Música de LES MISÉRABLES (Brasil) – Texto 3 de 3
Às vezes eu tenho dificuldade para explicar como é
a MÚSICA de Les Misérables, mas vale
dizer que A ORQUESTRA É FENOMENAL. Inteiramente cantado, o musical transita por
entre músicas bem marcadas e independentes, e outras que são cenas completas,
com diálogos e lutas e brigas, como entre Jean Valjean e Javert, e são
realmente maravilhosas… com uma orquestra lindíssima, os atores completam com
suas vozes talentosas e um cenário de tirar o fôlego, e tudo fica grande,
completo e APAIXONANTE. Nos encantamos por Les
Misérables desde os primeiros acordes, desde o primeiro rompante forte da
orquestra, e o “Prólogo”/“Solilóquio” (“Prologue”/“Soliloquy”) que nos
introduz ao personagem de Jean Valjean como o Prisioneiro 23623, enquanto os
demais remam e ele consegue a sua dolorosa liberdade.
Falando em dor, um momento profundamente doloroso
em uma das letras mais BELAS de Les
Misérables é “Eu Tive um Sonho” (“I Dreamed a Dream”), em que
Fantine, pouco antes de vender seus pertences, seu cabelo e sua dignidade, fala
sobre como a vida lhe roubou tudo aquilo que ela sonhou. Mataram todos os seus sonhos, e isso destrói os nossos corações. Uma
interpretação belíssima da personagem! Também temos o emocionante momento em
que Jean Valjean canta “Quem Sou Eu?” (“Who Am I?”), ao encontrar Javert
por acaso e este lhe falar que finalmente encontrou o prisioneiro que busca há
8 anos… ele sabe que precisa salvar a vida de um pobre inocente quase sendo
condenado em seu lugar (“Se eu me
entrego, prisão / Se eu me calo, maldição”), e como o bom homem que é, Jean
Valjean vai ao tribunal e se entrega.
“Sou 23623”.
Me ARREPIOU!
Quando estamos habituados a musicais, sempre
esperamos ansiosamente pelo momento de fechamento do primeiro ato – não queremos
que acabe nunca, na verdade, mas sabemos que será uma das cenas mais
impactantes do espetáculo. Na Paris de 1832, o elenco todo entoa “Mais Um Dia” (“One Day More”), a marcante música de Les Misérables que conta com Jean Valjean querendo fugir, porque
acha que Javert o encontrou uma vez mais, enquanto Cosette e Marius cantam o
seu amor um pelo outro, e o grupo de estudantes do qual Marius faz parte se
prepara para a grande luta do dia seguinte (“Só
mais um dia pra saber da nossa guerra ou nossa paz”), terminando com a
empoderada marcha em direção à luta, com a bandeira vermelha orgulhosamente
balançando ao fundo. Um dos fins de primeiro ato mais ARREPIANTES da história
do teatro musical!
Também tenho um carinho especial pela canção de
Éponine, sofrendo pelo amor de Marius, tendo que levar uma carta do homem que
ama a outra mulher, Cosette, e então ela dolorosamente canta “Só Pra Mim” (“On My Own”), dizendo que ama Marius, mas é “só para ela”,
antes de retornar à luta ao lado dos estudantes, e de morrer no meio da
batalha, nos braços de Marius, o homem que ama, cantando com ele “A Chuva Cai” (“A Little Fall of Rain”), uma música tão dolorosa e tão
PODEROSA, que mostra o AMOR (romântico ou não) que existe entre os dois, e é
tão forte… a música que mostra uma perda importante entre os personagens que
acompanhamos por um longo tempo, pouco antes de termos que enfrentar outra
perda dolorosa que é a de Gavroche, pequeno, que deixa a barricada em busca de
mais munição para seus amigos.
E morre.
Sobre Marius… com ele dormindo durante a
barricada, descansando, temos um momento solo de Jean Valjean cantando “Deus do Céu” (“Bring Him Home”), que é uma conversa dele com Deus (de quem
se tornou tão íntimo desde que aquele padre o ajudou em 1815 e lhe deu a chance
de recomeçar), pedindo que ele cuide de Marius, tão jovem, e o leve de volta
para casa. E, claro, a tocante “Tantas
Mesas e Cadeiras” (“Empty Chairs at Empty
Tables”), depois da derrota na barricada, quando, de preto e mancando,
Marius retorna sozinho ao bar de encontro com os seus amigos, também
estudantes, agora todos mortos, e olha para as mesas e cadeiras vazias, e pede
perdão por ter sobrevivido… é incrivelmente apavorante e doloroso, e Filipe
Bragança fez um trabalho lindíssimo interpretando a canção de todo o coração!
Como os amigos aparecem atrás dele, apagando as
luzes…
AQUILO ME ARREPIA AINDA AGORA!
Por fim, temos o encerramento do musical, no
programa chamado simplesmente de “Final”
(“Finale”), que é a grande
despedida de todo o elenco, quando Jean Valjean, mais velho, se despediu de
Marius e se retirou para morrer – mas Marius sai de seu casamento com Cosette,
levando-a consigo, para que possa se despedir do pai enquanto Fantine e Éponine
vem para buscá-lo. TUDO ALI É TÃO PROFUNDAMENTE TOCANTE. O musical todo é um
verdadeiro espetáculo e uma obra-prima a ser eternamente admirada. Há 16 anos o
Brasil viu uma versão de Les Misérables,
fico feliz que possamos ter a oportunidade de ver isso de novo, e com tanta
beleza e perfeição. Uma produção esmerada e bonita, que merece nossa atenção,
nosso agradecimento e nossos aplausos… OBRIGADO por terem trazido isso tudo de
volta ao teatro.
Sempre amaremos Les Misérables.
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