Chico Bento Moço, Edição #18 – O Manto Misterioso
Não é das minhas edições favoritas do Chico Bento Moço. Chico e os demais
amigos que saíram da cidade para estudar estão de volta à Vila Abobrinha, para
seu aniversário de 215 anos. As coisas estão diferentes, a “Dona Marocas” agora
é “Diretora Marocas”, mas, de um modo geral, tudo continua como sempre foi. O Chico e a Rosinha, por exemplo,
desde pequenininhos, uma graça, com a diferença de que agora eles são jovens
que estão estudando e acreditando que podem retornar à Vila Abobrinha no futuro
e torná-la melhor, cada um à sua maneira.
Eu gosto desse tema, mas eu acho que a edição tem uma proposta de “lição de
moral” válida, mas não bem trabalhada. Tudo é muito escancarado e direto, e
podemos pensar que é o ideal, para que seja compreensível, mas eu realmente
acho que quebra o clima de história.
C. S. Lewis já dizia, quando falava das “três
maneiras de escrever para crianças”, que as lições de moral são um problema.
Elas não são um problema em seu cerne, mas é problemático construir uma história para justificá-la, e foi o caso. Ela pode
surgir naturalmente, porque está muito conectada com o autor, mas assim… L. Frank Baum também falava que
“a moral as crianças aprendem na escola”. Não é bem assim, e eu acredito no
poder social de uma revista como o “Chico Bento Moço”, mas tudo tem que
estar muito entrelaçado. O roteiro falhou, infelizmente. No entanto, temos uma
parte do roteiro que muito me impressionou e me emocionou, revelando um outro
lado e fechando, por fim, a minha relação
paradoxal com “O Manto Misterioso”: O FIDO. Que coisinha mais FOFA é o Fido
ajudando e salvando o Chico!
Fido é um cachorrinho do Chico que já morreu, mas o Chico tem uma boa relação com
“fantasmas”. Agora ele o visita, e está presente em momentos mais
complicados, como quando a escola pega fogo e o Chico, todo heroico e muito
bonito, entra na escola para salvar uma garotinha. Tanto o Fido o acompanha e o
indica o caminho, como um manto protetor vem para ajudá-los a sair em
segurança. Em seguida, quando um rapaz ameaça colocar fogo no centro cívico e
acaba ferindo Rosinha com um canivete (particularmente, eu achei essa passagem
bem forte!), e ela desmaia, o Chico procura um pano para estancar o
sangramento, e Fido indica, novamente, o mesmo manto que veio salvar o Chico e
a garota das labaredas na escola. E, naturalmente, sabemos de onde veio esse
manto, embora seja escancarado no final
também.
O problema, para mim, foi a questão toda do
Renato. É bonita a questão do “renascimento”, e é boa essa conscientização
contra o bullying e tudo o mais, mas
o discurso do Zé foi bem didático, o que
talvez faça sentido para a pedagogia. Mas não achei um bom uso do roteiro,
de todo modo. Achei simplista e quase utópico demais, muito senso-comum quando
a garota sugere que o Renato ajude a reconstruir a escola e tudo fica bem… de
todo modo, para mim, a estrela da edição foi o Fido, e foi linda a despedida
dele e do Chico, quando o Fido o leva até a Ave do Paraíso, que diz que agora
acredita que já pagou a dívida que tinha com a família dele, e vai embora para
sempre, levando consigo o manto que deixou de presente e, enrolado nele, o
Fido. Foi bonito, mas foi triste… no entanto, o ciclo recomeça, com um novo
cachorrinho.
Um “Fido” em miniatura! <3
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