3% 3x02 – Lâmina
“Eu não sou você”
Gente, pode
ser doloroso ter que admitir, mas: A JOANA TEM RAZÃO. E eu vou explicar…
Michele e Fernando fundaram a “Concha”, uma ideia utópica em que, supostamente,
eles poderiam criar um bom lugar para se
viver no próprio Continente, onde os 97% não aprovados no Processo do
Maralto seriam tratados como seres
humanos. A ideia é boa, mas tem suas falhas, e quando Michele sucumbe à
“Seleção”, que nada mais é do que a mesma
coisa do Processo, percebemos que estamos um ciclo vicioso e, com esse tipo
de atitude, não temos para onde fugir. É aquela ideia de que é muito provável
que uma pessoa, ao tomar o poder de um governo abusivo, acabe fazendo
exatamente igual – porque eles não
conhecem outro meio. Glória falou abertamente sobre isso no episódio
passado; Joana chamou Michele de “Ezequielly”.
E,
basicamente, é isso.
Vamos
explorar um pouco mais da personagem de Joana e o que aconteceu com ela nesse
tempo que separa a segunda da terceira temporada, e eu confesso que eu comecei
o episódio incomodado, incapaz de
entender os motivos e as ações de Joana – ela reclamava sobre o pessoal que
abandonava a Causa e ia para a Concha, dizendo que “era uma traição”, e que
“eles estavam trocando a luta por um
pouquinho de conforto”, e aqui há um fundo de verdade. São as migalhas que um governo autoritário
“presenteia” para calar revoluções e mudanças de fato. Mas ela faz mais lógica
ainda eventualmente. No presente, já “infiltrada” na Concha, Joana reúne
ex-membros da Causa para dizer que tem um
plano… ela quer aproveitar o gerador da Concha, que é da mesma tecnologia
do Maralto, para destruir tudo – para
acabar com o Maralto de uma vez.
E eu confesso
que meu primeiro pensamento (e, agora, reconheço que limitado) foi: OKAY, E
ENTÃO TODO MUNDO SE FODE E O QUE VEM DEPOIS? E foi o que Joana foi questionada,
mas a trama de “3%” é bem
interessante e bem crítica, sempre foi assim – e então ela explica que o que
tem que ser mudado é o Sistema (não com essas palavras), porque enquanto a mentalidade das pessoas não mudar NÃO
HAVERÁ MUDANÇA DE FATO NA SOCIEDADE. Então, para Joana, primeiro eles têm que
destruir o Maralto – uma vez que consigam isso, o Continente se desenvolve,
porque eles não têm como fazer isso enquanto
estiverem sonhando com “a porcaria de uma ilha”, enquanto estiverem idolatrando
uma ideia de “Maralto”, uma ideia de “apenas 3% dignos”; ou seja, enquanto
houver Maralto, o Continente será uma porcaria, porque será submisso, viverá em função do Maralto.
E é muito
inteligente sua leitura da situação, na verdade.
Até porque está cada vez mais evidente que a Concha
está virando o Maralto 2.0 – Michele dá prosseguimento à “Seleção” iniciada no
episódio passado, e é como se estivéssemos de volta à primeira temporada. A
SEGUNDA PROVA da Seleção é feita em trios, separados por idade, então Joana,
Marco e Rafael são colocados juntos – aqui, eles têm que sair de uma sala em 6
minutos, e não podem remover as limitações
que lhe foram colocadas; Joana, por exemplo, está com os pés e mãos amarrados a
uma cadeira; Rafael com as mãos amarradas nas costas e olhos vendados; Marco
com tampões de ouvido e vendas. A ideia é fazê-los cooperar, e eu gostei de
todo o desenvolvimento e de como eles pensaram rápido e conseguiram se ajudar,
mesmo com todas as dificuldades; todos se saem muito bem e parece até fácil para eles, porque eles têm
“treinamento”, de certo modo.
A prova é MUITO no estilo das do Maralto.
Exatamente,
na verdade.
A TERCEIRA
PROVA é ainda mais interessante, e também é feita em grupo. Seis pessoas
(Rafael, Joana, Natalia, Xavier, Arthur e Otávio) são colocadas ao redor de uma
mesa e precisam dizer “Eu acredito na
Concha”. Na frente deles, eles têm um polígrafo, que vai se acender no
final com uma luz verde, se eles estiverem dizendo a verdade, ou vermelha, se
alguma mentira for detectada. Eles têm três
chances, e se a luz vermelha se acender pela terceira vez, então todo o
grupo estará eliminado. Enquanto a prova acontece, Michele observa, e ela
realmente se parece cada vez mais com
Ezequiel, o que é assustador. Não demora muito para que o grupo comece a se
acusar, a se voltar um contra o outro… na primeira tentativa, a luz se acende vermelha. Então, eles
tentam uma segunda vez, e é exatamente o mesmo resultado: uma luz vermelha.
Antes da
terceira e última tentativa, Joana intervém e diz que a culpa é dela por não
estarem passando, e diz que a prova é em grupo “por um motivo”: talvez eles
tenham que convencê-la. Então, eles começam a falar sobre como “a Concha vale a
pena”, mas isso tampouco resolve o problema… os 6 falam que “acreditam na
Concha”, e a luz volta a se acender vermelha. Desesperado, então, Otávio se
levanta e acusa Joana, diz que ela fudeu
com todo mundo e ele não vai permitir que todos sejam eliminados por causa
dela, e Natalia vem em sua defesa, dizendo que eles não sabem se foi ela, “pode ter sido qualquer um”.
Enlouquecido, Otávio fica violento, e Michele interfere, entrando na sala e
anunciando que ali só tem um eliminado, e
não é Joana. Naturalmente, Otávio é ELIMINADO (eu adorei), e eu gostei da
explicação.
A prova tinha
a intenção de ver como eles se portariam em tempos de crise, porque a Concha
tende a passar por vários, e Michele explica que não tem polígrafos na Concha – aquela é só uma máquina que acende a
luz vermelha e mais nada. No fracasso, ela espera que as pessoas se unam, e não
se voltem umas contra as outras… mas Otávio já foi eliminado do Processo do
Maralto uma vez, e ser eliminado da Seleção da Concha, agora, acaba de uma vez
com ele. Ele fica louco, se volta contra Michele, a ameaça com uma lâmina no
pescoço, e manda Joana ir buscar Elisa… ele está descontrolado, perigoso,
estranhamente obcecado e totalmente sem qualquer esperança. Quando as coisas se
intensificam e ele acaba acertando Michele de fato, ele percebe que perdeu suas chances de uma vez por todas,
e então ele foge, com a lâmina apontada para todo mundo e, por fim, a larga e
se mata.
O corpo dele cai de um andar a outro e fica
lá, para todos verem.
Essa é a
prova de que todos precisavam para entender que Michele está transformando a Concha no Maralto – Joana tem a vida
de Michele nas mãos, enquanto estanca o sangue para que ela não morra, mas ela
não faz nada contra Michele, ela salva a sua vida. “Se eu morrer, você vai ficar livre pra dominar a Concha. Eu sei que é
isso que você quer” “Você merece. Mas eu não sou você”. Agora, no entanto,
as coisas devem mudar ali mesmo, dentro da Concha, e eu não acho que a
temporada toda vá ficar em cima da “Seleção”, como a primeira ficou em cima do
“Processo”. Tudo está muito tenso e muito
frágil, prestes a explodir a qualquer momento. Com a morte de Otávio,
Natalia percebe que Joana estava certa, afinal de contas, e que o Processo sempre destrói as pessoas, e a Concha é
uma farsa. Por isso, ela se coloca à
disposição de Joana…
Ela vai ajudar a destruir aquele lugar.
A Causa está de volta.
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