Fangirl (Rainbow Rowell, 2013)


Cath é fã da série de livros Simon Snow. Ok. Todo mundo é fã de Simon Snow, mas para Cath, ser fã é sua vida – e ela é realmente boa nisso. Vive lendo e relendo a série; está sempre antenada aos fóruns; escreve uma fanfic de sucesso; e até se veste igual aos personagens na estreia de cada filme. Diferente de sua irmã gêmea, Wren, que ao crescer deixou o fandom de lado, Cath simplesmente não consegue se desapegar. Ela não quer isso. Em sua fanfiction, um verdadeiro refúgio, Cath sempre sabe exatamente o que dizer, e pode escrever um romance muito mais intenso do que qualquer coisa que já experimentou na vida real.
Mas agora que as duas estão indo para a faculdade, e Wren diz que não a quer como companheira de quarto, Cath se vê sozinha e completamente fora de sua zona de conforto. Uma nova realidade pode parecer assustadora para uma garota demasiadamente tímida. Mas ela terá de decidir se finalmente está preparada para abrir seu coração para novas pessoas e novas experiências. Será que Cath está pronta para começar a viver sua própria vida? Escrever suas próprias histórias?

E simples assim, eu estou completamente APAIXONADO por Rainbow Rowell!
Meu sentimento ao ler Fangirl, de Rainbow Rowell, foi de profundo envolvimento e uma capacidade de me identificar espetacular! A escrita acessível da autora, repleta de diálogos, deixa muito claro os sentimentos das personagens, em uma história complexa que amarra diferentes tramas, e nos deixa completamente presos. A autora garante uma fluidez impressionante em sua história, que parece perfeitamente humana e real. Eu senti muito de mim mesmo na personagem de Cather Avery, nossa adorada Cath, mas também senti muito de muita gente que eu conheço, tanto nela quanto nas pessoas ao redor dela. E isso é tão aconchegante. O livro me conquistou dessa maneira, fazendo com que eu me identificasse com os personagens ou com as situações, e desse modo tudo parecia muito mais real. Parece ter um apelo gigantesco a mim.
Essa é a história de uma garota fã de uma série de livros – assim como nós somos fãs obcecados por Harry Potter, Cath é uma fã obcecada por Simon Snow. E isso faz parte de sua vida. Seja na maneira como ela vive pensando sobre isso, relendo os livros e fazendo maratona dos filmes, ou então escrevendo suas fanfictions. Mas ela está enfrentando uma fase importante de sua vida, de sair de casa e ir para a faculdade, lugar onde sua irmã começa a se afastar dela ao não querê-la mais como colega de quarto, e então ela precisa encarar a realidade de que as coisas em sua vida nem sempre serão como elas costumavam ser. E a sua fanfiction de Simon Snow se torna uma perfeita maneira de se refugiar do mundo real e de tudo o que ela teme. Como o contato de Levi, que ela julga ser o namorado de sua colega de quarto; o abandono da mãe quando elas ainda eram crianças; a bebedeira de Wren, distanciando-se cada vez mais dela; o pai perdendo o controle esporadicamente.
Parece demais para que Cath possa aguentar! Por isso ninguém a julga…
O livro é perfeitamente envolvente. Eu o li depressa, apaixonado, avidamente virando as páginas, querendo saber o que estava para acontecer com os personagens que eu tanto aprendi a amar… e não era em apenas um plano, e isso foi uma das coisas que mais me fascinaram nessa obra de Rainbow Rowell: ela narra um pouco da história de Simon Snow como fora escrita por Gemma T. Leslie; ela narra a história de Simon e Baz como Cath quer que ela seja, na fanfiction Vá em frente, Simon; e ainda há toda a história de Cath, que está em seus relacionamentos interpessoais, seja com Nick, com Levi, com Reagan, com o pai ou com a mãe… e ainda toda aquela questão da faculdade, a matéria de Escrita de Ficção que ela não tem certeza de que consegue levar adiante e que é o que realmente quer, afinal talvez ela só seja boa em manipular o mundo e os personagens criados por outras pessoas. Ela sabe onde quer que Simon e Baz estejam, mas ela não quer criar os seus próprios personagens e os seus próprios mundos.
É apaixonante. E revigorante.
Simon Snow é uma série de oito livros, com o último ainda a ser lançado, e ela parece super interessante – propositalmente, Rainbow Rowell a aproxima exageradamente de Harry Potter, e é um dos motivos pelos quais conseguimos nos enxergar tanto em Cath. Fangirl se inicia com a entrada na Wikipédia sobre a série, apresentando-a como “a história de Simon Snow, um órfão de onze anos de idade de Lancashire que é recrutado para frequentar a Escola de Magia de Watford, para tornar-se um mago”. As semelhanças continuam, mas Rainbow Rowell, como Gemma T. Leslie, também cria uma infinidade de outras possibilidades, como o Humdrum, uma espécie de Lord Voldemort, ser uma própria projeção de Simon Snow ou algo assim, criado por ele. Também o fato de os dormitórios parecerem-se com os das faculdades, com Simon Snow tendo Baz como colega de quarto, e ele sendo um vampiro… é uma proposta e tanto.
Conseguimos nos enxergar em Cath por todo o livro, em sua fanática obsessão. A paixão por uma série literária a esse nível é compreensível. Vivemos isso. Eu gosto de reconhecer Harry Potter ao longo da obra de Rainbow Rowell, como uma passagem que realmente me deixou aos berros aqui: Cath, Wren e o pai estão vendo uma maratona dos filmes na véspera de Natal, e durante o quarto filme (justamente o QUARTO FILME!), Wren faz um comentário sobre como o cabelo de Baz está o máximo nesse filme; “Todos os atores usavam cabelo comprido nesse filme”. Bem, e nós nos lembramos dos cabelos dos atores em Harry Potter o Cálice de Fogo (o QUARTO!), fora que em algum momento, sem querer chamar Laura de mãe e nem pelo nome, Cath começa a tratar dela como “Aquela Que Não Deve Ser Nomeada”. Uhm. Ri muito e me emocionei com Cath e Wren, no fim do livro, lançamento de Simon Snow e a Oitava Dança e a emoção delas na livraria à meia-noite, chorando com o livro em mãos.
Porque eu já estive lá. Eu sei qual é o sentimento.
Mas isso é apenas o começo…
Não queremos que ninguém pense que Simon Snow é o protagonista de Fangirl. O livro é sobre Cath, e com exceção da versão de Simon Snow em sua fanfic, acho que o personagem aparece bem pouco e não sabemos muito sobre ele. O Mundo dos Magos é um refúgio caloroso ao qual Cath pode recorrer, mas não é a estrela da obra. A estrela da obra são os motivos que obrigam Cath a recorrer a ele. Eu adoro sua personalidade, apesar de tudo. Em vários momentos eu quis vê-la gritar, quis vê-la perder o controle, e discuti com a personagem por todo o medo de confronto que ela parecia apresentar. Eu queria vê-la mais enérgica. Mas você entende que essa é a Cath, e talvez seja justamente isso o que a torna uma pessoa tão real. Vulnerável e sensível, mas humana. Ela vive, ela sofre, ela se esconde. Assim como nós sofremos e nós nos escondemos em vários momentos. Essa é a Cath. E eu fiquei profundamente apaixonado por ela, incondicionalmente…
Assim como Levi. Ou por Levi.
Levi demorou a me conquistar, e isso é uma perspectiva nova. Eu estou acostumado a ler as obras de Meg Cabot, por exemplo, como uma deliciosa maneira de diversão – mas eu não sou surpreendido; ela sempre é previsível o suficiente para que saibamos por quem a protagonista vai se apaixonar e como as coisas vão acabar… em algum momento desse livro eu estava tão confuso que estava quase jogando tudo para cima. Assim como Cath, refugiando-me na fanfic de Simon Snow, na qual ele era profundamente apaixonado por Baz, e deixando a vida real de lado porque ela não parecia nada promissora. Levi era encantador, mas de uma maneira perigosa, de uma maneira que exigia cautela. De uma maneira que parecia me dizer: Vá com calma, porque ele pode te fazer sofrer. E ele vai te fazer sofrer, infelizmente. Mas ele também vai te fazer suspirar.
A vida amorosa de Cath não é das mais simples, nem de longe. Ela acredita que Levi é o namorado de sua colega de quarto, Reagan (eu ADORO ela, sem mais!), embora não possa reprimir algum sentimento ao vê-lo. E ela começa a passar algumas noites na Biblioteca com Nick, escrevendo com ele. E a sintonia dos dois é, aparentemente, tão bonita, que em algum momento eu torci por eles. Até que Cath passasse uma noite inteira lendo para Levi e dormisse aconchegada em seu peito, sentindo-se protegida e feliz. Mas então o Levi beijou outra garota numa festa. E o Nick a traiu entregando para a professora Piper a história deles como se fosse só dele, menosprezando o trabalho dela como uma simples editora. Foi quando eu corri para Simon e Baz. Mas eu achei uma proposta inteligente e cheia de esperança de Rainbow Rowell. Foi revitalizante ver Levi precisar entender o que sentia por Cath, vê-lo lutar para provar que não fora só um beijo…
…e ele faz isso tão bem!
Afinal ele está sempre disposto a estar ali por Cath, em TODOS os momentos. Cada vez que ela chega e o encontra sentado do lado de fora do quarto o meu coração dá um pequeno pulo. Rainbow Rowell fez com que nós nos apaixonássemos por ele da mesma maneira que Cath se apaixonava, por mais receosos que estivéssemos – o sorriso inigualável e sempre presente dele, a cautela com a qual ele se aproxima depois da grande mancada. Mas ele é adorável. Ele é um fofo levando-a para Omaha para ver o pai, e conhecendo-o ao ficar para jantar! Ele é um fofo estando no hospital quando ela sai depois de ver Wren. Ela é uma fofa ao ler o livro para ele, e ele é um fofo ao pedir que ela leia suas fanfictions para ele. Toda a situação é apaixonante. De verdade. Nós compartilhamos com Cath o desejo de tocar-lhe o queixo, de passar a mão por seus cabelos… e nós conseguimos sentir um profundo desejo quando ela descreve o momento em que lhe tira a camisa. Tão sutil, tão breve e tão sensual… ela sabe o que faz.
Wren se torna uma impressionante péssima irmã! Ela fala com desprezo sobre as fanfictions que Cath escreve sobre Simon e Baz. Esquece-se completamente da irmã saindo com Courtney e se embebedando de maneira vergonhosa, noite após noite. Confraterniza com Laura, a mãe que as abandonou, mesmo sabendo o quanto isso faz Cath sofrer. E eu quis, repetidas vezes, gritar com Wren pela maneira imbecil como ela estava agindo, pelas coisas que ela estava fazendo com a irmã e com ela mesma, e eu quis brigar com Cath por sempre aceitar isso. Até que ela não aceitou mais. O livro é forte em suas palavras, e traz cenas chocantes nas brigas de Wren e Cath, como quando Cath diz que tudo bem a Wren ir passar o Natal com aquela que os abandonou, que ela ficaria ali com aquele que estava lá para juntar os pedaços; ou quando ela diz que prefere ser derrubada, do que viver bêbada. Foi doloroso demais ver Cath subir as escadas chorando com o presente de Natal de Laura, mas isso permitiu que ela se afastasse da irmã por tempo o suficiente para que Wren percebesse o que estava fazendo com ela e com a sua própria vida. Cath cresceu independentemente, construindo uma linda amizade com Reagan, completamente fora do convencional, e um lindo romance com Levi. E capítulos e mais capítulos em Vá em frente, Simon.
Até que os papéis se invertessem e Wren precisasse dela.
Foi fantástico que Wren precisasse dela de maneira tão intensa. As cenas durante todo o livro foram ótimas, e eu gosto de como Cath é a preocupada… como ela está presente com o pai, como ela está disposta a abandonar tudo para cuidar dele quando ele surta no trabalho e vai internado. Embora ela não esteja muito feliz na Faculdade naquela época, também. Mas essa humanidade toda de Cath a leva até o hospital para cuidar de Wren quando ela é internada em coma alcóolico, e é perfeitamente bonito que a irmã peça que ela deite ao seu lado. Mesmo com toda a raiva que eu senti por Wren (e não foi pouca, confesso!) ao longo do livro, quando ela mostrou toda essa fraqueza e vulnerabilidade, eu não pude fazer outra coisa senão perdoá-la. Porque ainda que ela estivesse sendo uma babaca, ela escutou Cath à sua maneira, e o pai que finalmente soube se impor e gritar com a filha quando era necessário. E era.
A catarse se tornou ainda mais forte. Eu me emocionei profundamente com a maneira como Wren voltou a se aproximar da irmã, e como mostrou-se ainda uma fã de Vá em frente, Simon, dando forças a ela nessas últimas semanas que ela tinha para terminar a fanfiction, escrevendo freneticamente antes do lançamento do oitavo e último livro de Simon Snow por Gemma T. Leslie. Acho que esse é o poder de Rainbow Rowell em Fangirl: todo o sentimento. A maneira como Levi vai atrás de Cath no hospital enquanto ela cuida da irmã; como Reagan é uma ótima amiga o tempo todo; como Cath cuida do pai; como o pai cuida de Wren; como Cath cuida de Wren, de um jeito ou de outro; são momentos simples e rápidos que me arrepiam todo, que tornam o livro muito bonito, como Wren e Cath pulando de alegria e chorando com o último livro de Simon Snow e Reagan fazendo comentários como “Elas estão chorando. Não posso nem olhar”, mas estando ali presente por elas… e pelo Epílogo, nós sabemos que Cather Avery tem todo seu potencial, o que não era realmente uma dúvida para nós, leitores.
Como escritora de fanfiction.
Como escritora.
Como vencedora do Prêmio da Graduação Prairie Schooner.

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