Talvez Uma História de Amor (2018)



E se você se esquecesse de só uma pessoa?
FACILMENTE, UMA DE MINHAS COMÉDIAS ROMÂNTICAS FAVORITAS. Protagonizado por Mateus Solano, “Talvez Uma História de Amor” é um filme fofo, divertido e tocante. O filme conta a história de Virgílio, um homem bastante organizado, tanto a ponto de ser metódico… ele faz sempre as mesmas coisas, nos exatos mesmos horários e da mesma maneira – ele não quer que nada na sua vida mude. Ele até usa coisas bem antigas, como uma TV velha e um celular dos anos 1990, provavelmente porque foi o primeiro que teve e nem isso ele quer mudar… ele até recusa uma promoção! Mas as coisas mudam, enfim, quando ele acorda numa manhã e descobre uma mensagem na sua secretária eletrônica – na mensagem, uma mulher chamada Clara termina com ele; diz que o ama, e que nunca amou ninguém como o ama, mas não dá mais.
O problema é que ele não conhece nenhuma Clara.
Assim, começa a jornada de Virgílio… o filme é uma deliciosa comédia romântica, dessas que fazem com que nos apaixonemos pelos personagens, e eu adorei a premissa, que jogou um pouco de mistério e nos intrigou até o finalzinho, porque queríamos saber quem era a Clara e o que tinha acontecido – como Virgílio podia ter se esquecido dela se todos ao seu redor pareciam conhecê-la? “Quem se esquece de uma única pessoa?”, ele se pergunta. Mateus Solano, um de meus atores favoritos no mundo, está impecável no papel de Virgílio, e é um papel interessante que exige uma mudança e um crescimento do ator… existe um Virgílio metódico, característica presente em sua postura, seu modo de andar, seu jeito de falar, existe um Virgílio de antes disso tudo, uma variação desse Virgílio metódico, e, por fim, um Virgílio de depois disso tudo, que é um máximo.
Desesperado, confuso e em busca de respostas, Virgílio abraça a secretária eletrônica e a leva para sua terapeuta, explicando que não conhece nenhuma Clara – mas e se ele conhece? Afinal de contas, seu melhor amigo acaba de telefonar dizendo que “ficou sabendo sobre o término do namoro deles” e perguntando se ele está bem. Aparentemente, a Clara existe, mas ele não consegue encontrá-la em sua memória, nem um pequeno traço dela… a não ser a voz na secretária eletrônica. Ele não pode apagar a mensagem, é a prova que ele tem que ela existiu, e ele sente algo quando a escuta falar, algo que ele não entende. Assim, a sua vida vira de cabeça para baixo, e toda sua organização original acaba sendo deixada de lado, porque a sua busca por respostas, a sua vontade de entender o que aquilo tudo significa é maior do que qualquer outra coisa.
Com a ajuda da terapeuta, ele descobre que, há alguns meses, da última vez que esteve ali, ele foi a uma festa, e Carol o apresentara para uma mulher – ele não disse, na época, o nome dessa mulher… mas talvez seja Clara. Assim, numa sequência de cenas que são divertidas, em que o Mateus Solano está encantador (!), e que é extremamente fofa, tudo ao mesmo tempo, Virgílio tenta recriar seus passos, tenta, de todo modo, chegar até Clara… mas ela sempre parece escapar. Ele fala com a Carol, com a Denise, com a Melissa… mas ele não consegue um telefone, um endereço – afinal de contas, ele não saberia onde Clara mora? Fernanda é quem talvez lhe deixe mais perto de encontrar a Clara, naquela ótima cena em que ele sai correndo até o MASP, mas a perde por questão de poucos minutos, e quando finalmente chega ao seu antigo apartamento, rastreando a placa de sua moto, ela acabou de se mudar…
Clara está indo embora.
Uma personagem bastante importante no filme é Katy, a vizinha fofa e parceira, interpretada por Bianca Comparato, que ajuda o Virgílio em vários momentos, até mesmo quando ele não percebe… ela ajuda com coisas simples como emprestar-lhe água quando a conta de água é cortada (aquela sequência do Virgílio achando que ia morrer, depois anunciando que “não ia morrer mais” e tendo que provar que está vivo para que a água, luz e gás sejam religados é INCRÍVEL!), ou de maneira muito mais direta, quando o convida para sair jantar (ela com aquele capacete, no apartamento da frente, o chamando pra sair no melhor estilo chamada do “Globo Repórter” também foi um MÁXIMO!) e escuta enquanto ele fala de Clara, ou mesmo quando ela nem sabe que está ajudando, como quando deixa o seu cachorro, o Frank, para ele cuidar.
São cenas tão ternas!
E eu acho que Katy tem uma participação imensa nos avanços que Virgílio faz… aos poucos, as memórias de Clara começam a voltar para ele, mesmo que nunca completas, mesmo que ele ainda não possa ver seu rosto. Mas ele ouve a mensagem na secretária eletrônica, “esquecendo-se da letra e se concentrando na melodia”, e pode quase sentir o que sentia antes. Através de um sonho, ele “retorna” para a festa em que a conheceu, e consegue uma dica que o leva até um pen-drive em sua mesa no trabalho, onde Clara lhe deixou um vídeo de feliz aniversário, e aquele vídeo é lindo. Não vemos a Clara, apenas a ouvimos, enquanto ela o filma em sua loja de discos favoritas. Ali, sentimos a conexão deles, o amor, e entendemos um pouco do Virgílio e da sua infância no circo, mudando de cidade a cidade… nada era o mesmo, tudo mudava o tempo todo.
Por isso ele é como é.
Ele queria que as cosias parassem um pouco.
Virgílio quase perde Clara quando descobre que ela está indo embora para Nova York, e nós achamos que ele vai conseguir chegar no aeroporto a tempo de vê-la, de falar com ela, porque o filme começa com ele no aeroporto, correndo, antes de voltarmos uma semana no tempo, mas ele acaba nunca chegando no aeroporto, porque ele manda uma mensagem para Clara, pedindo que ela espere, e ela responde que “não quer mais vê-lo”. Ele volta, triste, embaixo da chuva, e novamente Katy é quem o ajuda. Para ela, Clara não foi “objetiva” o suficiente, ele nunca a ouviu dizer que não queria mais vê-lo, e ela acha que eles precisam, pelo menos, conversar… então, Katy o ajuda a descobrir que o celular para o qual ele mandou a mensagem não é o celular de Clara, mas do irmão dela, então ela nunca enviou aquela mensagem.
Talvez ele tenha uma chance.
Então, ele parte para Nova York… algo que ele nunca faria antes.
AS CENAS DE NOVA YORK SÃO MUITO LINDAS. Ainda não é fácil encontrar Clara, e a sua jornada continua lá mais ou menos como estava em São Paulo, sempre a perdendo no último minuto, sempre incapaz de vê-la, e então ele tem um grande gesto – você sabe, aqueles grandes gestos típicos de comédias românticas (tipo o flash mob de “Amizade Colorida”) que sempre nos arrancam um sorriso, sempre nos fazem suspirar… quando o vemos chegar na Times Square, lembramo-nos de um diálogo que não parecia tão importante lá no início do filme, no seu trabalho, e percebemos o que ele vai fazer: ele coloca um “anúncio” nos telões da Times Square, uma mensagem para Clara… dizendo que é o Virgílio, que está ali e que eles precisam conversar, e então marca um encontro com ela lá no Empire State Bulding – ele pede que ela o encontre lá…
O final do filme é lindo. Foi emocionante ver a Clara pela primeira vez (interpretada por Thaila Ayala), com uma direção perfeita enquanto ela se aproxima dele e a imagem vai desembaçando para revelar o seu rosto… naquele momento, entendemos tudo, aquela conversa que precisava acontecer. Clara o ama, “nunca amou ninguém como o ama”, segundo sua mensagem na secretária eletrônica, mas ela conseguiu um emprego incrível em Nova York, e Virgílio não queria que nada mudasse… ele achava que estava bem morando em sua casa e ela na dela, e mudar-se para outro país, rumo ao “desconhecido”, então, nem pensar. Se ele recusou até um aumento de salário porque já tinha as planilhas prontas até 2025… foi dura aquela cena de flashback, foi triste, e nós finalmente entendemos a Clara – naquele momento, ela estava certa.
E se ele não estava pronto para mudar agora…
Por um momento doloroso eu achei que seria isso, eu achei que Virgílio não teria mudado, que ele ia “voltar para a sua vida de sempre”, mas já era tarde para isso – e ele não queria mais isso. Ele finalmente entendeu porque tinha bloqueado as memórias de Clara (em parte porque se sentia mal por isso), e entendeu que estava errado, que sua obsessão para que nada mudasse não fazia sentido se a sua vida não tivesse mais a Clara… e, em um discurso lindo, apaixonado e apaixonante, depois de correr atrás de Clara pela cidade de Nova York, Virgílio diz para ela que a única coisa que ele não quer que mude na sua vida é ela… a única coisa que ela quer até o fim de sua vida. AQUILO FOI TÃO LINDO, E ME DEIXOU TÃO FELIZ! Amei demais o filme, é uma comédia romântica incrível e apaixonante… terminei já com vontade de assistir de novo!
<3

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