Black Mirror 2x01 – Be Right Back
Wow! Que estreia mais “Humans”!
QUE EPISÓDIO
MARAVILHOSO! Particularmente, eu não acho que seja um episódio tão
surpreendente e atormentador quanto “The Entire History of You”, que o
precedeu (encerrando maravilhoso a primeira temporada e me deixando
profundamente pensativo), mas isso é
provavelmente porque “Be Right Back”
me faz pensar muito em “Humans” – o Domhnall
Gleeson e sua atuação, inclusive, me remetem a alguns atores de “Humans”, como o maravilhoso Will Tudor.
Na estreia da segunda temporada de “Black
Mirror”, conhecemos Martha, uma mulher que precisa enfrentar a perda do seu
marido e, logo em seguida, descobrir que está grávida dele… o episódio fala de
luto e de fuga da realidade através das tecnologias de uma maneira inteligente
e perturbadora – especialmente porque sabemos que muito do que vemos no
episódio é real e que muitas pessoas acabariam tomando a mesma decisão que a
Martha.
É saudável?
Não é? Adoro como “Black Mirror” nos
deixa pensativos.
O casamento
de Martha não era a melhor coisa do mundo
– mas também não era a pior. Acredito que Ash era apaixonado por ela à sua
maneira, mas também era distante e assombrado por fantasmas de sua própria
história, enquanto se refugiava no celular, às vezes com coisas tolas, mas que,
de certo modo, o distanciavam do mundo real, da esposa… o que é bem irônico,
porque, se pensamos sobre isso, isso é algo que sempre incomodou a Martha em
seu marido, mas é exatamente o que ela faz quando tem a oportunidade de “tê-lo
de volta” (de uma maneira estranha). E eu, sinceramente, não sou capaz de
julgá-la, porque é fácil fazê-lo do lado de fora, mas não sei como seria estando em sua pele… porque ela perde o
marido, que era tudo o que ela tinha, e logo em seguida acaba descobrindo que
está grávida, e uma amiga a inscreve num
programa.
O programa é
uma inteligência artificial ainda em teste que vasculha a internet atrás de
tudo o que a pessoa postou publicamente: comentários
no Facebook, tweets, tudo que puder ajudar a compor um “personagem”. Assim,
quando Martha acaba agindo impulsivamente e resolve “testar” o programa, ela
manda uma mensagem para “Ash” e ele responde… exatamente da maneira como o Ash de verdade faria, porque eles usam as
informações disponíveis online para recriar seu modo de falar e tudo o mais…
faz sentido, é assustadoramente real. Mas,
também, perigoso. Desse primeiro contato por mensagens na tela do
computador (inclusive, só quero deixar registrado que eu queria muito um computador como o de Martha!), eles passam para o
“passo seguinte” quando Martha diz que “queria poder conversar com ele de
verdade”, e ele diz que pode.
Ela envia,
então, todos os vídeos e áudios que tem do marido, e o “Ash”, logo em seguida,
liga para ela… é assustador ouvir a sua
voz, sentir que ele está conversando com ela, mesmo que não seja ele de verdade
– mas parece tão real. Tanto que Martha acaba se refugiando nisso e fugindo
de todo o resto. Ela não visita mais ninguém, ela não atende ligações nem da
própria irmã, e passa o tempo todo
falando com “Ash”, de uma maneira doentia. Gosto muito de como o episódio
consegue mostrar o problema disso
tudo, se já não fosse claro o suficiente, naquela cena em que Martha vai fazer
um ultrassom e mostra o bebê para “Ash”. Quando
está saindo do consultório, empolgada, ela derruba o celular, e o desespero que
toma conta dela por passar alguns minutos sem falar com ele, com medo de
perdê-lo para sempre, a coloca à beira de uma crise séria.
As coisas,
então, ficam ainda mais graves… ela fala sobre a fragilidade dele, e ele apresenta uma nova possibilidade, e é aí
que entramos numa vibe meio de “Humans”
(que, por sinal, eu adoro, uma das minhas séries favoritas… se você ainda não
viu, veja, é maravilhosa!), quando Martha recebe, em casa, uma caixa com um
sintético – depois de ver “Humans”,
não tem outro nome que eu possa dar a esse “Ash” além de “Synth”. Tudo fica mais macabro, mais doentio e mais perigoso
quando ela ativa o sintético e ele toma exatamente
a forma de Ash – o modo de falar, o rosto, o corpo, e tudo parece tão assustadoramente real… e Martha
embarca nessa fantasia louca, que envolve ter o marido conversando com ela,
respondendo às suas perguntas (provavelmente com mais atenção do que fazia
quando vivo) e até transando com ela em
uma noite espetacular.
Seria
perfeito… se não fosse tudo falso. E,
no fundo, Martha sabe disso, e são os pequenos detalhes que o distanciam de Ash
que a recordam, constantemente, que ele não é real. Uma pinta que Ash tinha na
clavícula e o sintético não tem; o fato de ele sair sem reclamar quando ela o
expulsa do quarto; tudo é um pouco apavorante, e Martha tem uma cena incrível
batendo no sintético, reclamando que ele não está reagindo, porque aquilo tudo
é a prova de que ela está vivendo uma mentira, e então ela acaba tentando se
livrar dele… mas sem querer fazê-lo de
verdade. Ela o leva para um penhasco e pede que ele pule, mas “Ash”
protesta, diz que o verdadeiro Ash não tinha nenhum registro de ideação
suicida, mas ele quase pula quando ela manda que ele o faça… até que ela manda que ele proteste, que ele
chore, e então ela não tem coragem.
O episódio é
MARAVILHOSO, do início ao fim. É impressionante o que “Black Mirror” consegue construir em 48 minutos, e como consegue
nos envolver, curiosos para saber o que veremos em seguida… mas o que mais nos
marca na série é a maneira como ela nos faz pensar: “O que faríamos no lugar de Martha?” No fim, Martha não tem coragem
de realmente se livrar de “Ash”, o sintético, e temos uma cena bizarra e com um
quê melancólico para encerrar o episódio, anos depois, quando vemos Martha já
com uma filha crescida, pedindo um pedaço
extra de bolo para levar até o sótão – onde Ash continua vivendo, esses
anos todos. Nos perguntamos, então, que tipo de vida Martha está levando nesses
anos, o quanto isso custou para ela e se essa criança está também sendo
prejudicada… é um episódio interessantíssimo, e uma ótima estreia para a
segunda temporada!
Que venham
os próximos…
“White Bear” é, para mim, um dos
episódios mais emblemáticos da série!
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