Sítio do Picapau Amarelo (1978) – Memórias de Emília: Parte 2



“Estalac- o quê? […] Mas são palavras tão bonitas!”
UM GOLPE NO REINO DAS ÁGUAS CLARAS. Como eu comentei no meu último texto, eu amo “Memórias de Emília”, porque eu amo toda a brincadeira que essa história representa… com ela, podemos reviver momentos icônicos do “Sítio do Picapau Amarelo”, como a primeira visita ao Reino das Águas Claras, o dia em que a Emília tomou uma pílula falante e desandou a falar, a criação do Visconde de Sabugosa, a visita do Anjinho da Asa-Quebrada, mas não sabemos ao certo que parte é verdade e que parte é inventada… Emília coloca alguns “dados reais” permeados por invencionices divertidíssimas que nos rendem uma história nostálgica e, ainda assim, inédita. Como a visita dos Piratas do Capitão Gancho e da Cuca (!) ao Reino das Águas Claras, quando o Príncipe Escamado acaba perdendo o seu trono porque está ocupado fazendo festas…
O Capitão Gancho fica encantado quando a Dona Carochinha o leva até uma gruta repleta de tesouros que pertencem ao Príncipe Escamado, e a história ainda nos proporciona alguns momentos interessantes em que deixamos de lado as Memórias da Emília para ganhar conhecimento – graças a um comentário feito pelo Pedrinho lá no Reino das Águas Claras, sobre a Atlântida, Emília e Visconde acabam parando de escrever para que a Dona Benta possa explicar sobre a Atlântida, e é tão bom ver a vovó contando histórias e lendas sobre a cidade perdida… e Emília faz uma verdadeira bagunça, misturando histórias e fatos, indo de um lugar a outro sem uma organização, o que é um pouco cansativo para o Visconde. Ela está contando sobre o Capitão Gancho na gruta do tesouro, por exemplo, ao mesmo tempo em que conta sobre como começou a falar.
E EU AMO AS PRIMEIRAS FALAS DA EMÍLIA.
A Emília de Reny de Oliveira, sempre encantadora, fala sem parar e eu amo o seu discurso a respeito de nomes… como ela não gosta de nomes curtos e simples como “Maria” ou “José”… ah não, ela gosta de nomes como Belerofonte, Nabucodonosor, e ela só para de falar quando o Príncipe Escamado interrompe o falatório com a notícia de que o Reino das Águas Claras foi invadido: “Estão todos lá na gruta do tesouro. Homens armados com pistola e chapelões na cabeça!” Narizinho e Emília imediatamente se dão conta de que só podem ser piratas, e eles precisam fazer algo… mas o Príncipe gosta de festas, e não de guerras, por isso ele quer deixar que alguém cuide disso em seu lugar, enquanto planeja a festa daquela noite – e todo o Reino discute para ver quem vai “olhar a guerra”, porque todo mundo está mais interessado na festa…
“Viram que amolação? Tinha que rolar uma guerra em dia de festa?”
O Capitão Gancho, ambicioso, planeja tomar o Reino para si (“Dom Gancho I e Único. De pirata a imperador!”), enquanto o Pequeno Polegar, escondido dentro do baú, encontra companhia – a pequena Sininho, interpretada por Isabela Garcia, o que faz tremendo sentido: afinal de contas, o Capitão Gancho tinha uma raiva tremenda de Peter Pan e seus companheiros, então ele capturou a Sininho como vingança. Pedrinho, curioso com o baú, tenta abri-lo para libertar o Pequeno Polegar e a Sininho, mas o Capitão Gancho acaba o descobrindo a tempo… Narizinho e Emília, por sua vez, decidem tomar o assunto da guerra nas próprias mãos, porque, aparentemente, ninguém mais vai fazê-lo: elas dizem que eles podem ficar pensando na festa, elas vão resolver o problema. E a Emília é toda nobre e tudo o mais – pelo menos na forma como ela conta a história.
Então, a Emília consegue passar pelos guardas reais na gruta dizendo “O Príncipe está chamando”, porque sabe que ninguém vai perguntar nada, simplesmente vão obedecer… afinal de contas, “peixes são animais bobos”. Enquanto isso, o Capitão Gancho, que estava preocupado com os guardas do reino na porta da gruta, deixa que a Dona Carochinha vá buscar ajuda – e ela diz que pode trazer OUTRA BRUXA para ajudá-lo… e vai buscar a ajuda da Cuca. Visconde protesta nesse momento e deixa de escrever, dizendo que isso tudo é um absurdo e que agora a Emília “resolveu misturar tudo colocando a Cuca no fundo do mar”. Visconde e Dona Benta dizem que “nenhuma narrativa nunca registrou isso”, mas Emília é decidida: a sua vai registrar; ninguém nunca contou porque nunca viu, mas ela viu – “O dia em que a Cuca foi pro fundo do mar ajudar a Carochinha”.
E A HISTÓRIA SÓ FICA MAIS INTERESSANTE.
A história do Reino das Águas Claras é toda emotiva e divertida por causa da nostalgia, mas não é mesmo a melhor história do “Sítio do Picapau Amarelo”, e a Emília dá muito mais emoção aos acontecimentos, colocando “novidades” como a Cuca no fundo do mar… Dona Benta sugere que a Emília escolha outra criatura mágica, um monstro que seja do mar mesmo para colocar no seu livro, porque “assim é mais fácil de acreditar”, mas Emília dá um dos seus divertidos chiliques e volta a dizer que as memórias são dela e vai ser do jeito que ela quiser… quem quiser acreditar, que acredite, que não quiser, que não acredite, ela não está nem aí… e, além do mais, já tem muita gente ali dando palpite nas suas memórias, então ela coloca todo mundo para fora, deixa apenas o Visconde, seu secretário, e volta a contar a sua história com os piratas…
Faladeira e esperta, a Emília é MARAVILHOSA enganando o Capitão Gancho – ela diz que o Príncipe está tranquilo lá no palácio com os seus outros tesouros, provocando o pirata, com todo um plano armado na cabeça… um plano que o Pedrinho parece não entender, e ele ainda fica inconformado por ela ter fingido que não o conhecia, mas Emília só está tentando enrolar o pirata. Ela diz que o Príncipe está disposto a deixá-lo escolher entre os dois tesouros (o da gruta e o do palácio), se ele devolver o Pedrinho, mas ela não deixa o Pedrinho dizer seu nome, para que o Capitão Gancho precise levar seus dois prisioneiros (ele e o Pequeno Polegar), para o Príncipe “escolher quem é o Pedrinho”. Toda a sequência é divertidíssima, e Reny de Oliveira é mesmo um primor no papel da boneca de pano falante… ela me faz rir com cada fala sua e é um máximo.
“Cala a boca, Peri Peixoto!”
COMO EU RI COM ESSA FALA!
Carochinha, por sua vez, vai à mata em busca da Cuca, E É A PRIMEIRA VEZ QUE VEMOS A CUCA NESSA HISTÓRIA – e não tem como não amar a Cuca. Quando a Dona Carochinha começa a falar sobre o Reino das Águas Claras e o Príncipe Escamado, Cuca diz que não quer ir ajudá-la, porque essas coisas de príncipe e castelo é “coisa de bruxa granfina”, e ela não acha graça nenhuma nisso… o negócio dela é saci, boitatá… mas a baratinha a engana para que ela se case com o Capitão Gancho, dizendo que ela pode ser rainha e tal, e a Cuca fica interessada nas histórias do perverso pirata… é o tipo de homem para ela mesmo. O plano é destronar o Príncipe Escamado, colocar o Capitão Gancho no poder e pegar o Pequeno Polegar de volta… agora, você já imaginou? O CAPITÃO GANCHO SE CASANDO COM ALGUÉM QUE TEM, JUSTAMENTE, CARA DE JACARÉ?!
Enquanto isso, fora da história da Emília, o Sítio recebe uma visita: O ANJINHO DA ASA QUEBRADA, que veio visitar, embora a boneca não queira sair para vê-lo agora, dizendo coisas como “Um menino com asa? Mas quem mandou ele vir, não tá na hora dele ainda! Eu tô contando a história da Cuca!” e “Mas eu tô muito ocupada. Se eu interrompo meu trabalho pra receber visitas, eu nunca termino minhas memórias!” Então, o Anjinho da Asa Quebrada é recebido com muita saudade pela Tia Nastácia e pela Dona Benta, que ficam felicíssimas em vê-lo de volta no Sítio do Picapau Amarelo, mas Emília está “ocupada demais” e diz que não pode ir vê-lo, não agora… afinal de contas, contra todos os comentários que diziam que “ela desistiria logo”, Emília está mesmo determinada a terminar essas memórias… e nós estamos amando cada segundo!
<3


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