Extraordinário (Wonder, 2017)


“When given the choice between being right and being kind, choose kind”
Baseado no livro homônimo de R. J. Palacio, publicado em 2012, “Extraordinário” é uma belíssima história sobre um garoto com Síndrome de Treacher Collins, mas não apenas a história desse garoto. É como Via diz, “Auggie é o Sol. Meu pai, minha mãe e eu somos apenas planetas orbitando esse Sol”. Auggie Pullman, brilhantemente interpretado por Jacob Tremblay, é o mote de toda uma história que mexe com toda uma escola, quiçá com toda uma cidade. Não é a história de Auggie mais do que é a história de Via, a história de Jack, a história de Summer, a história de Julian… e a narração me envolveu e me comoveu desde o primeiro momento, e eu estava chorando muito antes do que imaginei, e chorei até o fim. Um dos filmes mais bonitos que eu vi na vida, para ser guardado com todo o carinho, eternamente em nossos corações e vidas.
Porque temos muito o que aprender dele.
Como o livro, o filme está dividido em momentos, e o primeiro personagem a assumir a narração é Auggie. Ele nos conta sobre as incontáveis cirurgias que fez, que o ajudaram a ver, falar e ouvir. Sua descrição sobre a sua doença não é tão triste quanto a maneira como ele fala das outras pessoas, e como “outras crianças vão embora do playground quando ele chega”. Por isso, ele costuma andar de cabeça baixa, e por isso sabe o quanto um sapato pode revelar sobre a pessoa que o traz. É assim que conhecemos Julian, “o riquinho”, Jack, “o que herda roupas” e Charlotte, “a garota louca”. Eles são chamados pelo diretor da escola, o Sr. Buzanfa (?), para mostrar a escola a Auggie, ainda durante as férias de verão, e é uma cena e tanto… Julian é um babaca, Jack é um fofo e Charlotte é quem tenta amenizar as coisas. Mas Auggie está acostumado com isso.
Por mais doloroso que seja.
Então já imaginamos como deve ser o primeiro dia de Auggie na escola. Primeiros dias não são fáceis, mas talvez esse primeiro dia, em específico, seja mais difícil que o normal. Ele chega à escola com o seu característico capacete de astronauta, para que ninguém veja seu rosto, que o pai o convence a tirar no último momento. É muito triste ver essa primeira entrada de Auggie na escola, ver as crianças se esquivando ou encarando, e ele se lembrando do ensinamento da mãe, sobre como “quando não estamos onde queremos estar, devemos nos imaginar nesse lugar”. E ele se imagina ali mesmo, mas com uma roupa completa de astronauta, onde ninguém vê seu rosto, e todos aplaudem e gritam seu nome. “Auggie! Auggie! Auggie!” Aquilo me partiu totalmente o coração. E foi apenas o começo de um primeiro dia péssimo, em que ele foi abandonado sozinho, boleado na queimada e alvo de comentários maldosos.
O primeiro dia de Via na escola também não foi dos melhores, e eu acho que a história ganha uma camada a mais de profundidade quando sai de Auggie no centro de tudo para nos mostrar outros personagens. Via teve sua vida totalmente mudada quando o irmão nasceu. Desde então, ela precisou ser independente e compreensiva, e parece que ela perdeu totalmente a atenção ou o interesse dos pais, e isso é doloroso. Na verdade, eu gosto muito de Via, mas sua participação me dói. Afinal de contas, ela é uma garota bem compreensiva, boa, e ama o irmão mais que tudo, mas ela gostaria de atenção, de vez em quando, que os pais estivessem preocupados com como foi o seu primeiro dia, que também não foi nada bom… parece que Miranda, sua melhor amiga de anos, simplesmente se esqueceu que gostava dela, e a única pessoa que a entendia está morta. Sua avó.
A cena com a avó é curta, simples e tão triste.
As coisas começam a mudar para Auggie na escola quando ele ajuda Jack Will durante uma prova, e depois ele se senta em sua mesa durante o almoço. As cenas daquele momento são lindas. Não apenas aquele primeiro almoço e aquela primeira conversa no caminho de volta para casa, que deixa a mãe completamente abismada, mas os vários momentos que eles compartilharam depois disso. Lutando com sabres-de-luz em casa, ou rodando em um brinquedo num parque… momentos ternos e sinceros, que culminam em algo doloroso. A verdade é que Jack Will é um fofo, e o seu sorriso me conquistou desde o primeiro momento, mas ele foi muito maldoso em um comentário durante o Halloween na escola, e isso só aconteceu porque ele estava com o grupinho de Julian, e meio que se deixou levar em sua ingenuidade infantil.
E isso partiu o coração de Auggie.
Não podia ver a expressão de Auggie sob aquela máscara de Pânico, mas vê-lo tão estático daquela maneira nos deu uma boa noção do que ele estava sentindo, e foi de partir o coração. Ele passa mal na escola, que liga para a mãe, estragando o dia que Isabel tinha planejado com a filha, Via. E por mais magoada e decepcionada que esteja, jogando o controle na parede quando a mãe não está, Via ainda é compreensiva, ainda apoia o irmão e o leva com ela para pedir doces pela vizinhança, como manda a tradição de Halloween. E a maneira como ela cuidou do irmão, como segurou a sua mão e andou com ele… aquilo me emocionou demais. Eu acho que Via é uma das melhores personagens desse filme, e eu acho que ela tem uma força impressionante que a maioria dos adolescentes não teriam, e isso faz com que eu a admire demais.
Depois que Auggie se afasta de Jack Will, ele volta a ficar sozinho na escola. Jack não entende o que aconteceu, mas Auggie não quer nem saber dele ou de estar perto dele. E “Extraordinário” nos prova, mais uma vez, que existem crianças fofas e de bom coração por aí. É Summer, aquela graça de menina, quem se senta com Auggie depois, porque “quer um amigo legal, para variar”. E Auggie está todo na defensiva, achando que foi o Sr. Buzanfa quem pediu para ela ser legal com ele e tudo o mais, mas na verdade não. Ela estava ali porque queria. E são mais momentos muito bonitos, em que Auggie segue sempre ignorando Jack – me partiu o coração aquela cena do Jack com o trenó, sinceramente. Também quando Jack pergunta a Summer se “ela sabe porque Auggie parou de gostar dele”, e ela só dá uma dica: “cara de fantasma”.
Jack demora a entender o que ela queria dizer com isso, até que se lembra de como olhou para trás antes de dizer que “se mataria se fosse como o Auggie”, e ter visto um menino fantasiado de Pânico. Ele estava esperando Auggie numa fantasia de Boba Fett. Assim começam alguns dos melhores momentos para a amizade de Jack e Auggie. Eu achei lindo quando Jack cortou Julian, que estava tentando tirá-lo de Auggie no projeto de ciências, e disse à professora que queria ficar com o seu parceiro. Auggie não compreendeu aquilo. Mas talvez tenha compreendido de fato quando Jack brigou com Julian no corredor. Aquela cena me surpreendeu e muito me emocionou… porque Julian está sendo o maldoso de sempre, e Jack virou-se e deu um soco nele, em defesa de Auggie. Essa foi uma das maiores provas de amizade que Jack deu a Auggie.
Porque o Jack GOSTAVA MUITO do Auggie! Foi um comentário infeliz e impensado, mas ele gostava do Auggie e sentia sua falta. Sua parte da narração nos mostra isso, quando ele diz que, sim, no começo ele andava com ele por causa do Sr. Buzanfa e por causa da mãe, mas depois descobriu que queria ser amigo do Auggie. Que escolheria isso. Que ele podia ter o amigo que quisesse, e ele ainda escolheria o Auggie! O fato de ter batido em Julian para defender o amigo mostra essa entrega total de Jack, porque ele era um garoto pobre, bolsista, e ele podia ser expulso por isso. Ainda assim, ele fez o que achou que era certo, e seu bom coração estava estampado na carta que ele escreveu de desculpas ao Sr. Buzanfa, se recusando a explicar os motivos que levaram à briga, aceitando as possíveis consequências, e pedindo desculpas pelo que aconteceu.
A carta do Sr. Buzanfa em resposta foi tão linda quanto! Sobre como apelar à violência geralmente não é o correto, mas ele entende a necessidade de defender um amigo de vez em quando. Depois disso, Auggie e Jack conversam em uma partida de Minecraft, e para mim esse foi um dos momentos mais LINDOS de todo o filme! Porque o Jack está ali, pedindo desculpas pelo que disse, e perguntando se tudo bem eles voltarem a ser amigos. A interpretação do pequeno Noah Jupe é incrível, e ele expressa toda a apreensão do momento enquanto Auggie demora um pouco demais para responder. E o sorriso que ele abre com o “OK” de Auggie é o mais lindo possível. Eu fico muito contente que eles possam ser amigos de volta, e eu imagino Auggie, Jack e Summer JUNTOS enfrentando qualquer problema que a escola ainda possa vir a oferecer.
Julian, por sua vez, não ganha uma parte narrada no filme, mas quase que merecia. No fundo, ele não é um garoto tão mal, não mais do que um garoto sem esperanças – como ser uma boa pessoa com uma mãe daquelas? Auggie e Jack ARRASAM na feira de ciências, naturalmente, e ganham o primeiro lugar, e depois disso Julian começava a provocar Auggie com uma série de bilhetes maldosos, e uma foto da turma, com Auggie retirado por photoshop. É absurdo e cruel. E quando o Sr. Buzanfa chama os pais para conversar, a mãe dele é muito mais desprezível que ele, dizendo que ela mesma retirou Auggie da foto, e que a vítima é seu filho Julian, que “precisou ir a um psicólogo infantil por causa de pesadelos que ver Auggie lhe causou”. A cena é tão revoltante que eu mal posso explicar! Mas Julian não quer deixar essa escola.
É desesperador, também, estar no papel do diretor, nesse momento.
E sobre Via, não posso deixar de comentar, eu gosto de como a sua vida se organiza agora, de como ela entra para o teatro, de como ela conhece Justin, a quem diz que “é filha única”, mas isso nos rende uma cena tão emocionante quando ela e Justin se beijam e, então, ela o leva embora, para conhecer o Auggie. Me arrepia só de lembrar. Miranda também não era uma garota chata como podíamos pensar, ela só estava triste, e quiçá um pouco envergonhada, por ter “se passado” por Via no acampamento de verão e ter se tornado popular por isso. Mas eu senti sua sinceridade no telefonema com Auggie, que foi incrivelmente bonito, e também quando ela deixou que Via interpretasse Emily no dia da estreia da peça da escola, porque sua família toda estava ali para assisti-la… depois disso, ela pôde voltar a frequentar a casa dos Pullman.
E foi lindo.
Passamos tanto tempo com esses personagens, e a impressão é de que não queremos abandoná-los de modo algum, mas está chegando o momento quando a escola vai a um acampamento, e Jack e Auggie fogem durante uma sessão de “O Mágico de Oz”, e as coisas dão errado. Uns grandões do 7º Ano aparecem para provocar os garotos, Jack é ferido na cabeça, e eu fiquei angustiado e nervoso… felizmente, no entanto, Auggie e Jack são ajudados por mais alguns garotos de sua turma, e Auggie faz novos amigos. Dois momentos que me marcaram envolvem a bonita relação de Auggie e Jack: primeiro os dois abraçados na ponte, de costas para a câmera, fazendo aquela “dancinha” fofa. Depois, no lago, na maneira como o Jack o abraçou de forma carinhosa e protetora, com os dois braços ao redor de Auggie, e encostando o rosto em seu cabeço.
Momentos simples, mas que fazem toda a diferença.
A verdade é que Jack foi o meu favorito, no fim das contas. Seus sorrisos tão sinceros e bonitos me encantaram. A finalização do filme termina um ano escolar, um ano em que Auggie mudou tudo em sua escola. Ele é eleito para receber a medalha de honra e, como ele diz, enquanto ele sobe naquele palco, ele sentia que estava flutuando. Ele fez a diferença na vida de todo mundo, e agora ele mesmo é muito mais feliz do que quando estudava em casa, escondido. As coisas bonitas que ele diz em sua narração final me emocionaram e mereciam ser transcritas, mas isso ficará para outro dia. Agora, guardo a sensação do sorriso de Auggie, e das expressões da plateia. O pai e a mãe. Jack. Summer. Charlotte. Via. Justin. Miranda. Até o Julian! Aplaudindo com felicidade estampada, com lágrimas nos olhos… é um momento deveras belo, que finaliza com amor um dos filmes mais lindos de minha vida.
Sem dúvida, extraordinário.


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Comentários

  1. Amei esse livro, e eu to tendo que fazer um trabalho sobre esse filme,e esse livro me ajudou muito e tambem e muito emocionante essa linda historia, vcs me ajudaram muito com a historia obrigada e eu adimiro o trabalho de vcs ❤ e vcs fiseram um belo trabalho

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