Sítio do Picapau Amarelo (2002) – Histórias Diversas, Parte I
“Mas se todo mundo sonhou, vai ver que não foi um
sonho!”
“Histórias Diversas”, exibida em 10
capítulos entre 29 de Abril e 10 de Maio de 2002, é um dos melhores momentos na
primeira temporada do “Sítio do Picapau
Amarelo”, devido às suas infinitas
possibilidades, embora eu ainda acredite que, para a série de televisão,
ela podia ter ganhado outro título, como eles fizeram mais cedo com “Festa do Faz-de-Conta”, por exemplo,
originalmente presente em “Reinações de
Narizinho”. Em 1978, por exemplo, o Sítio exibiu “Reinação Atômica”, baseada em uma das histórias de “Histórias Diversas”. Como livro,
naturalmente, o título funciona muito bem, por tratar-se de uma obra publicada
logo depois da morte de Monteiro Lobato, contendo histórias que foram escritas
em 1947, mas que não fizeram parte de nenhum livro até então. É como os “Contos
Inacabados” de J. R. R. Tolkien, mais ou menos.
Mas acabados.
Enfim.
A primeira
parte da história, que compreende os primeiros 5 capítulos, muito fala sobre
pensamentos e SONHOS, e isso está intrínseco a outros momentos, mesmo depois
que já achávamos que essa parte da trama tinha chegado ao fim. Temos o Coronel
Teodorico empolgadíssimo com o concurso Vaca de Ouro, o Conselheiro duvidando
de usa arte, mas recebendo belíssimos conselhos de Dona Benta, que cita Van
Gogh (o que imediatamente me leva a “Doctor
Who” e o brilhante, comovente e perfeito “Vincent and the Doctor”), e até uma visitinha do Lobo Mau, que
pensa em invadir o Sítio do Picapau Amarelo e tornar Dona Benta seu jantar…
ainda mais depois que a Emília o desafia.
A história ainda traz o retorno de alguns personagens que já vimos antes, como
a Branca de Neve (ainda casada com o Príncipe Codadade) e o Peter Pan!
Gosto MUITO
dessa fala da Narizinho, que inicia a história:
“Sabe, eu ando cismada com uma coisa: eu ando
desconfiada que a Emília é uma fada, que veio ao mundo em forma de boneca. Tudo
o que ela faz é disfarce!” Até o Faz-de-Conta seria uma espécie de “varinha verbal”.
Emília, por
sua vez, está empenhada em descobrir qual é o segredo que o Visconde tanto
guarda, enfiado em seu laboratório sem falar com ninguém há tanto tempo. Ele,
no entanto, se recusa a dar qualquer informação… quando Pedrinho e Narizinho
também o fazem uma visitinha querendo saber o que ele está escondendo (“Que feio, Visconde! Ficar fazendo
segredinho comigo e com o Pedrinho!”), ele pede que eles reúnam todos na
biblioteca, já está pronto para revelar a sua mais nova invenção: UMA MÁQUINA
CAPAZ DE LER O PENSAMENTO DOS ANIMAIS! Como Dona Benta, Emília e Narizinho
dizem: “Que maravilha!” Dona Benta
sugere o nome da invenção – PSICOCAPTADOR SABUGOSA –, e Emília, intrometida, o
pega de uma vez para levar e testar, e uma parte da história é assim, com as
crianças descobrindo o que os animais estão pensando.
A lagarta,
por exemplo, está reclamando de sua aparência e desejando ser como as
borboletas (“Coitada da lagarta, nem sabe
que vai virar borboleta!”), enquanto o caramujo deseja ser um animal veloz,
porque carregar a casa nas costas o tempo todo “não é lada legal”, além de ser
pesado e deixá-lo muito lento… e uma abelha, que está chorando por causa da
prima que foi morta por uma “menina de narizinho arrebitado”. Existe todo um
JULGAMENTO para a Narizinho, mas a verdade é que foi a prima dela que entrou na
sua boca e mordeu a sua língua, como bem nos lembramos, então não há muito o
que ser feito. Fiquei com pena da Narizinho, triste com o julgamento, no
entanto. Ah, o aparelho do Visconde também pode ajudar a entender o que as
árvores estão dizendo, e isso é mesmo um invento muito interessante. Visconde sempre se superando!
Enquanto
isso, o Coronel Teodorico se entusiasma demais
com o lance de “Vaca de Ouro”, e fica louquinho.
Sua vaca escuta música clássica, faz maquiagem, e agora ele deseja que ela seja
“Miss Arraial”, o que é um pouquinho demais, mas eu me diverti muito com a
obsessão do Coronel Teodorico ao longo desse episódio! E quando ele a chama de
ingrata porque só pensa no boi, ao invés de pensar nele, quando Emília traz o
aparelho do Visconde para “saber o que ela está pensando”? Mas acho que o
melhor de todos os momentos nessa história da vaca é quando chega o dia do
concurso e o Coronel Teodorico aparece no Sítio com UM TERNO DE VACA! Ele foi
um pouquinho cruel com o Conselheiro, e estava muito estranho, mas eu não posso
dizer que eu não ri muito com ele ao longo de toda essa confusão… e, no fim,
ele ganha o concurso!
Mas vamos
falar de árvores… quando eles vão conversar com a jaqueira, EMÍLIA É ESMAGADA
POR UMA JACA! Confesso que eu posso ser maldoso, e a primeira coisa que eu
pensei foi: “Viu? Você não riu quando o
Visconde foi esmagado por uma jaca?” Mas a Emília é bem maior que o
Visconde, além de ser feita de pano, então a única coisa que acontece é que ela fica toda suja, precisa de um banho e
acaba no varal. É sempre hilário ver a Emília pendurada no varal, devo
dizer! Essa confusão também meio que estrada o Psicocaptador Sabugosa, mas
durante as arrumações do Visconde, ele decide deixá-lo ainda melhor. Agora, na próxima fase de sua invenção, ele
não será capaz apenas de ler os pensamentos
das pessoas, mas também os seus SONHOS. Enquanto isso, pendurada no varal com
o Quindim como companhia, Emília começa a aprender inglês!
“Dentro de pouco tempo, eu serei uma boneca
bilíngue!”
Para testar a
“nova” invenção do Visconde, ou a nova função do Psicocaptador Sabugosa, Emília
usa o Faz-de-Conta para produzir chá de dormideira, e ela coloca metade do
Sítio para dormir. O Quindim, o Rabicó, o Meio-a-Meio, o Conselheiro, e até o
Coronel Teodorico, que toma uma xícara de chá que ninguém lhe ofereceu e que o
Visconde deixou para trás porque era pesada
demais para ele carregar. Então, começamos a acompanhar os vários sonhos
e/ou pesadelos. O Rabicó, por exemplo, sonha com ser chamado para um jantar no
Reino das Águas Claras, mas acaba interceptado pelo Cangaceiro Lamparina e o
pesadelo termina com a Emília mandando ele transformar o Rabicó em “torresminho
à pururuca”, o que é um pouco maldade, mas também é um pouquinho divertido, de
alguma maneira meio “Emília” de ser, claro.
Outros sonhos
são o do Conselheiro, que está fazendo uma exposição de quadros em um museu,
sendo aclamado, com o quadro da Lola, a vaca do Coronel Teodorico, sendo
chamado de “Nova Monalisa” ou algo assim. Todos
os animais famosos querem ser pintados por ele. Meio-a-Meio sonha que está
de volta à Grécia, correndo e brincando por lá. E o Coronel Teodorico, é claro,
sonha com a Vaca Lola, mas a verdade é que nem
precisávamos do Piscocaptador Sabugosa para sabermos disso. O mais bacana
disso é que, em seu sonho, ela ganha o concurso, e ele faz um discurso bizarro,
que é seguido por um PEDIDO DE CHURRASCO. Então, desesperado, o Coronel
Teodorico acorda gritando: “Churrasco da
Lola, não! Churrasco da Lola, não!” E ainda há o sonho do Visconde, que
sonha em entrar para a Academia Brasileira de Letras e ocupar a cadeira de
Santos Dumont, como a Dona Benta disse!
Tão bonitinho!
A última
parte de “conversa com plantas” vem quando Emília conversa com as violetas da
Dona Benta, e elas estão todas bravas com “a metida da violeta branca que
nasceu entre elas”, porque ela se acha muito melhor do que elas por ser diferente. Emília vai conversar com ela
para tentar entender esse seu pensamento, e é uma crítica e tanto! Afinal de
contas, a violeta branca só está imitando a atitude de homens ricos que tratam
os demais com arrogância, achando-se mais
do que eles, mas Emília resolve isso brilhantemente,
indo pedir a ajuda do Visconde, que resolve o caso muito bem, explicando que as
violetas roxas são roxas porque TÊM pigmento, enquanto a violeta branca NÃO O
TÊM. Isso quer dizer que AS ROXAS são
mais do que ela, e não o contrário. Assim, o problema está resolvido! “Isso aí, Visconde, na batata da ciência!”
Jeito Emília
de resolver as coisas!
Um personagem
que ressurge nessa história é o Doutor Caramujo, que traz a notícia de que o
Príncipe Escamado FICOU NOIVO DE UMA ENGUIA. Narizinho fica inconformada, o
chama de traidor, mas o Doutor Caramujo explica que não é bem assim… diz que o
casamento deles não foi válido, devido à confusão toda da coroa de rosquinha, e
também explica que o casamento atual, com a Enguia Maria, é arranjado, mas não é por amor, só por
conveniência. E o Príncipe Escamado está
muito infeliz, porque ama a Narizinho. Assim, ele precisa da ajuda dela
para livrar o Reino das Águas Claras dessa perversa Enguia Maria, que é
totalmente mimada e insuportável, querendo, por exemplo, o mesmo vestido que Narizinho usou no casamento, ainda que não a
sirva! Mas as crianças têm um plano perfeito e mandam um bombom como isca para
PESCÁ-LA!
O Doutor
Caramujo entrega o bombom ao Príncipe Escamado, dizendo bem alto que foi um
presente da Narizinho, “com muito carinho”, e a Enguia Maria, inconformada,
pega o bombom para ela e a come… então,
ela é fisgada e acaba em um aquário! O Príncipe Escamado e o Reino das
Águas Claras se livraram disso! E enquanto a Enguia Maria fica ali no aquário,
nervosa e fazendo uma série de exigências sem cabimento, novos personagens
estão surgindo na história, e isso significa que ela vai desaparecer: PORQUE O
GATO DE BOTAS A DEVORA. O Gato de Botas, pela primeira vez no Sítio do Picapau
Amarelo, apareceu por ali porque A BRANCA DE NEVE VAI DAR UMA FESTA NO SÍTIO!
Dona Benta e Tia Nastácia já sabiam de tudo, mas era uma surpresa para as
crianças, e então os convidados começam a chegar, como o Peter Pan, o Aladim,
os anões…
É uma
festança!
Também é um
pedido de desculpas da Branca de Neve, por ter se esquecido de convidar o Gato
de Botas para seu casamento com o Príncipe Codadade, lá em “O Picapau Amarelo”. A peculiaridade da festa é que ELA ACONTECE
DURANTE A NOITE, mas há um motivo muito bacana para isso, mais tarde. A festa
conta com Narizinho conversando com as princesas, o sapatinho de cristal da
Cinderela quebrando, a Emília chamando o Gato de Botas de “emergente” e
“loroteiro”, e apresentando um novo personagem que ela mesma criou, o Pé
Espalhado, que parece um pouco com o que eu imagino para os Tontópodes, em “A Viagem do Peregrino da Alvorada”. Ah,
e também tem o Rabicó de penetra, porque quer comer alguma coisa! Também vemos
fadas, a quem a Emília recorre para ver se há alguma chance de arrumar a sua
varinha, que ganhou da Medeia…
…mas parece
que não mesmo.
Branca de
Neve faz um DISCURSO para a sua festa, que é totalmente arruinada quando o Gato
de Botas sai correndo atrás do Don Ratão que, no livro de Monteiro Lobato, era
o Mickey Mouse. Logo em seguida, Emília e Narizinho despertam de um SONHO, e
então entendemos o porquê de a festa ter
sido à noite: porque tudo PODE ter sido um sonho. No entanto, Pedrinho
invade o quarto pra contar o que sonhou, e elas já sabem, porque sonharam o mesmo. E, à mesa do
café-da-manhã, conversando sobre isso, Dona Benta também começa a contar o seu
sonho, que é o mesmo de todo mundo: A BRANCA DE NEVE DEU UMA FESTA AO GATO DE
BOTAS NO SÍTIO! “Mas se todo mundo
sonhou, vai ver que não foi um sonho!” E é legal isso de não ser muito
claro, até porque “sonho e realidade se confundem no Sítio do Picapau Amarelo”.
No fim, acho que foi VERDADE!
Eles até encontram a lamparina que enfeitava
a festa!
Por fim, a
última parte dessa semana traz Emília e Narizinho, enquanto cantam a música da
Chapeuzinho Vermelho, dando de cara com o Lobo Mau, fantasiado de guarda
florestal, mas elas não caem na sua
armadilha. “Tá na hora desse lobo levar um esfrega!” Emília DESAFIA o Lobo
Mau, e depois corre com a Narizinho para o Sítio, pedir a ajuda do Quindim,
para espantar aquele “cara de cachorro lambido”, e entra para contar para Dona
Benta e os demais a história: “Eu falei
pra ele que se ele viesse aqui no Sítio jantar a senhora, ele ia se dar mal!”
Assim, a Dona Benta está abraçada aos netos assustada, com medo que o Lobo Mau realmente esteja vindo atrás dela, e o
Quindim está lá na porteira, DORMINDO! Com o pó de pirlimpimpim, Emília vai até
ele para acordá-lo, e só consegue fazê-lo com pimenta em seu nariz… quando ele acorda espirrando, o Lobo Mau vai
embora assustado!
No fim, Emília deu o “esfrega” que prometeu!
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