Assassinato no Expresso do Oriente (Murder on the Orient Express, 2017)
“You know,
there is something about a tangle of strangers pressed together for days with
nothing in common but the need to go from one place to another, and never see
each other again”
JÁ ESTOU
ENCANTADO POR HERCULE POIROT! Infelizmente, eu tenho que confessar a minha
negligência em relação a leituras de Agatha Christie: nunca as fiz, não até
esse filme, de todo modo. De agora em diante, certamente farei uma maratona de
leitura das histórias de Hercule Poirot, especialmente tendo em vista a
sequência baseada em “Morte no Nilo”
que já se anuncia. O filme é encantador, perspicaz e tem muita personalidade e
carisma. Em grande parte, graças ao próprio Hercule Poirot, brilhantemente interpretado
por Kenneth Branagh, mas também por essa fotografia impecável e pelo próprio
mistério criado por Agatha Christie, com uma resolução fascinante e
surpreendente. O filme tem um tom de “clássico instantâneo” que fez com que eu
me apaixonasse, e mal posso esperar para estar de volta a esse universo todo de
investigação.
Poirot é um
detetive belga bastante perspicaz, e com uma obsessão pela verdade e por equilíbrio. A introdução do filme nos
apresenta isso de forma ágil e clara bem depressa, enquanto Hercule Poirot mede
ovos de seu café-da-manhã antes de sair e resolver um caso, como se não fosse nada demais. E eu
gosto do seu cuidado com detalhes, de como resolve um furto, por exemplo, fazendo
um discurso inspirado, não sem antes colocar a sua bengala na parede e pedir um
policial “do lado sul”. Ele prevê detalhadamente os passos do criminoso, e como
ele tentará escapar… portanto, a forma perfeita de pegá-lo. Ele é astuto, e eu
gosto disso. Além de ser brilhantemente divertido, corrigindo a pronúncia de
seu nome, por exemplo, ou rindo ao ler Charles Dickens (amei essa parte!) ou
aquele divertido “Did we die?” quando
uma avalanche detém o Expresso do Oriente.
O visual do
filme é PERFEITO. Fotografia de qualidade que recria todo o ambiente do
“Expresso do Oriente”, e esse cenário clássico do trem é bastante convidativo. Nos envolvemos depressa e
nos deliciamos com os mais belos cenários e figurinos, uma perfeita escolha de
cores, uma direção ágil e com posições inusitadas de câmera, enquanto um
mistério se instala. Ratchett foi assassinado no trem, e a presença de Hercule
Poirot, um dos maiores detetives do mundo,
não foi planejada – mas agora ele precisa investigar isso. Muito me interessa
esse início do mistério, quando o médico a bordo fala sobre a possível hora do
assassinato, e sobre a falta de “padrão” na maneira como Ratchett foi
esfaqueado… tudo intrigante e repleto de dúvidas que Poirot precisa resolver… e
é, provavelmente, um dos casos mais
difíceis que Hercule Poirot enfrenta.
Assim, o
filme é uma constante caça ao tesouro, enquanto somos bombardeados com
informações reveladoras, e nos angustia o suspense de não sabermos quem é o
culpado, e de suspeitarmos tanto de todos que é difícil até criar teorias… o
Expresso do Oriente fica preso em uma ponte por causa de uma inesperada
avalanche, e Poirot e Bouc (interpretado por Tom Bateman) investigam e
interrogam os passageiros daquele vagão de suspeitos, onde o assassinato
aconteceu. E uma série de provas (que Poirot chama de “abundância de provas”)
surge, como um quimono vermelho escondido em sua própria bagagem, um botão de
uniforme de condutor e o próprio uniforme em uma cabine, e então ele percebe
que o caso está estranho. Gosto da
construção dos personagens, de como TODOS parecem suspeitos ou com motivo para
ter matado Ratchett…
Que, na
verdade, era Cassetti.
A solução do
caso começa não muito tarde no filme, e essa “solução” só torna tudo ainda mais
confuso. Uma das primeiras pistas que Poirot e Bouc encontram é um bilhete que
diz que Cassetti morrerá por causa do sangue em suas mãos, no caso da Família
Armstrong. Assim, Poirot nos explica sobre o caso da garota Sonia Armstrong,
que foi sequestrada e morta há alguns anos, um caso que destruiu muitas vidas. Mais especificamente, 12 vidas diretamente.
E Hercule Poirot, em uma confusão desconcertante, especialmente para ele que é
obcecado pela verdade e equilíbrio, chega à conclusão de uma infinidade de
“culpados”, como MacQueen, primeiramente, mas também temos o esfaqueamento de
Hubbard e a confissão de Arbuthnot quando Poirot chega à conclusão de que Mary
Debenham é a culpada, ao descobrir que ela era a governanta que ensinava Helena
e Sonia.
Wow.
E nessa
constante aparição de novas provas, Poirot se dá conta do que aconteceu, com a
ajudinha do fato de Arbuthnot nunca ter
querido matá-lo. Ele junta todos os suspeitos do lado de fora do trem, numa
espécie de “Santa Ceia”, oferecendo duas resoluções ao caso: 1) Um assassino
entrou no vagão disfarçado de condutor, matou Cassetti e fugiu; ou 2) Todos
eles são culpados e mataram Cassetti juntos. A solução é perturbadora, mas
genial. Hubbard, que na verdade é Linda Arden, a mãe de Sonia Armstrong, reuniu
todas essas pessoas cujas vidas foram destruídas por Cassetti ao matar Sonia, e
todos juntos arquitetaram um assassinato, alternando-se para esfaquear o
assassino. É angustiante, mas, ao mesmo tempo, difícil de ser julgado, e é esse
o dilema que o próprio Hercule Poirot precisa enfrentar agora: o que fazer
agora que sabe a verdade?
Gosto muito
do final do filme, porque a resolução é fascinante e complexa, e justifica tudo
o que nos intrigou ao longo do mistério, e ainda existe esse desafio moral.
Poirot, sempre obcecado pela verdade, diz que não pode mentir para a polícia
nem viver com essa mentira, portanto, se eles querem ficar livres, eles só
precisam cometer mais um assassinato: o dele. E, ao dizer isso, ele lhes
entrega sua arma que, descobrimos mais tarde, está descarregada. Acredito que
era um teste, Poirot queria saber se era sensato deixar-lhes livres e dar-lhes
essa chance de “voltarem a ser bons”, ou se eles eram apenas perversos
assassinos. Não eram. Arden era uma mãe com a vida destruída, e ela estava
disposta a se matar depois disso tudo. Então, Poirot descobre que ele vai ter
que viver com essa mentira e esse desequilíbrio, mas também conclui que não
existe justiça nesse caso, porque
Cassetti mereceu morrer, e ele não pode julgar ninguém. Trata-se de um
complicado dilema ético e humano, ao qual nos dedicamos a pensar.
É triste
vê-lo deixar o trem, e pensar em tudo o que está em sua mente agora.
Ali, ele
recebe o recado que dá início a “Morte no
Nilo”.
E EU MAL
POSSO ESPERAR PARA ASSISTIR ISSO! \o/
Comentários
Postar um comentário