. Foi perfeito, uma amizade linda e verdadeira. “Maybe he is really sick. Maybe he isn’t just torturing himself”. E com a história FORTE de Cameron, eu fico muito contente que ele tenha tão bons amigos! Cameron só volta ao normal depois que ele se joga na piscina (e eu fiquei deveras preocupado, confesso) e Ferris Bueller o salva. “Ferris Bueller, you’re my hero”.
He is.
Todos eles compartilham uma cena muito lindinha enquanto esperam que a ré vá resolver a questão da quilometragem do carro. Sentados do lado de fora da garagem de Cameron, eles conversam, e ele admite: “It’s the best day of my life. I’m gonna miss you guys next year”. Existe MUITO AMOR entre aqueles três, e isso me comove profundamente! É uma amizade saudável, bonita. E então eles percebem que o lance da ré NÃO ESTÁ FUNCIONANDO. Ferris Bueller até tem uma ideia extra, para resolver o problema, mas Cameron não a aceita… finalmente ele resolve TOMAR UMA POSIÇÃO, diz que é melhor deixar pra lá, que ele não poderá esconder, e que então ele vai enfrentar o seu pai quando ele aparecer e pronto… ali, temos um dos MELHORES monólogos já escritos, em paralelo a uma cena forte na qual Cameron coloca para fora todos seus sentimentos:

“I’ve got to take a stand. I’m bullshit. I put up with everything. My old man pushes me around. I NEVER SAY ANYTHING! Well, he’s not the problem, I’m the problem. I gotta take a stand. I gotta take a stand against him. I’m not gonna sit on my ass as the events that affect me unfold to determine the course of my life, I’m going to take a stand and defend it. Right or wrong, I’m going to defend it. I’m so sick of this shit. I can’t stand him, and I hate this goddamn car. Who do you love? You love a car, you son of a bitch. Shit. I dented the shit out of it. Good. My father will see what I did. I can’t hide this. He’ll come home and he’ll have to deal with me. I don’t care. I really don’t. I’m just tired of being afraid. The hell with him. I can’t wait to see the look on the bastard’s face”

Fico muito, MUITO, orgulhoso de Cameron nesse momento. De verdade! E um pouco angustiado, porque a cena é forte, intensa. Mas é um grande momento do personagem e diz muito sobre ele, e eu acho que momentos como esse ajudam a elevar Curtindo a Vida Adoidado, que não é só uma comédia gostosa, mas também tem uma história profunda que nós adoramos. Cameron desconta no carro toda sua frustração, e no fim vai um pouco mais longe do que esperava, quando o carro cai pelo vidro lá nas árvores lá de baixo. A cara dos três é impagável. Ferris diz que a culpa é dele, que ele vai ficar e falar com o pai de Cameron, mas por mais que ele esteja um pouco preocupado, ele toma uma posição de fato, e diz que quem vai conversar com o pai é ele mesmo, que eles precisam ter uma conversinha. E por mais difícil que todos saibamos que tem que ser, Sloane sorri para ele com um orgulho que é o mesmo nosso.
Então Ferris Bueller corre de volta para casa…
E QUE CORRIDA!
Mais um dos memoráveis momentos de Curtindo a Vida Adoidado. Ele correndo para chegar em casa antes do pai, quase sendo atropelado pela irmã que acaba de voltar da delegacia, então ele continua correndo, passa por dentro das casas das pessoas, pula por cima de mulheres de biquíni tomando sol, sobe num escorregador e pula em uma cama-elástica (AMO ESSA PARTE!), e é uma corrida eletrizante para chegar lá antes dos pais… e quando ele é interceptado por Ed Rooney, o que acontece? A IRMÃ VEM AO RESGATE! Quem diria? A carinha que o Ferris Bueller faz (super lindo) e o sorriso para nós antes de voltar a interpretar o doente para o diretor são MARAVILHOSOS. Por fim, sabe de uma coisa? Vitória de Ferris Bueller. E vitória NOSSA. Chegada no quarto, tirando os sapatos e casaco, jogando uma bola de tênis para desligar o áudio… e então os pais chegam.
E TUDO BEM!
Ah, como ele pode ser tão dissimulado? E por que amamos tanto essa dissimulação?
Um dos MELHORES filmes já feitos. Certamente. Desculpem-me o longo texto, mas Curtindo a Vida Adoidado não podia ganhar algo menor do que isso, são muitas cenas memoráveis que precisavam ser comentadas. O que fica, no final, é esse ensinamento de Ferris Bueller, que faz todo o sentido: “Life moves pretty fast. If you don’t stop and look around once in a while, you could miss it”. Ele conseguiu. Ele curtiu a vida adoidado. E deu tudo certo. Por que nós não podemos fazer isso de vez em quando? Nós PRECISAMOS fazer isso de vez em quando. Um filme divertido, com uma história incrível, e que realiza o sonho de muita gente… não é à toa que passava o tempo todo na Sessão da Tarde e é até hoje visto como um dos filmes favoritos de MUITA GENTE. Porque vale a pena, porque é perfeito, porque é incrível… amamos, do início ao fim!

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“You’re still here? It’s over. Go home. Go!”




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