Sandman, Volume 1 – O Sono dos Justos
O sequestro do Sonho.
Em 1989, o
mundo lia “Sandman” pela primeira
vez, uma obra revolucionária que eles
ainda não sabiam que seria tão grande e tão importante quanto se tornou.
Neil Gaiman cria uma história bela, melancólica, assustadora, ousada… diferente. Em “O Sono dos Justos”, as primeiras 40 páginas desse universo tão
incrível, povoado por Perpétuos, Anjos, humanos, bruxas, e todo tipo de
criatura, o autor nos apresenta, de forma calma e envolvente, o início da trama
de “Sandman”, toda a motivação que
guiará os seus passos futuros, e eu acho a escrita fenomenal. É cuidadoso, é
completo, é instigante, com um perfeito tom de mistério e de suspense, e
acompanhamos várias histórias paralelas, ligadas a um mesmo evento, e nos importamos com os personagens bem
depressa… como se fôssemos parte de suas
vidas. E a edição acaba no momento perfeito.
O momento que
te deixa louco para ver mais.
A história
contada por Neil Gaiman começa em 1916, na Inglaterra, quando o Dr. John
Hathaway perde um filho na guerra, e então ele vai atrás de Roderick Burgess, o
Lorde Magus, fundador da Ordem dos Antigos Mistérios, resolvendo pedir/aceitar
sua ajuda porque agora as coisas mudaram
de figura… o seu filho está morto, afinal de contas! “O Livro Místico de Madalena era tudo de que a Ordem precisava.
Podemos realizar a cerimônia na próxima lua cheia… e depois… ninguém mais
precisará morrer”. O plano do
Lorde Magus, que não é um segredo para ninguém, é bastante ambicioso… e bastante perigoso. Ele planeja
aprisionar a Desencarnação, a Morte, para que conquiste poder e imortalidade, e
então ele junta asua Ordem para realizar um ritual macabro que termina
realmente com o aprisionamento de um Perpétuo…
“Eu lhe concedo a moeda que fiz de uma pedra. Eu lhe
concedo uma canção que roubei da imundice. Eu lhe concedo um punhal retirado de
sob as colinas. E um cajado que cravei nos olhos de um morto. Eu lhe concedo a
garra que tomei de uma ratazana. Eu lhe concedo um nome, e o nome está perdido.
Eu lhe concedo o sangue extraído da minha veia, e uma pena que arranquei das
asas de um anjo. Eu o invoco com nomes, ó meu senhor… ó meu senhor. Eu o invoco
com veneno e o invoco com dor. Eu abri o caminho e abri os portais. Venha.
Venha. Venha”
…mas não o
Perpétuo que ele esperava.
Imediatamente,
o Lorde Magus sabe que falhou. Sabe
que aquele Perpétuo capturado não é a Morte, mas talvez ele possa ser útil
também… talvez ele possa lhe conceder o poder e a mortalidade que ele tanto
espera. Então, Burgess resolve manter aquele Perpétuo prisioneiro, mesmo sem
saber quem é… e, em paralelo, vemos as
coisas ficarem estranhas no mundo todo. Conhecemos quatro personagens que
são importantes, agora, nos anos em que aquele Perpétuo é feito prisioneiro:
Ellie Marsten, no Canadá, uma garota que ouvia histórias de sua mãe antes de
dormir; Daniel Bustamante, na Jamaica, um garoto que dorme e sonha com um
castelo nas nuvens; Stefan Wasserman, na França, um jovem rapaz que está
lutando na guerra e vive um verdadeiro pesadelo; e Unity Kinkaid, uma garota
que sonhava com uma criatura misteriosa…
Quando o
Perpétuo foi aprisionado pelo Lorde Magus, todo o mundo acabou sofrendo com
isso… Daniel Bustamante, por exemplo, teve o sono fragilizado, agora ele caía
das nuvens sobre as quais outrora andava, e isso é tão aterrorizante que ele faz de tudo para se manter acordado.
Stefan, o garoto na guerra, está há tanto tempo sem dormir que acaba cometendo suicídio. E pessoas no
mundo todo, como Ellie Marsten e Unity Kinkaid, começam a cair em um sono
estranho, no qual ficam praticamente
imóveis, e do qual não conseguem mais
despertar. Ainda “vivas”, mas eternamente dormindo. A “Doença do Sono” se
espalha por todo o mundo, algumas pessoas tentam atribuí-la à Guerra Mundial,
outros tentam atribuí-la a um vírus, mas é tudo culpa de um só homem… é tudo culpa de Roderick Burgess, o Lorde
Magus, e sua ganância infinita.
E, aí,
começamos a ver o tempo passar. Dez anos depois, estamos em 1926, e o
prisioneiro não falou nada desde que foi capturado. Está nu e preso dentro de
uma caixa de vidro, em silêncio, sem comer ou dormir. Nunca. É nesse ano que Lorde Magus e seu filho, Alex, descobrem,
enfim, quem é seu prisioneiro: um dos Perpétuos, sim, mas não a Morte… trata-se de Devaneio, o Sonho, um de seus
irmãos mais novos. Depois, chegamos a 1930… 1936… 1939… Ellie Marsten está
internada em uma instituição beneficente, ainda dorme, acordou apenas 2 vezes
na última década. “Em ambas as ocasiões,
chorou clamando por sua mãe. Ela ainda pensa que tem 8 anos”. Daniel
Bustamante, por sua vez, foi um dos últimos a sucumbir à doença, em 1926, e
agora dorme por 13 anos. Unity Kinkaid foi estuprada e teve um bebê, que deram
para a adoção…
Ela dormiu durante esse tempo todo.
A atmosfera
de “Sandman” é incrível, e nos
captura com facilidade… temos um tom sombrio, mas, ao mesmo tempo, melancólico,
e temos um gostoso tom de mistério que nos deixa com vontade de continuar
lendo, de explorar mais e mais… são
tantas as possibilidades! Em 1947, Lorde Magus confronta o Sonho, falando
sobre como as coisas podiam ter sido
diferentes, como ele podia ter lhe
dado poderes além dos seus mais loucos sonhos. Ele está à beira da morte, e
fala sobre como não queria envelhecer, como não
precisava morrer. Devaneio assiste ao seu captor envelhecer e morrer, e
isso não lhe dá satisfação, porque ele ainda está ali, ainda está
esperando. Agora, Alex é quem comanda tudo. Em 1955, Paul tenta convencê-lo a
soltar o prisioneiro, mas Alex tem medo do que ele pode dizer… ele tem medo de mexer com as coisas.
Vai deixá-lo lá…
Ele acredita
que “certamente estará morto muito antes
de ele escapar, e aí ele será problema de outra pessoa”. Enquanto isso,
Ellie Masten é internada com encefalite letárgica, e agora acorda 4 ou 5 vezes
no ano, sempre pedindo que lhe contem uma história… Daniel Bustamante passa a
maior parte do tempo “acordado”, mas não fala, como se fosse um zumbi… um morto que anda. E mais tempo passa…
muito mais tempo. 1968. 1970. Alex entrega as rédeas da organização para Paul
McGuire, seu amigo há tanto tempo… falar com o prisioneiro não parece dar
resultado algum. 1972. 1978. 1982. Por fim, nos detemos em 1988, quando Ernie,
um dos guardas do prisioneiro, pega no sono, e tem um sonho todo estranho do
qual desperta assustado… “Começou”,
Devaneio comenta. E esse é o momento tão
aguardado da edição:
A FUGA DE
SANDMAN!
É uma fuga
interessantíssima, podemos sentir todo o PODER que o Sandman tem, e então ele busca sua primeira refeição em 70 anos.
Ao redor do mundo, as pessoas com a Doença do Sono começam a despertar… Ellie
Marten. Daniel Bustamante. Unity Kinkaid. Sandman tem que lidar com três
coisas, e a primeira delas é a sua fome. A segunda é conseguir roupas, e ele mesmo as conjura sobre seu corpo. E a última é VINGANÇA. Ele esteve preso
durante 70 anos, e ninguém tem noção
de como foi angustiante… é o tempo de vida de um humano, e o tempo não passa
mais rápido por ele ser um Perpétuo nem nada disso… preso, esses anos se arrastaram. Segundo ele, eles tiveram sorte por não terem conseguido o que
queriam, capturar a Morte, e agora ele quer as suas ferramentas de volta, as coisas que estavam com ele quando foi
capturado…
Uma
algibeira, um elmo e um rubi.
Mas elas foram roubadas por Sykes há 50 anos.
Tudo bem. Ele pode ir atrás delas. Para Alex, ele
deixa um último castigo… um eterno
despertar. E é, basicamente, a pior coisa que podemos imaginar! A primeira
edição de “Sandman” é fantástica.
Interessante e diferente de tudo o que tivermos lido, eu gosto do tom sombrio,
do tom melancólico, e de como está nascendo uma mitologia imensa, repleta de
possibilidades – ainda temos tanto a explorar nesse universo de Neil Gaiman! A
leitura é prazerosa e flui, e eu sinto que há algo de muito poético no que ele está escrevendo, na
história que apenas começa a ser contada… amei acompanhar aqueles 4 humanos com
a “Doença do Sono” enquanto Devaneio era feito prisioneiro por humanos gananciosos
– e estou ansioso para ver sua vingança, para vê-lo retornar ao seu Reino, para
conhecer a Morte dentro de algumas edições…
“Sandman” começou.
E essa vai
ser uma jornada e tanto!
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