Bohemian Rhapsody (2018)
“Is this
the real life? Is this just fantasy?”
QUE FILMAÇO! Acredito
que há algum tempo eu não saía do cinema com essa sensação de ter sido
ARREBATADO, e de ter um favorito para guardar no coração e na coleção de filmes da minha vida. “Bohemian Rhapsody” conta a história da
banda Queen desde que Freddie Mercury se juntou a eles naquele estacionamento,
até o grande show no “Live Aid”, em 1985. Além de uma trilha sonora impactante e sempre impecável (afinal,
trata-se de Queen!), eu adorei a
escolha do título do filme – como se a vida de Freddie Mercury e da banda
fossem a “Bohemian Rhapsody”, essa
música de 6 minutos na qual ninguém além deles colocava fé, essa “confusão de
gêneros sem um refrão”, que “lembra a ópera”. E toda essa originalidade REPRESENTA a banda, a sua unicidade, sua capacidade
de ser ÉPICA! O caminho da banda e do Freddie é essa “confusão de gêneros”,
essa intensa mescla de emoção, do mais melancólico ao mais agudo…
Achei uma metáfora inteligentíssima.
É notável
como o filme foi construído para nos envolver e para nos emocionar em cada
segundo – “Bohemian Rhapsody” começa lá
no mesmo lugar onde vai terminar, com Freddie Mercury penteando o bigode e
subindo ao palco para um grande show,
que ainda não sabemos qual é, ao som de “Somebody
to Love”, que nos arrepia inteiros! Depois, retornamos para 1970, quando
ainda o conhecemos como “Farrokh Bulsara”, um garoto cheio de sonhos e bastante
determinado. Farrokh conhece os garotos da banda logo após um show deles como “Smile”,
logo que o vocalista acabou de deixá-los.
É a sua oportunidade perfeita para se oferecer como novo vocalista, e eu gosto demais de como ele não é facilmente
abalado, pelo comentário sobre os dentes, por exemplo, e então ele dá uma breve
demonstração de seu poder vocal ali, improvisado, e vai embora.
Havia muita
coisa que colocar no filme e, de certa maneira, eu achei que as coisas aconteceram depressa. Me surpreendeu que
QUEEN estivesse fazendo sucesso razoavelmente rápido – mas de forma totalmente
inusitada. A banda, formada por Freddie, Brian, Roger e Deacon, faz alguns
shows pequenos, mas Freddie quer ARRISCAR. Assim, ele convence os amigos a
venderem o carro para conseguir dinheiro e gravar o primeiro álbum… e que gravação mais peculiar, original e
PERFEITA. Foi exatamente ISSO que levou a banda ao sucesso! Freddie tinha
visão, e vazia coisas que ninguém fez antes, como colocar moedas em cima da
bateria para conferir ao instrumento um som novo,
e isso fez com que o álbum deles fosse ÚNICO, e imediatamente se tornasse
sensação, o que, inclusive, os levou a uma turnê pelos Estados Unidos.
O filme
também trata da relação entre Freddie Mercury e Mary Austin, e é uma relação
belíssima, que começa como uma pretensa relação “romântica” e acaba como uma
amizade muito forte. Eles se conheceram no início do filme, em um momento interessante, ele foi atrás dela na loja
em que ela trabalhava e, enquanto ela era superparceira dele o tempo todo, eles
acabam se apaixonando e ele chega a
pedi-la em casamento. Mas Freddie Mercury, oficialmente bissexual, parecia bastante gay o tempo todo e,
durante a primeira turnê do Queen nos Estados Unidos, ele começou a questionar a sua orientação sexual,
fosse através de olhares sugestivos de caras que o convidavam para segui-lo até
o banheiro, ou o beijo que Paul lhe deu. De uma maneira ou de outra, Mary
percebeu quando ele não respondeu àquele “eu
te amo” durante uma ligação.
Foi doloroso.
Em 1975, e
essa é uma das minhas sequências FAVORITAS no filme, a banda grava o álbum intitulado
“A Night at the Opera”, uma visão diferente que lhes custa o contrato com
a gravadora com que estavam até então – tudo porque o responsável pela banda não acredita em “Bohemian Rhapsody”. A música é INOVADORA, diferente de tudo o que tinha
sido composto antes, e não atendia aos “padrões” da época. Mas Freddie e o
resto da banda acreditavam nela. Mesmo
com seus 6 minutos de duração, mesmo sem um refrão, mesmo com a mudança de
gêneros e com as “palavras aleatórias”. Era uma verdadeira ODISSEIA, e merecia
esse voto de confiança, que não foi dado. Toda a composição e gravação da
música me arrepiou, e eu estava
ansioso para ouvi-la por COMPLETO, acho que, de alguma maneira, o filme ainda
está me devendo isso!
A música
recebe críticas…
…MAS É UM
SUCESSO ESTRONDOSO.
[Até hoje,
por sinal!]
Em uma cena
emocionante, de um show no Rio de Janeiro, a plateia canta “Love of My Life” de volta para a banda, e aquilo emociona Freddie
de maneira significativa, porque até então ele nem sabia se eles estavam entendendo o que ele estava dizendo –
mas como dizem, os fãs brasileiros podem ser os melhores! Como a maioria dos
filmes do gênero, no entanto, uma vez que chegamos ao ápice, em algum momento a
história tem que chegar ao fundo do poço. Depois da separação com Mary
quando ele se declara bissexual, as coisas mudam para Freddie Mercury. Ele acaba
confiando demais em Paul, que é um traíra
interesseiro, e tendo problemas de relacionamento com a banda, ainda que ainda
saiam composições inteligentes como “We
Will Rock You”, justamente com a intenção de envolver o público no show, e “I
Want to Break Free”, censurado nos Estados Unidos.
A derrocada
final de Freddie Mercury acontece quando ele acaba seguindo os conselhos de
Paul e assina um contrato de 4 milhões de dólares para seguir carreira solo, e a maneira como isso machuca os demais membros do Queen é arrasador. E enquanto Freddie prepara os dois discos que o contrato
prevê, ele se afunda em drogas, em sexo sem proteção com diversos parceiros, e
o vemos cada vez mais distante do que ele já fora… também o vemos ser
contaminado pela AIDS e sofrer de pneumonia, por causa da imunidade baixa, e o
filme assume um doloroso tom melancólico, que finalmente chega ao fim quando
Mary vai até Freddie – porque é apenas ela quem pode TRAZÊ-LO DE VOLTA PARA A
REALIDADE. É ela quem fala sobre o “Live Aid”, o show sobre o qual ele nem está sabendo, porque Paul não lhe
contou, e o faz ver que está confiando nas
pessoas erradas.
Então,
Freddie volta atrás.
Ao som de “Under Pressure” (COMO EU AMO ESSA
MÚSICA!), ele termina qualquer tipo de relação, pessoal ou profissional, com
Paul, que dá uma última cartada indo à televisão e falando sobre ele, o que me
parece um inteligente paralelo com a cena pouco antes do término da banda, em
que a imprensa ficou lhe perguntando um monte de coisas sobre sua vida pessoal
e sobre a sua sexualidade, quando eles só
queriam falar de música e do novo álbum da banda. É traiçoeiro e revoltante
como a imprensa parece urubus agourentos.
Não vou dizer que Paul “ajudou” Freddie Mercury, porque isso é tudo o que ele não fez, nunca, mas ao ouvir a entrevista
na televisão, Freddie percebe que precisa se conectar com suas origens, com
quem ele é de verdade… e, para isso, ele precisa voltar até os amigos, voltar
até a família e, quem sabe, encontrar Jim Hutton.
As cenas são
LINDÍSSIMAS, todas. Freddie Mercury pede que Miami consiga uma “reunião” com os
outros membros da banda, se desculpa com eles, reconhece seus erros e aceita
todas as condições que eles lhe impuserem – e embora eles estejam magoados e não
toquem juntos há muito tempo, eles
são uma família, afinal de contas. E resolvem tentar cantar no “Live Aid”. Outras
cenas bonitas são de quando Freddie conta aos amigos que está com AIDS, e eles choram,
mas são totalmente parceiros do amigo, e quando Freddie reencontra Jim e o leva
para conhecer a sua família, naquele emocionante momento em que o pai finalmente o aceita como ele é. Todas
cenas emocionantes e intensas, capazes de nos levar às lágrimas, uma após a
outra. Aqui, o filme se consagra realmente como algo tocante, e fica belamente guardado em nossa memória!
Então,
chegamos a 1985…
O evento
final do filme não poderia ter sido mais perfeito. O filme não precisava de
mais diálogos, de mais momentos de superprodução – eles precisavam de um show do Queen, e o “pocket show” durante o
Live Aid é EXIBIDO COMPLETO! Queen canta “Bohemian
Rhapsody”, “Radio Ga Ga”, “Hammer to Fail” e termina com a
ICÔNICA “We Are the Champions”, levando
a plateia, do show e do filme, às LÁGRIMAS. As cenas ainda são brilhantemente
intercaladas com a família de Freddie assistindo, os gatos na casa, e até
aquele empresário que os abandonou e previu que “ninguém escutaria Queen”. A atuação
de Rami Malek está PERFEITA, entregue de corpo e alma para esse momento
singular, um verdadeiro astro dando vida a Freddie Mercury e arrancando todas
as emoções de nós… o show, naturalmente é um estrondoso SUCESSO, e as doações
ao Live Aid explodem enquanto a banda canta…
Verdadeiramente
emocionante e belo. Um filme recomendado.
Para assistir, sentir e assistir de novo. E de
novo. E de novo.
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