Percy Jackson e os Olimpianos, Livro Um – O Ladrão de Raios (Rick Riordan)
“Percy Jackson está para ser expulso do
colégio interno… de novo. É a sexta vez que isso acontece. Aos doze anos, está
é apenas uma das ameaças que pairam sobre esse garoto, além dos efeitos do
transtorno do déficit de atenção, da dislexia… e das criaturas fantásticas e
deuses do Monte Olimpo, que, ultimamente, parecem estar saindo dos livros de
mitologia grega do colégio para a realidade. E, ao que tudo indica, estão
aborrecidos com ele.
Vários acidentes e revelações inexplicáveis
afastam Percy de Nova York, sua cidade, e o lançam em um campo de treinamento
muito especial, onde é orientado para enfrentar uma missão que envolve humanos
diferentes – metade deuses, metade homens –, além de seres mitológicos. O
raio-mestre de Zeus fora roubado, e é Percy quem deve resgatá-lo.
Com a ajuda de novos amigos – um sátiro e a
filha de uma deusa – Percy tem dez dias para reaver o instrumento de Zeus, que
representa a destruição original, e restabelecer a paz no Olimpo. Para
conseguir isso, precisará fazer mais que capturar um ladrão. Terá de encarar o
pai que o abandonou, resolver um enigma proposto pelo Oráculo e desvendar uma
traição mais ameaçadora que a fúria dos deuses”
O PRIMEIRO CONTATO COM O UNIVERSO DE RICK RIORDAN. Rick Riordan
criou algo interessantíssimo quando lançou “Percy
Jackson e os Olimpianos”. Pensando nos próprios filhos com dislexia e TDAH,
e no seu evidente interesse por Mitologia Grega, Rick Riordan criou um universo
interessantíssimo no qual os deuses
do Olimpo continuam vivos nos dias de hoje… e, assim como no passado, eles
continuam saindo com mortais e tendo filhos com eles, heróis, que são chamados de “Meio-Sangues”. A maioria deles
apresenta o que os mortais chamam de “dislexia”, mas isso porque o cérebro deles está programado para o grego
antigo, que eles leem com muita mais facilidade, e o que os mortais chamam
de “déficit de atenção” se deve ao fato de que os heróis veem demais… são esses reflexos que os mantêm vivos
durante uma batalha, por exemplo.
E um herói tem várias
batalhas ao longo de suas vidas comumente curtas.
E muitos
monstros em seu encalço.
A primeira aventura de Percy Jackson, “O Ladrão de Raios”, é um livro EXCELENTE. O autor nos presenteia
com uma escrita fluída que nos envolve, que nos faz imaginar tudo aquilo, e é uma ótima maneira de apresentar seu
universo, seus personagens principais, e as sementes do que será a saga dessa
série de cinco livros – a ascensão de
Cronos, que tenta sair do Tártaro e retornar, acabando com o mundo ocidental
como o conhecemos. Quando eu li “Percy
Jackson” pela primeira vez, em 2009, várias coisas me fascinaram no livro…
era uma nova aventura com um protagonista jovem, carismático e poderoso, por
exemplo, mas o que mais me fascinou, desde sempre, foi A MITOLOGIA GREGA.eu
sempre fui apaixonado por histórias
dos olimpianos, e Rick Riordan encontra uma maneira divertidíssima de ensinar sobre isso e trazer essas histórias à tona.
Conhecemos os deuses gregos, conhecemos seus filhos que se
tornaram heróis e suas histórias – e como
isso seria transposto à atualidade? Se os deuses gregos eram/são seres imortais, e a civilização ocidental continua existindo, faz sentido que eles
também, não? A explicação é plausível e deliciosa de se ler. Os deuses do
Olimpo estavam na Grécia Antiga quando ela era a base da civilização ocidental.
Mais tarde, eles “se mudaram” para Roma. Em algum momento da história, o Olimpo
se transferiu para a Inglaterra, e passou um bom tempo por lá. Atualmente, os
deuses estão nos Estados Unidos, habitando o 600º andar do Empire State, e eu amo
Rick Riordan por nos apresentar isso. É uma ideia inteligente e ocasionalmente
divertida, vide as Mensagens de Íris, por exemplo, quando Percy e os amigos
usam um jato de água de um lava a jato.
É muito bom!
Para mim, no entanto, uma das MELHORES COISAS que Rick Riordan
trouxe para o livro foi a NÉVOA. Com a Névoa, entendemos por que os mortais não podem ver isso tudo que está acontecendo bem debaixo do nariz deles, e é
interessante como isso faz sentido –
poderia acontecer/estar acontecendo de verdade. Como quando Percy
“acidentalmente transforma sua professora de álgebra, a Sra. Dodds, em pó” (eu
amo as piadas que são os títulos dos
capítulos!), e todo mundo age como se não
soubesse quem é a Sra. Dodds quando Percy fala sobre ela… os únicos que
sabem a verdade são Grover, um amigo da escola de Percy que, mais tarde, ele
descobre ser um sátiro que estava lá para protegê-lo, e o Sr. Brunner, seu
professor que, mais tarde, Percy descobre ser um centauro chamado Quíron… sim, o mesmo que treinou heróis como Hércules!
Também continuam existindo problemas e conflitos, naturalmente… o
mote do livro é o roubo do poderoso raio-mestre de Zeus, a arma mais poderosa
de todo o mundo, e se nada for feito a esse respeito, então o mundo sucumbirá a
uma Terceira Guerra Mundial. Zeus está furioso e em busca do “ladrão de raios”,
e uma disputa entre os deuses pode estar prestes a começar… os mortais seriam reduzidos a nada numa guerra entre deuses. E o
destino do jovem Percy Jackson, garoto “problemático” de 12 anos, no 7º Ano,
que trocou de escola anualmente, está
atrelado a toda essa trama imensa – assim, ele é conduzido, através de Fúrias,
Parcas e o Minotauro até um lugar onde
ele poderá finalmente estar em segurança de todos esses problemas… mais ou
menos. Assim, Percy acaba chegando ao Acampamento Meio-Sangue, onde todos
são como ele.
Todos são
filhos de deuses.
A ideia do Acampamento Meio-Sangue é MARAVILHOSA – um daqueles
lugares da ficção em que gostaríamos de estar, tipo Hogwarts ou Nárnia. Não
Panem, obrigado. Aqui, jovens treinam para se tornarem heróis e sair em missões
das mais diversas, enquanto são influenciados pelas amizades e rivalidades de
seus pais deuses… no Acampamento, os meio-sangues são divididos em 12 chalés,
de acordo com sua ascendência, e Percy é inicialmente colocado no Chalé 11, de
Hermes, que acolhe todos os “não-determinados” – aqueles cujos pais ainda são desconhecidos. Também descobrimos, ao
chegar no Acampamento, que Zeus, Poseidon e Hades, os “Três Grandes”, fizeram
uma promessa, há 60 anos, de não ter mais
filhos com mortais, isso porque seus
filhos eram muito poderosos e estavam influenciando demais na história dos
mortais.
Tipo com a Segunda Guerra Mundial e tal…
Um dos momentos mais MARCANTES e que até hoje me arrepiam no livro
é a caça à bandeira na qual Percy é
determinado. Nós iniciamos o livro já sabendo quem é o pai de Percy, seja pela imagem da capa, por sinopses, ou o
que for, mas isso não diminui em nada
o momento da “revelação”. Desde o início, quando enfrenta Clarisse, a filha de
Ares, por exemplo, Percy demonstra inclinação à água, mas é só durante a caça à
bandeira que isso se revela de uma forma definitiva, quando Percy precisa
enfrentar Clarisse e a água o fortalece
e o revigora de uma maneira que não
faz com mais ninguém. Ao fim da caça à bandeira, Percy finalmente é
DETERMINADO, naquele momento em que POSEIDON o clama como seu filho, com um
tridente verde brilhando sobre a sua cabeça, e todos os campistas se ajoelhando
perante ele… filho de um dos Três Grandes.
Ainda que fosse proibido.
Assim, Percy é movido para o Chalé 3, de Poseidon, mas não fica lá
por muito tempo, porque lhe é oferecida
uma missão… uma missão que ele aceita, acompanhado de Annabeth e Grover,
porque se a missão o levará até o Mundo Inferior, talvez ele possa aproveitar e
trazer de volta sua mãe, que foi “morta” pelo Minotauro. Ou quase isso. A missão consiste em ir até o Mundo Inferior e
resgatar o raio-mestre de Zeus, que eles acreditam ter sido roubado por Hades…
Zeus, no entanto, está acusando Poseidon, e os irmãos estão em pé de guerra:
por isso, acredita-se que ter Percy, filho de Poseidon, devolvendo o
raio-mestre de Zeus ao deus dos céus será a melhor oferta de paz possível. Percy e os amigos têm 10 dias até o
solstício de verão para cumprir a missão, recebendo presentes como tênis alados
de Luke e uma espada de bronze de Quíron.
A
Contracorrente.
“Cuidado
com os presentes”
E uma profecia:
“Você irá
para o oeste, e irá enfrentar o deus que se tornou desleal.
Você irá
encontrar o que foi roubado, e o verá devolvido em segurança.
Você será
traído por aquele que o chama de amigo.
E, no fim,
irá fracassar em salvar aquilo que mais importa.”
Particularmente, a visita de Percy ao Oráculo é, para mim, UMA DAS
MELHORES PARTES DO LIVRO. Aquilo é de arrepiar, e eu mal posso esperar para ver
uma adaptação bem-feita dessa cena na série do Disney+. Recebida e aceita a
missão, Percy, Annabeth e Grover partem rumo ao oeste, com uma série de
imprevistos e monstros que os perseguem… eles acabam enfrentando a Tia Eme, por
exemplo, que se revela ser a Medusa, as Fúrias novamente no ônibus que pegam ao sair do acampamento, ou Equidna, a
mãe dos monstros, e a Quimera no arco de St. Louis… os capítulos de Rick
Riordan são eletrizantes, repletos de ação, e as coisas mudam capítulo a
capítulo. Enquanto isso, os mortais veem um adolescente problemático que,
eventualmente, se torna um foragido da
polícia. Também temos a missão extra
de Ares, que os envia em um parque aquático para recuperar um escudo enquanto
eles caem em uma armadilha de Hefesto.
No Túnel
do Amor.
A minha parte favorita é, e sempre foi, O CASSINO LÓTUS. Essa
sequência de “O Ladrão de Raios”
sempre me fascinou, talvez porque, de alguma maneira, brinque com o tempo, e
esse é um dos motivos pelos quais, também, eu gosto tanto de “A Maldição do Titã”. O Cassino Lótus é um paraíso na Terra, um lugar onde
heróis são enganados e no qual permanecem para sempre, deixando para trás suas
missões… porque é tão fácil se esquecer
de tudo ao entrar lá. São apenas 10 rápidas páginas no Cassino Lótus mas eu
percebo como isso é intencional. Se
Rick Riordan se prolongasse ali, ele nos passaria a impressão de ter sido muito
tempo e não podia ser assim. Temos
que vivenciar como Percy, Annabeth e Grover vivenciaram: para eles pareceram apenas algumas horas, mas foram CINCO DIAS.
Assim como para nós, foram apenas algumas páginas rápidas…
E de
repente o tempo passou e eles estão correndo contra o tempo.
Quando saem do Cassino Lótus (EU ESTOU TÃO ANSIOSO PARA VER ISSO
NA SÉRIE!), já é o dia 20 de junho – eles
têm um dia até o solstício de verão. Antes de partirem ao Mundo Inferior,
Percy recebe mais um presente (se juntando ao presente de Luke, o presente de
Quíron e o presente de Ares), de uma nereida do mar em Santa Monica, que lhe dá
três pérolas que podem “tirá-lo de
apuros”. E, então, o trio parte para o Mundo Inferior, cuja entrada fica em Los
Angeles, nos estúdios M.A.C. A entrada é interessante, tendo que convencer
Caronte a deixá-los passar ou tendo que divertir o Cérbero para que eles
pudessem passar… também temos aquela armadilha na qual o Grover cai (usando os
tênis que ganhou de Luke), e acaba arrastado para os confins do Mundo Inferior,
quase despencando em um abismo rumo ao Tártaro… rumo a Cronos.
O Mundo Inferior é, provavelmente, uma das sequências mais aguardadas de “O Ladrão de Raios”. Acontece que as pessoas sempre se interessaram
e sempre tiveram curiosidade a respeito do
que vem depois da morte, e a Mitologia Grega criou a ideia de Mundo Inferior
de uma forma muito interessante – e Rick Riordan apresenta isso lindamente, com
poucas atualizações. Ele é bem didático ao mesmo tempo em que é divertido e não
perde o ritmo do livro… queríamos continuar ali. Amei conhecer o lugar, os
Campos de Punição, os Campos de Asfódelos, o Elísio… o jardim de Perséfone, o
palácio de Hades… e aquela pergunta pertinente do Percy sobre como as pessoas
lidam quando veem o que é aquele lugar, ou algo assim, e Grover lhe pergunta quem lhe garante que todos estão vendo o
mesmo que eles. Isso é tão importante!
Por fim, a viagem ao Mundo Inferior não é assim tão produtiva… a
audiência com Hades é interessante e reveladora, a começar pelo fato de que ele não roubou o raio-mestre de Zeus… na
verdade, ele também foi roubado, porque o seu elmo, seu símbolo de poder,
também foi roubado no mesmo dia do raio-mestre, e agora descobrimos que o raio-mestre de Zeus está na mochila que
Percy carrega e que parece mais pesada desde que eles chegaram ao Mundo
Inferior. Ele foi enganado por Ares, que o presenteou com essa mochila em
recompensa pelo escudo no parque aquático. Agora, Percy sabe que precisa
enfrentar Ares, precisa recuperar, também, o elmo de Hades, para que ele cumpra
sua promessa e libere a sua mãe, e precisa ir ao Olimpo para devolver o
raio-mestre de Zeus… tudo em menos de um
dia. Com as pérolas da nereida, ele e os amigos conseguem ir embora.
Ele deixa
a mãe, porque ela não o perdoaria se ele fizesse diferente.
Mas não
desistiu dela…
Quando retorna ao mundo dos mortais, Percy precisa enfrentar Ares,
e toda essa sequência também é muito importante para o livro, porque mostra o
quanto Percy amadureceu como herói,
como consegue dominar parte de seus poderes vindos do mar, e também nos mostra
que Ares não é o grande vilão, afinal de
contas… tem algo muito maior acontecendo. Ares é o ladrão “secundário”,
alguém já tinha roubado o raio-mestre de Zeus e o elmo de Hades antes desse, e,
quando esse alguém foi descoberto, ele o convenceu a usar isso tudo para causar
briga entre os irmãos… afinal de contas,
Ares é o deus da guerra, não é? Com os símbolos de poder de Zeus e de Hades
roubados, era óbvio que a culpa recairia sobre Poseidon, e então a guerra
estava armada. Alguém quer que os deuses
se matem entre eles… mas, agora, Percy não pode pensar nisso.
Tem que tirar Ares do meio do caminho.
E eu AMEI vê-lo vencê-lo em batalha, usando o mar ao seu favor…
…e devolvendo o elmo de Hades.
Depois, temos outra sequência que EU ADORO em “O Ladrão de Raios”, e que deve ser uma das cenas mais bonitas,
visual e emocionalmente, na série. Quando Percy vai ao Empire State e pede para
subir ao 600º andar, para “uma audiência com Zeus”. Aqui, Percy impede a
guerra, finalmente, devolvendo a Zeus o seu raio-mestre, mas a beleza da cena
está em outras coisas… visualmente, no fato de o Olimpo ser tão encantador, vai
ser incrível ver isso sobre Manhattan. Emocionalmente, porque Zeus está
acompanhado de Poseidon, e o “reencontro” de Poseidon e Perseu, seu filho, é
emocionante. Não é forçado, não é exagerado, mas é extremamente bonito,
esperávamos por isso… e podemos ver como
isso era importante para Percy, e quanto lhe fez bem! E ele o manda de
volta para casa – onde sua mãe estará
esperando por ele.
Hades
cumprira sua palavra.
O livro, então, tem um final bem mais calmo do que o esperado. O
pico da ação está na audiência com Hades e a batalha com Ares, e depois se
torna muito mais emotivo, seja na cena de Percy com Poseidon ou com a mãe… e
depois no seu retorno ao Acampamento Meio-Sangue para passar o restante do
verão ao lado dos amigos, um processo de redescoberta pessoal que significa
muito para ele. Por fim, a profecia se cumpre… ele foi para o oeste e enfrentou
o deus desleal, embora não fosse Hades, mas Ares; ele encontrou o que fora
roubado e devolveu em segurança; ele falhou em salvar o mais importante, que
era a mãe, mas porque “deixara que ela se salvasse sozinha”; e ele fora traído
por quem o chamava de amigo: Luke, o verdadeiro ladrão de raios, agindo sob o comando do titã Cronos, o principal
vilão de “Percy Jackson e os Olimpianos”.
Assim, fica a semente para toda a saga que ainda nos espera… “O Ladrão de Raios” é uma interessante e
excelente introdução, que nos mostra os primeiros planos de Cronos para tentar
se recompor e voltar, acabando com o tempo
dos deuses e trazendo de volta o
tempo dos titãs, e ele tem a ajuda de Luke, um semideus, para isso. Mas
seus próximos passos ainda estão no futuro, coisas que teremos que ler ao longo
dos próximos livros… e essa trama ainda
vai se tornar muito maior. Rick Riordan escreveu um livro incrível,
misturando atualidade, referências bacanas e Mitologia Grega, numa mistura que
deu super certo. Ele é inteligente, informativo e divertido, tudo ao mesmo
tempo, e agora queremos acompanhar a
jornada desse herói. Um garoto de 12 anos que teve sua vida virada de pernas pro ar quando descobriu
que não era inteiramente humano.
Mas filho de um olimpiano. Poseidon.
Muita
coisa ainda o/nos espera pela frente…
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