Ponte para Terabítia (Bridge to Terabithia, 2007)



Um refúgio…
QUE RESPONSABILIDADE ESCREVER SOBRE ESSE FILME! “Ponte para Terabítia” é um dos meus filmes favoritos na vida, belo e tocante, com visuais e atuações impecáveis, e uma história emocionante sobre duas crianças que sofrem bullying na escola em que estudam, e que querem um lugar que seja só deles, um lugar livre de qualquer bully, um refúgio onde eles possam estar tranquilos… e se esse lugar ainda não existir, eles podem criá-lo… Jesse Aarons e Leslie Burke encontram/criam esse lugar mágico, a que dão o nome de Terabítia, se balançando em uma “corda mágica” e atravessando um riacho até o outro lado do bosque próximo da casa de ambos. Baseado no livro homônimo de Katherine Paterson, de 1977, “Ponte para Terabítia” é de uma sensibilidade sem tamanho, e me fascina do início ao fim, em toda sua delicadeza, cuidado e a bonita e triste mensagem final.
Conhecemos, primeiro, Jesse Aarons, em uma cena dolorosa em que sua mãe jogou fora os seus tênis gastos, e lhe deu os antigos tênis, também bastante velhos, de sua irmã – a dificuldade financeira da família é sentida desde o início, e é um dos motivos de tanto sofrimento. Aquela primeira cena, em que Jesse não quer usar os tênis da irmã, mas não tem outra opção, é de partir o coração, porque ele pega uma caneta para pintar as partes rosas do tênis de preto, porque sabe que já é atormentado demais na escola, e não precisa de mais nada… as primeiras cenas da escola são FORTÍSSIMAS, e Jesse é atormentado por “valentões” covardes que pegam no seu pé de forma ridícula, e quando parece que ele vai ter um pequeno momento de glória, vencendo uma corrida na escola, ele acaba a perdendo para a garota nova que acaba de chegar: Leslie Burke.
Leslie Burke acabou de se mudar para ali, e também é “a esquisita”. Por isso, eles se entendem tão bem, e eu gosto muito de como, lentamente, eles se aproximam. Começa na cena da corrida, depois quando descem juntos do ônibus na volta para casa, mas a bonita amizade se estabelece de fato quando Leslie vê os desenhos de Jesse… naquele mesmo caderno de desenho que, no dia anterior, May Belle, sua irmã mais nova, desenhou, e ninguém na família parece entender por que ele está tão bravo com isso! Eu acho Jesse e Leslie duas crianças FASCINANTES, e a construção disso no filme também. A imaginação de ambos, apresentadas de formas diferentes – Jesse desenha, Leslie escreve. E escreve maravilhosamente bem, sobre coisas que nunca viveu, e ele acha estranho… mas, na verdade, ele também nunca realmente viu o que desenha, não é?
Tudo está dentro da mente deles!
Assim, com uma bonita amizade nascendo entre eles, eles começam a passar mais tempo juntos, e eles se fazem tão bem. Leslie era uma garota sozinha, e Jesse é, talvez, seu primeiro amigo. Jesse, por sua vez, entre as dificuldades financeiras da família, a atenção que não recebe do pai, e os bullies na escola, encontra em Leslie os seus únicos momentos de felicidade. Andando nos arredores de casa, então, eles descobrem uma corda pendurada sobre um riacho, e eles a usam para se balançar e, como Leslie descobre depressa, se eles virarem a cabeça para cima e olharem para as nuvens, vai parecer que eles estão voando… e como ambos sabem que precisam de um lugar que seja só deles, um refúgio, eles usam essa corda para levá-los até esse “outro lugar”… o riacho que corre entre os dois lados de terra separa um “mundo” do outro.
Gosto de como tudo funciona depressa na mente de Leslie, da facilidade que ela tem para criar coisas, para contar histórias… ela é quem fala sobre um “reino encantado a que só poderiam chegar se balançando em uma corda mágica”, e então cada coisa que ela encontra do lado de lá vira motivo para uma história, vira um personagem, um aliado ou um inimigo… coisas como um antigo carro abandonado, ou uma casinha na árvore caindo aos pedaços, que se torna o cenário de uma bela amizade, o refúgio que eles tanto queriam, onde Jesse e Leslie, entre tantas “aventuras”, têm conversas sinceras sobre suas famílias, seus problemas, seus medos… onde a relação se intensifica cada vez mais. Aquela primeira cena deles do lado de lá, quando Leslie nomeia o seu novo mundo, “Terabítia”, e quando ela pede a ajuda dos guerreiros terabitianos, e o vento “responde”…
Wow, de arrepiar.
Durante dias, então, eles visitam esse lugar diariamente, reformam a casa na árvore, se divertem, e é tão bonito ver a amizade nascendo e crescendo, é bonito ver o sorriso no rosto de Jesse, e eu acho que as aulas de música são a representação perfeita do estado de espírito de Jesse. Antes, enquanto a turma cantava e tocava instrumentos, ele ficava quieto na sua mesa, sozinho em sua própria mente. Depois da amizade com Leslie e de uns dias em Terabítia, as coisas mudam, e é TÃO BONITO vê-lo sorrindo na escola, vê-lo tocando um instrumento e cantando, junto com as outras crianças e com a professora por quem tem um crush de criança. E da mesma maneira que é bom ver isso, também é proporcionalmente angustiante ver o momento em que o pai lhe dá uma bronca, e então ele se fecha, e a aula de música volta a ser apenas uma aula de música.
Com o Jesse fechado novamente em seu mundo.
AQUILO ME DOEU ASSISTIR!
Porque as cenas com o pai de Jesse são fortíssimas… a maneira como ele fala dos desenhos do filho, a maneira como diz que “ele não tem os pés no chão”, e quando isso acontece, Jesse deixa Leslie e Terabítia para trás. Ele só volta quando uma confusão acontece na escola. May Belle, sua irmã mais nova, ganhou bolinhos para o lanche, mas como ela fica se gabando disso na frente de todo mundo, ela é roubada por Janice, a malvada bully que atormenta todo mundo, e agora ela quer que Jesse, como seu irmão mais velho, faça algo… Leslie também fica furiosa com Janice por estar cobrando um dólar para cada criança que queira usar o banheiro (aquele maravilhoso protesto do “Free to pee!”), e então Jesse declara aberta a temporada de caça a trolls gigantes… e o “troll gigante” atormentando Terabítia é justamente Janice.
Gosto disso, gosto de como Terabítia é “imaginado”, mas como é tudo o que eles estão vivendo, tudo o que está ao seu redor e, principalmente, tudo o que está dentro deles. Jesse e Leslie compartilham momentos lindos, como quando ela lhe dá de presente um kit de pintura, ou quando ele lhe dá um cachorrinho, como ela sempre sonhou, o Príncipe Terrien, e uma das cenas mais bonitas, que não acontecem em Terabítia, mas na casa dos Burke… e parece tão distante para a realidade de Jesse. Quando os pais de Leslie terminam de escrever o livro que estavam escrevendo, e a chamam para ajudar a pintar um cômodo da casa, e Jesse a acompanha. É um momento tão leve, tão divertido, em que eles pintam como uma família, rindo, brincando, dançando… e é tudo o que Jesse não conhece na sua própria casa. Naquele dia, ele volta para casa tão feliz.
E isso, também, parte meu coração.
As mensagens do filme são muito bonitas. Eu gosto de como Jesse e Leslie se vingam de Janice, a valentona que roubou os bolinhos de May Belle, mandando-lhe uma falsa carta de amor e fazendo com que ela seja humilhada, porque isso mostra o quanto eles não são necessariamente perfeitos. Mas eles precisavam fazer aquilo naquele momento. Poucos dias depois, Jesse descobre Janice chorando no banheiro feminino, e pede a Leslie que vá lá conversar com ela, e é a redenção perfeita de todos os personagens, porque Leslie está ali para entendê-la e apoiá-la com um problema familiar, e até para dar conselhos e um pedaço de chiclete. E essa humanidade demonstrada por Jesse e Leslie faz com que Janice amenize a forma de tratar as pessoas… vemos isso primeiro lá em Terabítia, quando o “troll gigante”, que era Janice, os ajuda na questão das chaves.
Duas cenas que gostaria de comentar: a cena da igreja, a que Leslie vai com Jesse e a família, que é linda, e aquele entendimento dela a respeito de como Deus está ocupado cuidando de “tudo isso aqui” para ficar lá, “condenando pessoas ao inferno” é extremamente maduro e inteligente. E a cena das chaves, que é uma das mais desesperadoras, porque Jesse perde as chaves do pai, e se eles tiverem que trocar as fechaduras do trabalho por causa dele, eles descontarão isso de seu salário, e eles não podem ter esse dinheiro a menos. O pai está furioso, e logo descobrimos que tudo é culpa de May Belle, que encontrou as chaves no chão e deu de presente a Leslie, que queria fazer um sino em Terabítia, como o da igreja, de surpresa para Jesse. Então, naquele dia depois da aula, eles vão a Terabítia e enfrentam o que for preciso para recuperar as chaves.
Com o Troll-Janice salvando Jesse e tudo <3
Dali em diante, chegamos à parte mais triste do filme… acontece que vimos toda a amizade de Jesse e Leslie, percebemos como um era importante para o outro, e Leslie ajudou Jesse em tantos sentidos! Na manhã seguinte, a professora de música convida Jesse a ir a um museu de arte com ela, depois de ver os seus desenhos e pedir que “ele não deixe os outros garotos atrapalhá-lo”, e ele vai, feliz. Ele pede autorização para a mãe, que mal o escuta, olha para a casa de Leslie, pensando se devia convidá-la, mas acaba não o fazendo, e então curte um passeio no museu, em uma cena bem emocionante… porque é lindo vê-lo conhecendo isso tudo, é lindo ver que ele nunca esteve em um museu antes, e a professora espera que isso possa significar algo para ele, que ele possa se dedicar ao seu talento… quando ele chega em casa, no fim do dia, no entanto…
O DESESPERO TOMA CONTA. A família está angustiada esperando por ele, e ele diz que “não é como se ele tivesse saído sem avisar, ele pediu autorização”, mas dessa vez não tem nenhuma bronca o esperando, porque “eles pensaram que ele tivesse morrido”. Então, ele pergunta o que está acontecendo, e é o pai quem lhe conta, sem nenhum preparo, de forma abrupta e sem nenhuma demonstração de afeto, que “sua amiga, Leslie Burke, está morta”. Aparentemente, naquele dia, ela foi tentar atravessar um riacho com uma “corda velha”, e ela arrebentou… acreditam que ela bateu a cabeça quando caiu. É tudo tão rápido, e essa rapidez deixa tudo muito mais chocante. Recebemos a notícia com o mesmo pavor e susto que Jesse, e não sabemos lidar… como ele não sabe lidar com a dor que toma conta dele, que o deixa silencioso.
Em estado de choque.
As cenas seguintes são todas emocionantes e tristíssimas. A maneira como Jesse volta a se fechar nas aulas de música, como ele dorme abraçado ao seu caderno de desenho, onde tinha um desenho de Leslie, a maneira encolhida como dorme… na manhã seguinte, ele quer fingir que nada aconteceu. Acorda e, antes de tomar café, quer ir fazer suas tarefas de casa, mas a mãe avisa que o pai já está cuidando disso, e também fala que está pensando em irem até a casa dos Burke, para dar seus pêsames. O velório de Leslie é um momento doloroso e, ao mesmo tempo, belo, porque Jesse não sabe como se comportar, é como se ainda a visse andando pela casa, e o pai de Leslie o agradece, dizendo que ele fez muito pela sua filha, que nunca teve muitos amigos, e que ela dissera que “ele era o melhor amigo que alguém poderia ter”. Jesse só responde com um “De nada”.
Depois, ele finalmente volta para o lado de lá do riacho, o lugar que ele não sabe mais se pode ou quer chamar de Terabítia… porque ele sabe que é apenas um lugar velho e abandonado, e que nada daquilo que imaginaram aconteceu de verdade. Ele chora, em uma interpretação angustiante de Josh, todo o sentimento e a dor de Jesse expressados em cada momento, cada lágrima, cada tinta que ganhou de presente e que agora ele joga no riacho em que ela morreu. May Belle tenta acompanhá-lo até o lado de lá, porque sabe que o irmão não está bem, mas ele briga com ela, a manda embora, e até a empurra, e ela volta para casa correndo e chorando. Em Terabítia, Jesse é perseguido por aquela enigmática sombra preta que sempre pareceu presente, os observando, e, dessa vez, não parece que Jesse vai conseguir escapar.
Quando o monstro chega até ele, então, entendemos o último elemento de Terabítia, que ainda não tinha ganhado um rosto: o pai de Jesse. Com o filho chorando, em puro desespero, é um momento lindo quando o pai se abaixo e o pega nos braços, o consolando, o abraçando, e cuidando dele como sempre deveria ter cuidado. Ali, nos braços do pai, angustiado e chorando, Jesse fala de toda sua dor, fala de como se sente culpado, porque não chamou Leslie para ir com ele no museu naquele dia e não estava lá com ela quando ela tentou atravessar o riacho, o pai lhe diz que a culpa não é dele. Que é algo muito triste que aconteceu, mas ele não tem culpa, e devia guardar tudo o que ela lhe ensinou, tudo o que ela lhe mostrou e, consequentemente, guardá-la em seu coração. Também é lindo quando Jesse pergunta se ele acha que Leslie foi mandada para o inferno porque não acreditava na Bíblia, mas o pai diz que Deus não mandaria uma menina como ela para o inferno.
<3
Aqui, a transformação está completa. Toda a diferença que Leslie fez na vida de Jesse e de sua família. É muito triste que ela tenha morrido, eu sofro e choro (muito!) toda vez que assisto, mas é como se ela tivesse cumprido sua função na Terra, fazendo todas as diferenças que fez, ensinando o Jesse a enxergar de mente aberta, fazendo com que o pai finalmente crie uma relação com ele, e é como o pai lhe diz: agora, ele tem que mantê-la viva dentro dele, guardando tudo o que ela lhe ensinou. Para isso, Jesse pergunta ao pai de Leslie, que está de mudança, se pode usar a madeira na frente de sua casa, e constrói uma PONTE PARA TERABÍTIA, uma ponte lindíssima até aquele mundo encantado criado por Leslie, um mundo que, agora, está pronto para receber um novo governante… então, Jesse vem e busca May Belle, sua irmã, finalmente a levando para Terabítia.
A Princesa May Belle.
E só de lembrar de tudo isso, agora, estou todo arrepiado
EU AMO ESSE FILME DEMAIS! <3


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Comentários

  1. Seu texto é muito lindo e muito bem escrito. Esse também é um dos meus filmes favoritos da vida e você conseguiu expressar muito bem a beleza dessa estória.

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    1. Obrigado pelo comentário! Que bom que você gostou do texto! :D
      Volte sempre :)

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  2. Seu texto ficou muito bom. Perfeito. Parabéns!Faltam adjetivos para esse filme maravilhoso. Já assisti muitas vezes, e a cada vez, uma nova sensação para cada uma das emoções que o filme proporciona. Indico esse filme para meus alunos do 6º Ano e tenho certeza, que a partir dessa história, consigo tocar o coraçãozinho dos meus alunos. Sou professora há alguns anos, mas não me canso de dizer que o 6º Ano é um marco em minha vida. São os meus anjos!Eles merecem essa literatura de amor, que é Ponte para Terabítia.

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    1. Muito obrigado pelo seu comentário! O filme é mesmo muito lindo <3

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