Dark 3x01 – Déjà-vu

“O homem é livre para fazer o que quer, mas não para querer o que quer”

- Arthur Schopenhauer

A MANEIRA COMO ESSA SÉRIE SE PREOCUPA COM OS DETALHES! Eu amei o início da terceira e última temporada de “Dark”, e estou com a sensação cada vez mais clara de que É A MELHOR SÉRIE DE FICÇÃO CIENTÍFICA QUE EU JÁ VI. A estreia me surpreendeu, porque ela conseguiu me deixar tenso e me perguntando o que aconteceria a seguir, sem que fosse extremamente confusa – eu estava com o caderninho em mãos, mas a verdade é que o episódio é bem mais simples do que eu imaginava… é claro que temos uma série de perguntas, especialmente a respeito de como as coisas acontecem nesse outro mundo, porque não temos o Mikkel nem ninguém viajando de 2019 para 1986, por exemplo, mas conseguimos entender a proposta do episódio com facilidade: estamos conhecendo um “mundo sem o Jonas”, o mundo do qual veio a Martha-2 no fim da temporada passada.

E eu adoro essa trama de universos paralelos.

Acredito que as coisas vão eventualmente se tornarem mais confusas, porque estamos trabalhando com uma série de tempos (porque 1888 foi adicionado ao hall de anos que já incluía 1921, 1954, 1987, 2020 e 2053, além de um outro mundo com todos esses tempos), e temos aquele misterioso personagem novo, o da cicatriz no lábio, que parece importante – o vemos em algumas poucas cenas dessa estreia. O vemos queimar a Sic Mundus no início do episódio (e eu adorei a maneira como conseguimos perceber que se trata de 3 versões de uma mesma pessoa), em 1921, e o vemos, mais tarde, em 1987, cometendo um assassinato… e é um pouco apavorante como a criança e o ancião assistem, com a exata mesma postura, enquanto a sua versão adulta mata o cara. Enquanto mata, ele faz um daqueles discursos que “Dark” adora nos entregar:

“Nada é em vão. Nenhum suspiro. Nenhum passo. Nenhuma palavra. Nenhuma dor”

O episódio começa, para Jonas e Martha-2, no dia 27 de Junho de 2020 – o Dia do Apocalipse. Revemos o apocalipse começar em Winden, como no fim da temporada passada, naquele momento em que uma nova Martha apareceu para salvar Jonas-2019 e levá-lo de lá, dizendo que “a pergunta não era de que tempo ela era, mas de que mundo”. Então, ela a leva para um novo lugar: “Hoje é o dia que tudo começou. Quando nos vimos pela primeira vez”. E, como na sua peça de “Ariadne”, ela diz a Jonas que ela e Jonas, que o seu mundo e o dele, são ligados “por um nó inseparável”. Martha-2 deixa o Jonas naquela caverna vazia, sem maiores explicações, e desaparece dizendo “Vou consertar tudo. Eu prometo” – QUE É EXATAMENTE O QUE JONAS JÁ DISSE INÚMERAS VEZES. Assim, entendemos de uma vez por todas o quanto eles são equivalentes.

Estamos de volta em 04 de Novembro de 2019, o dia em que tudo começou, mas naquele mundo, e não mais no nosso. E é como estar de volta na primeira temporada, mas em uma versão alternativa de Winden, de “Dark”. Não é difícil de compreender e acompanhar, enquanto descobrimos novas versões daqueles personagens que já conhecíamos – novas características físicas, novas estruturas familiares, novas funções na história do Apocalipse… e é inevitável ficarmos comparando à história que já conhecemos, aquela protagonizada por Jonas na primeira temporada de “Dark”. Os paralelos são incríveis e, até certa parte do episódio, estamos em uma posição confortável, como o Jonas, achando que sabemos o que está para acontecer, achando que tudo vai ser do mesmo jeito, mas embora as consequências sejam similares, as coisas não acontecem do mesmo jeito.

Afinal de contas, não é o mesmo mundo.

Uma coisa que eu ADOREI na estética desse outro mundo é o fato de tudo estar espelhado. Num primeiro momento, isso é tão gritante que parece causar desconforto, mas nos acostumamos eventualmente. No início do dia 04 de Novembro de 2019 desse mundo, Martha desperta, assim como Jonas no dia do sumiço de Mikkel em seu mundo, em um quartinho que deveria ser o quartinho de Jonas… ela continua sendo a Martha, irmã de Mikkel, filha de Katharina e Ulrich, mas os pais já não são casados e ela mora na casa que, no outro mundo, pertencia à família de Jonas. Vemos Mikkel usando uma toca que me fez pensar muito em Elizabth, e vemos Magnus transar com Franziska, que, nessa realidade, não fala, “trocando” de lugar com a Elizabeth da nossa linha temporal. Ulrich, por sua vez, está casado com Hannah (!), mas a trai com Charlotte.

Parece que ele não presta em qualquer mundo em que esteja mesmo…

Amei ver as coisas diferentes, explorar as INFINITAS POSSIBILIDADES desse novo mundo, e também amei ver as coisas que são muito parecidas, como as luzes piscando durante o dia, ou a Martha pegando a icônica jaqueta amarela (!) para sair, andando de bicicleta pelas ruas vazias e sombrias de Winden, olhando para a usina e para o cartaz que avisa sobre o desaparecimento de Erik – isso continua igual. Enquanto Martha vai para a escola, Jonas deixa a caverna e explora o lugar onde está, descobrindo que está em um mundo que não é o dele… foi interessante vê-lo entrar na casa que, em seu mundo, é dele, e ver que agora é a casa de Martha, com fotos da família dela penduradas, ou a foto dela com Bartosz e Kilian no quarto que antes era dele – essa Martha, inclusive, é namorada de Kilian, o irmão de Erik, o primeiro garoto desaparecido na série.

Depois, Jonas resolve ir para a escola – ele precisa falar com Martha, entender o porquê de ela tê-lo trazido até ali, e é na escola que ele vai começar a perceber que, nessa realidade, ELE NÃO EXISTE. Ele chega na sala, se apresenta como “Jonas”, mas não há um pingo de reconhecimento no rosto de ninguém – nem mesmo Martha, que o trouxe até ali, sabe quem ele é. Então, ele se senta no fundo da sala, olhando em choque para Martha, tentando entender tudo, enquanto Bartosz faz uma apresentação (no nosso mundo feita por Franziska) sobre buracos negros, e é incrível como a série coloca o Jonas olhando assustado e confuso para Martha-2, enquanto Bartosz fala, ao fundo sobre ninguém saber o que há do outro lado de um buraco negro: “Talvez nada. Ou pode ser outro mundo. Que não tem nada a ver com o nosso”. Wow.

Nesse momento, olhei para a série e gritei: ÍCONE!

É a série da minha vida mesmo! <3

No fim da aula, Jonas tenta conversar com Marhta, tenta dizer para ela que “ela não lhe disse por que ele está ali”, mas então percebe que “ela não faz ideia de quem ele é”. Então, ele vai ter que descobrir sozinho. Jonas tem umas cenas interessantíssimas nesse 2019-A, seja ele vendo Hannah no corredor e a chamando de “mamãe”, mas percebendo que aquela mulher na sua frente não o conhece (os olhos cheios de lágrimas de Jonas, que sofrimento, que dor, foi f*da), ou perguntando ao professor que dia era aquele, e de que ano… 04 de Novembro de 2019. O dia em que tudo começou – mas não como ele pensa. Sabendo que dia é, Jonas tenta novamente falar com Martha (“Por favor, me escuta. Acho que não sabe quem eu sou. Mas hoje é 4 de novembro e o Mikkel…”), tenta salvar o Mikkel, acha que essa é sua função, mas Martha não quer ouvi-lo.

Ainda mais quando ele fala de “Michael”, marido de Hannah.

Nada disso faz sentido para ela. O marido de Hannah é Ulrich, seu pai.

“O começo é o fim e o fim é o começo. Tick tock”

Jonas investiga a realidade alternativa na qual se encontra, descobre que não existe nenhum Michael Kahnwald enterrado no cemitério de Winden – sem a viagem de Mikkel, não existe Michael, e sem Michael, não existe Jonas… tudo se encaixa perfeitamente. Mas Jonas acredita que é ELE quem impede a viagem de Mikkel, que é essa sua função naquele dia: impedir que Mikkel seja levado a 1986. Assim, naquela noite, Jonas intercepta a Martha, que está usando o casaco amarelo e andando nos trilhos abandonados da cidade, próxima às cavernas misteriosas. Jonas diz a Martha que eles se conhecem, “mas de outro tempo”, e diz que ela já viu (a luz, a floresta), como um “déjà-vu”, ou “uma falha na matrix”. EU ADORO QUANDO ELE DIZ ISSO! Independente de Martha acreditar nele ou não, Jonas está certo de sua missão, e vai mudar as coisas naquela noite.

Mas o Mikkel não aparece. Magnus e Kilian chegam, e Jonas se volta contra Magnus, pergunta onde está o Mikkel, porque ele deveria ter vindo junto – Heidi, a babá, está doente e o Mikkel não quer ficar sozinho, por isso Magnus o traz. Mas isso no seu mundo, não naquele mundo… e Jonas ainda não entendeu que as coisas não vão acontecer exatamente do mesmo jeito… embora devam chegar num final parecido. No APOCALIPSE de 27 de Junho de 2020. A sequência é bem parecida ao que vimos na primeira temporada de “Dark”, no lado de cá, com o protagonismo em Jonas. Vemos o grupo explorar a caverna em busca de pistas sobre Erik, e então, à porta da caverna, eles escutam barulhos sinistros vindos lá de cima (a passagem se abrindo), as luzes das lanternas falham e eles correm… Martha, inclusive, cai e fica sozinha, como aconteceu com o Jonas.

E como Jonas viu Michael coberto de matéria escura, Martha vê uma mulher…

E essa mulher é ela mesma.

A sequência é parecida, e os efeitos são sentidos por toda Winden. Na escola, com Katharina; em casa, com Hannah; no carro, com Ulrich e Charlotte. Luzes piscam, pombos chovem, mortos. Acontece como aconteceu aqui, e Martha está no centro de tudo dessa vez. Enquanto isso, Jonas vai até a casa e vê Mikkel dormindo tranquilamente no quarto – ele não vai desaparecer nessa noite, as coisas não vão acontecer como aconteceram para ele. E os seus olhos se enchem de lágrimas, que são de alívio, desespero e confusão, tudo em um mesmo momento. Nessa realidade, aparentemente, ninguém viajou no tempo para 1986, mas o grupo formado por Martha, Kilian, Magnus, Franziska e Bartosz se refugia no bunker e estão lá quando o corpo de uma criança, Mads Nielsen, nascido em 04 de dezembro de 1973, é despejado através de um portal.

Uma ruptura no tempo.

Eu estou AMANDO. Amei cada segundo desse retorno, toda essa possibilidade, essa reinvenção, essa sensação de algo novo, mesmo que seja parte de uma mesma história e de algo maior que ainda estamos para entender. Nesse episódio, é como se acompanhássemos uma Winden do início de “Dark”, antes das complicações da viagem no tempo – é apenas uma nova Winden, um mundo sem o Jonas, e conhecemos novas versões de personagens que julgávamos conhecer… novos fatos e novas razões para os mesmos fatos, à svezes. E Jonas está finalmente entendendo isso ao perceber que as coisas realmente não aconteceram como ele esperava – Mikkel não viajou no tempo. E uma velha aparece para explicar para Jonas: “Mikkel. Ele não viajou de volta. Ele não será o seu pai. E você… nunca nascerá nesse mundo. Um mundo sem você. Não era o que queria?” Mas, como ela explica, o destino daquele mundo é o mesmo do mundo dele: o apocalipse. Por causa dele e por causa dela.

Martha. A versão velha de Martha. Eva.

Equivalente ao Adam do lado de cá.

WOW.

Enquanto isso, a Martha que salvou Jonas do apocalipse em 2020 e o levou para o seu mundo, viaja pelo mundo de cá, em busca de algo, chegando a 21 de Setembro de 1888, chegando ao Jonas adulto (que, por sinal, está fofinho nessas roupas de século XIX), e é interessante acompanhar a sua reação à chegada de Martha: as lágrimas nos olhos, o choque e a alegria por ela “estar viva”, porque isso tudo é novo para ele – porque essa parte de um mundo paralelo não fazia parte originalmente dos acontecimentos. Essa é a novidade, essa é a maneira como eles podem, talvez, quebrar o ciclo. Martha explica rapidamente que não é quem ele pensa (“Não sou a Martha. Não a sua Martha”), mas diz que está ali para ajudá-lo a encontrar a “origem”, o que é “o começo de tudo”. Tanto no mundo dele quanto no seu. E ISSO VAI SER INCRÍVEL.

Agora, teremos Martha e Jonas juntos tentando quebrar o ciclo.

Um ciclo mais complexo que nunca.

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