Desventuras em Série, Livro Tredécimo – O Fim



Um lugar seguro…
Quando as “Desventuras em Série” chegam ao fim – ESSE É O MELHOR LIVRO DA SÉRIE! Certamente é o livro mais diferente de todos os 13, onde Lemony Snicket faz coisas inusitadas que nunca fez antes, e onde os irmãos Baudelaire são confrontados por perigos com os quais não estão acostumados – o tom cartunesco é deixado para trás e, em tom nostálgico e de despedida, “O Fim” assume um clima mais melancólico, e tem passagens muito bonitas. Os Baudelaire estão em um lugar desconhecido, onde descobrem mais do que esperavam descobrir sobre os próprios pais, e onde passam por emoções fortíssimas, especialmente no “Capítulo Treze” e no epílogo que é quase um livro à parte, o “Capítulo Catorze”. Um último toque genial de Lemony Snicket que fecha a trama de “Desventuras em Série” da melhor maneira possível, deixando-nos com um pequeno aperto no coração, um sorriso no rosto e MUITA EMOÇÃO!
E com uma palavra final, ele muda tudo… ele esclarece coisas demais.
Ele nos surpreende uma última vez!

Caro Leitor,

Você provavelmente está olhando para a quarta capa deste livro, ou para o fim de O FIM. O fim de O FIM é o melhor lugar para se começar O FIM, porque, se você ler O FIM desde o começo do começo de O FIM até o fim do fim de O FIM, vai chegar ao fim do fim de suas esperanças.
Este livro é o último de uma longa Série de Desventuras, e, ainda que tenha enfrentado corajosamente os doze volumes anteriores, você não irá aguentar tanta desgraça como uma tempestade bravia, uma bebida suspeita, um bando de ovelhas selvagens, uma gaiola de passarinho gigante e ornamentada, e um segredo de fato assustador sobre os pais dos Baudelaire.
A minha mais solene ocupação tem sido investigar e narrar a história dos órfãos Baudelaire, e finalmente cheguei ao fim. Você provavelmente se dedica a outra coisa na vida, então sugiro que large este livro imediatamente, para que O FIM não acabe com você.

Com todo o respeito,
Lemony Snicket

Quando o livro começa, os Baudelaire e o Conde Olaf ESTÃO NO MESMO BARCO. Com pouca comida, sem destino e sem ter como velejar, as crianças precisam aguentar as exigências sem cabimento do Conde Olaf e, por um momento, eles chegam a pensar em empurrá-lo na água – e é Sunny, a mesma que no livro anterior sugeriu que eles incendiassem o Hotel Desenlace, quem dá essa ideia. Por longos segundos silenciosos, as crianças realmente cogitam essa ideia, algo que não fariam algum tempo atrás, e se perguntam se as suas “bússolas morais” estão avariadas demais. Felizmente, não precisamos saber o que as crianças decidiriam, porque a oportunidade de empurrar o Conde Olaf para a água em um momento vulnerável, enquanto ele “trocava o nome” da embarcação (de “Carmelita” para “Conde Olaf”, mas ainda há uma placa misteriosa por baixo), acaba quando ele aponta para o horizonte e anuncia o que os espera com certa alegria impensada: UMA TEMPESTADE.
Mas é a tempestade que pode carregá-los aonde for.
Parecido com o que enfrentaram no Lago Lacrimoso, as crianças passam por maus bocados em uma tempestade horrível, e acabam em uma plataforma costeira onde detritos que parecem vindos do mundo inteiro se acumulam, dentre eles o próprio Conde Olaf (“Acho que não foi necessário atirá-lo ao mar. A tempestade fez isso por nós”), desacordado. “Esticanela?”, Sunny pergunta, mas não, o Conde Olaf não morreu – mesmo assim, talvez o seu reinado tenha enfim chegado ao fim. Andando pela plataforma costeira em busca de uma ilha que deve estar nas proximidades, as crianças encontram uma garotinha inteligentíssima, de seis ou sete anos, chamada Sexta-Feira (como em “Robinson Crusoé”), que está descalça e usando uma túnica branca limpíssima, e convida os Irmãos Baudelaire para acompanhá-la – mas não o Conde Olaf, pela sua atitude.
Talvez, pela primeira vez, os irmãos estejam livres do Conde Olaf.
EU ADOREI COMO SEXTA-FEIRA O COLOCOU NO CHINELO! <3
Mas a verdade é que a misteriosa ilha é, provavelmente, um dos lugares mais assustadores a que os Irmãos Baudelaire são submetidos – muito mais do que a Sala dos Répteis ou a Serraria Alto-Astral, até mesmo a Prep Prufrock. Porque é assustador quando tudo parece “bom”, mas você sente que há algo que não está sendo contado. A começar pelo cordial de coco, que é a única coisa que os moradores da ilha tomam, supostamente, e que as crianças não gostam ao experimentar, notando que há algo a mais na substância do que Sexta-Feira lhes disse, saiba ela ou não. Sexta-Feira conta, também, sobre alguns costumes estranhos da Ilha, como a macieira que cresce no arboreto do outro lado da ilha, “aonde ninguém nunca vai”, porque Ishmael diz que “é perigoso demais com todos os itens descartados que os carneiros levam para lá”, e o Dia da Decisão…
Tudo soa absurdamente estranho, e a nossa vontade, talvez pela primeira vez, é seguir o conselho de Lemony Snicket é SAIR CORRENDO – mas nós amamos os Baudelaire, e nós não sairíamos correndo sem eles. Portanto ficamos. Apreensivos, sim, mas ficamos ao lado deles. Apenas uma vez ao ano as pessoas da ilha têm a oportunidade de irem embora se quiserem, e isso tudo vai deixando as crianças alarmadas, percebendo que há algo errado: “Por um lado, Sexta-Feira parecia muito cordial, mas – como no cordial que ela oferecera – havia algo além de doçura na sua descrição da ilha”. E eu acho que isso tudo SE ACENTUA quando eles conhecem Ishmael, o “líder” da Ilha, que parece, na verdade, o líder de uma seita. E, como em qualquer seita, existem muitas coisas macabras que não são explicadas, e uns costumes estranhos que são impostos.
Mas como “sugestões”.
O primeiro encontro dos Baudelaire com Ishmael é importantíssimo. Sua cordialidade, parecida com a de Sexta-Feira, parece um tanto quanto forçada, e percebemos que ele esconde muita coisa – quando as crianças se apresentam como “Baudelaire”, por exemplo, ele reconhece o sobrenome e, por um segundo, seu sorriso some, mas então ele recupera a postura. Ishmael os instrui a colocar túnicas brancas, como todos os demais ilhéus, e pede que eles abandonem tudo o que trouxeram de fora da ilha para trás, enquanto continuamente oferece mais cordial de coco para os Baudelaire beberem – mas eles, educadamente, recusam repetidamente. Assim como Sexta-Feira, no entanto, os Baudelaire não estão dispostos a seguir todas as instruções de Ishmael. Escondidos nos bolsos das novas túnicas brancas, as crianças carregam segredos: Violet deixa a sua fita de cabelo, Klaus o seu livro de lugar-comum, e Sunny um batedor que Sexta-Feira lhe dera.
Eles não podem simplesmente deixar toda sua vida para trás.

“Quando os três Baudelaire saíram da tenda e entregaram os detritos de sua vida anterior a Sexta-Feira, eles sentiram os seus próprios segredos fermentando dentro deles, e se perguntaram que outros segredos e esquemas jaziam desconhecidos. Os órfãos Baudelaire seguiram Sexta-Feira descendo de volta à praia inclinada, e se perguntaram o que mais estaria fermentando naquela ilha estranha que era o novo lar deles”

O que mais me causa calafrios na Ilha é como Ishmael controla a todos com sua falsa cordialidade, repetindo sempre os dizeres “Não vou forçá-los”. Mas, ao dizer isso, ele impõe a sua vontade, que é sempre acatada pelos ilhéus, como quando ele os faz dispensar uma série de detritos interessantes e úteis encontrados nos restos da última tempestade. Para os irmãos, ele pede que eles “não balancem o barco”, e embora jamais vá admitir isso, ele soou bastante intimidador. E essa é a realidade em que os Baudelaire se encontram, induzidos a tomar o cordial de coco e cedendo, ao menos um pouco, ao “peer pressure” do lugar, para que sejam acolhidos. Depois disso, dias inusitadamente calmos os esperam, em que eles são colocados em trabalhos que não exigem muito deles, e eles vivem bebericando cordial de coco e “preguiçando”, quase como se estivessem dopados, mas certamente vencidos…
Eles se sentem estranhos tão distantes de tudo – tanto das perfídias do Conde Olaf quanto dos atos nobres de C.S.C., e enquanto estão isolados de todos em uma vida insossa, eles se sentem divididos. Sentem falta de coisas que não podem ter, e sabem que não há nada de “empolgante” para eles na Ilha, mas ali, ao menos, eles não correm perigo. Ou assim acreditam. Quando uma nova tempestade atinge a ilha, um estranho bloco de livros chega à plataforma continental, com um pé caindo pela lateral, e o símbolo de C.S.C. tatuado. Quando os irmãos formam uma “torre” para poder ver quem está lá em cima, Sunny anuncia o nome da mulher grávida que reconhece: KIT SNICKET. Mas, ao dizer o nome, conhecemos também o mais recente disfarce do Conde Olaf, querendo ele mesmo se passar por Kit Snicket… e então, a perfídia do mundo parece ter chegado aos Órfãos na ilha.
Ela sempre os encontra, não?
Dessa vez, no entanto, as coisas são diferentes. Pela PRIMEIRA VEZ NA VIDA, um disfarce do Conde Olaf não dá certo. É inusitado, é surpreendente. Sexta-Feira vê através do disfarce de Olaf de imediato, e é maravilhoso como ela aponta isso a todos, e como diz que umas artimanhas como colocar algo embaixo de um vestido e algas na cabeça não vão impedi-lo de ser reconhecido. Sozinhos, no entanto, os ilhéus não podem tomar as decisões que Sexta-Feira e os Baudelaire sugerem, e enquanto eles vão buscar Ishmael, o facilitador da ilha, Sexta-Feira fica fazendo companhia para as crianças e mostra um novo segredo: a Víbora Incrivelmente Mortífera. É legal ter algo de “A Sala dos Répteis” de novo, e é um pequeno sentimento de segurança no meio de toda confusão diferente… porque as coisas já estão prestes a mudar novamente para os Baudelaire.
Ishmael e os outros ilhéus não são enganados pelo Conde Olaf, e ele acaba preso em uma gaiola de passarinho, como fez com Sunny em “Mau Começo” (!), mas os irmãos também acabam sendo punidos. Primeiro, o Conde Olaf fala dos segredos que eles escondem nos bolsos, como o batedor de Sunny, e embora os ilhéus parecessem realmente dispostos a “perdoá-los”, quando os Baudelaire se recusam a deixar Kit Snicket para trás, Ishmael decide abandoná-los junto com o Conde Olaf e a Víbora Incrivelmente Mortífera. Novamente, eles “estão no mesmo barco”, porque, aparentemente, “a vida não é justa”. Alguns ilhéus olham para eles com “olhares de desculpas”, Sexta-Feira parece prestes a chorar, mas eles são abandonados novamente, e descobrem que, no fim, aquele não era um lugar mais seguro do que qualquer outro em que já estiveram.
E é interessante ver o Conde Olaf nessa situação agora, vulnerável, e vê-lo conversar de fato com os Baudelaire – pela primeira vez, talvez, não o odiamos. Porque ele fala de segredos e histórias que os irmãos não conhecem, ele os ajuda ver que Ishmael não vai deixar ninguém deixar a ilha no “Dia da Decisão”, como ele diz, e aponta para um segredo que Ishmael “deixou cair”, ao ser descuidado: o miolo de uma maçã devorada. Aparentemente, Ishmael não tem os pés machucados como diz, ele engana a todos enquanto vai sozinho para o arboreto e come todas as maçãs do lugar. E que outros segredos, então, ele esconde? Afinal de contas, ele manda os carneiros levarem para lá tudo o que considera “inútil”, mas ele pode muito bem ter uma série de máquinas, e uma biblioteca! Ele não sabia da chegada de uma nova tempestade, por exemplo?
Assim, ficamos ÁVIDOS por conhecer o arboreto e todos os seus segredos.
Ainda mais quando Kit Snicket desperta, finalmente, dizendo:

“[…] ouvi falar deste lugar. Meus associados me contaram histórias sobre as maravilhas mecânicas que existem aqui, a enorme biblioteca e os pratos de alta culinária que os ilhéus preparam. […] Vocês devem estar se divertindo muito aqui"

Mas eles não estão. Nem nenhum dos outros ilhéus que não Ishmael.
A chegada de Kit Snicket começa a mudar tudo novamente para os Baudelaire, e a impressão é de que “O Fim” era um livro que poderia durar para sempre… há TANTAS COISAS a serem exploradas, tantos segredos a serem desvendados! É bom ter Kit Snicket de volta com os Baudelaire (embora eu quase tenha pensado que os Quagmire tinham morrido, porque sua resposta foi misteriosa e idêntica à resposta dos Irmãos a respeito de Dewey, mas felizmente Lemony Snicket termina o capítulo nos tranquilizando, falando que os Quagmire estão em uma situação complicada e úmida, mas aparentemente vivos!), e enquanto o Conde Olaf dorme e ronca dentro de sua gaiola de passarinho, alguns ilhéus vêm com um farolete em sua direção, com uma pergunta que parece sinistra dita nas trevas da noite: “Vocês sabem o significado da palavra ‘motim’?”
ME LEMBRO TÃO CLARAMENTE DISSO! Lá por 2008, acho que foi com “Desventuras em Série” que aprendi o significado da palavra “motim”. Alguns ilhéus planejam um motim para o “Dia da Decisão” e, sinceramente, inicialmente é disso que parece que a Ilha precisa… mas então tudo se torna um pouco assustador. A maneira como Finn e Erewhon soam exatamente como Ishmael, ou como eles parecem incisivos sobre “todos terem que escolher um lado”, e então percebemos o que está prestes a acontecer: UMA CISÃO! E essa cisão, como a de C.S.C., promete ser pérfida e violenta – os organizadores do motim mandam os irmãos Baudelaire ao arboreto para encontrar ou construir armas, e não é exatamente do feitio dos Baudelaire fazer isso, mas, ao que tudo indica, eles não têm uma escolha de verdade. Sem outra opção, eles vão para o arboreto.
E QUE SURPRESA MAGNÍFICA! O arboreto é, praticamente, a maior biblioteca que eles já viram na vida, e realmente faz jus à ideia de que “todas as coisas do mundo eventualmente acabam naquela Ilha”. Ao olhar ao redor, Violet chega a comentar “Eu poderia inventar qualquer coisa, e todas as coisas”, o que é parecido com o que os irmãos também comentam… a sequência é repleta de espanto, admiração, fascinação… a Víbora Incrivelmente Mortífera, então, os conduz até o maior segredo da Ilha, escondido no oco da grande macieira. Um lugar equipado com instrumentos avançados de trabalho, uma imensa biblioteca e uma cozinha moderna… e um livro imenso, de nome incomum, que conta a história dos Baudelaire. Atualmente escrito por Ishmael, mas, ao que tudo indica quando eles retornam à página 667 (!), que fala sobre Kit Snicket, que já foi escrito PELA MÃE DELES.
É segredo, surpresa e revelação que não acaba mais.
“O Fim” é O MELHOR livro das “Desventuras em Série”.
Os irmãos, no entanto, não têm tempo de terminar a sua leitura, pois são interrompidos por Ishmael, que fala um pouco sobre a longa história que eles não conhecem, parte dela tendo a ver com um anel, a Duquesa de Winnipeg e toda a relação dos Snicket com os Baudelaire e, quem sabe, até Beatrice. Ishmael fala sobre o tempo que os pais passaram na ilha, sobre os irmãos Snicket, sobre C.S.C. e a cisão, e sobre como os pais dos Baudelaire nunca contaram a respeito de nada disso para eles. Por quê? Por que queriam mantê-los protegidos da “perfídia do mundo”? Será que, como Ishmael diz, os pais gostariam mesmo que eles ficassem ali na ilha, “em segurança”, mas levando uma vida tão sem graça quanto aquela que está sendo oferecida? Ishmael convence as crianças a não lerem o livro, astutamente intitulado “Desventuras em Série”, e as leva de volta com ele para o outro lado da ilha.
Mas, do outro lado da ilha, as crianças e Ishmael ENCONTRAM UM MOTIM NASCENDO. E enquanto as coisas saem de controle, o pior acontece: Ishmael dispara o último arpão contra o Conde Olaf, mas, mais especificamente, contra a sua “barriga”, que não é uma “barriga” de verdade… assim, Ishmael estilhaça o capacete de mergulho que continha os esporos do Mycelium Medusóide… agora, o mesmo cogumelo letal que quase matou Sunny Baudelaire em “A Gruta Gorgônea” se espalha quase matando todos os ilhéus… inclusive os três irmãos. Agora, não só “estão todos no mesmo barco”, mas todos “são parte de uma mesma desventura”. Ainda danificando a segurança da ilha sobre pretextos de que “a está protegendo”, Ishmael pode impedir que os ilhéus se salvem, porque não permite que eles acreditem nos Baudelaire que, mais uma vez, “estão balançando o barco”.
Dessa vez, no entanto, os Baudelaire não têm tempo a perder. Se não querem ouvi-los, eles mesmos vão em busca de salvação. Assim, os Baudelaire vão, cada vez mais fracos, até o outro lado da ilha, à cozinha do arboreto, em busca de raiz-forte… mas sem sucesso, inicialmente. Então, reunidos em uma só poltrona, eles compartilham um dos momentos mais lindos da série, em que decidem que, se for para morrerem tão jovens, vão morrer juntos. Os três folheiam o imenso “Desventuras em Série” por páginas escritas por seus pais, em busca de alguma indicação de raiz-forte escondida ali para o caso do Mycelium Medusóide um dia chegar à ilha, e esse trecho pode ter nos dado a revelação mais importante de Beatrice e o Açucareiro: dentro dele havia o começo da pesquisa para fabricação de um híbrido que teria o mesmo efeito de neutralização do fungo?
Faria sentido… se Olaf e Esmé veneram tanto o Mycelium Medusóide como um veneno mortal, eles não iam querer que outra pessoa tivesse a forma de neutralizá-lo a mãos, não? De todo modo, como em muitas ocasiões, Lemony Snicket coloca as informações através de frases cortadas, que nunca estão em primeiro plano, enquanto as crianças buscam uma forma de amenizar o veneno que toma conta de seu corpo cada vez mais – e, então, eles percebem que a resposta está bem acima das suas cabeças: A MACIEIRA! Por isso foi tão enfatizado o lance do chá, nos dois últimos livros, e o lance da “maçã amarga e pungente” em “O Fim”: porque a macieira é um híbrido com raiz-forte, o que quer dizer que AS MAÇÃS PODEM AMENIZAR O EFEITO DO FUNGO LETAL. E quem os salva, quando eles não conseguem mais caminhar, é a Víbora Incrivelmente Mortífera, entregando-lhes uma maçã.
Um tanto quanto irônico, não?
Então, Lemony Snicket nos conduz pelo último capítulo… oficialmente, o fim de “O Fim”, e é o momento mais MARCANTE de todas as “Desventuras em Série”. É pessoal, é emocionante, é forte – e é real. Aqui, Lemony Snicket deixa de lado qualquer tom caricaturado e apenas se entrega à VIDA. Não é algo grandioso e mirabolante, não é uma série de “descobertas”, mas apenas um fim imperfeito, mas perfeitamente belo. Violet, Klaus e Sunny retornam do arboreto com a intenção de salvar os ilhéus, mas eles já não querem ser salvos. Comandados ainda por Ishmael, eles não querem acreditar nos Baudelaire, e vão embora em um catamarã, com um destino incerto pela frente… os Baudelaire continuam na ilha, com Kit Snicket entrando em trabalho de parto, desejando poder ser para o seu bebê “uma mãe tão boa quanto a mãe deles fora”.
Antes do parto, Kit Snicket e os Baudelaire conversam de coração aberto. Kit Snicket conta sobre como sente que falhou com eles – ela quis protegê-los e levá-los à segurança quando os encontrou na Praia de Sal, mas apenas as deixou nas perfídias do Hotel Desenlace; depois, quis reuni-las com os Quagmire, mas os abandonou novamente. Nessa conversa, temos uma parca informação do que houve com os Quagmire e é tudo o que podemos esperar, ambíguo como é: por um tempo, os Quagmire e Hector foram náufragos com Kit, o Capitão Andarré e Fiona no Queequeb, até que esbarraram no que o irmão de Kitchama de “O Grande Desconhecido”. Os Quagmire foram “engolidos ou resgatados” pela figura misteriosa, e tudo o que Kit Snicket ouviu foi um dos trigêmeos chamando o nome de Violet, mas não sabe dizer se era Duncan ou Quigley…
Então, as coisas se tornam, talvez, mais melancólicas. Violet tenta devolver a Kit Snicket o anel que passou pela família Snicket e Baudelaire, mas ela pede que o deem ao seu bebê – como parece evidente que Kit Snicket vai morrer naquela praia, até porque não pode comer a maçã híbrida sem comprometer o bebê, os Baudelaire prometem que criarão a criança como se fosse delas “se algo acontecer”. Kit Snicket só tem um desejo: que eles deem à criança o nome de um de seus pais, pois “é costume na família dar ao bebê o nome de alguém já falecido”. Por isso, a menininha que nasce nesse capítulo final das “Desventuras em Série” recebe o nome da MÃE DOS BAUDELAIRE e, talvez pela primeira vez, percebemos que jamais soubemos os nomes dos pais dos Baudelaire. E como Lemony Snicket adora guardar uns segredos, isso está aí por um motivo importante…
Adoro como Lemony Snicket encerra a história do Conde Olaf. Pela primeira vez, parece que o estamos vendo de verdade… junto a Kit Snicket e os Baudelaire, ele é a única pessoa restante na ilha, e ele não parece o mesmo. Ele ainda é o Conde Olaf perverso, que já lhes fez tanto mal, mas ele está mais humano que nunca, e não uma caricatura qualquer. Aquele Conde Olaf, que está prestes a morrer, atende a um pedido de ajuda dos Baudelaire, mas provavelmente por um motivo que os irmãos desconhecem: com cuidado e, talvez, carinho, Olaf tira Kit Snicket da balsa de livros e a coloca na areia branca da praia, onde poderá dar à luz, e lhe dá um beijo leve nos lábios… como ele disse que faria “mais uma vez”. Talvez Kit Snicket seja o “amor verdadeiro” que o Conde Olaf perdeu? E tudo o que eu conseguia pensar, enquanto lia isso tudo, era que QUERIA A HISTÓRIA COMPLETA DO CONDE OLAF.
Porque há muito que não sabemos.
Por fim, Lemony Snicket encerra o livro da forma mais BELA possível. Infelizmente (e é estranho pensar nisso desse modo!), o Conde Olaf morre na praia, também atingido pelo arpão ou pelos restos do capacete quando Ishmael atirou nele, e os Baudelaire ajudam Kit Snicket no parto – e quando a bebê nasce e abre os olhos pela primeira vez, chorando, a história de Kti Snicket chega ao fim. Mas, de certo modo, a dos Baudelaire também. Agora começa a história da filha de Kit Snicket – é lindo pensar nos irmãos vivendo sozinhos na ilha, em segurança, de uma vez por todas, um ano todo enquanto a maré não inunda a plataforma costeira novamente, cuidando da bebê de Kit Snicket como se fosse sua própria filha. Os três Baudelaire são seus PAIS AMOROSOS, e é uma família lindíssima, com uma narração singela e comovente. Não é um final feliz e perfeito, mas é o mais feliz que poderíamos esperar.

“Não é a história inteira, é claro, mas é o suficiente. Nessas circunstâncias, é o melhor que se pode esperar”







DESVENTURAS EM SÉRIE, LIVRO ÚLTIMO
CAPÍTULO CATORZE

EU ADORO como Lemony Snicket conta sua história, como ele não está o tempo todo gritando “AQUI TEM UMA REVELAÇÃO!” nem nada, e como tudo está contido nos momentos mais inesperados… depois daquela finalização emocionante no fim de “O Fim”, ele nos presenteia com outro igualmente comovente “livro extra”, o CAPÍTULO CATORZE, como se, enfim, os irmãos Baudelaire tivesse saído daquele ciclo sem fim de 13 em 13… aqui, um ano se passou desde os acontecimentos do último livro. Os três irmãos vivem em paz na ilha, criando a filha de Kit Snicket como se fosse sua própria filha, e tudo É TÃO BONITO. Eles também leem mais das “Desventuras em Série” escritas pelos pais em seu tempo na ilha, e descobrem algumas coisas… algumas coisas que, para eles, nem sempre faz sentido, mas faz MUITO para nós, como quando descobrimos que o bebê na barriga da Sra. Baudelaire seria “Violet” se fosse menina, ou “Lemony”, se fosse menino.
LEMONY.
E nós sabemos a tradição da família Baudelaire…
Então, as quatro “crianças” (é cada vez mais difícil chamá-los assim!) planejam deixar a ilha, como os Baudelaire Pais fizeram no passado: imergir novamente no mundo. Eles arrumam o que querem levar, e o barco no qual partirão, aquele que tivera o nome do “Conde Olaf” colado por cima do nome original do barco… um nome revelador. Lemony Snicket não nos fala se os Baudelaire sobreviveram à jornada de volta, mas acreditamos que sim. De todo modo, o que importa é que a filha de Kit Snicket olha para a placa e pronuncia uma palavra, uma palavra que quer dizer “que a história acabou”. A palavra é tanto o nome do barco como o nome da sobrinha de Lemony Snicket: BEATRICE. O que quer dizer que o nome da mãe dos Baudelaire também era Beatrice… e tendo em vista que ela planejava dar o nome de seu primeiro filho de “Lemony”, se fosse menino… bem, a “Beatrice” de Lemony Snicket, para quem ele dedica TODOS OS LIVROS, é a mesma Beatrice mãe dos Baudelaire…
…que acreditava que Lemony estava morto.
Um último toque especial.
QUE FAZ TODA A DIFERENÇA. Séria fantástica, de fato! <3

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