Bonequinha de Luxo (Breakfast at Tiffany’s, 1961)
“I'll tell
you one thing, Fred, darling... I'd marry you for your money in a minute”
GENTE, QUE
FILME ADORÁVEL! Finalmente assisti a “Bonequinha
de Luxo”, uma comédia romântica protagonizada por Audrey Hepburn e lançado
em 1961, um filme que conquistou sucesso de público e crítica, consagrou-se
como clássico do cinema, e que é
visivelmente a inspiração (em
roteiro, direção e atuação) para filmes futuros, como “Uma Linda Mulher”, de 1990. Em “Bonequinha
de Luxo”, Audrey Hepburn interpreta Holly Golightly, uma acompanhante de
luxo bagunceira e divertida, mas extremamente elegante, com uma missão muito
clara em mente: casar-se com um homem
rico. Grande parte do filme é sustentado pela brilhante interpretação de
Audrey Hepburn, e a maneira como ela dá vida a uma Holly Golightly extremamente
carismática e repleta de facetas – ela chegou a ser indicada ao Oscar por sua
interpretação nesse filme.
A primeira
parte do filme se volta a nos apresentar a personagem, suas ambições e sua
inocência – acredito que isso é parte da fascinação que ela exerce sobre todos:
em toda a sua esperteza, também
existe uma ingenuidade bela. Holly fala depressa (e sem parar), não se lembra
onde guardou as coisas, sempre anda sem a chave de casa, o que incomoda o
senhorio do apartamento, e faz pescoços virarem por onde quer que ela vá… Holly é linda, elegante, e anda como uma
“bonequinha”, como sugere o título brasileiro e português do filme. E ela
trabalha acompanhando homens, ou indo visitar Sally Tomato, por exemplo, um
integrante da máfia que está preso e que a paga para que ela o visite todas as quintas-feiras, e ela sai de lá
com uma “previsão do tempo” que precisa ser passada adiante… e ela o faz, sem nunca questionar.
Parece
inofensivo, afinal de contas…
O par
romântico de Holly é Paul Varjak, mas Holly passará grande parte do filme o
chamando de “Fred”, porque é o nome do seu irmão que está no exército e que ela
ama profundamente e de quem sente muita falta… Paul é interpretado por George
Peppard, o típico galã da época, e eu gosto de como ele tampouco é um
personagem “perfeito”. Ele é um escritor que há muito tempo não escreve nada, e que vive bancado por uma mulher,
em troca de sexo… ele conhece a encantadora Holly quando se muda para o mesmo
prédio e pede para usar o telefone, e Holly rouba toda sua atenção, porque é impossível não se apaixonar por ela de
imediato. Adoro as cenas dos dois, adoro a química que compartilham, e o
tom descontraído do filme em cenas como aquela da festa que Holly dá na sua
casa (dei gostosas risadas com essa sequência).
Holly aprende
a confiar em Paul (inicialmente ela o adverte que “não gosta de
bisbilhoteiros”, ou qualquer coisa assim), e os dois se tornam amigos que se
apoiam, e temos dois momentos muito
bonitos para eles: aquela cena em que ela está fugindo e acaba subindo a escada de incêndio até a sua casa,
enxerida mexendo nas coisas dele, o provocando a respeito da escrita, e então
ela pergunta se pode se deitar com ele um
pouco… afinal de contas, eles são amigos. E também temos aquela cena em que
Holly está mais natural, sentada na
janela de sua casa, tocando e cantando “Moon
River”, a icônica música que ganhou o Oscar de “Melhor Canção Original”, em
1962. É um momento singelo e emocionante, e nós olhamos admirados para Holly
Golightly, mais ou menos da mesma maneira
como Paul/Fred olha para ela, do andar de cima…
Paul,
eventualmente, descobre o passado de Holly, e que ela não se chama Holly
Golightly de verdade… ou pelo menos não se chamava. Ela costumava ser Lula Mae,
e o seu marido, com quem ela se casou aos 14 anos, aparece para buscá-la,
dizendo que seu irmão vai sair do exército em fevereiro, e ela precisa estar
lá, de volta com a sua família – aparentemente, Holly e Doc viveram uma
história importante, mas essa já não é mais
a mulher que Holly é, então ela não quer ir embora, e pede a ajuda de Paul
na rodoviária, para que não a deixe ir embora com Doc… e Doc não se opõe a
isso, ele só pede que Paul cuide bem dela, e então ele vai embora, e Holly pede
que Paul a leve a um bar… e que só a leve
de volta para casa quando ela estiver bêbada. As cenas são ótimas, tanto do
bar quanto da chegada em casa, com o Paul a carregando no ombro…
E Holly não para de falar.
Divertidíssima
e fofa!
Aqui, os
laços de Paul e Holly se fortalecem, aqui eles compartilham alguns momentos
realmente importantes, e é fofíssimo aquele momento em que ela diz que “se
casaria com ele agora mesmo por seu dinheiro”, e pergunta se ele “se casaria
com ela por seu dinheiro”, e ele responde: “Agora
mesmo”. No fim, ela ri, dizendo que “é bom, então, que nenhum deles têm
dinheiro”. Os dois passam um dia especial juntos, “fazendo coisas que nunca
fizeram antes”, como tomar champanhe antes do café-da-manhã, comprar alguma
coisa na Tiffany’s (gente, eu ADOREI a cena do Paul e da Holly na Tiffany’s,
perguntando o que eles poderiam comprar com 10 dólares!), ou roubar alguma
coisa de uma loja… aquela cena dos dois
procurando o que roubar e saindo com máscaras, correndo logo em seguida, foi
sensacional. Leve, divertida, mostra a conexão dos dois.
Depois disso,
eles trocam o primeiro beijo.
E Paul acha
que é isso… acha que eles vão se entregar a esse amor, que eles vão ser
felizes, mas Holly tem suas convicções muito certas: ela vai se casar com um homem rico, e esse homem rico será José da
Silva Pereira, um brasileiro que a levará embora para o Rio de Janeiro.
Como brasileiro, devo dizer que me incomodou um pouco a Holly ouvindo rádio em
um português que claramente era de
Portugal, e não do Brasil, mas eu gostei das referências, e a Audrey Hepburn
estava FOFINHA DEMAIS falando que o português era uma língua complicadíssima
(com 4.000 verbos irregulares), e tentando falar “Eu acho que você está gostando do açougueiro”. Paul tenta
dissuadi-la da ideia, sutilmente, e eu tenho certeza que Holly percebeu antes
mesmo que ele precisasse dizer, mas ela tampouco queria magoar o seu coração,
então ela apenas curtiu aquele último dia
com ele…
Ou talvez não
seja o último dia.
Os dois
acabam sendo pegos pela polícia e levados à delegacia, sob a acusação de ajudar
a máfia (!), e eu devo dizer que EU RI MUITO DA HOLLY POSANDO PRA FOTOS E
CONVERSANDO COM JORNALISTAS! As visitas semanais a Sally Tomato e as “previsões
do tempo” eram códigos que ela passava adiante sem nem mesmo saber, mas agora ela está presa por causa disso, e é
o Paul quem mexe os seus pauzinhos para tirá-la de lá, mas ele não tem dinheiro
para pagar a sua fiança… então, ele consegue a ajuda de outro cara que gosta muito de Holly – porque ela de
fato conquistou todos ao seu redor… e, quando Holly deixa a cadeia, ela
descobre, através de um telegrama que Paul lê para ela, que José já não vai
mais se casar com ela, porque ele é um covarde e não tem coragem de fazê-lo
mais perante a família depois dos últimos acontecimentos…
Eu gosto de
como Holly demonstra força, mesmo quando não a tem. Ela está arrasada, mas ela
não vai desperdiçar a passagem que já tem para o Brasil, sem contar que sabe
como as pessoas da cidade vão tratá-la depois de sua foto ter estampado os
jornais, então ela precisa ir embora… em uma cena de partir o coração, ela
deixa o Gato Sem Nome na rua, embaixo de chuva, e pede que o taxista a leve
para o aeroporto, sem ouvir o que clama Paul. Eventualmente, ele “desiste”, mas
ele deixa o táxi dizendo muitas coisas para ela, sobre como a ama, como está apaixonado por ela, e como ela tem medo
de aceitar a vida, medo de aceitar que as pessoas se apaixonam, medo de ser
“colocada em uma jaula”, mas a verdade é que ela já está em uma jaula, uma que ela construiu para ela mesma… por
fim, ele deixa com ela o anel que mandaram gravar com as iniciais deles na
Tiffany’s…
…um anel que
ele carregou consigo por meses sem nunca a entregar, um anel que não tem nenhum
valor material, mas que significa muito para eles, porque é
parte da história deles, e é essa a escolha que ela tem que fazer, é isso que
ela tem que aceitar: que as pessoas se
apaixonam, que “a vida é como é”, e que o que você sente é mais importante do
que o que você tem. Paul a deixa sozinha no táxi, e ela reflete, em
silêncio, e é um momento lindo, que termina com ela deixando o táxi, desistindo
de tudo e indo reencontrar o gato que ela abandonou na rua… e, uma vez que ela
o faz, ela também reencontra Paul, e se entrega a esse amor. O amor com um homem que não é rico, como ela
sempre sonhou, mas com um homem que a ama profundamente, e com quem ela
certamente poderá ser feliz. É um final lindo para um filme lindo!
Amei!
<3
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