Sítio do Picapau Amarelo (2002) – Histórias Diversas, Parte II
“Tia Nastácia, eu quero um clone do Visconde!”
Cada temporada
do “Sítio do Picapau Amarelo” tem algo
especial que me fascina, e na primeira é o fato de eles adaptarem tão bem
vários dos livros originais de Monteiro Lobato, e fazerem isso de forma a
manter a continuidade. Se na semana anterior, durante a festa da Branca de Neve
para o Gato de Botas, por exemplo, a princesa ainda estava casada com o
Príncipe Codadade, das Mil e Uma Noite, como vimos em “O Picapau Amarelo”, essa segunda parte de “Histórias Diversas” traz algo que ficou em aberto lá da visita dos
netos de Dona Benta à Grécia Mitológica, em “Os
XII Trabalhos de Hércules”: a proposta da deusa Flora de trocar seis ninfas
pelo Visconde de Sabugosa, e a ideia da Emília, trapaceira, de tapear a deusa. Agora, ela coloca o seu
plano em prática, enquanto o Pedrinho e a Narizinho se empolgam com uma
montagem de “Romeu e Julieta” a
acontecer no Arraial!
A história
das NINFAS volta à tona quando, durante uma brincadeira, o Meio-a-Meio as cita,
e Emília fica obcecada pelo fato de ter se esquecido do acordo que fez com a
deusa Flora. Por isso, ela precisa voltar imediatamente para a Grécia e entregar
o clone do Visconde em troca de seis ninfas – para isso, Emília não conta com o
apoio de ninguém (“Se não fosse eu aqui
pra trazer essas ninfas pro Sítio!”), a não ser da Tia Nastácia, que é a
encarregada de fazer o tal clone do Visconde, mesmo que sob protestos dela e do
verdadeiro Visconde: “Emília, eu acho um
absurdo você enganar a deusa Flora, viu?” Retornando ao que conhecemos em “Memórias de Emília”, ela pergunta “o que
é verdade”, e reforça sua teoria de que “a verdade é apenas uma mentira muito
bem contada que ninguém desconfia”, e segue com seu plano, dando vida ao clone
do Visconde com o Faz-de-Conta.
Assim, nasce o Visclone.
O Visclone,
no entanto, não tem nem um pouco da inteligência
do Visconde original, até porque ele ganhou vida com o Faz-de-Conta, e não ficou
escondido na biblioteca embolorando como o outro! Então, Cândido Damm tem a
oportunidade de arrasar na
interpretação novamente, como sempre faz, especialmente em situações como essa –
lembra-se de quando ele ficou todo louco
lá na Grécia Mitológica?! Para enganar a deusa Flora, Emília tenta ensiná-lo a,
pelo menos, parecer inteligente, não com
muito sucesso… e nada do que o Visconde diz parece servir de alguma coisa. A principal
ideia da Emília é que ele responda a
perguntas com outras perguntas. “Pronto, agora você é um verdadeiro sábio” “Verdade?”
“Claro que não, você é uma anta!” Por ora, no entanto, isso engana a deusa
Flora, e Emília leva para o Sítio suas seis novas ninfas.
Flora percebe
rapidinho que foi enganada, no
entanto.
Isso enquanto
Emília se vangloria porque “enganou a deusa Flora” e tudo o mais, mas Flora não
perde tempo e rumo ao Sítio depressa! “Então
aqui é o Reino do Picapau Amarelo. Emília, eu vim buscar minhas ninfas!” Ao
vê-la e saber o que ela veio fazer, o
Meio-a-Meio corre para avisar a Emília, que
nunca aprende. Planeja tapear a deusa novamente e, assim, esconde as ninfas
e coloca seu Plano B em prática. Enquanto isso, o divertido Visclone reclama da
vida: “Vida de sabugo simples é muito ‘milhor’.
Nasce, cresce, vive no milharal até aparecer uma vaca e comer a gente. Foi assim
com toda a minha família, eu queria que fosse assim comigo também! Eu tô
cansado dessa vida de clone, de sábio. Ai!” Tem um ditado que diz que “devemos
tomar cuidado com aquilo que desejamos”, não tem? E essa é uma divertida ironia
de “Histórias Diversas”.
Enquanto isso
tudo acontece, o Saci vive uma aventura.
Depois de quebrar a cadeira que o Tio Barnabé estava fazendo, ele acaba vítima
de uma vingança e PRESO DENTRO DE UMA GARRAFA. Agora, o Tio Barnabé podia fazer
com ele o que quisesse… ou poderia,
até a Tia Nastácia resolver limpar a casa dele e colocar a garrafa no lixo, onde ninguém escuta os gritos do Saci. O
lixeiro leva o Saci, a garrafa cai do caminhão de lixo, rola até o ribeirão, e
do ribeirão, o Saci vai sair LÁ NA PRAIA DO RIO DE JANEIRO! Só lá é que a
garrafa é aberta, e ele vira uma curiosidade bacana na praia, enquanto também
conhece o lugar, dá uma de turista, E ATÉ VAI SURFAR UM POUQUINHO! Quando retorna
para casa, ele volta até com presentes para a Cuca, como uma canga que a enche
de vaidade… mas não tem praia no Sítio para
que ela possa aproveitar.
Os mares do
Capitão Gancho já foram embora.
Dona Benta,
por sua vez, lê Shakespeare, e Pedrinho e Narizinho se interessam por “A Tempestade”. Depois de falar um pouco
sobre a obra, a vovó percebe que, talvez, eles se interessem mais por “Romeu e Julieta”, e começa contar-lhes
a famosa história, enquanto uma trupe de teatro chega ao Arraial dos Tucanos, com
uma montagem de “Romeu e Julieta”
protagonizada por Romildo (o Bruno Gagliasso) e Juliana. Os atores, um
pouquinho esquisitos, só conversam
através de trechos das obras de Shakespeare, mas são bacanas, na verdade. Conversam
com Pedrinho e Narizinho, que assistem a todos os ensaios, sem falta, e que
lamentam que Romeu e Julieta precisem morrer no final… a verdade, é claro, é
que é justamente ISSO o que torna “Romeu
e Julieta” assim tão memorável, mesmo depois de todos esses anos… o quão
imperfeita é a vida!
No fundo, eu não
acho que “Romeu e Julieta” seja uma
história de amor.
A produção
passa por problemas quando Romildo e Juliana passam mal comendo um sonho
adormecido da venda do Seu Elias, e como está chegando a hora da apresentação,
e eles ainda não melhoraram, talvez o
espetáculo tenha que ser cancelado. Ou não. Afinal de contas, de tanto
assistir ao ensaio, Pedrinho e Narizinho conhecem todas as falas de cor, E
ACABAM SE APRESENTANDO NO LUGAR DELES, para o orgulho de Dona Benta! A apresentação
é um máximo, e eles tentam mudar o final para que ambos sobrevivam, mas a
Rainha Mabe aparece perguntando: “Como
ousam mudar o fim da história?” Então, ela os faz entender a importância da
morte de Romeu e Julieta para a história, sobre como “o amor vence qualquer
intriga e problema”, então ela volta o tempo alguns minutos no passado e as
crianças podem interpretar a história como deve ser.
E Dona Benta não poderia estar mais orgulhosa.
No Sítio, o
Plano B da Emília contra a deusa Flora consiste em trocar as casacas do Visconde e do Visclone e enganá-la novamente a
respeito de qual é qual, e ela faz isso com uma dissimulação sem tamanho – “Como vai, deusa Flora? É uma honra recebê-la
em meu reino”. Dessa vez, no entanto, Flora consegue perceber qual deles é
o Visconde verdadeiro, e não vai se deixar enganar novamente. Emília faz de
tudo para enrolá-la, falando de seu casamento com o Rabicó, dos andares do
bolo, apresentando-a ao Curupira, enquanto O VISCLONE É DEVORADO PELA VACA
MOCHA! Conselheiro encontra só a sua cartolinha caída e lamenta (“Que catástrofe! Que catástrofe!”),
achando que o Visconde morreu, e nessa confusão toda, a Emília precisa desistir
das ninfas e deixar que elas voltem embora com a deusa Flora… ela não pode sacrificar o Visconde.
“Você não toma jeito, né, Emília?”
“Se eu tomasse ia perder a graça”
Por fim,
apresentada de forma bem rápida, temos a REINAÇÃO ATÔMICA. É um dos capítulos
de “Histórias Diversas” e foi adaptado
em 20 capítulos em 1978. Aqui, é apenas um súbito
interesse da Emília pela energia atômica, quando o Visconde fica falando
sobre isso, sobre o “futuro”, e então ela resolve fazer uma pequena viagem. Com o seu desaparecimento, Narizinho fica
desesperada, e mobiliza todos os animais do Sítio em busca dela… quando ela
finalmente ressurge, misteriosa (“Eu não estive
em lugar nenhum. Eu estarei, eu estarei!”), ela está ficando careca (!),
resultado da radiação à qual foi exposta em sua visita ao FUTURO, e quando mais
ela enrola os dedinhos no cabelo, mais eles caem, formando um buraco careca em
sua cabeça já, e um monte de cabelo seu amontoado por onde passa, intrigando a
todos, especialmente o Visconde!
Emília está
cabisbaixa e de bico por causa do cabelo caindo quando Visconde diz que tem a
resposta sobre o que está acontecendo e onde Emília esteve. Assim, ela conta
sua aventura no futuro, que não é muito explorado, e só conta com um cenário
todo branco e a eminência do FIM DO MUNDO, que Emília previne com o
Faz-de-Conta, salvando toda a humanidade e fazendo sucesso! O futuro contará
com uma estátua em homenagem da Emília, sem contar que o seu cabelo fez um sucesso danado por lá! No presente, Tia
Nastácia resolve o problema do cabelo da Emília facinho, trazendo uma peruca
novinha para substituir a antiga que está perdendo seus fios, e tudo parece
bem… EMÍLIA VENCEU A ENERGIA ATÔMICA! E, assim, mais uma história do “Sítio do Picapau Amarelo” chega ao fim,
em seus 10 maravilhosos episódios!
“Tudo vai bem quando termina bem”
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