Sítio do Picapau Amarelo (2002) – O Cangaceiro Lobisomem: Parte 1



“Onde eu fui amarrá meu jegue?”
COMEÇANDO A MELHOR HISTÓRIA DA TEMPORADA! Eu adoro que “Sítio do Picapau Amarelo” pode explorar qualquer aspecto do Brasil e valorizá-lo em suas tramas. A primeira temporada, baseada nos livros de Monteiro Lobato, ao lado de uma série de conhecimentos mundiais, como a Mitologia Grega, por exemplo, também traz bastante do folclore brasileiro, com o Saci e a Cuca também como protagonistas do programa, além de uma série de outros “monstros” das nossas histórias… a segunda temporada, com “O Cangaceiro Lobisomem”, também traz toda a história do cangaço, além de um protagonista que veio fugido de Pernambuco, com um sotaque nordestino maravilhoso, e tudo isso faz parte da valorização da história brasileira. A história nos conquista desde os primeiros minutos, com protagonistas carismáticos e uma trama de verdade a ser desenvolvida.
Eu gosto muito de assistir ao “Sítio do Picapau Amarelo”, como meus textos expressam, mas algumas histórias como “O Mapa do Tesouro”, que veio antes dessa, são bastante simples. Na trama dos piratas, a impressão era de que a história ficou rasa – poucos episódios, que giraram em torno de uma confusão em busca de mapa, em busca de almofada, mas sem muito desenvolvimento de história… era mais fácil quando eles adaptavam os livros originais, pois havia história dividida em 5 capítulos, mas agora os autores estão precisando inventar suas próprias histórias e enviar os personagens a outros lugares… assim, é natural que o tamanho das histórias aumentem, e “O Cangaceiro Lobisomem” é a maior dos dois primeiros anos do programa, com um total de 26 episódios. Isso, no entanto, lhe permite desenvolver uma trama, nos divertir e nos envolver.
ADOREI ESSA HISTÓRIA!
Tudo começou ao fim de “O Mapa do Tesouro”, quando o pessoal do Sítio se assustou com o uivo de um “lobo” (“Um lobo? Aqui no Sítio?”), e então se puseram a investigar… Zé Carijó e Tio Barnabé andam pelas redondezas em busca de sinais do animal e, na manhã seguinte, Tia Nastácia dá pela falta de CINCO (!) galinhas no galinheiro. A primeira dica que encontram, o que me lembrou a história do “Gato Félix”, é um pedaço de pano rasgado numa árvore e um pelo de animal que as crianças levam para ser analisado no laboratório do Visconde, mas ele não reconhece aquele pelo como de nenhum animal. Até o Saci está encucado com isso, porque os animais da floresta estão todos assustados, até os peixes do rio estão com medo, e o Zé Carijó percebe que o leite da Vaca Mocha secou… alguma coisa muito estranha está acontecendo no Sítio.
Naquele dia, também chega ao Sítio do Picapau Amarelo o Itamar, um jovem nordestino interpretado por Alexandre Barillari, que está fugindo de um cangaceiro perigoso chamado Trovoada, tudo porque ele se apaixonou por sua filha, Ventania – “Uma boneca que fala. Um burro falante. Um sabugo de óculos. Oh minha vixe Maria, onde eu fui amarrá meu jegue?” Eu já ME APAIXONEI pelo personagem desde o primeiríssimo momento, com a interpretação fofa e o sotaque, tudo é ótimo! Então, o Itamar acaba ficando escondido no Sítio, e a Emília quer logo saber a história completa, e a bonequinha tem aquelas suas falas incríveis, como a divertida “Quando que os cangaceiros vão chegar? Eu sempre quis ser uma cangaceiro, igual a Maria Bonita!” Quando eles escutam sons que parecem tiros do lado de fora, no entanto, o Itamar desaparece, escondendo-se em cima de uma árvore!
Mas existe muito mistério no personagem de Itamar, e é fácil notar que ele é o misterioso lobisomem que está rondando o Sítio – Pedrinho percebe que o pedaço de pano que descobriram mais cedo é igualzinho ao tecido de sua camisa, e ele não consegue explicar por que a sua camisa está rasgada! Além disso, o Saci parece fugir quando vê o Itamar, o que deixa o Pedrinho ainda mais ressabiado. Em paralelo, acompanhamos o Coronel Teodorico se preparando para receber a Candoca, interpretada por Cláudia Rodrigues, que é uma personagem difícil e quiçá um tanto quanto irritante, mas, também, bastante divertida, naturalmente… e isso faz com que ganhemos momentos épicos de pura diversão ao longo dessa história! No início, no entanto, ela é totalmente insuportável… uma garota mimada e mandona, que faz a vida do pai um inferno.
Candoca, conforme fomos informados na história passada, ia se casar (as almofadas eram para seu enxoval, lembra?), mas o seu noivo a abandonou, e agora ela veio passar uns dias na casa do pai, que ela faz de gato e sapato. Ela critica absolutamente tudo, das louças às cortinas, e ele reage com medo e submissão, o que torna tudo ainda mais acentuado. Candoca surta ao ouvir a palavra “enxoval”, destrói uma das almofadas da Tia Nastácia na cabeça do pai, e exige que ele consiga lençóis novos para ela dormir, e ele percebe que só há uma solução para esse seu novo problema: “Eu tenho que mandar essa menina pra São Paulo logo, pra ela ficar bem longe daqui. Eu vou arranjar um marido pra ela! É isso! E tem que ser logo, ou essa diaba ainda vai ficar pra titia”. E então, as tramas se unem, quando o Coronel Teodorico resolve juntar a Candoca e o Itamar.
Claro, se ele for “honesto, trabalhador e solteiro”.
Dona Benta convida o Coronel e a Candoca para um jantar no Sítio, e é um verdadeiro evento, com as senhoras arrumadas e chiques, Pedrinho e Narizinho bem pomposos, bem formais, mas Candoca não merecia tanta arrumação… afinal de contas, ela adora reclamar de absolutamente tudo ao seu redor. Teodorico, por sua vez, pergunta de Itamar, porque gostaria que ele conhecesse sua filha (“Mas, afinal, onde é que está esse rapaz?”), mas é uma NOITE DE LUA CHEIA, e o Itamar está desaparecido… ainda antes do jantar, eles escutam um uivo do lobisomem, o que causa uma verdadeira confusão no Sítio. Candoca está apavorada e dá um chilique, Pedrinho resolve investigar, mas as melhores cenas acontecem no Sítio mesmo, quando Emília, abusada, vem “resolver o problema”, e joga uma jarra de água NA CARA DA CANDOCA.
Ah, amando essas duas brigando!
Candoca diz que “não vai molhá-la, porque senão ela vira pano de chão” HAHA
Naquela noite, o Saci vem ao Sítio avisar ao Pedrinho, ao Tio Barnabé e ao Zé Carijó que TEM UM LOBISOMEM NA MATA, um monstro de quem “até a Cuca tem medo”, e outras pessoas vão encontrar o lobisomem na mata. Indo embora do jantar desastroso no Sítio do Picapau Amarelo, o carro do Coronel Teodorico atola, e Candoca e sua amiga (?) precisam sair para empurrar o carro, e É TOTALMENTE MERECIDO! Candoca, toda patricinha e chatinha, acaba toda suja de lama, e horrorizada, mas as coisas pioram quando ela vê o Lobisomem e sai correndo e gritando, desmaiando no meio da floresta… quando o dia amanhece (e no Sítio a Tia Nastácia dá pela falta de mais três galinhas), Candoca e Itamar acordam na floresta, meio confusos, querendo voltar, e acabam se esbarrando, e toda a sequência é TOTALMENTE HILÁRIA, com ela batendo nele e mandando ela o soltar…
Mas ele nem encostou nela!
Logo percebemos que esse é o joguinho da Candoca. Enquanto o Itamar tenta escapar dela, ela o persegue grudada nele, e Ventania, que estava tomando banho no rio, acaba vendo os dois juntos e acha que ele já está se assanhando pra outra mulher. A situação piora quando ela o beija à força, e então TODO MUNDO VÊ ESSE BEIJO! A Ventania, o pessoal do Sítio e o Coronel Teodorico, que o chama de “safado”, quando na verdade ele era mesmo inocente… mas Candoca, descarada, nos diverte enquanto o agarra, mas diz coisas como “Para de me agarrar!”, ou “Ele me agarrou à força, papai! Eu não queria, ele me beijou”. Diante disso tudo, o Coronel Teodorico, bem antiquado, resolve que AGORA O ITAMAR VAI TER QUE CASAR COM A SUA FILHA! Ouch. E, para ajudar, Ventania está furiosa com o Itamar e já até contou para o seu pai, o perigoso cangaceiro!
“Deixa que eu mesma quero pegar aquele desinfeliz do Itamar, e eu vô fazê picadinho dele!”
O pessoal do Sítio, claro, sabe perfeitamente que é tudo armação da Candoca, e eu adoro a Emília toda sabidona: “Ela que não queria largar dele!” Tia Nastácia, por sua vez, está com dó do pobre Itamar, que “vai pagar todos os seus pecados” se casando com a Candoca… ele até tenta se defender, tenta dizer que foi ela quem o beijou, e não o contrário, mas ninguém quer ouvir, e a Candoca adora a exigência do pai para que ele se case com ela! “Vai ter que se casar!” A Candoca estava totalmente errada? Estava. Mas se ela me divertiu? MUITO! Enquanto dizia coisas como “Olha o que ele fez comigo” e o agarrava de novo, e a cara da Dona Benta, que tampouco se deixa enganar com esse teatrinho todo, enquanto o Coronel, horrorizado, diz coisas como “Olha lá, Dona Benta, ele fez de novo!” Candoca até explica, em detalhes, como ele “a agarrou com aqueles braços fortes”, ou como “a beijou com aquela boca carnuda”, e o beija uma terceira vez.
“Eu sofri tanto, papai!”
Enquanto isso, do lado de fora, o Saci e as crianças armam uma armadilha para pegar o lobisomem, mas quem acaba caindo é a Cuca, e eu me lembro bem dessa parte toda da Cuca no buraco com um dos cangaceiros. O Zorelha também cai lá dentro (“Ixi! Tô com os fundilho tudo estrupiado!”), e como está muito escuro, ele não consegue ver que a Cuca é uma jacaroa de cabelo loiro e vestido vermelho… “Oxi, uma mulher?” Então, os dois se aproximam e meio que viram “amigos”, e SÃO CENAS MUITO DIVERTIDAS, até porque a Cuca é mesmo a rainha do “Sítio do Picapau Amarelo”. Ela até coloca o Zorelha pra dormir deitado no seu colo, enquanto canta para ele, com direito até a ele pedir que música quer que ela cante, e tudo é MUITO ENGRAÇADO DE SE VER! Agora é só esperar o susto de quando o Zorelha perceber quem é a mulher ali com ele.
O Coronel Teodorico não demora para preparar toda a cerimônia lá no Sítio do Picapau Amarelo mesmo, com direito a juiz, delegado, marcha nupcial e vestido de noiva… as testemunhas são a Dona Benta e o Burro Falante, e a Candoca não poderia estar mais feliz – “Ah, que maravilha! Eu sempre sonhei de casar assim! Ao ar livre!” Mas a “cerimônia” é RECHEADA de confusões e interrupções! Tem o pessoal chegando atrasado, tem o Zé Carijó de cabelinho lambido, e a Candoca sempre tem uns comentários “espirituosos” a fazer: “Ai, mas que cambada, papai! Quem que convidou essa gente, amor?” Ah, e claro, AS BRIGAS DE CANDOCA E EMÍLIA. Emília provoca a chamando de “Calhadoca”, Candoca responde dizendo que “a encalhada é ela”, e Emília se defende dizendo que ela não é encalhada porque tem marido, o Marquês de Rabicó.
“Amor, a bonequinha fedorenta é casada com um porco, é a cara dela isso!”
AH, COMO EU RI NESSA SEQUÊNCIA TODA!
Por ora, o Visconde de Sabugosa é quem salva o Itamar, dizendo que não podem começar a cerimônia se não existir um edital de casamento, e o Itamar fica todo felizinho, até tenta escapar, mas o Coronel Teodorico não deixa, o colocando de volta ao lado da filha e mandando casar sim – inclusive, manda o Visconde ficar de fora disso tudo. “É isso mesmo, papai! Sabugo intrometido! Vamo casar!” Então, a cerimônia prossegue, até o momento de “se alguém tiver alguma coisa contra esse casamento, que fale agora”. Astutamente, Candoca impede o Itamar de dizer algo tapando sua boca com o seu buquê, mas ainda existe alguém que pode impedir isso tudo, e é a própria Ventania, QUE ACABA DE CHEGAR AO SÍTIO COM O PAI E OS OUTROS CANGACEIROS. Não tem nada que expresse melhor o momento que a expressão da Emília:
“Ih, sujou!”

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