Sítio do Picapau Amarelo (1978) – Memórias de Emília: Parte 5



“Nunca vi memórias tão embrulhadas!”
Desde o começo, sabíamos que as memórias da Emília, a Marquesa de Rabicó, não seriam convencionais… imaginativa e querendo aparecer, a bonequinha convencida deixa a imaginação fluir e mistura o que de fato aconteceu com coisas que aconteceram apenas em sua mente, e isso produz uma narrativa única, cheia de absurdos e diversão, do jeitinho que amamos na Emília! Nas suas palavras: “As minhas memórias são diferentes de todas as outras. Eu conto o que houve e o que devia haver”. Dona Benta protesta, diz que então sua obra é romance, fantasia, mas Emília a nomeia: MEMÓRIAS FANTÁSTICAS, e eu acho que é um excelente termo. E está sendo maravilhoso reviver aventuras, ouvir as conversas de Emília e Visconde sobre o Faz-de-Conta, o pirlimpimpim, as viagens que fizeram, as Mil e Uma Noites, o Pássaro Roca… mas Emília ainda não quer falar sobre os besouros.
Esse é um assunto proibido.
Mesmo que já tenha entendido que essa é a dinâmica da história da Emília, o Visconde volta e meia interrompe a escrita para protestar e dizer que “as coisas não aconteceram desse modo”. Emília está falando sobre como todo mundo está interessado no Anjinho, por exemplo, e Visconde diz que entende que seja natural que todos queiram explorá-lo no circo ou algo assim, mas isso não aconteceu de verdade… mas isso importa a uma altura dessas? Na história de Emília, o Anjinho está andando pelo Sítio, dizendo “saudade” para qualquer coisa, e presenteando as pessoas com frutas… ele dá um coco para a Tia Nastácia, um mamão para o Elias Turco e uma abóbora para a Narizinho. E quando o mamão do Elias cai no chão, ele vira um cavalo, magicamente. Mas assim que Emília conta sobre o cavalo, ela simplesmente muda de assunto, para os protestos do Visconde, porque quer saber o final da história:
“Já falei. Agora preciso falar de mim. Afinal, são as minhas memórias”
Pouco depois, no entanto, ela volta para o cavalo…
“Esse cavalo outra vez? Você não tinha desistido dele?”
A Emília de Reny de Oliveira, como comentei em outros textos, é APAIXONANTE, e ela nos entrega momentos divertidíssimos ao lado do Visconde nessa história… então, ela volta a contar a história dos presentes do Anjinho que viram animais. Enquanto Elias Turco e Garnizé brigam pelo cavalo, Tia Nastácia joga o seu coco no chão, e ele vira um cabrito… Narizinho, por sua vez, joga a sua abóbora e ela vira um coelho… e, agora, o ambicioso do Garnizé quer que o Anjinho lhe dê uma melancia, para também poder tirar algo “grande e valioso” de dentro dela, mas Emília tem uma ideia para acabar com toda essa ambição descabida. Para isso, no entanto, ela precisa caçar um saci. Ela está com a peneira e com a garrafa, e ela vai para a mata com o Tio Barnabé para caçar o saci, E CONSEGUE. Quer dizer, pelo menos na sua versão da história, ela consegue.
“Mas espera aí, Emília… segundo me consta, quem pegou o Saci foi o Pedrinho!”
“Outro saci pode ser, mas esse fui eu que peguei”
Emília até diz que o “seu” Saci tinha gorro amarelo, “porque ainda não estava maduro”, e o Visconde acaba deixando os protestos de lado e continuando a escrever as memórias cada vez mais malucas e inventadas da bonequinha de pano… Tia Nastácia quase desmaia com a notícia de que a Emília caçou um Saci (“Mas que boboca!”), e Narizinho corre para pedir ajuda à Dona Benta, mas a vovó também não fica muito feliz com toda essa história, embora logo depois apele para o seu recorrente ceticismo, dizendo que a garrafa está vazia… Emília explica, no entanto, que sacis ficam invisíveis dentro da garrafa, mas ele está ali dentro, e se ela a abrir, ele vai sair de lá… Emília, ambiciosa e arteira, está pensando nas mágicas que o Saci pode fazer, e quer tê-lo como escravo, por isso pretende soltá-lo e, então, roubar a sua carapuça para que ele tenha que obedecê-la.
Narizinho, no entanto, não acha uma boa ideia… melhor do que ter um escravo é ter um amigo, ela diz. “Mas e se ele não quiser ser meu amigo?” Emília tenta, então, conversar com a garrafa e fazer um acordo com o Saci dentro dela, dizendo que o solta se ele fizer um favorzinho para ela, e as crianças só conseguem quebrar a garrafa para liberar o Saci depois que a boneca promete que não vai tirar a sua carapuça. Então, quando o Saci aparece pela primeira vez nessa história, Emília faz o seu pedido: ELA QUER QUE O SACI CONSIGA UMA MELANCIA ESPECIAL PARA ELA. Então, Emília entrega a melancia para o Anjinho, para que ele “a dê de presente” para o Garnizé, já que ele não para de infernizar o Anjinho pedindo por uma… quando o Garnizé joga a melancia no chão para descobrir qual é a surpresa que ela traz dentro, A CUCA SAI LÁ DE DENTRO.
E é hilário!
Emília toda debochada, assiste comentando: “Como é possível?”
Amamos essa bonequinha arteira!
O Barão, eventualmente, desencana de caçar o “Pássaro Sagrado das Montanhas Nevadas”, porque o Visconde acaba contando para ele que, na verdade, o pássaro é um anjo, e o Barão de Münchhausen não tem interesse nenhum em caçá-lo: “Eu respeito muito essas coisas, eu seria incapaz de falar mal ao anjinho… eu pensei que fosse um pássaro”. Então, eles acabam se distraindo tentando caçar a Cuca (e o Tio Barnabé os leva até a porta da sua caverna), mas a Cuca não está, porque ela está lá na melancia que Emília armou para dar uma lição no Garnizé… depois de todas as confusões, o Barão decide partir do Sítio do Picapau Amarelo, através de um selo mágico, e aquela cena ficou tão linda! Me emocionei com a Emília contando sobre a partida, e eu achei INCRÍVEL essa ideia de selos de lugares diferentes, que crescem, você entra e depois voltam ao seu tamanho original.
Queria um selo desses!
Não dá para culpar a Emília por fazer drama para conseguir os selos de todo mundo!
Porque o Barão de Münchhausen vai embora, mas deixa um selo de presente para cada morador do Sítio do Picapau Amarelo, e a Emília acaba conseguindo todos eles, porque está triste por causa do Anjinho… depois de falar “saudade” mil vezes, o Anjinho planeja ir embora, e querendo mantê-lo ali no Sítio, a cruel bonequinha pede para que a Tia Nastácia corte a pontinha da sua asa, para que ele não voe para longe, mas Tia Nastácia não tem coragem de fazer isso com o pobre Anjinho… até hoje Emília está brava com ela por ter sido tão “boboca”, mas seria uma crueldade fazer isso com o Anjinho, que estava infeliz por ali e com saudade de casa… então, o Anjinho parte do Sítio do Picapau Amarelo, enquanto Emília chora e grita pelo “seu” anjinho, mas já é tarde demais… o Anjinho foi embora. E assim terminamos mais uma parte das Memórias.
Agora, Emília sai para passear no Quindim com as crianças e deixa o Visconde responsável por continuar a escrever…
Então, ele vai contar o que ela não quer contar…
A HISTÓRIA DO FAZ-DE-CONTA!


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