UglyDolls (2019)



“Mais incrível que isso não há!”
EU ACHEI TÃO BONITINHO! “UglyDolls” é uma daquelas animações fofas com uma mensagem bonita, que nos diverte e, eventualmente, nos emociona. O filme tem bastante música, muita cor e uma mensagem e tanto! Em Uglyville, que poderia ser traduzido mais ou menos como “Feiolândia”, todos os bonecos que tiveram algum problema de fabricação e, por isso, não são “perfeitos”, encontram um lugar onde podem viver felizes e cantando, depois de serem desprezados pelo mundo real por “não terem a aparência correta”, embora eles ainda não saibam como foram descartados, e continuam sonhando com o dia em que serão escolhidos por uma criança especial. Assim, embora a proposta seja totalmente diferente, é difícil não nos lembrarmos um pouco de “Toy Story” enquanto assistimos ao filme, embora o estilo da animação me lembre mais “Trolls”.
No início do filme, conhecemos Uglyville e a sua moradora “mais animada”, Moxy. Eu adoro a letra de “Mais Incrível Que Isso Não Há”, porque ela fala justamente sobre como a vida deles é incrível, sobre como “por ali só tem alegria”, “sempre com muita harmonia”, e sobre como eles são muito felizes. Mesmo assim, Moxy sonha com o MUNDO REAL. Eu já senti umas lágrimas surgirem com a maneira sonhadora como Moxy fala e como acorda todos os dias confiante de que “aquele é o dia” em que ela será escolhida por uma criança especial… mas, depois de passar um dia todo cantando a esse respeito, novamente Moxy vai dormir sem ter encontrado sua criança. Por isso, na manhã seguinte, ela decide tomar uma atitude e tomar o assunto nas próprias mãos – e a cada momento nos apaixonamos MAIS pela fofura de Moxy, sua determinação e a sua inocência… ela decide, então, verificar o que tem além do cano pelo qual novos brinquedos são jogados regularmente… quer dizer, aquilo deve levá-los para algum lugar, não? Quem sabe até PARA O MUNDO REAL! Então, Moxy acaba convencendo alguns amigos a irem com ela.
Além do túnel, Moxy e os demais chegam ao “Instituto da Perfeição”, onde tudo é supostamente “perfeito”, e então o filme contrapõe essas duas características de seus personagens: os UglyDolls, supostamente feios e rejeitados, por causa de suas “imperfeições”, e os bonecos excessivamente parecidos uns com os outros que são o símbolo da “perfeição”, e seguem um líder cruel chamado Lou. Lou é o boneco de um garoto loiro, realmente bastante bonito, mas também bastante normal… e não temos nem um momento de enganação em que podemos, talvez, gostar um pouquinho dele, porque ele já é apresentado em uma canção horrível em que ele canta sobre os defeitos das pessoas e os rotula como “feios” e “imperfeitos”, por uma série de motivos diferentes… é bastante cruel e, ao mesmo tempo, ele é aplaudido por todos.
“Ninguém entretém e tortura emocionalmente como o Lou!”
Para manter as aparências, ou qualquer coisa assim, Lou resolve deixar os UglyDolls ficarem no Instituto, e os permite “treinar para o Mundo Real”, mas ele os tortura continuamente. O mais fofo, no entanto, é que a tortura não parece funcionar muito bem – Moxy está fixada na ideia de “ter uma criança especial para amar”, e seus olhinhos brilham toda vez que ela pensa nisso, e ela não deixa que nada a abale. Nem mesmo as constantes idas para a máquina de lavar! Eu devo dizer que o filme é bem curioso e inteligente nesse “treino para o Mundo Real”, colocando desafios como escapar de tinta e cola que as crianças jogam, e uma série de outras adversidades pelas quais brinquedos de crianças pequenas precisam passar… mas a verdade é que Moxy e os demais ACABAM SE DIVERTINDO – mesmo quando acabam na máquina de lavar.
E essa é a principal diferença entre Moxy + os UglyDolls e Lou + os “bonecos perfeitos”. O pessoal do Instituto da Perfeição está o tempo todo pensando em si mesmo e em como se manter limpo, para evitar a máquina de lavar, enquanto os UglyDolls se divertem – e essa é a função dos brinquedos, afinal de contas, não é? Uma vez no Instituto da Perfeição, eles conhecem Mandy, uma boneca perfeita que tem problemas de visão, e que tem vergonha de usar seus óculos na frente de Lou e das outras bonecas, porque sabe que ela vai ser julgada “feia” e “imperfeita” por isso. Vendo a maneira como os UglyDolls são tratados, no entanto, ela começa a mudar a sua atitude, e ela se torna uma grande e importante aliada dos bonecos. Ela até os ajuda, em uma sequência divertidíssima, a arrumar-se “perfeitamente” para se parecerem mais com os outros.
Mas, sozinha, ela canta sobre como gostaria de ser alguém melhor para ela mesma.
Livre das amarras da “perfeição” e da sociedade.
Antes que Moxy e os amigos possam fazer a grande provação para o Mundo Real, no entanto, Lou coloca em prática um plano que traz Ox, o prefeito de Uglyville, para o Instituto da Perfeição, onde ele mesmo precisa dizer aos seus colegas UglyDolls que eles foram rejeitados. Segundo o que entendemos, ele mesmo já esteve no Instituto ao lado de Lou, mas ele começou a “atrapalhar o desempenho” dos outros bonecos, então ele foi mandado embora… assim, ele criou Uglyville, como um refúgio para todos os brinquedos que eram considerados “feios” e que, de outro modo, seriam enviados para a reciclagem… depois de descobrir toda essa dolorosa verdade, o ânimo dos UglyDolls desaparece, e a cidade perde a cor e alegria que outrora tivera, agora toda movida pela melancolia, pelo sofrimento e pela desesperança. É de se partir o coração.
Max Mandy não deixa Moxy desistir!
Então, as duas juntas tentam retornar para o Instituto da Perfeição, porque Moxy vai tentar fazer a provação para o Mundo Real de todo modo. Antes que ela possa chegar, no entanto, ela é detida por Lou, que sabia que “a rosinha não é desistir”. Então, Moxy e Mandy são mandadas para a reciclagem (em uma sequência BEM “Toy Story 3”), e aqui temos uma das cenas mais lindas de todo o filme, quando toda a cidade de Uglyville se reúne para ajudar as meninas, e o plano só funciona porque eles estão todos juntos, tendo em vista que a corda de brinquedos que montam vai de Uglyville através dos túneis até a reciclagem, salvando todo mundo. E, ainda unidos, eles resolvem TODOS invadir o Instituto da Perfeição durante a provação… e, assim, os UglyDolls enfrentarão ninguém menos do que O PRÓPRIO LOU na prova final.
ADOREI A PROVA FINAL, DEVO DIZER ISSO! Resume muito bem grande parte do filme. Aqui, os bonecos são confrontados por uma série de desafios até cruzar “uma linha de chegada”, que é a portinha do cachorro na entrada de uma casa fictícia e, para isso, eles precisam passar por obstáculos como um cachorro e um bebê mecânico, mais um monte de coisas que se tem por perto em uma casa com crianças… como sempre, a UNIÃO dos UglyDolls é que lhes dá uma vantagem, porque eles trabalham juntos e se sacrificam uns pelos outros, enquanto Lou só quer vencer a qualquer custo e provar, de uma vez por todas, quão “perfeito” ele é. Mas o tiro sai pela culatra. No fim do desafio, tanto Lou quanto Moxy são pegos pelo bebê mecânico, e Lou chuta o bebê para escapar (!), deixando até seus seguidores do Instituto da Perfeição em completo choque.
Quando o bebê finalmente solta os dois bonecos, Moxy tem a chance de passar pela “linha de chegada”, mas ela não o faz… ela não está ali para “vencer uma corrida”, mas ela está ali porque quer ir para o Mundo Real, onde pode amar uma criança especial. Por isso, ela não consegue deixar para trás o bebê chorando depois de ser chutado por Lou, e embora Lou seja quem passa pela portinha do cachorro, achando que “venceu a corrida”, é Moxy e os outros UglyDolls que recebem a aprovação para ir ao Mundo Real – porque, diferente de Lou, ELES SE IMPORTAM COM AS CRIANÇAS. Então, vendo sua falha e ruína, Lou se torna um vilão muito mais lunático do que ele foi até ali, e podemos entender alguns motivos de seus traumas, em uma sequência importante para o filme, que traz algumas respostas, além de um castigo bem merecido.
Descobrimos que Lou era, na verdade, um protótipo. Ele é o modelo segundo o qual todos os outros bonecos ali no Instituto da Perfeição foram produzidos, e por isso ele nunca vai poder ir para o Mundo Real – ele nunca poderá saber o que é o amor de uma criança, ainda que “seja perfeito”. Então, ele tenta ir para o Mundo Real mesmo sem autorização, e o filme se aventura em uma sequência de ação de Lou contra os UglyDolls e, basicamente, qualquer um que se coloque em seu caminho. Ao fim de tudo isso, o portal que os levaria para o Mundo Real É DESTRUÍDO, e Lou é punido sendo colocado na máquina de lavar! Em um último momento bastante emotivo e fofo, Moxy olha para o portal destruído e começa a reconstituí-lo, com a ajuda de Mandy e todos os seus amigos. Dessa vez, no entanto, o desenho do Portal é diferente de antes.
"Imperfeito".
Por fim, dois momentos importantíssimos. Primeiro, sem Lou, os bonecos de Uglyville e do Instituto da Perfeição SE TORNAM AMIGOS, e é muito bonito ver nascer a “Imperfeição”, um lugar onde todos eles podem viver juntos, e podem se divertir, remontando ao estilo clássico de vida feliz de Uglyville, cheio de música, risadas e vida, e sem o excesso de cinza, padronização e rigidez do Instituto. Depois, o momento pelo qual passamos o filme todo esperando: quando Moxy finalmente vai para o Mundo Real. Realizando o seu sonho, Moxy passa pelo Portal que a leva ao Mundo Real, e ela é colocada na entrada do quarto de uma garotinha… impaciente para conhecer sua “criança especial”, Moxy sobe na cama, acaba fazendo barulho e a desperta, e então O MOMENTO MAIS EMOCIONANTE, quando a garota a encontra, a pega na mão, a olha e sorri, com os dentinhos exatamente como os de Moxy… então, ela a abraça carinhosamente, e Moxy retribui o abraço, emocionada.
UM FINAL LINDINHO!
São nossas imperfeições, por fim, que nos tornam quem somos, que nos tornam “perfeitos”. E todos merecemos ser amados.

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