Click (2006)
“Family comes first”
EU AMO TANTO
ESSE FILME! Eu já vi “Click” tantas
vezes, e não há uma vez que eu o assista que eu não me emocione ou que eu não
termine chorando e pensando na vida.
Adam Sandler não é conhecido como um
mestre da atuação… o ator costuma interpretar sempre o mesmo personagem, em comédias escrachadas e ocasionalmente
divertidas, mas às vezes ele é surpreendido por um roteiro inteligente, como
nesse caso. Eu amo “Click”, e eu
jamais o classificaria como “comédia”. Ele é divertido, sim, e damos (várias)
risadas ao longo do filme, mas, para mim, não é isso que fica marcado… o filme
é fortíssimo, emocionante, e tem uma mensagem incrível. É daqueles que nos
fazem terminar o filme pensando em nós mesmos, refletindo sobre nossas escolhas,
sobre o que faríamos no lugar de Michael Newman… e nos assustamos porque percebemos que, muitas vezes, nós cometeríamos
os mesmos erros que ele cometeu.
Conhecemos
Michael Newman, um cara com uma família linda – a esposa, Donna, e os seus dois
filhos, Benjamin e Samantha –, mas que acredita que leva uma vida azarada. Os O’Doyle, da casa ao lado,
têm tudo do mais moderno e o filho deles adora se exibir, enquanto ele sofre
trabalhando feito um condenado para um chefe abusivo que não o valoriza e, como
ele diz, parece que “eles estão sempre tentando ‘passar por isso’”, mas é
cansativo. As escolhas de Michael já estão erradas desde o início do filme,
porque ele deixa a família em segundo
plano e se dedica quase que exclusivamente ao trabalho. Ele nunca terminou uma casinha na árvore para os filhos,
por exemplo, e acabou de cancelar o acampamento no feriado de 04 de Julho
porque vai ter que ficar trabalhando… e o pior é que ele não faz isso por
egoísmo nem nada. Ele só quer realmente
dar uma condição de vida melhor para a sua esposa e para os seus filhos…
mas ele faz da maneira errada.
Toda a
motivação do filme vem com um CONTROLE REMOTO UNIVERSAL. Michael sempre errava
o controle que devia usar, e ao invés de ligar a TV, ele abria a garagem, por
exemplo, então, em uma noite estressante,
ele sai para comprar um controle remoto universal – se os O’Doyle têm um, por
que ele também não pode ter? É assim que ele chega a uma loja e um cara misterioso, Morty, que lhe mostra um
lançamento tão novo que ainda não está à
venda, mas ele acha que ele merece tê-lo: um controle universal, para “controlar o seu universo”. Michael
fica desconfiado, porque ele está ganhando o controle de presente (e não há
devolução), mas tudo o que ele quer é poder ligar a sua própria TV, assistir ao
documentário sobre arquitetura asiática que precisa ver para o próximo projeto,
e então trabalhar o feriado inteiro para
ver se, assim, ele consegue a promoção que lhe foi prometida se ele fechasse
esse negócio.
Então, ele
vai embora.
Eu gosto muito
do filme, porque eu acho que tem um pouquinho de tudo! Em várias partes,
especialmente quando ele está descobrindo
as funcionalidades do controle remoto, temos uma comédia divertida. A
maneira como ele pausa a esposa, sem perceber, durante uma briga, ou como ele
diminui o volume do latido do cachorro, ou como o acelera porque não pode ficar esperando ele fazer cocô,
ou ainda ele brincando com as cores e com os idiomas no dia seguinte…
inicialmente, parece um controle mágico,
e acho que todo mundo que viu o filme pela primeira vez pensou que gostaria de ter um – mas depois
percebemos que não é tão legal assim.
A princípio, ele pode pular capítulos (ele pula todo o jantar com a família
para poder trabalhar, por exemplo), mas isso o deixa no piloto automático, e a verdade é que ele está deixando de viver aquilo tudo. Ele está pulando pequenas partes de sua vida com
as quais não quer lidar.
A massagem na
esposa…
O trânsito…
O resfriado…
E quem não
faria isso?
Se esse
controle fosse real, precisaríamos de
muita sabedoria para usá-lo. Ele
podia mesmo ser perfeito… Michael fecha o contrato com os japoneses graças ao
controle, mas temos momentos de impulsividade
que nos fariam pular um ano de nossas vidas sem nem percebermos. É o que
acontece com o Michael. Ele fica feliz com a promoção, conta para a família,
celebra com todos, compra bicicletas novas para as crianças e então, no dia
seguinte, o seu chefe babaca diz que “ele vai virar seu novo sócio quando as
plantas estiverem prontas”. E isso vai levar MESES. Naquela noite, ele é
grosseiro com os filhos (aquela cena dos projetos das crianças sempre parte o
meu coração!), e lhe dói ouvir Donna conversando com eles sobre devolver as
bicicletas, então ele aperta avançar no controle e pede que ele o leve até a sua promoção. Ele estava disposto
a pular alguns meses, e então
descobre que O CHEFE LEVOU UM ANO PARA PROMOVÊ-LO.
Um ano
inteirinho que ele perdeu…
E então é
evidente o quanto o controle pode ser nocivo. Ele perdeu toda uma fase das
crianças, por exemplo. Samantha está com cabelos mais longos, agora eles gostam
de assistir “CSI”, e a casinha na
árvore ainda não foi terminada… ele
passou um ano inteiro no piloto automático, perdendo a vida ao seu redor, e é
doloroso e compreensivo quando ele abraça Donna e pergunta se ela ainda o ama, e ela não consegue
responder. Ela hesita. Porque não foi um
ano simples. E dali em diante, é ladeira abaixo. O controle começa a pular
sozinho coisas que ele pulara antes, como uma massagem, um pouco de trânsito,
uma discussão com a esposa… afinal de
contas, quando ele pulou um ano inteiro, quantas vezes essas coisas também
foram automaticamente puladas? E então, quando o chefe fala de um dia ele
ser o CEO da empresa, ele expressa seu desejo, e o controle entende que, assim
como da outra vez, ele quer pular para a
sua promoção.
E assim se
vão MAIS 10 ANOS.
Aqui, o filme
muda drasticamente… existe toda a piada com o fato de ele estar muito gordo e
com estarmos “no futuro”, mas, para mim, é aqui que o filme começa a ficar
realmente melancólico a ponto de não
haver retorno. “Click” sofre
influências de outros filmes que brincaram com o tema, como “De Volta Para o Futuro”. Estamos em
2017 (11 anos no futuro, na época em que o filme foi lançado), e tudo está
muito mais moderno, e as notícias no jornal são hilárias (tipo da Britney Spears ou do Michael Jackson, o primeiro
humano a se clonar), mas nada supre os 10 anos de falta. Michael nunca terminou a casinha na árvore, só se preocupou com o
trabalho. Os filhos estão grandes, e ele nunca se dedicou a eles, o
casamento com Donna fracassou, obviamente, e agora ela está casada com o
professor de natação do Ben, que é um fofo, e não há mais caminho de volta…
ali, ele já está arrependido, mas ele não
pode fazer mais nada.
Foram suas escolhas que o levaram até ali.
E o que eu
acho mais inteligente de “Click”, e
que às vezes as pessoas falham em reconhecer, é que ele não é uma ficção por completo. O controle remoto universal é apenas
uma metáfora, a materialização de
atitudes que já temos diariamente. Quantas vezes não nos colocamos no piloto
automático e passamos dias assim?
Quantas vezes adiamos a vida para
depois? Para depois de terminar um trabalho, para depois de ganhar uma
promoção, para depois de comprar um carro, construir uma casa? Quantas vezes
“pulamos” direto para esses momentos e nos esquecemos de realmente viver o que está acontecendo no meio
termo? A crítica de “Click” é muito
real, e o controle remoto é apenas um auxílio visual para que possamos ver
isso tudo, mas a verdade é que nós já
estamos habituados a fazer isso rotineiramente. Deixando a vida passar e
nos concentrando no que vem à frente… depois do trânsito, da briga, da doença.
Nunca o
agora.
Quando Michael
acaba causando confusão e o cachorro o derruba fazendo com que ele bata a
cabeça, o controle faz Michael pular toda sua doença, e assim se vão MAIS 6
ANOS, nos levando a 2023, depois de um câncer. Ele está magro novamente, mas as
pessoas ao seu redor são como completos
estranhos para ele. Ben está tão bonito e é um dos seus parceiros na
empresa, e aqui ganhamos o que deve ser a
cena mais triste de todo o filme – é sempre a que mais me faz chorar:
quando Michael descobre que seu pai morreu. Ele vai ao cemitério e tenta usar o
controle para voltar ao momento de sua morte, mas ele não estava lá. Então, Michael pede que o controle o leve para a última vez em que eles se viram,
e a cena é MUITO TRISTE. Vemos um Michael no piloto automático, focado no
trabalho, se recusando a levantar a cabeça para olhar para um projeto de Ben
(lembra muito a cena do Ben criança e a sala feita de pizza, e é de partir o
coração!), e então o pai chega…
E Michael nem olha para o pai, nenhuma vez. Ted
está chamando ele para jantar naquela noite (e o Ben, fofo, topando na hora!),
mas Michael diz que não pode, “ele tem muitas coisas para fazer”. É frio,
distante, doloroso… Ted passa a mão na sua cabeça, diz que o ama, e então vai
embora. Michael não responde e não olha para ele nenhuma vez. Na porta, vemos o Ted chorando antes de ir
embora… AQUILO É TÃO HORRÍVEL, TÃO TRISTE. E o Michael de agora, com o
controle na mão e não no piloto automático, assiste àquilo horrorizado, odiando
a si mesmo, e repete várias vezes o “Eu
te amo” do pai. Então, quando o pai se vira para ir embora, o Michael o
pausa e responde que também o ama… o que
ele devia ter feito desde sempre. Mas não fez. Porque escolheu o trabalho.
Então, ele volta para o cemitério, descobre que Morty é o Anjo da Morte, e tudo
fica distópico e assustador, e ele pede que o controle o leve para algum lugar feliz.
E ele chega
ao casamento de Ben.
Aqui,
entramos na reta final do filme… eu gosto do estilo futurístico tipo as ficções
científicas da década de 1980, mas feito de um modo menos sério – a mensagem, no entanto, é claríssima. Michael não
conhece a esposa do filho, Michael perdeu uma vida ao lado de Donna, e quando
ele escuta Samantha chamando Bill de “pai” (porque ele também foi seu pai, e
muito mais presente!), ele acaba tendo um ataque cardíaco que o leva para o
hospital e, com isso, ele pula mais 36 horas… temos uma cena emocionante de
Michael com Sam no hospital, na qual ela explica que tem dois pais, e um deles, um dia, lhe prometeu que viveria até os
200 anos – lá no início do filme. Ben
também está ali, mas está saindo para o aeroporto porque precisa pegar um voo
e, diferente do que Michael pensa, ele não está indo para a sua lua-de-mel… ele está indo resolver um problema de
trabalho, porque isso é importante e a lua-de-mel pode ficar para depois.
Cometendo os mesmos erros do pai.
Então,
independente de os aparelhos estarem o mantendo vivo, Michael foge do hospital
para falar com o filho… ele não pode deixar que Ben arruíne sua vida como ele
fez com a dele. Então, temos aquela cena dramática do Michael na chuva, caído
no meio da rua, com a família se juntando ao seu redor, e ele diz ao Ben que “a
família é mais importante”. Depois disso, ele morre e é levado por Morty – mas
ele acorda lá na loja, no início do filme, antes de ganhar o controle. E,
felizmente, não era tudo um sonho (fica evidente quando ele recebe o controle
de volta e um bilhete de Morty), mas Morty decidiu que ele merecia uma segunda chance. E, dessa vez, ele vai fazer as coisas direito. Vai dar atenção ao pai (ele
pulando como uma criança na cama dos pais e pedindo que ele ensine o truque da moeda é lindo!), vai
terminar a casinha na árvore, vai viajar com a família no feriado, como
prometera que faria… porque é isso o que
importa. A família, não o trabalho. Os pequenos momentos, não as grandes
promoções.
O final é emocionante. A mensagem é clara. O
filme é lindo.
Eu AMO “Click”.
<3
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Eu não tinha noção de como um filme com Adam Sandler pudesse nos trazer uma mensagem tão profunda... é bem verdade que "Click" tem um roteiro maravilhoso, e as cenas cômicas nos fazem pensar que tudo não passa de mais um filme estilo "Adam Sandler". Mas quando o roteiro toma outra proporção e passamos a analisar as cenas, percebemos que é um filme de comédia, e sim de um filme com uma mensagem fortíssima para a humanidade, com toques cômicos. Eu adorei "Click" e toda a sua mensagem de viver o agora enquanto podemos vivê-lo... Impossível não se emocionar com a cena do pai, quando Michael percebe que não esteve presente na hora de sua morte, assim como é emocionante toda a parte em que ele fica repetindo o "Eu te amo"dito pelo pai. Mas, felizmente, ele recebe uma segunda chance, embora, se você pensar bem, o filme também te faz refletir que nem sempre há uma segunda chance na vida real. Então, é melhor você aproveitar os melhores momentos enquanto pode, abraçar, beijar e dizer todos os "eu te amo" que puder para quem você ama, porque o amanhã pode ser tarde demais. Eu também amei "Click". (S2)
ResponderExcluirSó corrigindo o começo da quarta frase: "percebemos que NÃO se trata de um filme de comédia"
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