Rubí (2020) – As despedidas de Hector



“Adeus”
Eu juro que não esperava isso… Hector é um dos melhores personagens de “Rubí (2020)”, de longe. Ele é um desgraçado violento e queríamos vê-lo sofrer e pagar por seus crimes, mas a escrita e o desenvolvimento do personagem são fenomenais… é provavelmente o personagem melhor construído, e a atuação de Rodrigo Guirao foi brilhante, fazendo com que sentíssemos nojo do personagem e, ocasionalmente, medo. O que eu não esperava era que Rodrigo Guirao conseguisse dar ao personagem, depois de tudo, uma carga emotiva tão grande… as últimas informações que ganhamos do personagem não o inocentam de nada, e ele continua sendo “o desgraçado violento” de sempre, mas percebemos camadas que nos mostram que ele é mais do que isso e que ele tem um trauma (pesadíssimo) que precisava ter sido tratado.
E não foi.
No capítulo anterior, descobrimos que Hector presenciou a morte dos pais (eles estavam discutindo, e então o pai matou a mãe com um tiro, e depois se matou), e isso foi realmente horrível – agora, a história se repete. Vindo de um lar violento, Hector acaba se tornando o pai violento, mesmo sem perceber… quando percebe, já é tarde demais. Ele chega a dizer que não queria ser como o pai, mas isso é “inevitável”, e então ele acaba tomando uma decisão e desistindo de tudo e parte de mim percebe o quanto isso é triste, no fim das contas… então, ao longo do Capítulo 20 de “Rubí”, Hector visita várias pessoas para fazer suas despedidas e deixar a sua marca, sendo as mais impactantes as visitas a Maribel e a Alejandro. Mas Hector também visita o Príncipe Eduardo, apenas para “avisá-lo” das mesmas coisas que Lucas já o avisara no outro capítulo: que Rubí usa a sua sensualidade para controlá-los, depois tira tudo deles e os abandona… e ele não será uma exceção.
O príncipe não pode seguir ignorando esses “avisos” por muito tempo, porque já foram dois homens que se odeiam falando exatamente a mesma coisa a respeito de Rubí, e Rubí quase pode ver a sua oportunidade de se tornar princesa partir, quando Eduardo passa a ser um pouco mais distante e então lhe dá um ultimato: para que isso entre eles prospere, de fato, ela precisa “limpar a sua vida”, porque ele não quer se envolver com psicopatas. Talvez a “aventura” seja mais rápida do que ambos queriam… e talvez Maribel ainda tenha uma participação nisso, porque ela convida Rubí para uma “conversa”, depois daquela entrevista de Rubí em que ela a detona, e Maribel é inteligente: ela está plena e calma, mas sabe que Rubí vai ser cruel e vai dizer algumas atrocidades (preconceituosas, inclusive), e então Maribel grava tudo… isso pode destruir Rubí.
Eu nem pensava antes de publicar!
Enquanto isso, Cayetano continua preso, e não parece haver nada a ser feito. Quando o jornal publica fofocas a respeito de “Cristina estar atrás de Don Arturo”, Cristina precisa de muito autocontrole para ir falar com Rosa e esclarecer que isso não é verdade, e Rosa continua sendo A MESMA BURRA DE SEMPRE. Se Cristina está implorando que ela retire a queixa para Cayetano sair da cadeia, isso não resolveria o seu problema com o seu marido? Mas ela parece não ver isso. Don Arturo, por sua vez, vai pessoalmente falar com Cayetano e fala de um advogado, mas peca ao falar que “está cuidando de Cristina e Fernandita”, o que enerva Cayetano e o faz dizer que é exatamente isso o que ele não quer… Cayetano diz que sabe muito bem o que ele está tentando fazer, diz que não quer nenhum advogado e nada que tenha qualquer relação com ele…
O problema é que eu temo que isso o faça ficar ali para o resto da vida.
No futuro, um médico atende Frank, enquanto o roteiro investe em um mistério: Rubí diz a Boris que “eles terão visita” e que “a visita não pode saber que o marido de ‘Carla’ está ali”. Toda essa sequência no futuro, agora, está me deixando desconfortável, e eu só queria que Frank sobrevivesse e que “Carla” se livrasse disso tudo e fosse embora… o médico diz que Frank está mal, “mas vai sobreviver”, mas Boris talvez não tenha interesse nisso, e vai lá injetar algo no seu soro… se Boris e Rubí matarem o Frank, quero Fernanda matando a Rubí e é isso! Rubí continua dizendo a “Carla” que ela é bonita, mas que desperdiça a sua beleza e que ela devia ser mais ambiciosa… oficialmente, ela não sabe que “Carla” é sua sobrinha Fernanda, mas cada vez mais me parece que ela sabe sim… quando volta a contar a história, por exemplo, enfatiza que estava triste porque “a irmã não a deixava ver a sobrinha, que era quem mais amava”.
Uhm.
Vamos às visitas de Hector…
Primeiro, Hector vai à fundação de Maribel e ele tem, com ela, uma surpreendente cena emotiva – e naquele momento eu quis acreditar nele. Ele diz que está ali para se despedir, para dizer que “Rubí venceu e ele tem que aceitar”, e então deseja que Maribel possa refazer a sua vida… Hector também diz que o que mais lhe dói é pensar que, com ela, talvez tivesse sido feliz, e os dois acabam chorando. Eu acho que Hector poderia mesmo ter sido feliz se ele tivesse feito terapia devido ao trauma da morte dos pais, e só depois, muito depois, ficado com Maribel… talvez a história fosse muito diferente. Em tom de despedida, Hector diz que precisa que ela o perdoe, e ela o perdoa, dizendo que decidiu viver uma vida sem rancor. Lágrimas até escorrem do rosto dele quando ela diz isso, e então ele pede um último abraço. A abraça e vai embora, dizendo “adeus”.
E parece sincero.
Ele REALMENTE parecia sincero.
Depois, Hector vai à casa de Alejandro, e quando Alejandro abre a porta, ele já lhe dá um soco… ele precisava fazer isso para morrer em paz. Hector dá um soco, Alejandro devolve, e os dois idiotas brigam por um tempo antes de se sentarem no chão, ao lado um do outro, mas distantes… Hector, então, faz a sua despedida com Alejandro. Diz que precisava tirar isso (os socos) da frente antes de tudo, mas então diz a que veio: veio para pedir desculpas. Então, Alejandro diz que lhe deixa a Rubí de presente, e agradece a amizade dele e, principalmente, o que fez pelos seus pais – o flashback do outro capítulo nos mostrou que foi ali, na morte dos pais, que Hector conheceu Alejandro, porque foi ele quem os atendeu no hospital antes de eles morrerem. Tendo dito a Alejandro o que tinha para dizer, Hector se levanta e vai embora, de volta para o escritório.
Por último, então, ele pede que a sua secretária cancele todos os próximos compromissos e tire a tarde de folga. Para total desconcerto dela, ele a agradece, especialmente por aguentá-lo, e diz que gosta dela, mesmo que às vezes não demonstre, e então lhe entrega um envelope cheio de dinheiro… depois ele vai ao bar, bebe, se lembra de tudo o que aconteceu, da morte dos pais até os últimos acontecimentos. E então pega o carro e vai para longe, para um lugar deserto. Desliga o carro, liga a música, fuma, e tudo aquilo foi tão ANGUSTIANTE de se ver, independente do que eu tenha sentido pelo personagem ao longo dos capítulos (e eu senti muita raiva, asco, nojo)… aquilo me causou mal-estar e um pouco de culpa, porque não queria sofrer pelo Hector, mas acabei sofrendo. Acabei sentindo pena dele – ou melhor, de parte dele. Como eu disse no começo do texto, todo o trauma e o sofrimento de Hector não o inocentam, não o fazem deixar de ser o “desgraçado violento” que ele era, mas como seria se ele não tivesse esse trauma, se ele não tivesse um pai violento em casa? Ou se tivesse buscado ajuda depois das mortes? As coisas podiam ter sido diferentes, talvez…
Então, Hector joga gasolina no carro todo, acende o isqueiro e se mata…
Aquela explosão que vemos diariamente na abertura.
É a morte, o suicídio, de Hector.


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