Você Nem Imagina (The Half of It, 2020)
“Have you
ever loved someone so much you don’t want anything about her to change?”
Escrito e
dirigido por Alice Wu, “Você Nem Imagina”
é mais um delicioso e emocionante filme adolescente da Netflix sobre
descobertas, sobre amadurecimento e sobre o amor,
e eu gosto de como o filme se desenvolve, como cresce, como faz com que nos
envolvamos com os personagens e com as relações que existem entre eles – nos
apaixonamos por eles naturalmente, como eles se apaixonam uns pelos outros,
descobrimos sentimentos ao mesmo tempo em que eles descobrem sentimentos, e isso é muito bonito. Com uma história
bela e tocante, momentos divertidos e um elenco incrível, “Você Nem Imagina” cumpre tudo aquilo que prometera e um pouquinho
mais… não é, para mim, um filme sobre como Ellie Chu e Paul Munsky se apaixonam
pela mesma garota, mas mais, como
Paul Munsky diz, um filme sobre “o amor em todas as suas formas”.
Ellie Chu é
uma garota tímida que vive na cidadezinha de Squahamish com o pai, e que não
tem muita perspectiva além de cuidar da estação de trem. Inteligente e
talentosa, ela toca o piano na igreja, mas sem que ninguém a veja, e escreve
redações para os colegas de turma, que lhe pagam por um “A” garantido, e é
isso. Paul Munsky, por sua vez, é um jogador de futebol americano que não é lá muito bom com as palavras, mas
quer conquistar Aster Flores, a garota por quem é apaixonado. O caminho dos
dois se cruza com o Paul correndo atrás da bicicleta de Ellie enquanto ela vai
embora (a cena é hilária!), e ele quer a sua ajuda para um trabalho diferente
de tudo o que ela já fez: ele quer que
ela o ajude na carta de amor que ele quer escrever para Aster Flores. Ela
nunca fez isso, e ela acha que deveria
ser ele quem a escreve, para ser autêntica…
Mas ele realmente é muito ruim.
Assim, Ellie
Chu acaba resolvendo ajudá-lo… eu gosto de como o filme apresenta sua trama com
calma e com delicadeza, e como o filme é repleto de momentos ternos e
divertidos, enquanto Ellie e Paul se aproximam – independente de qualquer
orientação sexual, eu acho que o filme é
sobre os dois, mais do que sobre “Aster Flores”. Ellie Chu acaba ajudando
Paul, ao ver que a carta que ele escreveu é mesmo
vergonhosa, mas ela só o faz porque ela e o pai precisam pagar a conta de
energia e ele está disposto a pagar quanto ela pedir – 50 dólares, por exemplo.
E ela diz que é apenas a primeira carta,
e depois ele estará por conta própria. Mas a verdade é que o Paul não sabe
como falar com a Aster sozinho, então Ellie precisa ser a sua conselheira
constante. Na primeira vez que Ellie o
deixa sozinho com Aster em um encontro, ele é um verdadeiro desastre.
O filme
delicadamente nos mostra como Ellie Chu também
está apaixonada por Aster. Está na maneira como ela olha para ela na
escola, ou como ela sabe exatamente o
que escrever nas cartas que escreve, ou na maneira como a compreende… as duas
trocam mensagens de texto, embora Aster acredite estar falando com “Paul”, e
elas até compartilham algumas pinceladas
em um muro que vira uma obra só delas, repleta de significado que ninguém nunca
mais vai entender… também está na forma como Ellie Chu fala sobre Aster,
sobre os seus olhos, sobre os seus pensamentos, sobre tudo – está ali, o tempo
todo, embora talvez nem ela mesma esteja preparada para enfrentar isso. Ela gosta mesmo de Aster Flores?, ela se
pergunta. E, se sim, o que isso significa? O que ela deve fazer com esse
sentimento? Tudo ainda é muito novo para ela!
Mas, como eu
disse, eu acho que o filme é muito mais do que isso. Na maior parte do filme,
vemos Ellie Chu com Paul Munsky, e as cenas dos dois poderia ser de qualquer
outro filme em que o garoto e a garota que se juntam por qualquer motivo acabam se apaixonando, como “Para Todos os Garotos Que Já Amei”. Mas
não é. Ou melhor, quase é. Ellie e Paul se “apaixonam” um pelo outro,
independente de amor romântico. O amor e a cumplicidade que nasce entre eles é,
provavelmente, mais forte do que o que qualquer um dos dois pode sentir por
Aster Flores, pelo menos por enquanto – não
sei como será depois de uns anos, quando Aster estiver preparada.
Basicamente, eles não têm nada em comum, mas eles passam muito tempo juntos por
causa das cartas, mensagens e encontros com Aster, e isso faz com que se aproximem.
Gosto muito
da cena do pingue-pongue, e gosto de como eles seguem Aster Flores para conhecê-la melhor, e isso intensifica a
cumplicidade entre eles, enquanto eles “brincam de stalker”. Gosto muito de como o sorriso do Paul é sincero e
contagiante, de como as coisas parecem simples
quando com ele, e de como um acaba mudando a vida do outro. Gosto muito de como
Paul a leva para jantar na sua casa, uma noite, e a casa é um verdadeiro caos, então ele meio que se convida para ir à casa dela, e ele adora estar lá com
ela e com o pai, assistindo à TV, rindo do programa e sentindo um pouco de paz.
Gosto muito de como ele tem seus próprios sonhos, de como inventa suas receitas
(a salsicha-taco!), e de como os Chu acabam se apaixonando por ela,
eventualmente. Gosto muito de cada
momento especial que os dois passam juntos.
E são vários.
Achei
emocionante como Ellie apoiou o sonho culinário de Paul e secretamente o
ajudou, entrando em contato com críticos gastronômicos, e também AMEI aquela
cena do show de talentos, evento do qual Ellie é obrigada a participar, no qual parece que tudo vai dar errado, e Paul está ali, esperando por ela, confiando
nela, dando toda a força que ela precisa… e
o violão para que “ela cante a sua música”. Também me diverti com cada
momento do Paul correndo atrás da bicicleta de Ellie, todas as conversas que
eles tiveram assim, e como isso o ajudou no futebol, como naquela cena
divertida em que ele fica acenando para ela na arquibancada ao invés de prestar
atenção na partida. E eu adorei a
cena de Paul cuidando dela quando ela bebe em uma festa, e ele a leva embora, a
coloca para dormir, e a cobre, todo carinhoso e querido… é tão lindo.
<3
Por isso, eu
acho que as cenas dos dois são ainda mais
bonitas que as cenas de Ellie e Aster, mas o tipo de amor é diferente. Na
manhã seguinte à festa, Aster encontra Ellie no quarto de Paul, e então ela a convida para sair… ela não “sabe”,
oficialmente, que é com ela que ela conversa, mas eu acho que no fundo ela sempre soube. Está na
maneira como Ellie comenta o desenho que Aster faz para Paul, ou na conversa
que as duas têm, naquele dia inteiro que elas passam juntas, nadando naquelas
águas termais ou com Aster ajudando Ellie em seu trabalho com os trens… as
cenas das duas são singelas, naturais, e de descoberta. As duas ainda estão
tentando entender tudo o que está acontecendo, e elas claramente têm um longo
caminho a percorrer, mas, se tudo der certo, a estrada será tão bonita quanto o
destino que as espera no final.
As coisas
começam a desandar eventualmente, porque precisam desandar. Primeiro, Aster
beija Paul, mas nem o Paul tem mais certeza de que isso é o que ele quer…
então, pouco depois, ele vai atrás de Ellie e a beija, achando que ela está
apaixonada por ele – porque ele acha
que está apaixonado por ela. E Aster vê o beijo dos dois, não entende nada, mas
fica brava, claro… e é nesse momento que Paul finalmente entende que Ellie
também está apaixonada por Aster Flores, e ele não consegue entender isso,
e foi tão doloroso ouvi-lo dizer para Ellie que “aquilo era pecado e que ela ia
para o inferno”. Mas ele diz isso porque foi isso que ele aprendeu, foi isso
que lhe ensinaram e isso que ficou na cabeça dele, mas o que ele sente por Ellie
é maior que qualquer preconceito, e
eu achei MUITO BONITINHO ele ir pesquisar, ele ir tentar entender…
E, mesmo que
ainda não estivesse tudo bem com Ellie, ele conversa com o pai dela, e diz que
“ele não está enxergando ela de
verdade, não está vendo todo o seu potencial” – ele quer dizer que o pai não pode segurá-la ali em Squahamish, com
tudo o que ela pode conseguir na vida… ela deveria poder ir para a
faculdade para a qual sempre sonhou. E eu também ADOREI essa relação que Paul
Munsky criou com o pai de Ellie (aquela cena dos dois fazendo salsichas juntos
enquanto Ellie está com Aster no lago é sensacional!), e é isso o que eu digo: a maneira como todo mundo mudou a vida de
todo mundo. Ellie ajudou Paul a realizar o seu sonho gastronômico, enquanto
Paul ajudou Ellie com a faculdade, e ambos ajudaram Aster a se livrar de uma
vida potencialmente infeliz que a esperava… independente
de algum deles ficar com ela ou não.
Aster Flores
é pedida em casamento por Trig na igreja, na frente de todo mundo, e ela aceita
o pedido, porque acha que “é isso o que a espera”, e ali temos uma das MELHORES
SEQUÊNCIAS DO FILME. Porque é um momento emocionante, sincero, forte e, ainda
assim, incrivelmente divertido. “Você Nem
Imagina” conseguiu mesclar isso tudo de maneira brilhante…
surpreendentemente, Ellie se manifesta contra o casamento de Aster, e logo em
seguida Paul, e ambos fazem discursos incríveis aqui, falando sobre o amor. Ele
fala sobre como deve ser difícil se esconder, ter que fingir ser alguém que você não é, fala sobre “existir
várias formas de amor” e sobre “amar a pessoa do jeito que ela for” ou qualquer
coisa assim… e Ellie fala sobre como o amor é complicado, e ela diz algumas
frases que finalmente fazem Aster ver: era
ela o tempo todo.
“Love isn't
pretending. […] I've been thinking about how much it would suck to have to
pretend to be... not you... uh... your whole life. I always thought that there
was one way to love. Uh, one right way. But there are more. Uh, so many more
than I knew. And... I never want to be
the guy who stops loving someone... for loving the way that they want to love”
Ai que
amizade LINDA!
Destaque
HILÁRIO da cena para a mãe de Paul dizendo que “vai amá-lo do mesmo jeito se
ele for gay”.
TÃO FOFO!
O final do
filme é isso, essa mensagem sobre o amor, essa mudança, esse amadurecimento de
todos. Aster não se conformou com uma vida infeliz porque “era o que tinha para
ela”, graças a Ellie e Paul, mesmo com todos seus erros. Paul não se contentou
em ser o que a mãe queria que ele fosse, graças a Ellie. E Ellie se tornou ela
mesma e pôde ir para a faculdade, graças a Paul. Foi uma cadeia de
interferências, uma série de relações, um
amor profundo e real que mudou tudo. Amei as últimas cenas, a maneira como Ellie
e Aster se entendem, e como não vão estar
juntas agora, mas quem sabe no futuro. E, por ora, ao menos elas têm um
único beijo. E a maneira como Ellie está indo embora, mas Paul está ficando
para cuidar do pai enquanto realiza seu sonho, sabendo que Paul a ama o
suficiente para correr atrás do trem,
por mais “idiota” que isso seja.
Aquelas
lágrimas de Ellie no final…
Aquelas
lágrimas são lágrimas de felicidade. De alguém que ama e é amada.
De alguém que vai ser feliz.
É MUITO
LINDO, AMEI! <3
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Tb
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