No Balanço do Amor (Save the Last Dance, 2001)
“The only
person you need to be is yourself”
Emocionante e
fortíssimo FILME DE DANÇA. Eu o assisti sabendo, praticamente, apenas isso: de que se tratava de um filme de dança,
e essa foi uma experiência única, porque a cada momento eu fui surpreendido –
quer dizer, não da metade para a frente, porque então entramos em uma parte
mais previsível, embora igualmente
boa (!), mas antes disso, sobre o que se
tratava o filme. Muitas vezes as pessoas confundem gêneros, mas um filme
como “No Balanço do Amor” não é um
filme musical. Ele está ao lado de
outros filmes de dança como “Se Ela
Dança, Eu Danço”, o icônico “Dirty
Dancing”, até mesmo “Footloose”,
que eu amo, e o meu FILME DE DANÇA FAVORITO DE TODOS OS TEMPOS: “Billy Elliot”. E fico muito feliz em
adicionar à lista esse lindíssimo filme que me comoveu e me fez parar e pensar
um pouco em algumas coisas.
A introdução
do filme é brilhantemente dolorosa. Sara
está em um trem, se mudando para Chicago onde morará com o pai, e enquanto ela não
dorme durante toda a viagem, com um semblante triste, vemos flashes que explicam o que aconteceu com
ela: Sara é uma bailarina que sempre sonhou em entrar para a Juilliard, em Nova
York, e no dia da sua importante audição, ela pediu que sua mãe “estivesse lá”.
Enquanto ela dançava, sentindo raiva
da mãe porque ela não estava ali, a mãe corria para chegar à tempo e sofria um
acidente que custou-lhe a vida. Agora, sentindo-se culpada pela morte da mãe,
Sara desistiu da dança, e precisa
recomeçar a vida com um homem que nunca esteve suficientemente presente em sua
vida como seu pai. Além disso, as coisas na nova escola não parecem muito fáceis – chega a ser angustiante.
Sara chega a
uma nova escola onde ela é uma das poucas garotas brancas, então ela é
imediatamente tratada com hostilidade. E embora ela vá assumir uma atitude mais
confrontante futuramente, não é o que
ela quer a princípio, e parece que a experiência escolar vai ser um inferno – até que Chenille venha falar com ela e seja a primeira pessoa a ser bacana com ela no
meio de tanto caos. Gosto da amizade das duas, gosto de como Chenille assume a
sua “tutela”, de como a ensina como a usar as gírias que eles usam, ou a se
vestir da melhor maneira possível para ir a uma balada (o lenço para que o
cabelo loiro não chame atenção) e essas
coisas… e Chenille é irmã do garoto
com quem Sara já se estranhou no primeiro
dia de aula. Mas também sabemos que aquelas “divergências” em sala de aula
estavam escondendo algum tipo de fascinação
imediata que não era nada séria, ainda, mas
estava lá.
Claro que a
aproximação de Sara e Derek causa mais
confusão. Temos o caso de Nikki, por exemplo, ex-namorada de Derek que deu
um pé na bunda dele, mas o quer de volta, especialmente quando o vê por perto
da “garota branca” que acabou de chegar… também temos Malakai, o melhor amigo
de Derek, que esteve na cadeia recentemente e que não devia criar mais confusões, mas que acaba por
fazê-lo constantemente, quase comprometendo o próprio Derek nas suas confusões…
mesmo assim, Derek e Sara se aproximam, e em parte por causa da DANÇA. Ali, em
Chicago, as pessoas dançam HIP-HOP, diferente do que Sara costumava dançar, mas
ela demonstra a capacidade de usar alguns passos de balé para impressionar, e
então começa a mesclar os dois estilos de uma forma tão bonita que não queremos deixá-la de ver dançar.
E Derek está sempre ali, a ajudando, a
apoiando…
…dando aulas de hip-hop!
Em um dos
momentos mais EMOCIONANTES do filme (depois de um momento hilário em que uma
velha no metrô julga Sara por estar com um homem negro e ela faz de tudo para provocá-la!),
Derek tem um presente para Sara e a leva para assistir a um balé. É lindíssimo, e é fofo da parte dele que ele
seja tão sensível a ponto de fazer isso por ela, mas isso também traz à tona
sentimentos com os quais Sara não estava querendo lidar, e dolorosamente ela
fala sobre a morte da mãe e sobre como se sente culpada – diz que foi por culpa
dela que a mãe morreu, e a fala mais forte é: “Enquanto eu dançava, com raiva dela porque ela não tinha chegado, ela
morria”. E isso estabelece algo íntimo
entre Derek, que também se abre falando sobre Malakai e o porquê de defendê-lo
tanto: ele o salvou de ir para a cadeia,
também, e nunca o entregou, independente do que lhe fosse oferecido.
O filme
oscila entre sentimentos de forma convincente. Nós temos alguns momentos muito bonitos
e românticos entre Derek e Sara, temos momentos de dança que são lindos de se
ver, temos momentos angustiantes como quando Malakai quase envolve Derek em uma
confusão que pode levá-lo preso, ou quando Chenille tem uma briga com o pai de
seu filho e, inconsequentemente, acaba descontando isso em Sara, falando sobre
os problemas de um homem negro se relacionando com uma mulher branca e dizendo
que “ela pegou um dos únicos homens decentes que elas tinham como opção, então talvez
Nikki tenha alguma razão”, isso depois de Nikki e Sara terem brigado na escola,
com direito a hematomas e tudo! O filme também trata da posição marginalizada
do negro na sociedade e das dificuldades que um casal como Sara e Derek têm
para estarem juntos, e Sara talvez não tenha
a força necessária para lutar por isso.
De todo modo,
é graças a Derek que Sara resolve voltar a sonhar.
Naquela lindíssima cena em que ela fala sobre a culpa pela morte da mãe e como
isso a fez renunciar de seu sonho, ela chora abertamente e Derek diz que a sua mãe iria querer que ela continuasse
sonhando e dançando, e pergunta o que ELA, SARA, quer – ela quer dançar. Então, ela resolve
tentar novamente, e se inscrever para a Juilliard. Tendo terminado com Derek
antes da audição, por causa de toda a confusão com Nikki e a fala de Chenille, Sara
tem uma cena LINDÍSSIMA com o pai, uma das minhas cenas favoritas de todo o
filme. A relação deles nunca foi muito boa,
segundo ela, só o “DNA deles combinavam” e mais nada, mas Roy tenta… e quando
ele abre a porta e mostra o quarto que finalmente terminou de construir para a
filha: QUE EMOÇÃO! E tudo o que vem depois…
Roy diz que
tem noção do tempo perdido, e fala que ele não merece uma segunda chance e sabe
disso, mas espera que ela o dê uma de
qualquer maneira. É muito triste quando, no meio de todo o seu discurso,
ele diz que “ela o odeia”, e ela tenta dizer que não o odeia, mas o momento mais tocante está no final da cena –
quando Sara chora falando sobre a mãe e sobre Juilliard, e sobre como agora
ainda brigou com Derek, e só queria ter alguém que a ama na audição… então, de cabeça baixa, meio tímido, ele diz
que ELE A AMA. Gente, que momento mais lindo! Assim, tudo foi
brilhantemente construído para que Sara tentasse novamente entrar para
Juilliard na conclusão do filme! A superação da culpa pela morte da mãe, a
relação com Chenille e Derek, que ampliou seus horizontes em relação à dança e
em relação ao mundo, e esse momento final com o pai…
Assim, quando
ela vai se apresentar para os jurados de Juilliard, Derek descobre o porquê de ela
ter terminado com ele: por causa do que
Chenille comentou. Assim, enquanto ela faz sua apresentação de balé
clássico, Malakai está indo contra os conselhos do amigo e acabando preso
novamente, e Derek está correndo para chegar e vê-la se apresentar – e chega a
tempo de ver a sua apresentação contemporânea, que mescla o balé com o hip-hop.
Na verdade, chega a tempo de falar com
ela quando ela erra, e fazê-la confiar nela mesma de que pode fazer uma bela e
competente apresentação. Ganhando uma nova chance em Juilliard, ela se
apresenta, e é uma daquelas sequências finais de filmes de dança, quando eles
ARRASAM NA COREOGRAFIA! Um momento belíssimo, emocionante… como o jurado diz: ele não pode falar oficialmente, mas “Bem-vinda a
Juilliard!”
<3
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