Todas as Razões para Esquecer (2018)



Doloroso e bonito!
Eu adoro a atuação de Johnny Massaro… eu adoro suas facetas, seu talento que pode fazer o cômico, o sério e o dramática, às vezes tudo ao mesmo tempo. Cresci assistindo a Johnny Massaro em novelas como “Floribella” ou na temporada 2008 de “Malhação”, e então ele cresceu para ser aquele ator f*da que nos arrancou lágrimas em “O Filme da Minha Vida”, que é literalmente um dos filmes da minha vida… belo e tocante, sempre. Eu encontrei “Todas as Razões para Esquecer” por acaso na Netflix dias desses, e fui assistir porque adoro o cinema brasileiro e porque tinha certeza que o Johnny Massaro estaria incrível. Dito e feito. “Todas as Razões para Esquecer” é um filme ocasionalmente divertido, mas, de modo geral, de uma verdade tão dura que ele é melancólico… mas profundamente real. Vemos um personagem crescer e ensinar, enquanto nos relacionamos com ele, ou não, mas certamente nos orgulhamos dele.
O filme conta a história de Antônio, um homem que acabou de terminar o seu relacionamento de mais de dois anos com Sofia (interpretada pela Bianca Comparato), e ele não sabe muito bem o que fazer agora… todas as vezes em que fecha os olhos e pensa nela, apenas as memórias boas lhe vêm à mente. O quanto eles eram perfeitos juntos, e como não faz sentido que eles tenham se separado. E isso lhe dói. Antônio tem uma demora para reagir. Ele está machucado, mas ainda em estado de choque, ainda tentando absorver aquilo tudo, ainda tentando fingir que “ele está bem”, quando evidentemente não está. É assim que ele acaba passando um tempo curtíssimo na casa da prima, que está tendo uma crise séria no seu casamento, e depois se muda para um apartamento da mãe de um amigo, que ele aluga… mas ele acha que está ali por pouco tempo.
“Só de passagem”.
Com o passar dos dias, no entanto, as coisas não parecem melhorar… e, assim, acompanhamos as peripécias de um cara que acabou de sair de um relacionamento sério e, como acontece na vida real, isso pode ser divertido e triste – e a transição de um para outro nem sempre é clara. Passamos pela fase de encher a cara e vomitar no vaso, se perguntar se deveria usar Tinder ou não, assistir pornografia e se masturbar, tentar cozinhar, ser um completo desastre e acabar pedindo comida pronta… Antônio está constantemente fugindo de sentir dor, e ao mesmo tempo em que ele não se permite sofrer, ele também se priva, basicamente, de sentir qualquer coisa. Ele não tem motivação para nada, ele anda sem expressão, fala com voz baixa, e então ele percebe, eventualmente, que ele vai ter que buscar ajuda.
E ele busca terapia.
São três pessoas que o ajudam, de formas muito diferentes. Temos a psiquiatra de Antônio, em primeiro lugar, que conversa com ele e espera que ele converse com ela – mas Antônio ainda precisa entender como isso funciona. Então, ele acaba tomando remédios, acaba aumentando a dose dos remédios, e tenta ignorar os evidentes efeitos colaterais. Temos Gabriel, o amigo de Antônio que o ajuda a encontrar um lugar para morar, um amigo de todas as horas que vai ouvi-lo e vai apoiá-lo sempre. E o mais inusitado de todos, que se torna o melhor personagem do filme, que é o vizinho da frente, aquele que constantemente dá festas no seu apartamento, e que o convida para uma, meio que obrigação, quando o vê espiando da porta da frente quando os convidados estão chegando… e, eventualmente, ele acaba indo, e a cena é um máximo.
Antônio naquela festa é UMA LOUCURA.
E, da maneira mais bizarra, uma amizade muito legal nasce!
Tem muita coisa que Antônio ainda tem que resolver, antes de seguir em frente… ele quer fazer isso, ele até acaba sucumbindo ao Tinder, mas são duas sequências desastrosas, embora em uma delas achemos que as coisas vão dar certo para ele. Ele também precisa falar com Sofia, embora quando ele o faça, as coisas acabem não sendo como ele esperava, porque ele faz perguntas que a deixam furiosa, e ela grita dizendo que “passou dois anos tentando lidar com ele e é impossível, porque nem ele mesmo sabe como lidar consigo mesmo”. Mas ISSO é importante para ajudá-lo a “se lembrar” das coisas ruins do relacionamento que ele tenta negar. Um tempo depois, ele tenta voltar para ela, a visita às seis da manhã e fala sobre como não conseguiu deixar de pensar nela, mas, nesse ponto, ela já está com outro cara, e ele vai mesmo ter que seguir em frente. E é importante para que ele perceba que a sua felicidade não depende de Sofia, de estar com ela.
Ele precisa encontrá-la em si.
Por mais clichê que isso pareça… ainda é verdade.
Assim, vemos um crescimento estrondoso para Antônio, e é a união de duas coisas: a sua determinação e a exteriorização daquilo que passou tanto tempo segurando dentro de si. Ele deixa os remédios e resolve fazer o que a psiquiatra lhe falou: enfrentar aquilo que o assusta. Então, ele manda mensagens para Sofia, nas quais grita tudo o que queria lhe dizer, e isso é importante, porque ele precisava colocar para fora – e foi divertido, porque foi uma série de mensagens, uma ligação que ela atende, e uma “conversa” às 2 da manhã. Isso já lhe dá um gás, uma renovada. Depois disso, Antônio começa a correr e se exercitar, mesmo sozinho, e começa a organizar a casa, que estava uma bagunça desde… sempre. E isso mostra o quanto ele está começando a seguir em frente, e isso tudo É TÃO IMPORTANTE PARA ELE. Eu fiquei muito feliz por Antônio!
Uma das cenas mais emocionantes, uma cena que Johnny Massaro arrebentou na interpretação, foi quando Antônio se permitiu chorar. Ele se permitiu lembrar, sim, de todos os momentos bons que passara com Sofia, mas se permitiu também desenterrar memórias nas quais as coisas não eram assim tão perfeitas – porque são memórias que também estão lá e são tão importantes quanto as outras! E então ele chora, por muito tempo, e aquilo dá uma sensação tão boa, um alívio tão grande, como se nossas almas estivessem sendo lavadas com aquelas lágrimas, assim como a alma de Antônio estava sendo lavada. Isso e aquela cena em que ele vai à casa de Sofia buscar o resto de suas coisas, e então eles se despedem em bons termos, mas de maneira definitiva, são as coisas que ele precisava para encerrar essa história e virar a página.
Seguir adiante.
Ele precisava… mais cedo ou mais tarde, precisava.
Antônio cresceu, Antônio amadureceu, e Antônio conquistou pessoas incríveis. O vizinho do lado é MARAVILHOSO, eu ri com cada cena que Antônio compartilhou com ele, cada conversa, ou quando ele achou que Antônio ia pular da sacada, por exemplo… eu amei vê-los cozinhando juntos, e detalhe para aquela cena do Antônio com ele e com Gabriel, os três juntos no seu apartamento. Uma vez que tenha seguido adiante, Antônio também pode ajudar, e duas cenas são extremamente importantes nesse quesito. Primeiro, temos aquela cena com Gabriel, na qual o amigo fala sobre ter deixado para lá a história de escrever um livro, “porque é muito difícil” e porque “o dinheiro acabou”, e então ele acabou voltando a trabalhar, e Antônio o escuta, prestando atenção e tendo o que comentar… algo que há muito tempo ele já não conseguia fazer.
Amei ver Antônio arrumando a casa e tornando-a sua, comprando móveis, um abajur de girafa… a segunda cena que mostra Antônio ajudando é quando a prima aparece dizendo que terminou com o marido, e ele sabe o que dizer. É um final doloroso e, ao mesmo tempo, repleto de esperança – porque algo não precisa ser feliz ou triste, e um excluir o outro. Ele seguiu adiante e ter seguido adiante não significa que não doa mais. Ainda dói, e a verdade é que, de alguma maneira, sempre vai doer, mas isso não vai apagar o que ele viveu com Sofia, não vai fazer com que essa história tenha sido menos especial. Em palavras lindas que, no momento, não me lembro exatamente, Antônio diz à prima que foi ruim, e que vai ser ruim para ela, sim, mas que, ao mesmo tempo e, de alguma maneira, também foi bom. E isso resume esse sentimento melhor que nada.
O filme é lindo. Adorei!

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