Yesterday (2019)
“All you
need is love…”
COMO SERIA
VIVER EM UM MUNDO EM QUE OS BEATLES NÃO EXISTEM? Bem, algumas das maiores
músicas de todos os tempos simplesmente não
existiriam, e, por mais que eu ame o Ed Sheeran, correríamos o risco de ele
mudar “Hey, Jude” para “Hey, Dude”? Não, obrigado. O filme
protagonizado por Himesh Patel e Lily James tem uma premissa interessante e
curiosa, que é justamente essa: de
repente, os Beatles nunca existiriam, nem suas músicas, e Jack Malik tem a
chance de ficar rico e famoso como se as composições fossem suas… o filme é
divertido, leve (embora com um quê melancólico) e traz muitas canções dos
Beatles na trilha sonora, o que é perfeitamente emocionante, bem como duas
homenagens finais para essa banda que marcou gerações e que revolucionou a música… ah, mas não é
apenas os Beatles que “desaparecem” dessa realidade, não.
Jack Malik é
um cantor e compositor que é infeliz trabalhando em um mercado, e que sonha em
poder viver da música e ser reconhecido por isso… mas ninguém parece lhe dar
bola, e as suas composições realmente
não são lá das melhores – ele tem uma única fã, Ellie, sua “empresária”, que o
acompanha em tudo e apoia o seu sonho, conseguindo um show aqui e outro ali,
embora eles sejam uma série de desastres. Quando ele se anima frente à
possibilidade de se apresentar em um festival
de verdade, ele acaba se frustrando mais do que o normal porque ninguém está a fim de escutá-lo, e então
ele decide que vai ter que abandonar tudo e voltar para sua carreira de
professor… e ele teria feito isso, se as coisas não tivessem mudado
drasticamente. Ellie diz que milagres podem acontecer (como o que fez Benedict
Cumberbatch virar um símbolo sexual, segundo ela), e acontecem…
É quase o que
se esperava na virada dos anos 2000, com 19 anos de atraso… Jack Malik está
andando de bicicleta, à noite, quando coisas
estranhas acontecem. Um apagão começa a acontecer ao seu redor, mas não se
restringe apenas a ele ou a Suffolk, a sua cidadezinha na Inglaterra – acontece no MUNDO TODO durante 12 segundos.
E, bem nesse momento, Jack Malik é violentamente atropelado por um ônibus, um
acidente que o faz perder, além dos 2 dentes da frente, várias coisas de que
gostava… depois daquele acidente, nada
mais será o mesmo. A primeira dica de que algo está errado, Malik recebe ainda no hospital, numa cena muito fofa com Ellie, na qual ele
pergunta se ela “ainda vai precisar dele, se ainda vai cuidar dele quando ele
tiver 64 anos”, e ela ri, mas lhe pergunta algo como: “Por que 64?” E ele não entende…
Como ela pode não entender essa referência?
Mas não é a
única coisa que Ellie, ou qualquer outra pessoa, não entende. Falando sobre a
sua frustração e sobre a decisão de não voltar a tocar, Jack Malik diz a Ellie
que não quer ser como os “Beatles” nem nada, só queria ser apreciado e
aplaudido uma vez na vida, e então ela pergunta: “Como quem?” As coisas escalam depressa quando os amigos o recebem
de volta em casa depois do hospital, com alguns presentes maldosos que
relembram o seu acidente, e um violão
novo, já que o seu antigo foi atropelado por um ônibus. Sabendo que “um
violão bom merece uma música boa”, Jack não toca nenhuma das suas músicas, mas
sim a icônica “Yesterday”, dos
Beatles, que dá título ao filme… e todos
SE EMOCIONAM ao escutá-la, como se a estivessem escutando pela primeira vez.
Porque, de alguma maneira muito louca, eles
realmente estão.
Eles nunca ouviram Beatles.
Parece loucura,
mas é real, e o filme é muito CRIATIVO… os Beatles desapareceram, e eu ADOREI a
sequência do Jack procurando pela banda na internet e simplesmente não encontrando nenhuma referência ao famoso
quarteto inglês. Ele encontra informações de outras bandas, como os Rolling
Stones, mas tampouco encontra Oasis, já que ele cantou “Wonderwall” há 12 anos e tudo o mais. Outras coisas parecem ter
desaparecido também, como a Coca-Cola e, como descobrimos mais tarde, o
cigarro. Coisas sobre as quais as pessoas,
de uma hora para outra, “nunca” ouviram falar. Então, Jack Malik percebe
que, por mais desesperador que isso seja (e é, minha nossa!), ele pode usar
isso tudo a seu favor… afinal de contas ELE ainda se lembra das músicas dos
Beatles! E esse pode ser, finalmente, o
caminho para o seu sucesso… pode ser o “milagre” do qual Ellie estava falando.
Então, Jack
Malik começa a tocar e cantar Beatles como se fossem composições suas, e eu
confesso que eu fiquei com muita pena
dele nas primeiras cenas… porque as pessoas simplesmente não lhe davam
crédito nenhum! Independente de serem possivelmente as melhores músicas já
escritas na vida, não carregando o nome de um cantor e/ou compositor famoso, as pessoas simplesmente não prestam atenção.
Seja em apresentações, ou mesmo sua família, quando ele tenta tocar “Let It Be” e, depois de ser
interrompido algumas vezes, ele desiste… gosto também da cena em que ele
esbraveja que está tocando uma obra-prima,
que é “como ver Da Vinci pintando a Monalisa”, e eles não estão dando a mínima importância para isso. E independente do
que ele faça ou do quão boas sejam as músicas, ele não consegue ser respeitado.
Até que o Ed
Sheeran entre em ação…
Depois de uma
entrevista na TV, Jack Malik está novamente frustrado depois de cantar “In My Life”, lindíssima, e perceber
que, para todo mundo, ele não passa de um atendente de mercado cantando por
diversão, mas ele recebe a inusitada ligação de Ed Sheeran. É natural que ele
tenha achado que era um trote, mas não era – o Ed Sheeran aparece pessoalmente na sua casa para falar
sobre como gostou da sua música, e das músicas que ele tinha postado na
internet, e o convida para fazer a abertura de seu show na próxima terça-feira.
Tudo é abrupto, e Jack fica triste que Ellie não possa acompanhá-lo (mas é tudo,
como disse, bem abrupto, e ela não pode
abandonar o seu emprego e tudo o que tem ali!), mas ele tampouco pode recusar
essa grande oportunidade… então, ele entra numa sequência de cenas ao lado de
Ed Sheeran que parecem um sonho.
E são ótimas!
Ele canta “Back in the U.S.S.R.” na
abertura do show na Rússia, e aqui ele chama a atenção de Ed para a maneira
como ele parece ser um mestre da
composição… Ed Sheeran até o desafia para uma “competição”, na qual eles
têm 10 minutos para compor alguma coisa, e vence quem compor a melhor música –
depois que Ed canta sua composição improvisada e Jack canta outra música dos Beatles, o próprio Ed
Sheeran admite que ele perdeu essa competição, e é tristinho como ele diz que “as
pessoas diziam mesmo que logo apareceria alguém melhor que ele”. Então, Jack
Malik ganha a oportunidade de trabalhar com uma empresária de verdade, bastante
competente, mas insuportável em toda a sua devoção ao dinheiro. Quando ele
passa em casa para se despedir da família e amigos antes de ir, Ellie confessa seu amor por Jack Malik.
Mas não pede que ele fique.
Ele tem que cumprir seu sonho.
Então, Jack
Malik se torna uma estrela. Empresariado, ele tem que “compor” mais e todo o
marketing começa a trabalhar pesado, gerando toda uma expectativa para o seu álbum que está por vir… Jack até visita
Liverpool, para que possa se lembrar de mais músicas dos Beatles, visitando
lugares como Strawberry Field, e o túmulo de Eleanor Rigby. Sua visita a
Liverpool ainda conta com um reencontro dele e Ellie, que passam uma linda
noite juntos, mas ela diz que não está interessada em “apenas uma noite”, e
então ela o deixa novamente, para que ele possa viver seu sonho. Na manhã
seguinte, antes que ela volte para casa e ele embarque para Los Angeles, ele
vai até a estação atrás dela, e é uma cena linda, na qual ela lhe dá a
oportunidade de ficar ali com ela, ao invés de ir a Los Angeles em busca de
fama e dinheiro, mas ela também sabe que não pode pedir que ele abra mão disso
tudo que ele sempre sonhou para estar com ela.
O que é mais
importante, no fim?
Por ora,
mesmo de coração partido, ele escolhe a música…
E eu acho que, naquele momento, ele tinha
que fazer essa escolha, para que ele nunca pensasse que talvez as coisas tivessem
sido diferentes. Ele foi, ele viveu o seu “sonho”, para perceber, enfim,
que talvez não era aquilo que significava felicidade.
Mas ele foi. Caiu em mãos de agentes gananciosos que não o permitiram tomar as
decisões criativas que ele queria para a capa e título do álbum, por exemplo, e
que organizaram um MEGA EVENTO para o lançamento de seu primeiro álbum (a cena
de “Help” foi FORTE e LINDA!). Ali,
todas as coisas já pareciam prestes a explodir, e eu gosto de como, nessa
altura do filme, o roteiro trabalha com um pouco de suspense… afinal de contas,
ainda não sabemos exatamente o que
aconteceu para que aquilo tudo fosse possível, não sabemos como apenas Jack
Malik pode se lembrar das canções dos Beatles, e isso tudo sempre parece
prestes a desabar.
Uma das
minhas cenas favoritas é de quando Jack aparece em um programa de TV, e ele é
perguntado se foi ele mesmo quem compôs
todas as músicas que está cantando, e então James Corden anuncia que têm
dois caras nos bastidores, dizendo que as músicas que Malik canta são
composições suas e de sua banda, os Beatles, e pede que Paul McCartney e Ringo
Starr entrem. Era apenas um pesadelo,
mas isso muda drasticamente o tom do filme dali em diante, porque eu fiquei o
tempo todo em uma tensão… como na cena da coletiva de imprensa, no dia do
lançamento do álbum de Jack Malik, quando alguém parece perguntar qual era seu
favorito, John, George, Paul ou Ringo, ou quando vemos um submarino amarelo no meio do público… também quando aquelas duas
pessoas pedem para conversar com ele, e dizem que sabem de tudo.
Mas não eram
pessoas dispostas a acabar com Jack Malik: eles estavam ali para agradecer. Eles
também se lembram dos Beatles, sentem falta de suas músicas, mas não podem cantá-las para que as pessoas
as lembrem. A cena é divertida, comentando as músicas em que Jack Malik
parece ter confundido a ordem das estrofes, ou a mudança feita em “Hey, Jude” (“Eu sei, foi aquele maldito Ed Sheeran!”),, e eles dizem que “fizeram
umas pesquisas”, e dão um presente especial a Jack Malik em um pedaço de papel…
fazendo uma viagem, então, Jack encontra JOHN LENNON (!) vivendo em uma casinha
distante de tudo, no interior, e é uma linda conversa que ele tem com John, o
garoto de Liverpool. John Lennon o ajuda a perceber que não é a fama e o
dinheiro que fazem uma pessoa feliz,
porque ele diz que foi, sim, muito feliz em sua vida.
“Você chegou aos 78 anos!”
<3
Aquela versão
de John Lennon foi feliz com sua esposa, e agora aconselha Jack Malik a também
ir atrás daquilo que ama, e “sempre dizer a verdade”. E é isso o que ele faz, o
que ele percebe que já devia ter feito há
muito tempo. Jack combina com Ed Sheeran para se apresentar em seu show, e
canta uma série de lindas canções dos Beatles, como “All You Need is Love”, e faz uma BELÍSSIMA declaração de amor a
Ellie, que ele pede ao amigo que leve aos bastidores, e então ele a coloca nos telões
do show… e, então, ele também conta a verdade: diz que as músicas que vem
cantando não foram compostas realmente por ele, mas são composições de quatro homens
muito talentosos, John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr,
os Beatles, e ele faz mais que isso, para o desespero da sua empresária: ele as publica gratuitamente na internet.
Afinal de
contas, todos deviam ter acesso às músicas dos Beatles!
\o/
E, então, ELE
VAI SER FELIZ. Sim, em um mundo sem os Beatles, que é pior por não ter essas músicas maravilhosas, mas Jack Malik faz a
sua parte… agora, ele pode ser feliz ao lado de Ellie, e é muito lindo como
eles ficam juntos, como eles são felizes, como ele se realiza sendo um
professor de música, e a mensagem do filme é muito bonita: 1) não é a fama e o
dinheiro que vão te fazer feliz; e 2) o mundo precisa das músicas dos Beatles. O
filme ainda traz uma última piadinha bacana, quando, depois de fazer amor com Ellie, Jack comenta que “se
sente como Harry Potter depois de ter derrotado Voldemort”. Quando ele fez esse
comentário, tão específico, eu TINHA CERTEZA do que ela perguntaria a seguir: “Harry Potter. Quem é esse?” Saí do
cinema pensando em todas as coisas que eu teria “apagado da existência” se
estivesse no lugar de Malik.
#medo
AMEI O FILME!
*-*
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