O Garoto da Casa ao Lado (Meg Cabot)

 

Como uma colunista de fofocas pode descobrir uma grande reportagem? Melissa Fuller, uma garota solteira em Nova York, está prestes a perder o emprego no New York Journal por chegar atrasada pela 37ª vez. Isso porque ela teve de levar para o hospital Helen Friedlander, sua vizinha milionário de oitenta anos, que entrou em coma após sofrer uma misteriosa agressão dentro do seu apartamento.

Certa de que esta ocorrência é um gancho para uma matéria sobre as velhinhas indefesas de Nova York, Mel tenta convencer seu editor a publicar a história. Mas tudo o que ela consegue é ficar tomando conta dos dois gatos e do cão dinamarquês que ficaram sem a dona, e entrar em contato com o sobrinho da Sra. Friedlander, Max Friedlander, um fotógrafo bon vivant que só tem olhos para supermodelos.

 

“E, a propósito, a resposta é sim”

QUE LEITURA MAIS GOSTOSA! Sempre inovando das melhores maneiras possíveis, Meg Cabot tem um dos seus maiores êxitos em uma deliciosa novidade para a literatura. Mas antes de entrar nisso, vamos falar da história! Dessa vez, não temos uma protagonista adolescente. Melissa Fuller é a redatora da Página Dez no New York Journal, a coluna de fofocas do jornal. Por isso ela está tão preocupada com a Winona Ryder o tempo todo, ou com quem anunciou casamento, quem se separou entre as celebridades… enfim. E sua vida sofre uma mudança drástica quando, certa manhã, Mel descobre sua vizinha (a Sra. Friedlander) desmaiada em seu apartamento depois de levar uma pancada. É claro que isso não podia ser deixado de lado. Assim, Mel acaba constantemente atrasada para o trabalho enquanto leva Paco, o cachorro da Sra. Friedlander, para passear e cuida de seus gatos, o Sr. Botucas e o Chico Bum (Chico Bam não está mais entre nós). Mas as coisas mudam ainda mais quando o “sobrinho” da Sra. Friedlander se muda para o apartamento ao lado para que possa cuidar de seus animaizinhos de estimação…

Bem, a grande sacada do livro: ELE É INTEIRAMENTE ESCRITO ATRAVÉS DE E-MAILS! Eu acho que isso é uma novidade incrível (e pense ainda que o livro foi escrito em 2002 – eu o li em 2009, e o reli agora), e permite uma dinâmica muito diferente. Sem ser, de fato, uma narrativa direta, a autora consegue alternar entre as vozes de diversos personagens e, com isso, parece nos fazer conhecer cada um deles intimamente. Dá vontade de ler mais livros no estilo. Ainda bem que ela mesma já nos proporcionou isso! Assim, começamos com Melissa Fuller recebendo um e-mail do RH do The New York Journal, por seu 37º atraso, enquanto as outras pessoas ficam mandando e-mails a ela perguntando onde ela está, como Nadine Wilcock e George Sanchez. Sua melhor amiga e seu chefe, respectivamente. Acontece que a ausência de Mel Fuller, tanto no trabalho quanto na frente do computador para responder aos e-mails é uma maneira incrivelmente inteligente de mostrar que ela não está em casa, está encontrando a Sra. Friedlander e levando seu cachorro para passear.

Eu não vou me cansar de elogiar a perfeita novidade!

A escrita em e-mails (sem nenhuma divisão de capítulos), evidentemente, proporciona uma leitura fluída. Você começa e só quer parar de ler quando o livro chegar ao fim. Os e-mails são convidativos para que você continue. As vozes se alternando são perfeitamente divertidas. Cada personagem, naturalmente, fala de um jeito diferente, e Meg Cabot precisou ser eficaz em pensar em cada personagem, na sua personalidade, e reproduzi-la na maneira como eles escrevem e-mails. Melissa Fuller. John Trent. Max Friedlander. Stacy Trent. Jason Trent. Dolly Vargas. Nadine Wilcock. George Sanchez. Amy Jenkins. Aaron Spender. Tim Grabowski. Tony Salerno. Don e Beverly Fuller. Genevieve Randolph Trent. E assim por diante. Eu me diverti particularmente com os e-mails de Dolly e de Tim. Eu ri muito dos P.S. de Stacy e de Jason. Eu adorava o tom de Genevieve (Mim). Eu ri com a pressão de Don e Beverly para que Mel se casasse. Adorava a intensidade de Nadine. Tudo é extremamente cativante na leitura de O Garoto da Casa ao Lado.

Meg Cabot, incrível e atenta aos detalhes, pensou em tudo. Por vezes, o próprio cabeçalho do e-mail era uma piada à parte. Como Stacy Trent (euodeiobarney@freemail.com) e, mais tarde, quando as gêmeas fazem o email delas (nosamamosbarney@freemail.com). É o tipo de coisa que caracteriza bem a escrita bem-humorada de Meg Cabot, e que nunca falha em nos fascinar. Acho que os e-mails também é uma maneira excitante de criar o suspense. Como quando Mel e John saem em um encontro e nós passamos várias páginas sem ter manifestação nem de um nem de outro. Apenas as pessoas perguntando como é que foi. A Nadine e todo o pessoal do NY Journal perguntando para a Mel. O Jason perguntando para o John. E isso é fascinante! Tudo é muito divertido, muito gostoso de ler, cada e-mail é particular. Ah, claro, e Meg Cabot não cansa das ironias, abundantes durante o livro, que são sempre alguns dos momentos mais engraçadas. A leitura te envolve, faz com que você se apaixone…

E te carrega com ela.

 

Para: Tony Salerno <rango@fresche.com>

De: Nadine Wilcock <nadine.wilcock@thenyjournal.com>

Assunto: Mel

 

[…]

 

Nad

 

P.S.: Tem só uma lingerie com a qual precisava estar se preocupando, moço, e é a minha. O que a Mel Fuller usa na cama é problema dela. E fui eu quem comprou pra ela o tal pijama de vaca no último aniversário dela. Achei original.

 

(CABOT, 2006, p. 181)

 

A trama do livro também é igualmente envolvente. Melissa Fuller tenta entrar em contato com Max Friedlander, o sobrinho de sua vizinha, para que ele possa vir cuidar dos animais enquanto ela está em coma. Mas acontece que Max Friedlander está em Key West com uma supermodelo, a Vivica, e não quer voltar, então cobra um favor de um antigo amigo de faculdade, o John Trent, e pede que ele vá fazer isso por ele e se passe por Max Friedlander. Parecia tranquilo e inofensivo, mas John Trent não sabia que ele ia se apaixonar por Melissa Fuller, a vizinha da Sra. Friedlander. E a cada momento bom que eles passam juntos, cada experiência que compartilham, os dois se envolvem mais e John sabe que será cada vez mais difícil dizer a verdade a ela. ENTÃO, O QUE FAZER? Mas ele não pode evitar. Melissa Fuller é uma fofura, ela é envolvente. E ELA É RUIVA. John Trent tem uma queda por ruivas, que ficou muito claro desde antes de ele conhecer a Mel, com aquela mulher com quem ele quase se casou em Las Vegas, mas foi impedido por Max Friedlander. Eis o tal favor que ele estava devendo.

 

Para: Jason Trent <jason.trent@trentcapital.com>

De: John Trent <john.trent@thenychronicle.com>

Assunto: Como foi tudo?

 

Ela é ruiva.

Socorro.

 

John.

 

(CABOT, 2006, p. 72)

 

Mas eles foram feitos um para o outro. Quer dizer, apesar de ela trabalhar no The New York Journal e ele trabalhar no The New York Chronicle, que são jornais rivais, eles são muito parecidos. Os dois adoram uma calamidade natural, por exemplo [?] Olha a sensação que é quando uma cratera imensa se abre em frente ao Chronicle! De todo modo, eles vão se envolvendo, Mel passa a chamar o “Max” de John (é um “apelido”), e ela não consegue entender porque as pessoas falam tão mal assim de “Max Friedlander” – um mulherengo, só sai com supermodelos, o lance do gelo no bico dos seios –, afinal de contas “John” parece uma ótima pessoa. E seus amigos, quando finalmente conseguem conhecê-lo, precisam admitir que ela tem razão. Embora Nadine sempre tenha tido um pé atrás. Mas é gostoso demais acompanhar o romance e as impressões postas nos e-mails. Ou não postas, quando surge uma troca incessante de e-mails entre outras pessoas e nós não sabemos o resultado do encontro de Melissa Fuller e John Trent.

As 24 horas mais cheias de tesão que ele jamais teve na vida.

 

Para: Nadine Wilcock <nadine.wilcock@thenyjournal.com>

De: Mel Fuller <melissa.fuller@thenyjournal.com>

Assunto: Obrigada

 

Obrigada, obrigada, obrigada!

John me contou que ligou e que você disse que eu estava de cama. Então sabe o que ele fez? Francamente, não quero deixá-la de estômago embrulhado, mas estou morrendo de vontade de contar a alguém, então escolhi você como vítima.

[…]

 

Mel

 

(CABOT, 2006, p. 175-177)

 

Há, por fim, o grande momento de tensão do livro, a grande virada para a preparação para o clímax, depois que John Trent e Melissa Fuller estão completamente envolvidos e apaixonados (ela até exibe orgulhosamente a assadura de barba no queixo, no trabalho, e eles trocam e-mails de declaração de amor ao estilo Princesa Leia e Han Solo em Star Wars): ela descobre que “John” não é “Max Friedlander”, porque Vivica lhe manda um e-mail. E é perfeito! Tudo desanda lentamente, mas quando você percebe: BUM! Mel não quer mais falar com John. John fica tentando ligar, mandar e-mail, mandar flores. Aaron e John brigam no Journal. Uma verdadeira confusão e, preciso dizer, é muito divertido. Porque é deprimente como o John reage, com o anel que tinha comprado para pedi-la em casamento depois de contar toda a verdade em um fim de semana em Vermont, dizendo como destruiu a sua vida. Mel é irredutível, mas não consegue não se importar. Embora seja divertidíssima escrevendo aquela coluna sobre como John Trent, um milionário cobiçado, está entrevistando garotas para conseguir uma noiva! Maldosa. E as pessoas precisam se mobilizar. Todo mundo que ama a Mel ou o John. Nadine. Stacy. Mim.

É fabuloso, deveras fabuloso. E Mel Fuller perdoa John Trent por três motivos: 1) porque ela o ama e não pode negar isso; 2) porque a Stacy Trent reenvia vários e-mails que o John mandou pra ela sobre a Mel para a própria Mel, e é mesmo muito bonito e comovente; e 3) porque Mel precisa de ajuda para desmascarar Max Friedlander, aquele responsável pela pancada na cabeça da própria tia, e que está pensando em matá-la com uma injeção de insulina no meio dos dedos dos pés, no hospital. É muito bom vê-los trabalhando juntos para pegar o Max, e é particularmente gostoso ler a matéria no jornal em que Mel testa seus dons para repórter, ao invés de colunista, e narra deliciosamente a maneira como Max Friedlander foi desmascarado e pego, com a ajudinha de uma pancada de laptop que a própria Mel deu nele para impedi-lo de fugir pela escada de emergência. Wow. Eu bem que queria ler mais sobre como deu tudo certo entre John e Mel, mas nós conhecemos os dois, conhecemos o casal e conhecemos o amor…

O resto fica para a imaginação.

LEITURA DELICIOSA e perfeitamente RECOMENDADA.

 

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REFERÊNCIA: CABOT, Meg. O Garoto da Casa ao Lado. 7ª edição. Rio de Janeiro: Record, 2006.

 

 

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