Depois Daquela Festa (2018)
“[…] você também não tem motivos pra se esconder, pai”
UM CURTA LINDÍSSIMO E EMOCIONANTE – “Depois Daquela Festa” é um curta brasileiro (com roteiro de Lucas Drummond e Mel Carvalho, e direção de Caio Scot) que trata com sensibilidade e competência não apenas da homossexualidade, mas de relações familiares, subvertendo uma trama já conhecida de filmes do gênero ao apresentar algo diferente do que normalmente vemos: um filho que descobre que o pai é gay. O curta está ganhando o mundo em vários festivais e prêmios merecidíssimos, dentre eles o prêmio de Melhor Curta Internacional no Outflix Film Festival e no Out on Film, um Prêmio de Excelência no IndieFEST Film Awards, um prêmio de Melhor Ator a Lucas Drummond no Festival de Cinema de Campina Grande (EU FICO TÃO FELIZ POR ELE!) e, mais recentemente, o prêmio do público de Melhor Curta no Connecticut LGBTQ Film Festival.
“Depois Daquela Festa” conta a história
de Léo, um rapaz que, ao ir a uma festa com sua melhor amiga, acaba vendo seu
pai beijando outro homem… e ele não sabe
o que fazer. Primeiro, ele precisa saber como ele se sente em relação a isso
(Carol pergunta se ele está incomodado porque o pai é gay ou porque ele não contou), e descobre, depois, que
não vai poder continuar conversando com o pai fingindo que não sabe o que agora
sabe… por isso, ele precisa encontrar a “maneira
perfeita” de dizer para o pai que sabe seu segredo. Mas, spoiler da vida: não existe essa coisa de “maneira perfeita”.
E devemos comentar que a paranoia de Léo é totalmente compreensível: sendo gay,
eu sei ser gay, mas estaria na mesma
situação de Léo, sem saber como reagir, se descobrisse que meu pai é gay. É impressionante como “Depois Daquela Festa” consegue contar uma história tão bem e
passar tantos sentimentos diferentes em
apenas 15 minutos.
A primeira
reação de Léo é de choque (eu ri BASTANTE com o “Agora, por sua culpa, meu pai é gay”), e depois ele fica
totalmente obcecado por isso… ele pesquisa na internet, ele passa a noite
inteira acordado, ele pede a ajuda de Carol para saber como conversar com o
pai, e ele ensaia uma cena completa em sua cabeça durante o almoço de domingo –
mas as conversas da vida real nunca
acontecem como a previmos; e Léo já fica totalmente desestabilizado quando o
pai coloca à mesa strogonoff, ao invés da regular lasanha de domingo, com a
qual Léo já tinha ensaiado. É uma coisa pequena, que não devia importar, mas é
a maneira perfeita de expressar toda a insegurança de Léo em como conversar com
o pai, e cada tentativa frustrada dele de voltar ao “roteiro” que ele planejou em
sua mente me fizeram rir de puro nervoso desconfortável, de vergonha alheia.
Por fim, Léo
encontra a maneira de contar ao pai que estava
na mesma festa que ele, na noite anterior, e que, portanto, o viu beijando
outro homem – e toda aquela sequência final, da conversa de Léo e o pai, é
lindíssima. Léo faz um paralelo inteligente com um evento de sua infância no
qual o pai lhe ensinou que “ele não tinha feito nada de errado e que não tinha motivos para se esconder” para
dizer a mesma coisa para o pai agora… o diálogo maravilhosamente bem escrito e
a atuação brilhante de Lucas Drummond e Charles Fricks dão à cena toda a carga
emotiva que ela pedia, e o resultado é um momento belo e sensível que começou
me arrepiando e terminou me levando às
lágrimas. Não estava preparado para chorar assistindo ao curta, mas a
verdade é que “Depois Daquela Festa”
me tocou profundamente, então eu chorei…
Amei Léo e o pai abraçados no fim.
A ideia de “Depois Daquela Festa” é tão bela, necessária
e diferente do que estamos habituados a ver. Eu adoro histórias com
protagonistas LGBTQ+, mas é muito mais comum vermos alguém jovem em sua jornada
de autodescoberta e a aceitação (ou não) dos pais do que o caminho inverso, e é
o que o curta brasileiro dirigido por Caio Scot e com roteiro de Lucas Drummond
e Mel Carvalho propõe: um pai se
descobrindo gay, se conhecendo, buscando a aceitação do filho ou se escondendo
por temer não consegui-la. Tiro um espaço do texto para elogiar o talento e
o carisma incríveis de Lucas Drummond, que tive o prazer de assistir ao vivo no
teatro e conversar pessoalmente depois: Lucas atua, canta (pelo menos no teatro!), escreve e emociona, além de ser
extremamente simpático e atencioso com quem acompanha seu trabalho… parabéns,
Lucas Drummond! Você merece todo o sucesso que o futuro reserva para você!
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