O Sol Também é Uma Estrela (Nicola Yoon)
“Que diferença um dia faz!”
Apaixonado
por Natasha e Daniel… e pela escrita inteligente de Nicola Yoon. “O Sol Também é Uma Estrela” é o
primeiro livro que leio da autora, e ele me deixou tão pensativo – e emotivo. O
livro me fez pensar em muita coisa, e por isso me envolveu tão bem, como se eu
estivesse vivendo esse único dia ao lado de Natasha e Daniel em Nova York, até
o fatídico momento em que eles precisam se separar… e chorei sem vergonha durante o lindíssimo e emocionante epílogo.
Eu pensei muito na diferença que um dia
pode fazer na vida de alguém, pensei naquele conceito de “feitos um para o
outro”, porque costumamos pensar que isso precisa ser acompanhado de um “para
sempre”, mas e se não for? E, se não for, ainda assim não vale a pena se
apaixonar? É claro que vale…
E pensei
muito em “coincidências”… durante o livro, fiquei me perguntando com quem me
parecia mais, se com Daniel ou se com Natasha, e a verdade é que eu não consigo chegar a uma conclusão.
Mas o livro me fez pensar muito em como as coisas estão conectadas, como coisas
aparentemente sem importância interferem
tanto na vida das pessoas ao nosso redor e, às vezes, pessoas que nem
conhecemos, com quem nossos caminhos se cruzam uma vez na vida, de forma
indireta, e depois nunca mais… e como tudo
precisa estar perfeitamente alinhado para que algo aconteça. A vida é uma
sucessão de “coincidências”, e cada pecinha fora do lugar pode nos levar para um resultado completamente diferente… eu já
pensei muito nisso na vida. Como 5 minutos que eu saio mais cedo ou mais tarde
para o trabalho pode resultar em coisas
completamente distintas…
É um pouco assustador, mas é grandioso.
A escrita de
Nicola Yoon é apaixonante. Ela dá voz a dois personagens principais, vivendo um
dos dias mais importantes de sua vida: Natasha e Daniel. Mas não são as únicas vozes que escutamos. O livro tem uma leitura
deliciosa, com “capítulos” curtíssimos, na maior parte do tempo, gerando uma
leitura fluída… você quer saber um pouco
mais, ficar e ler mais uma página, mais outra e quando vê acabou o livro. E
são pequenos momentos, pequenos pensamentos, pequenos devaneios, todos
construindo a grande imagem que é a história do livro. Com exceção das últimas
6 páginas do livro, tudo acontece em um
único dia, e essa escrita cabe perfeitamente para contar a história nesse
período de tempo.
Nicola Yoon
consegue alternar as vozes perfeitamente. Parte do livro é dedicado à Natasha,
parte ao Daniel, mas não é apenas isso… existem interferências que são a voz da
própria autora, ou de um observador externo. Algumas “interferências” até parecem
notas de rodapé, mas escritas da maneira mais literária possível, e é
apaixonante. Tem “uma história de nomes”, por exemplo, que é sobre a família de
Daniel e a relação coreana com os nomes de família e a indecisão da mãe ao
escolher os dos filhos, nos EUA. Tem “uma história etimológica” que é a Natasha
pensando sobre a palavra “irie” que é uma das melhores coisas que eu já li,
muito filosófico e pertinente. Apaixonei-me irremediavelmente.
Amo os
protagonistas, amo o mote principal do livro, amo a inovação… amo que Nicola
Yoon saiba do que ela está falando. Amo que tudo venha de duas culturas
diferentes que se encontram nos Estados Unidos, e são duas histórias
diferentes, duas abordagens diferentes, mas tipo duas faces de uma mesma moeda.
De um lado, temos uma família coreana bem-sucedida; de outro, uma família
jamaicana prestes a ser deportada de volta ao seu país. Mas Natasha não quer deixar toda sua vida para trás, para “se sentir
uma estrangeira no país em que nasceu”.
Natasha está
tentando de tudo para que a família não seja deportada. Daniel está se
submetendo à vontade da família, embora ele mesmo não queira ser médico. E
então os caminhos se cruzam, e é inesperado – como a maioria das coisas que nos
acontecem na vida, na verdade. Ela é toda racional, cientista, não acredita em
destino, apenas em fatos. Ele é todo sonhador, um poeta, totalmente o oposto de Natasha… e acredita no destino. É
assim que os caminhos se cruzam e que eles se juntam… Daniel decidiu “deixar o
vento levá-lo” naquele dia, e então ele vê uma série de sinais que parecem o
estar guiando até Natasha, e ele deixa que o vento o leve…
Dentre esses
sinais, lemos “Uma história de dinheiro: Donald Christiansen”, o cara que quase
atropela Natasha, estraga seu fone de ouvido (que era o que Natasha mais amava,
por tudo o que ele representava), mas é importante para que Natasha e Daniel se
aproximem, porque Daniel salva a sua vida, mesmo que esse já não seja mais a primeira vez que eles se veem naquele dia…
são tantos pequenos detalhes, tantas coisas independentes que levam a um lugar…
e eu adoro esses “devaneios”, esses escapes, essas coisas paralelas, mas que
são todas parte de algo maior, da história de Daniel e Natasha. Sem essas coisas, nada existiria. Sem Irene,
Natasha não teria conhecido o outro homem que a indicou um novo advogado, por
exemplo… são pequenas circunstâncias que fazem as coisas serem como elas são
agora. Isso é muito inteligente e peculiar.
Acredito nas
coisas que Natasha acredita e falo como ela (amei aquela cena do café, depois
de ele salvar a sua vida, em que ela fala sobre viagem no tempo, paradoxo do avô
e o princípio da autoconsistência de Novikov!), mas, ao mesmo tempo, tenho um
quê romântico incurável do Daniel e acredito no amor… ela pede que ele não se
apaixone por ela, porque ela não se apaixonaria por ele, não acredita no amor,
e ele diz que pode fazê-la se apaixonar
por ele, cientificamente. E eu amo. De verdade, eu amo. Natasha está
desesperada e, de certa maneira, esperançosa, arriscando coisas que nunca
arriscou, como ter fé e esperar um milagre. E acho que Daniel é parte disso
tudo. É alguém que apareceu do nada, que é esse cara sonhador, decidido, cheio
de vida e que a faz rir, bem no pior dia
da sua vida. Deve ser um sinal, não? Então ela meio que se deixa levar,
porque é divertido ver as suas tentativas e a maneira como ele tem certeza de que
vai funcionar.
E ele é
bonito e tudo o mais… e fofo, e divertido.
E sexy.
Assim, Daniel
explica como “vai fazê-la se apaixonar por ele, cientificamente”. Tudo parte de
um experimento sobre o qual ele leu recentemente, que envolve umas perguntas
(divididas em três categorias de nível de intimidade) e 4 minutos em que eles precisam ficar olhando um no olho do outro. Como
eles não têm muito tempo, porque Natasha está esperando o encontro marcado com
o novo advogado, eles testam uma versão “resumida” do experimento original.
Daniel está confiante, enquanto um zilhão de outras coisas estão acontecendo e
passando pelas cabeças de ambos – mas é justamente assim que um participa da
vida do outro… ela correndo para chegar a tempo da reunião com o advogado, ele
ali, o tempo todo com ela… eles se conhecem e se conectam, compartilhando esses
momentos, respondendo a essas perguntas…
Mesmo que
Natasha não acredite no amor romântico: “Amor,
uma história química”.
Ou pelo menos
ela acha que não acredita… porque Natasha nos fala sobre todas as substâncias
químicas liberadas quando as pessoas se conhecem, quando se beijam, quando
transam e tudo o mais… ela sabe disso tudo. Mas ela não entende por que com Daniel parece algo mais.
Quando eles
“se separam”, porque Natasha precisa ir para a sua reunião e Daniel tem que fazer o que quer que ele tenha que
fazer, ela deseja ter sido mais legal com ele, ter pedido seu telefone…
afinal de contas, se algo der certo e ela ficar no país, como vai
reencontrá-lo? Mas, embora ela se permita ter esperanças, o advogado não está
quando ela chega ao escritório, porque foi atropelado há uma hora… atropelado
pelo corretor de seguros atordoado que quase atropelou Natasha.
Tudo está conectado.
Tudo interfere nas coisas ao seu redor…
Quando
Natasha sai da entrevista, Daniel está ali, esperando por ela. Em “Cabelo, uma história afro-americana” e “Cabelo, uma história coreano-americana”,
vemos a desastrosa visita de Natasha à loja dos pais de Daniel, a vergonha que
Daniel passa, mas Natasha, de algum modo, sai rindo da tragédia, porque sabe
que foi um horror e não podia ter sido pior… o pai racista, o irmão mais velho
racista e sexista. O pai criticando o cabelo, o irmão fazendo piada com pau
pequeno.
Mas depois,
enquanto ainda têm tempo para matar (antes do encontro de Natasha com o
advogado e a entrevista de Daniel para Yale, ambos os compromissos remarcados),
Daniel e Natasha passam um bom tempo juntos… eles saem para almoçar, vão ao Norebang
(uma espécie bem interessante de karaokê),
e ali temos UMA CENA E TANTO, na qual eles se entregam um ao outro, ao desejo
contido e intenso, a um beijo quente que faz com que sintamos todas aquelas
emoções e nos faz desejar um beijo adolescente daquele. É intenso, é bonito,
mas é como uma fantasia que acaba depressa e eles voltam para a vida real… fora
desse mundinho fechado.
Natasha não
pode negar o que viu, o que existe entre eles, mas ela não quer que exista, não
pode se permitir isso… ela vai embora naquele dia. Vai ser deportada. E então ela acaba dizendo isso, depois de se
afastar e de Daniel perguntar o que está acontecendo. Ela diz, ela solta tudo,
e então os dois se desentendem, mas não é porque ele é um cretino, como ela
quer pensar, como ela acha que ele é para que as coisas sejam mais fáceis, mas
porque ele está frustrado… e ela também está. Ela não acredita em destino, em
“feitos um para o outro”, mas viu o que está acontecendo, sentiu o que não
queria sentir… ele, por sua vez, acredita nisso, e acha que ela deveria ter
contado desde o início, e ela não o fez. Os dois discutem, de coração partido,
e ela o acusa de não amá-la, mas apenas querer
alguém que o salve… se ele não quer ser médico, não seja e pronto.
Ali, algo se
parte, o destino os separa… e é horrível. Ela vai ao museu sozinha, e é um
golpe vê-la tocar o meteorito pensando que era
ali que ela o traria e pediria que ele escrevesse poemas sobre isso…
Separados, os
dois precisam resolver algumas coisas sozinhos. Natasha conversa com o advogado
que é sua última esperança e conta toda a história, e é doloroso, porque o seu
pai é um completo babaca… ele sofreu, sim, e eu teria pena dele, mas a maneira
como projeta isso na esposa e nos filhos… não dá para perdoá-lo. Assim como é
com Daniel, na cena que briga com o irmão, e é forte, ou como o pai diz que ele
não tem “querer”, e que se não for médico então arrume um emprego para pagar
pela faculdade… mas talvez seja exatamente o que ele vai fazer.
Adoro como Natasha
e Daniel se procuram, pensam um no outro, como se procuram, sem ter o telefone
um do outro, sem ter como se reencontrar depois de tantas horas significativas
juntos, e eles estão tão perto… eles veem as mesmas pessoas ou os mesmos
acontecimentos, mas de ângulos diferentes, com percepções diferentes. Natasha
vê o casal de cabelo azul brigando, enquanto Daniel vê a mulher tocando violino
na loja ao lado da de sua família. Os dois veem o flash mob no metrô. Depois, Daniel vê o casal de cabelo azul se
beijando, enquanto Natasha vê a mulher com o violino ao lado da loja dele… Daniel
volta para o prédio onde viu Natasha pela última vez (descobrindo,
eventualmente, que é onde vai ser sua entrevista!), e ela vai para a loja atrás
dele, conseguindo uma única boa ação do
seu irmão, quando ele lhe dá o telefone do Daniel. E então eles se
encontram!
<3
É TÃO LINDO.
A maneira
como eles ficam no terraço do prédio do compromisso dos dois, até anoitecer,
compartilhando o momento, “interrompendo as conversas com beijos e os beijos
com conversas”. Como estão conectados, como ele está feliz, como ela está
esperançosa, como voltam às perguntas e como falam de lembranças, deles, como
se conhecem tão intensamente em tão pouco tempo… é incrível.
Dali em
diante tudo é complicado e difícil e doloroso… Daniel acaba tendo sua
entrevista para Yale (um desastre) justamente com o advogado de Natasha, e
então descobre que ele não conseguiu
impedir sua deportação – ele não sabe, mas Nicola Yoon compartilha conosco
a informação de que ele não tentou o
suficiente… e isso me deixa com uma raiva indescritível. Agora, a vida
daqueles dois jovens foi arruinada, eles são brutalmente separados sendo que
podiam ter toda uma história linda pela frente…
…mas isso
quer dizer que eles não tiveram uma
história linda?
Tiveram.
Viveram em um dia o que às vezes as pessoas não vivem em uma vida. Daniel e
Natasha viveram intensamente e para sempre serão importantes um para o outro…
não apenas porque ela o ajudou a decidir o seu futuro, por exemplo, ou ele a
ajudou a voltar a acreditar em destino e amor, mas porque o que viveram foi real, e isso importa mais que tudo. E é
poético (e sofrido) quando eles pensam se, ao contrário do que pensavam, eles
não estavam destinados a ficarem juntos
para sempre, mas a serem “uma parada na estrada que leva a outro lugar”.
Talvez a história deles tivesse sido escrita para durar um dia… e foi importante em toda sua grandeza de um
dia.
Esse
entendimento e essa dor quase me fizeram chorar!
Daniel
escolhe acompanhar Natasha naquele dia… eles não vão fingir que essa não é a pior coisa que está acontecendo,
mas eles não vão se separar. Ele vai acompanhá-la até em casa, até o aeroporto,
os corações se partirão, mas eles estarão juntos até que os destinos se
separem, até que cada um siga sua estrada até onde ela vá levá-los, até que
cada um siga com a sua vida… eterna e profundamente tocados pelo que acabaram
de viver. Por esse dia singular na vida
de ambos – esse dia em que compartilharam tudo.
No trem de
volta para a casa de Natasha, eles conversam, falam da Jamaica, imaginam o que
nunca vão viver, porque acaba sendo inevitável, e respondem mais perguntas… as últimas perguntas do experimento, o
terceiro nível de intimidade.
“Têm a sensação de que o amor muda todas as coisas o tempo todo. É para
isso que existe o amor”
O final do
livro é intenso… aqui, eu virei páginas e páginas avidamente, ansioso por mais,
temeroso pelo fim, com o coração partido exatamente como o dos personagens. Mas
amando cada segundo, de qualquer maneira. Daniel e Natasha são apaixonantes… apaixonantes demais. Vivi e senti com eles
tudo aquilo, tão intensamente como se fosse comigo. Eles passam as últimas
horas juntos em Nova York, Daniel conhece sua casa, sua família, presencia um
momento importante entre Natasha e seu pai, um momento de que eles precisavam
para tirar do caminho aquela história de que “ela e o restante da família eram
o maior arrependimento dele”, e tudo é emotivo. No táxi para o aeroporto,
Daniel e Natasha conversam, se beijam, respondem às últimas perguntas… e então
fazem a última parte do experimento: olhar
um no olho do outro por 4 minutos. E TUDO O QUE PASSOU PELA MENTE DELES, TUDO O
QUE REVIVERAM, PROJETARAM E SENTIRAM NAQUELE MOMENTO.
E então eles
se separam…
Acho que
Nicola Yoon foi extremamente cuidadosa no fim do livro, conseguindo partir o
nosso coração e nos acalentar, ao mesmo tempo. Natasha vai embora para a
Jamaica, ela e Daniel tentam manter contato, no início, mas é impossível… e
então os anos se passam, e aquele único dia de adolescência em Nova York vai
ficando para trás, distante. Cada um fez sua vida. Natasha está feliz na
Jamaica, fez amigos, estudou, procurou uma paixão em seu futuro trabalho, como
Daniel a aconselhou a fazer. Daniel, por sua vez, não foi para Yale, saiu da
casa dos pais, foi estudar para realizar seu sonho, para ser poeta… e a
lembrança um do outro sempre esteve lá, embora distante, embora talvez
idealizada, mas lá… é um final dolorosamente real, mas que mantém a força do
que eles viveram. O quanto um dia
importou.
E então temos
aquele epílogo LINDÍSSIMO. Particularmente, eu não estava preparado. Eu sou
bobo, choro com facilidade, mas normalmente não choro em livros… pouquíssimos
livros, mesmo os mais emocionantes e que me tocaram profundamente, me fizeram
chorar de fato. Mas eu tive que parar o epílogo de 3 páginas duas ou três vezes
durante a leitura, porque estava chorando. A maneira como Nicola Yoon resume
tantos elementos da sua obra naquelas poucas páginas. Como ela fala de Irene, a
mulher cuja vida Natasha salvou, sem saber, há 10 anos, e como traz todas essas
coincidências da vida… todas as coisas que precisam estar alinhadas para que
algo aconteça… novamente, a maneira como interferimos nas vidas das pessoas ao
nosso redor, e como elas interferem nas nossas. Uma simples ligação de Natasha,
há 10 anos, salvou a vida de Irene, e se ela não tivesse feito isso, Irene não
estaria naquele avião naquele momento, e talvez ela e Daniel estivessem tão
próximos, mas nunca se vissem…
Uma atitude
de 10 anos atrás, da qual ela mal se lembra, ocasionou esse momento.
Tornou-o
possível.
Aquela cena
do avião é de arrepiar, e li o tempo todo com lágrimas nos olhos e o coração
batendo audivelmente no peito, vivendo e torcendo e chorando. A história de
Irene, a conversa de Irene e Natasha, o Daniel no banco da frente, escutando a
tudo, com o caderninho na mão, se virando para ver Natasha novamente…
Que final
ARREBATADOR.
Fiquei com a
sensação de que queria mais… queria mais de Daniel e Natasha. Não estava pronto
para me despedir dos personagens, mas é claro que não precisávamos de mais. Nada poderia deixar aquele final mais perfeito… obrigado, Nicola Yoon,
pelas palavras. Ler “O Sol Também é Uma
Estrela” foi uma experiência sublime! Me fez sentir e pensar muitas coisas!
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