Sítio do Picapau Amarelo (2002) – O Poço do Visconde
A Companhia Donabentense de Petróleo…
Essa é uma
das minhas histórias favoritas do “Sítio
do Picapau Amarelo”. Na verdade, alguns livros de Monteiro Lobato são
bastante didáticos, e ao passo que
livros como “Serões de Dona Benta”,
“Emília no País da Gramática” e “Aritmética
da Emília” não foram adaptados para a série de TV (e esse último sempre foi
um dos meus favoritos!), felizmente “O
Poço do Visconde” o foi, até porque ele tinha toda essa parte aventuresca além dos ensinamentos de
Geologia do Visconde de Sabugosa. O livro de Monteiro Lobato também era uma
forma de protesto, publicado em uma
época em que o governo brasileiro ainda NEGAVA a existência de petróleo no
Brasil, e Monteiro Lobato, como a Dona Benta explica, foi um dos primeiros
defensores do petróleo no país… ele,
inclusive, chegou a ser preso e, coincidentemente, petróleo foi encontrado pela
primeira vez por aqui em um lugar chamado “Lobato”.
No dia 21 de
Janeiro de 1939.
Às vezes eu
nego, e pessoas ao meu redor sabem muito bem disso, mas acho que no fundo eu tenho alma de pesquisador. E também adoro aprender, quando se é ensinado de uma
forma bacana. E o “Sítio do Picapau
Amarelo” pode ser justamente isso, e “O
Poço do Visconde” é um dos maiores exemplos. Adoro ver o Visconde todo
empolgado com GEOLOGIA, e adoro a Dona Benta mostrando às crianças um
documentário a respeito do PETRÓLEO. Visconde fica fascinado, só fala em terra,
em pedra, em erosão… mas ninguém está com muita paciência para ele não! O
Pedrinho o deixa falando sozinho e vai brincar com o Saci; as meninas reclamam
que ele “estraga a brincadeira”: “Ah,
Visconde, brincar com você não tem graça!” Afinal de contas, ele não aceita
nem “bolo de chocolate” nem “bolo de morango com chocolate” das meninas, apenas
“bolo de argila”.
Como “ninguém
quer ouvir seus estudos geológicos”, Visconde resolve falar sozinho mesmo, e
sai caminhando sem rumo, falando sem parar, até que entra sem querer na toca de
um animal, o ranzinza Zé Tatu. Enquanto isso, as crianças o procuram por toda parte, até no ribeirão. Emília
até leva sua varinha de condão, que ganhou da Medeia na Grécia Mitológica,
porque “seu sétimo sentido diz que vai precisar”. Quando Pedrinho a corrige
sobre o “sétimo sentido”, ela responde: “É,
senhor Pedrinho de Sabugosa, mas eu sou uma boneca-gente, e tenho quantos
sentidos eu quiser!”, o que é uma resposta TÍPICA da Emília. Ela realmente acaba precisando da varinha
porque, para salvar o Visconde, ela encolhe para entrar na toca atrás dele, e
só sabe onde ir porque os seus besouros a avisam! E como é bonitinha a Emília daquele tamainho!
“Peraí, você encolheu ou eu cresci?”
Visconde já
está criando a teoria de que pode haver
petróleo lá embaixo, mas não tem tempo de falar muito sobre isso, porque o Zé Tatu chega e eles precisam sair
correndo. “Rápido, Narizinho, me bota
grande de novo!” Aqui temos um dos momentos mais bacanas da primeira
temporada: O VISCONDE CRESCE! Mas não, ainda não é oficial e/ou permanente.
Quando Narizinho vai engrandecer Emília, acaba fazendo isso com o Visconde
também, que fica todo desengonçado, porque
não estamos habituados. Ele, no entanto, pede que ela o coloque em seu
tamanho normal novamente, porque assim não
poderiam nem trabalhar em seu laboratório, então ele volta ao seu tamanho
normal, gastando mais uma das viradas da varinha, que já está chegando ao fim.
Estamos ansiosos, mas ainda não é o momento do Visconde grandão.
Enquanto isso
tudo está acontecendo, Meio-a-Meio, o filhote de centauro que trouxeram da
Grécia, vai conhecendo as coisas ao seu redor, e tem umas cenas bem legais. Tio
Barnabé o apresenta ao Pangaré, o cavalo do Pedrinho, e Emília pede que ele
construa uma cama pela metade, para colocar no celeiro, para o Meio-a-Meio poder
dormir. Tia Nastácia, por sua vez, se preocupa com o que ele vai comer (Sopa de
alfafa? Bolo de grama?), e Dona Benta o leva para passear de carro (“Eu? Andando no carro de uma deusa?”), o
que o perturba um pouco, porque ele não consegue entender onde estão os
“cavalos” que puxam o carro… não faz
sentido para ele. Acho, no entanto, que uma das coisas mais legais é ver o
Meio-a-Meio interagindo com o Saci que, segundo ele, “é uma figura do folclore…
ou a ‘Mitologia Brasileira’”. E essa é uma explicação bem bacana!
Todo mundo
está FASCINADO com o tema da Terra agora, e Emília sugere que eles vão de
pirlimpimpim para o centro da Terra, através de um vulcão – é só fazer de conta
que ele não queima e pronto! – para ver tudo de perto, ao invés de ficar só
falando sobre isso e vendo figuras em livros. Não é nada na espécie de Júlio
Verne em sua “Viagem ao Centro da Terra”,
mas apenas um lugar cheio de lava, muito quente, e mais algumas interessantes
aulas do Visconde… até que ele cita o petróleo, e então isso se torna o assunto
do momento. Ele explica as eras da Terra, os terrenos mais propícios a ter
petróleo, e todo mundo se encanta… aproveitando que eles estão interessados, Dona Benta diz que tem um
documentário sobre petróleo (!), que ela pode mostrar para as crianças ao invés
da história naquela noite: UMA VERDADEIRA SESSÃO DE CINEMA.
Destaque para
a “versão de cinema” da Tia Nastácia estourando pipoca e o Rabicó a roubando!
De volta à sala, enquanto as crianças comem pipoca, Dona Benta mostra um antigo
filme e vai narrando A HISTÓRIA DO PETRÓLEO NO BRASIL. Essa parte teve que ser
adaptada diferente do livro, tendo em vista que este foi publicado em 1937,
antes de o petróleo ser descoberto por aqui, já que sabemos que o PETRÓLEGO
JORROU no dia 21 de Janeiro de 1939. Eu amo o tom didático que o “Sítio”
adquire em histórias como essa, e na verdade é MUITO BONITO estar aprendendo
tanto enquanto nos aventuramos por um monte de coisas e enquanto acompanhamos a
inocência dessas crianças! Ah, e quando Dona Benta fala de Monteiro Lobato e de
sua luta pelo petróleo brasileiro, como não amar o comentário de Narizinho?
“Esse Monteiro Lobato foi batatal!”
Com isso,
Emília decide construir um poço de petróleo no Sítio e pronto. Visconde AMA a
ideia! “Chega de filme e vamos partir pra
ação!” Segundo eles, “o Sítio vai entrar na era do petróleo”. Dona Benta tenta convencer as crianças de que isso
não faz sentido, tenta dizer que atualmente é o governo quem explora o petróleo
no Brasil, mas eles insistem até vencer a vovó pelo cansaço, para o desespero
da Tia Nastácia. Afinal de contas, ela tem razão: “Aqui no Sítio, brincadeira é de verdade!" Portanto, Dona
Benta acredita que “tudo não passa de brincadeira de criança”, mas quem é que
duvidou que as crianças dariam um jeito de realmente
extrair petróleo se tivessem a autorização? Quer dizer, a Dona Benta já devia
ter aprendido a uma hora dessas! De todo modo, a “brincadeira” fica para o dia
seguinte, porque já é muito tarde e eles precisam dormir.
Sabe quem vai
ter MUITA PARTICIPAÇÃO nessa loucura toda? A Cuca! No começo da história, ela
descobre “uma ruga nova” e vai atrás de tratamento: “Creme de rejuvenescimento para bruxas da décima idade”. Eu tenho
que dizer que a Cuca tem um de seus melhores momentos preparando aquele
delicioso banho de argila e cantando: “Tomo
um banho de lama / Fico fofa como a terra / Tem lama no meu umbigo! / Estou
pronta para a guerra / É tão bom quanto castigo / Ah, lama tão fofa!”
Sério, a Cuca SEMPRE ARRASA, mas quando ela fica musical… minha nossa, são seus melhores momentos. Eu sempre gostei muito da
Cuca, mas agora, como adulto, eu sou simplesmente FASCINADO por ela… acho que
meus olhos devem ficar igual aos daquele emoji de coração quando estou
assistindo a cenas como essa da Cuca… ou
ela seduzindo o sheik no final.
Enfim.
Visconde está
mais do que animado em fazer cálculos para determinar qual é o melhor lugar
para cavar o poço (“Como vocês podem
pensar em perfurar a terra sem ter uma boa base de geologia?” “Fazendo de conta
que a gente tem uma boa base de geologia!”), e fica fascinado ao encontrar
um barranco… enquanto o Visconde faz suas explicações sobre o solo, Emília
transforma o barranco no “tal livro aberto de geologia que o Visconde está
vendo”, e eles finalmente encontram o
lugar ideal para cavar o poço. ADOREI as crianças se unindo para cantar “Aleluia! Aleluia!”, mas o Visconde
ainda diz uma coisa: eles não podem simplesmente
cavar um poço de petróleo assim, com uma pá! Eles precisam de uma sonda de
perfuração e uma torre… então, Emília transforma uma árvore em uma TORRE DE
PETRÓLEO e pronto. Como diria Dona Benta: “Que
maravilha!”
Imediatamente,
eles começam a fazer inúmeros planos. Nomeiam o Poço de Caraminguá 1, por causa
do nome do rio, e a companhia de petróleo de “Donabentense”. Emília já planeja
pelo menos 50 poços, cada um produzindo 10 mil barris, e a perfuração começa. Quando eles atingem o lençol freático, água
salgada jorra, e as crianças brincam em uma cena bem bonita… “Calma, Emília! A água salgada é sinal que
estamos perto!” Quando eles precisam de novas peças, no entanto, descobrem
que as viradas da varinha de Medeia chegaram ao fim, e agora só o Faz-de-Conta
resolve! O grande problema é que O POÇO
ESTÁ BEM EM CIMA DA GRUTA DA CUCA. Pode isso?! Lá embaixo, Cuca sofre e
tosse com a poeira antes de seu banho de argila, e quando descobre o que está
acontecendo, diz que “se é petróleo que eles querem, é petróleo que vão ter”.
E FAZ O
PETRÓLEO JORRAR DE SEU CALDEIRÃO.
Quer dizer, “algum” petróleo.
As crianças não podiam ficar mais felizes. Eles
pulam de alegria, celebrando em uma brincadeira inocente de criança. O
Meio-a-Meio, por sua vez, fica assustado e sai correndo (“Esse negócio fedorento aqui? Isso é coisa dos infernos! Isso aqui é
castigo dos deuses! Socorro! Socorro!”). Assistindo à celebração, Cuca ri
dizendo que “é ouro de tolo”, e sua maldade, dessa vez, é a longo prazo. Ela já imagina a quantidade de carros enguiçados
com combustível feito desse petróleo, pneus furados feitos com a borracha desse
petróleo, sem falar nas solas dos sapatos… e ainda tem a possibilidade de irem
todos presos por causa do petróleo falso. E embora o Saci fique tentando contar
para eles que isso tudo é arte da Cuca, eles estão envolvidos demais nisso para
parar e escutá-lo… estão preocupados em buscar o Quindim para conter o jorro de
petróleo!
Ah, falando
em Quindim, eu ADOREI como ele levou um choque ajudando o Tio Barnabé e ficou só falando inglês. Várias de suas falas
foram divertidíssimas ou fofas (“Please,
Miss Benta… am I sick?”), e eu não podia deixar de rir toda vez que ele
dizia o nome do “Rabicó”, mas meu momento favorito? Quindim cantando “Oh, Suzannah!” SÉRIO, EU AMO MUITO ESSA
MÚSICA! <3 A teoria do Visconde é bacana, sobre “memória genética” ou algo
assim, e ao fim da história, quando o Quindim cai de uma escada e volta a falar
português, ele se torna O PROFESSOR DE INGLÊS OFICIAL DO SÍTIO. Destaque também
para a Emília indo com as crianças pedir a sua ajuda e soltando aquele “Não tem ‘but’ nem meio ‘but’”. Enquanto
o registro para controlar a saída de petróleo do poço não chega, o Quindim fica
lá, sentado. Afinal, quer mais força que a dele?
Dona Benta
mal pode acreditar quando vê o poço DE VERDADE no seu Sítio! Fica meio bobinha,
sim, com o “Companhia Donabentense de Petróleo”, mas tenta dizer para as
crianças que isso é muito perigoso, envolve muita química, muito produto
inflamável… mas as crianças não estão dispostas a deixar a brincadeira de lado.
Estão cheios de planos! E a notícia corre o Brasil em manchetes que dizem “YES, NÓS TEMOS PETRÓLEO”, “ENCONTRARAM
PETRÓLEO NO SÍTIO DO PICAPAU AMARELO!” e “O POÇO DA COMPANHIA DONABENTENSE PODE ABASTECER O BRASIL E O MUNDO”.
Infelizmente, isso também quer dizer que existem pessoas maldosas e movidas
pela cobiça chegando nas redondezas para se aproveitar da ingenuidade dos
sitiantes como o Teodorico, o Chico e os demais… Dona Benta fica horrorizada com as dimensões que isso
tudo toma!
Também tentam
“comprar” o Sítio de Dona Benta, mas ela não é ingênua nem burra, e não vai
aceitar nenhuma proposta! Depois desse episódio, a boa senhora decide que é hora de acabar com essa brincadeira. “Esse
poço de petróleo que vocês inventaram nos trarão mais problemas que alegrias!”
Ela explica que isso mexe com a cobiça dos humanos, além de todos os problemas
que o petróleo pode trazer… ela sugere que elas usem esse interesse em outras
fontes de energia, como a solar. Então as crianças, embora se sintam tristes
como “ex-milionários”, e embora tivessem bons planos para o dinheiro, precisam
acabar com isso de uma vez. Desmanchar o
poço. Antes que possam fazê-lo, a Cuca se desilude com o seu sheik
trapaceiro e acaba ela mesma com toda a brincadeira: SECA O “POÇO DO VISCONDE”.
Faz todo o petróleo desaparecer.
Pronto, a
“brincadeira” chegou ao fim.
A história
ainda termina com uma dica em relação a energias renováveis, mostrando o
interesse de Dona Benta em ENERGIA SOLAR, instalando umas placas no telhado da
casa, dizendo que assim eles poderão ter energia caso ela venha a acabar, mas
lamentando que isso ainda seja muito caro.
Claro que, ao ver essa nova possibilidade, a Emília já fica toda animada, e
liga a sua torneirinha de asneiras em uma série de novas ideias: diz que vai
“cavar um poço de energia solar”. Depois completa: “Um não, quinze. Quinze,
não, 115”. Depois, ela vai até o Sol
pedir para ele vir morar com eles. Quem sabe não viesse a dar certo? Quer
dizer, em se tratando de Emília, quem é que duvida de alguma coisa, né? Por
fim, devo dizer que gostei muito de “Os
XII Trabalhos de Hércules”, mas eu estava MORRENDO DE SAUDADE de uma
história fechada em cinco episódios.
“O Poço do Visconde” é um máximo!
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