Artemis Fowl (2020)

“I am Artemis Fowl. I’m a criminal mastermind”

Eu sempre amei “Artemis Fowl”. O primeiro livro da série de Eoin Colfer, “Artemis Fowl: O Menino Prodígio do Crime”, apresentava um anti-herói interessantíssimo, um gênio do crime ambicioso, inescrupuloso e capaz de qualquer coisa para roubar o ouro das fadas… Eoin Colfer contou a história de Artemis Fowl (e seu crescimento, suas mudanças, seu amadurecimento) ao longo de oito livros incríveis – com a melhor parte da saga, a meu ver, estando entre o terceiro e o quarto livro. Devo ter lido os primeiros livros em 2009, mais ou menos… tanto é que o primeiro livro me causou uma impressão tão grande que foi de lá que veio a ideia para nomear o blog: “Parada Temporal”, em homenagem às torres de parada temporal colocadas em volta da Mansão Fowl no primeiro livro, para que a LEPrecon pudesse recuperar Holly Short, a fada que Artemis captura.

Infelizmente, o filme não é o que eu esperava… se repete a história de “Percy Jackson”, por exemplo, que ganhou um filme que foi distante do livro, não soube agradar àqueles que já eram fãs do material original e, portanto, deu origem a uma franquia que não foi para a frente. Agora, “Percy Jackson” vai ganhar uma segunda chance em forma de série, mas embora o Disney+ esteja tentando consertar isso para uma franquia, os mesmos erros foram cometidos na estreia de “Artemis Fowl”, que provavelmente não vai para a frente como franquia cinematográfica… eu já assisti ao filme ressabiado, e senti uma estranha mudança no tom da história, além de algumas incoerências que distanciam o filme do livro de Eoin Colfer – eu só espero que o personagem e o universo, que são tão incríveis, não fiquem para sempre marcados só pelo filme…

Leiam o livro!

Não quer dizer que eu não tenha gostado do filme, porque ele é legalzinho… acho que tivemos acertos muito bons, especialmente em relação ao visual… a Mansão Fowl é sensacional, o ator escolhido para ser o Artemis passa a vibe do personagem, embora mal explorado, e a cidade das fadas ficou lindíssima; além disso, devo elogiar a questão da parada temporal, que não acontece por torres, como no livro, mas que foi modernizada sem perder a essência do original, e ficou muito bem representada. Mesmo com esses acertos, acho que o filme peca em nos cativar – são vários elementos que são apresentados depressa, misturando elementos de “O Menino Prodígio do Crime”, “Uma Aventura no Ártico” e “A Vingança de Opala”, e, com isso, faltou tempo para a construção dos personagens e para que o público aprendesse a realmente se importar com cada um deles.

O Artemis certamente não é o que eu imaginei – embora eu veja em Ferdia Shaw o potencial para ser um bom Artemis Fowl, o roteiro não o ajudou, construindo um Artemis que estava mais por fora dos “negócios da família”. O primeiro livro começa com o sequestro de Holly Short para que ele consiga colocar a mão no ouro das fadas, e é só aos poucos que vamos descobrindo as nuances de suas ações, todas muito bem calculadas. O início do filme me incomodou ao mostrar um Artemis alheio a tudo, que é jogado nesse universo quando o pai desaparece, com o Butler tendo que lhe explicar umas coisas… gostaria de ter visto o Artemis mais frio do primeiro livro, dando ordens e, aparentemente, não pensando em ninguém – embora ele pensasse e fossem momentos interessantes da leitura, em que percebíamos um Artemis menos frio por baixo de toda a sua atuação.

Assim, o filme não dá ao Artemis e à Holly o protagonismo necessário, porque temos o pai sequestrado, a Opala fazendo sua primeira aparição antecipada e o filme acaba focando numa criação própria, o Áculos (que não aparece em nenhum dos 8 livros de Eoin Colfer), se tornando uma aventura em busca de um artefato perdido… no melhor estilo “A Lenda do Tesouro Perdido”. No filme, esse poderoso artefato foi “roubado” do povo das fadas há muitos anos, e descobrimos que quem o pegou foi Beechwood Short, o pai de Holly Short, e ele o entregou ao Artemis Fowl Sir, para que ele o protegesse de “cair em mãos erradas” – no caso, Opala. Agora, Opala mantém Artemis Fowl Sir prisioneiro, exigindo o Áculos em troca, Artemis Fowl Jr. quer encontrar o Áculos para poder salvar o pai, Holly quer limpar o nome do próprio pai, considerado um traidor, e o povo das fadas quer recuperar seu artefato.

A aventura é quase inédita, com influências do livro, como toda a questão da parada temporal e a magia de Holly Short salvando o Butler, bem como alguns momentos que eu acho que conseguiram representar bem o que lemos nas páginas, como Mulch Diggums cavando túneis ou a maneira como o povo das fadas vem para a superfície usando aquelas cápsulas impulsionadas por lava… o filme consegue ser divertido e proporcionar um bom entretenimento, mas é raso e esquecível e, por isso, não tem futuro como uma franquia… não assim, como ele foi feito. Uma pena, porque o universo de Eoin Colfer poderia render ótimas histórias no futuro, e eu adoraria assistir a uma adaptação de “O Paradoxo do Tempo”. Eoin Colfer misturou “contos de fadas” com a mais alta tecnologia, contando uma história moderna e diferente, repleta de referências e brincadeiras inteligentes, que não conseguiram ser transpostas ao filme.

 

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