Carinha de Anjo (2018) – A briga de Emílio e Dulce Maria

“Carinha de Anjo”: CUIDADO COM OS EXTREMOS!

A novela falhou terrivelmente ao tentar “criticar” algo que não foi bem formulado, então vou começar explicando que eu só estou aqui escrevendo nesse momento porque essa foto do Emílio todo arrumadinho tocando o violino é uma GRAÇA, porque a trama por traz dela realmente me desagradou. No fundo, eu até entendo qual foi a intenção ao trazer essa história para “Carinha de Anjo”, mas a história foi tratada de forma tão equivocada que todo o seu valor se perdeu. Vamos ser polêmicos! A Dulce Maria não tinha nenhuma razão, se converteu na “Dulce Chatinha”, como diz a Frida, com muita precisão, e o Emílio foi tachado como um monstro que “estava errado” e tinha que ir pedir desculpas quando, na verdade, ele não cometeu nenhum erro. Foi vergonhosa a tentativa moralista de implantar uma trama de “conscientização” que foi muito mal embasada. Deveras decepcionante. Mas vou discorrer um pouco a respeito disso, porque às vezes é necessário desabafar.

Em primeiro lugar: o Emílio tem toda a razão quando diz que “ele sempre faz o que a Dulce Maria quer”. VERDADE. Tudo, absolutamente tudo, o que a garota propõe, todo mundo faz, geralmente sem nem reclamar. Em segundo lugar: não há nada de errado em jogar um pouquinho de videogame. Eu achei que a trama abordou o tema de forma abrupta e, em seguida, preconceituosa. Temos que cuidar com excessos, e quando eu digo excessos, eu quero dizer excesso de qualquer lado. É muito conveniente você olhar só um lado da moeda. “Ah, jogar videogame demais é errado, não é?” É, é mesmo e não vou dizer o contrário. Mas não jogar videogame, tipo “nunca”, também não é o caminho certo! Afinal de contas, estudos já provaram que o videogame pode desempenhar, sim, um papel importante na vida das crianças, em relação não só a coordenação motora, mas também em aprendizados e tudo o mais… não há nada de errado nisso.

O problema no roteiro de “Carinha de Anjo” foi o EXCESSO. Eles demonizaram o videogame como algo que é sempre “errado”, e a atitude da Dulce foi feia e extrema. Preconceituosa. Se eu não visse a novela e tivesse assistido apenas essa semana, da briga do Emílio e da Dulce Maria, eu pensaria que o Emílio era um garoto que nunca saía de dentro de casa, e que só jogava videogame. Não é o caso. Ele brinca com a Dulce, ele joga futebol, ele brinca na fazenda, ele é super-herói, e jogar videogame de vez em quando não é problema. E essa “crítica” à tecnologia é forçada, muito pseudo-intelectual, no caso, e pareceu que “Carinha de Anjo” queria enfiar, a qualquer custo, uma crítica social. Se não é para ser bem escrito, melhor nem tentar. Acontece que o videogame é algo antigo. Eu jogava videogame, MEU PAI jogava videogame, e nem por isso deixava de brincar na rua… uma coisa não precisa necessariamente excluir a outra, entende?

Como eu disse: tudo que é em excesso faz mal. Só jogar videogame? Errado, pois precisamos do ar livre, do exercício físico... agora, proibir totalmente de jogar videogame? Errado também. A Dulce nunca joga videogame, e por que ela não podia fazer isso pelo Emílio uma única vez? Ela não foi compreensiva e não foi uma boa amiga. Ficou forçado, ficou chato, e a Dulce Maria ainda saiu como a “correta”, outro erro gravíssimo: não é porque ela é a protagonista da novela que ela precisa estar sempre certa. Mas como foi assim que conceberam a trama, é o Emílio que, mesmo sem estar errado, precisa ir lá pedir desculpas para a Dulce. Os dois sofrem com a ausência um do outro, e chega a ser fofo, e a atitude dele é fofa de ir pedir desculpas à amiga por sentir falta dela, ainda que não ache que está errado… mas a Dulce, por sua vez, foi muito chata, e vai ficar se achando a correta. Ainda vai falar com preconceito a respeito do videogame.

Juju Almeida é muito mais viciada em tecnologia do que o Emílio!

Enfim.

A Organização Mundial de Saúde considerou o “vício em videogame” um distúrbio psiquiátrico no início desse ano, não sei se a trama foi escrita por causa disso (porque eles gravam com muita antecedência, então acredito que não), e eu acho que uma crítica bem feita é compreensível. Quando a criança (ou adulto) está fissurada no videogame a ponto de não fazer mais nada, e isso atrapalhar a sua vida, então é um caso a ser estudado e trabalhado. Mas as tecnologias, de modo geral, estão evoluindo, são naturais no nosso mundo atual, e as crianças estão em contato com elas desde muito novas. É importante que cuidemos para não tratar como “vilão” irremediável uma coisa que não precisa sê-lo. Não acho que o Emílio tenha um caso de “distúrbio”, tampouco acho que a Dulce Maria estava correta ao refutar de qualquer modo de jogar com o amigo.

De todo modo, foi um problema de ROTEIRO.

Tentaram criticar, mas não souberam escrever… e só ficou ridículo mesmo.

Agora vamos falar em termos de AMIZADE? As cenas representam um processo natural da vida, e isso é importante para que as crianças entendam. Quando eles brigam, e eles discutem feio antes de separarem, os dois estão magoados. O Emílio está uma graça dizendo para ela “ficar ali brincando sozinha com as bonecas dela então” (ah, aqui ela também ficaria dentro de casa, sem atividade física, só para constar!), mas ainda que sofram, os dois se amam. E quantas vezes não passamos por isso? Quanto mais novos, mais passamos, inclusive, porque não temos a maturidade para processar as coisas que nos magoam ou quando somos contrariados, e isso é doloroso. A sensação de que a amizade “acabou para sempre”. Mas amizades são assim, nem tudo é sempre maravilhoso, e com os anos aprendemos a lidar com as imperfeições de nossas relações humanas…

…que, no fim, só a tornam ainda mais perfeitas.

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