O Lado Bom da Vida (Silver Linings Playbook, 2012)

“Excelsior”

É UM FILME LINDÍSSIMO! “O Lado Bom da Vida” traz uma história romântica, recheada de drama, emoção e um quêzinho inegável de comédia – além de uma pitada de mistério. O que mais me encantou no filme protagonizado por Bradley Cooper e Jennifer Lawrence é a construção de ambos os personagens, que têm problemas psicológicos que os tornam muito mais profundos – não é a sua história de amor “comum”, e isso é maravilhoso. Patrick acabou de sair do Hospital Psiquiátrico de Baltimore, depois de aproximadamente oito meses internado, e embora ainda esteja obcecado pela sua ex-mulher, Nikki, ele tem uma restrição judicial que não permite que ele se aproxime dela. E enquanto ele vai tentando ser “um homem melhor”, como Nikki supostamente esperava dele, o caminho de Pat acaba esbarrando com o de Tiffany, e as coisas tomam um novo rumo.

Pat é um personagem interessantíssimo, e Bradley Cooper ARRASOU na atuação! Agora, ele sai para correr vestido de saco de lixo todas as manhãs, porque Nikki queria que “ele estivesse em forma”, e todo mundo comenta sobre como “ele perdeu peso”; além disso, ele está lendo os livros sugeridos para ela na sua disciplina, para que possa estar à altura do que ele acredita que ela espera dele… e, particularmente, eu AMEI o momento em que ele termina de ler um livro às quatro horas da manhã e, revoltado, ele o joga pela janela e vai até o quarto dos pais, acordá-los para reclamar sobre o que está acontecendo! A mãe de Patrick é uma mulher muito fofa, e tudo o que ela quer é ajudar o filho a ficar bem, enquanto o pai de Patrick, talvez um pouco mais distante, tem seus próprios problemas com TOC e com superstições bastante carregadas.

O trauma de Pat, que causou toda a confusão que o levou internado por tanto tempo, se deve a uma traição de Nikki com um professor de história, Phillip. As condições para que Pat pudesse voltar para casa incluem terapia, e na primeira vez em que ele chega ao consultório do Dr. Patel, ele escuta a música do seu casamento, que o angustia e o faz ter um pequeno surto em que ele quebra algumas coisas do consultório, antes de pedir desculpas… depois, ele explica o motivo disso tudo: a música é a mesma que estava tocando no dia em que ele chegou em casa e encontrou os vestígios de uma traição espalhados por toda a casa… as roupas de Nikki misturadas a de um homem, jogadas por toda a casa, e Nikki no chuveiro, com o professor de história. Então, Pat fica louco, bate no professor de história, e é tudo o que sabemos de antes de sua internação.

Agora, os problemas mentais de Pat se intensificaram, e como ele se recusa a tomar os remédios, tudo fica muito mais difícil. Em uma das cenas mais fortes de todo o filme, ele está procurando pela fita de seu casamento por toda a casa, de madrugada, e então ele desperta os pais, mais uma vez, para perguntar onde está, e aqui ele tem um dos surtos mais sérios de todo o filme! Durante a confusão que se segue, ele acaba acertando a mãe no rosto, e o pai se enfurece e faz de tudo para proteger a esposa… aqui, confesso que é angustiante ver o pai segurar Pat na cama, sentando sobre ele, e, como Pat narra o acontecimento mais tarde, “não se importando em bater nele”. Mas Pat detesta que ele tenha feito isso, ainda que de maneira não-intencional, e tomar consciência das coisas que está fazendo são importantes para que ele mude.

Quem ajuda Pat a mudar, ainda que Pat seja um cara difícil, é Tiffany – E EU ADORO A TIFFANY! E ADORO A INTERAÇÃO DOS DOIS! Tiffany é a irmã da esposa de Ronnie, um amigo de Pat, e quando Ronnie o convida para jantar, Tiffany estará lá… mas ela é viúva, e Ronnie pede que ele não pergunte sobre como o Tommy morreu… naturalmente, é uma das primeiras coisas que o Pat faz. Eu gosto muito da interação dos dois, e Jennifer e Bradley ARRASARAM na interpretação, falando, por vezes, rápido demais para que pudéssemos acompanhar, mas o que realmente representa pessoas que, como eles, têm problemas psicológicos… a sequência do jantar é ÓTIMA e, na hora de ir embora, Tiffany o faz se levantar e levá-la embora, onde ela o convida para entrar e “trepar com ela”, o que ele não faz… afinal de contas, para ele, ele ainda é casado.

E ela gosta disso.

Do fato de ele não entrar, não de ele “ser casado”.

Nos dias seguintes, os “encontros” se repetem, sempre de maneira um tanto quanto bizarra e/ou desastrosa. Pat sai para correr todas as manhãs, e Tiffany sempre acaba esbarrando nele, e eu adoro como ela o acusa de “estar correndo perto da sua casa”. Mas é bastante complicado para eles se comportarem e terem uma conversa civilizada, porque sempre uma coisa ou outra acaba fazendo com que eles briguem, como quando ele a chama de “piranha”, ou quando ela, maravilhosa, o acusa de não estar em paz com as coisas que aconteceram, diferente dela… então, Pat enfim resolve “dar uma chance”, e a convida para jantar. Mas, para deixar claro que aquilo não é um “encontro”, ele pede uma tigela de cereal! Mesmo assim, aquele acaba sendo um dos momentos de maior conexão entre eles, porque ela se abre sobre ela mesma.

Tiffany “perdeu o controle” depois da morte de seu marido, então ela começou a transar com todo mundo que via pela frente, acabou perdendo o seu emprego por isso, enfim… e Pat meio que “estraga tudo” por demonstrar todo um interesse e depois ser meio que um babaca. Mas, nessa cena, depois que se abre sobre seu problema, Tiffany fala também sobre o seu sonho: há uma competição de dança em um hotel ali por perto do qual ela SEMPRE quis participar – ela não precisa ganhar nem nada, ela só gostaria de se apresentar, mas não tem com quem. Então, surge uma espécie de “acordo” entre Tiffany e Pat: ela entregará para Nikki uma carta escrita por Pat, MAS APENAS SE ele topar se apresentar com ela na competição de dança… essa é sua condição. E eu adoro como ela vê a dança como uma maneira de se expressar…

Então, OS DOIS COMEÇAM A ENSAIAR. E essas são algumas das melhores cenas de todo o filme! A maneira como eles se conhecem, se conectam, e como as coisas mudem embora, para Pat, é como se não tivessem mudado… já muito próximos da competição, Tiffany entrega a Pat a suposta resposta de Nikki à sua carta, e isso meio que o faz desmoronar, de um modo bastante triste, na verdade – ela não acha que exista muita chance de eles voltarem, mas a competição de dança pode ser uma forma de mostrar-lhe que ele mudou. Triste, ele vai embora e deixa Tiffany sozinha. Para piorar as coisas, o pai ainda quer que ele vá em um jogo no dia seguinte, porque acredita que o time não vai ganhar se Pat não estiver lá, e mesmo que inicialmente Pat diga que não pode ir, porque “é no mesmo horário do ensaio”, ele acaba indo e deixando Tiffany plantada.

Maravilhosa como sempre, Tiffany invade a casa dele, mais tarde, FURIOSA. E então as coisas se tornam um pouquinho mais sérias. Tiffany convence o supersticioso pai de Pat que foi por causa dela que o time ganhou os últimos jogos, porque eles sempre estavam juntos nas últimas vitórias, e então o pai, meio irresponsável, se você me perguntar (!), aceita uma nova aposta com o amigo, e se perder, ele perde todo seu dinheiro… aqui, o time dele precisa vencer no domingo, no dia da competição de dança, e, para tornar a aposta “mais interessante”, Pat e Tiffany precisam tirar pelo menos um 5 pela apresentação. Tiffany topa de cara, mas Pat diz que não vai competir nessas condições. Então, Tiffany percebe que só existe uma maneira de convencê-lo a estar lá: ELES PRECISAM MENTIR PARA ELE QUE NIKKI TAMBÉM ESTARÁ NA APRESENTAÇÃO.

Enquanto isso, Pat relê a carta de “Nikki” e percebe que foi escrita por Tiffany…

Na semana seguinte, eles ENSAIAM MUITO. Eu gosto muito de toda a sequência da competição de dança. Ao ver que Nikki realmente compareceu, Tiffany se sente muito mal, achando que “ela vai estragar tudo”, e acaba indo para o bar, beber, mas Pat a encontra a tempo da apresentação e a arrasta para a pista de dança…  E ELES SE APRESENTAM MARAVILHOSAMENTE BEM. Quer dizer, não é nada profissional, mas o sentimento, a entrega e a alegria de estar ali é o que conta. O “grande passo” final tem seus problemas, divertidíssimos, mas os dois estão o tempo todo sorrindo, felizes, e caminham por uma série de ritmos diferentes em uma coreografia bizarra, que lhes garante um 5 exato na média dos jurados… o suficiente para, ao lado da vitória dos Eagles, o pai ganhar a vitória e não perder tudo o que tinha “investido”.

A celebração pelo 5 é MARAVILHOSA!

Durante a celebração, Pat vai conversar com Nikki, e isso destrói Tiffany, que vai embora brava e chorando. Mas aquele é um momento simbólico e bonito, no qual, independente de não sabermos o que Pat disse a Nikki, ele coloca um fim na história deles, de uma vez. E ele precisava fazer isso. Depois, ao ver que Tiffany foi embora, ele vai correndo atrás dela num momento digno de comédias românticas, e é EMOCIONANTE e BONITO! Pat entrega uma última carta para Tiffany, e pede que ela a leia… dessa vez, a carta é endereçada a própria Tiffany, e ele começa dizendo que sabe que ela forjou a carta de Nikki. O olhar dela para ele é sensacional! Continuando a leitura, ela lê as palavras de Pat, nas quais ele diz que a ama, e aquilo é tão fofinho… até porque ele não está só dizendo aquilo da boca para fora: ele escreveu aquilo há uma semana e, mesmo sabendo que a outra carta não era de Nikki, ele seguiu os ensaios e dançou com ela.

Porque dançou POR ela, não por Nikki.

E essa é a coisa mais romântica que ele poderia fazer…

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