Sítio do Picapau Amarelo (1978) – Memórias de Emília: Parte Final
“Tudo aqui corre como um sonho…”
Chegou a hora
de encerrar as maravilhosas MEMÓRIAS DE EMÍLIA. Entre acontecimentos reais do
Sítio do Picapau Amarelo e uma série de lorotas inventadas pela Marquesa de
Rabicó, a bonequinha contou uma história fantástica
e empolgante, repleta de aventura, mas evitando assuntos polêmicos, como o aparecimento de seus dois besouros espiões…
assim, quando Emília deixa o Visconde
sozinho para escrever as suas memórias (?), porque quer ir passear no
Quindim com as crianças, o sabugo resolve que é hora de colocar um pouco de
verdade e informação nesse livro: “Ah, é
assim, não é? Pois então chegou a minha hora! Vou lhe pregar uma peça, senhora
Marquesa… ela não quis contar, mas eu conto: A HISTÓRIA DO FAZ-DE-CONTA”. A
última parte das “Memórias” contam sobre o Faz-de-Conta, sobre algumas
aventuras na Grécia, e terminam com uma das passagens mais emotivas do “Sítio”.
Sempre choro
quando assisto àquelas palavras finais!
Visconde
narra o que aconteceu com o Pequeno Polegar e com a Sininho, e como a Emília
inventou o Faz-de-Conta. Com a Dona Carochinha chegando ao Sítio, e o Pedrinho
e a Narizinho na janela, tomando conta, Emília é quem está responsável por
esconder os dois fujões… além da Dona Carochinha, a Cuca também está vindo, e
quando todos estão desesperados e parece não haver nenhuma chance de salvar o
Pequeno Polegar e a Sininho, a Emília usa o seu FAZ-DE-CONTA e transforma os
dois em besouros… então isso quer
dizer que os besouros que a Emília usa como espiões são, na verdade, o Pequeno
Polegar e a Sininho transformados com o Faz-de-Conta? Eu sei que eu fiquei em
choque! Naquele momento, no entanto, era o suficiente para se livrar da Dona
Carochinha, que fica em choque ao abrir o baú e não encontrar quem procura.
Tia Nastácia,
então, expulsa as bruxas a vassouradas…
Quando a
Emília retorna do passeio no Quindim, ela dá uma bronca no Visconde por ter
escrito uma história sem sua autorização, e então ela faz suas correções,
dizendo que aquela foi a vez em que “inventou pela primeira vez” o
Faz-de-Conta. Segundo sua alteração da história, não foram a Dona Carochinha e
a Cuca que apareceram no Sítio, apenas a Dona Carochinha, e depois não teve
nada de Tia Nastácia, mas o jabuti mensageiro do Reino das Águas Claras… e ela
não transformou o Pequeno Polegar e a Sininho em besouros, mas eu croquetes,
que ela envia no mesmo baú de volta para o Príncipe Escamado, e então ela os destransforma antes que um acidente
aconteça – “Já pensou se o Príncipe
Escamado resolve engolir os dois croquetes sem saber?” Visconde protesta
contra essa versão da história, dizendo que “é a maior lorota que já ouviu”,
mas Emília desconversa…
Quer seguir
adiante… agora, ela vai contar a história
do MINOTAURO. E então, a história segue. As crianças e a bonequinha
conversam com o Zé Carneiro sobre os selos que o Barão de Münchhausen deu de
presente a todos eles, planejando viagens pelo mundo todo, tipo à Antártida, e
a Dona Benta mostra para Tia Nastácia seu selo com uma paisagem da Grécia
Antiga, na Ilha de Creta. Dona Benta, sempre muito sábia e disposta a ensinar,
fala sobre as lendas e as histórias da Grécia Antiga, mas a Tia Nastácia fica morrendo de medo do tal do Minotauro, e
acaba escondendo o selo… mas mal sabe ela que a bonequinha de pano mais
enxerida do Sítio está de olho, e então ela corre para pegar o selo – afinal de
contas, ela quer todos os selos mágicos para ela! Então, Emília conta que ela,
Pedrinho, Narizinho e Dona Benta entraram
no selo para a Grécia.
Novamente,
Visconde interrompe, protestando, porque ela
o está excluindo – Emília diz que foi ele quem quis sair, mas Visconde diz
que ele se demitiu do cargo de secretário, mas seu lugar na história está
garantido: ele esteve em Creta e assistiu e participou de tudo, portanto a
Emília não tem o direito de omitir
esses fatos. Eventualmente, ele aceita voltar a escrever as memórias, dizendo
que só vai escrever a verdade… mas
Emília está cada vez mais longe disso, e está adorando levar vantagem por
coisas que outras pessoas fizeram… ela conta, orgulhosamente, sobre como a
ideia do novelo de linha para a Ariadne foi dela, e diz que foi ela quem pediu
que a Tia Nastácia enviasse um novelo de barbante (mas ela acabou enviando de
lã) pelo selo, mas toda vez que o Visconde a enche de perguntas sobre as suas mentiras, Emília desconversa.
Ela está absorta
demais em suas fantasias…
De qualquer
maneira, é ótimo revisitar essas histórias, e dá uma vontade tremenda de
assistir a “O Minotauro”,
especialmente porque eu acho que o visual
dessa história está incrível – a Reny de Oliveira estava linda como Emília em
seu vestido azul! Vemos trechos do Minotauro, ou do Teseu lutando contra o
monstro, com a ajuda do Pedrinho e da Emília (Emília diz que ele só venceu
graças a ela, porque “o Pedrinho e nada é a mesma coisa”), e vemos alguns
outros trechos das aventuras na Grécia Antiga, que é algo que o “Sítio do Picapau Amarelo” soube
explorar muito bem! Tudo nessa última parte acaba sendo muito rápido, mas é
muito gostoso ver pequenos trechos de outras aventuras que o “Sítio” tem a oferecer, e então Emília
decide encerrar suas memórias, quando o compadre Zé Bento aparece dizendo que
talvez possa publicá-las…
A felicidade
nos olhinhos da boneca, colocando todo mundo para fora.
Então, Emília
encerra suas memórias, falando sobre o Sítio, sobre ela, sobre as pessoas que
ama:
“Fazer livro? Publicá-las? Vou terminar num minuto!
Sai, Visconde, sai daí. […] Acabo de contar as folhas de papel já escritas e
vejo que são muitas. Vou parar. Este livro fica sendo o primeiro volume das
minhas Memórias. O segundo escreverei depois que ficar velha… antes de pingar o
ponto final, quero que saibam que é uma grande mentira dizerem que eu não tenho
coração. Tenho sim. Um lindo coração! Só que não é de banana… coisinha à toa
não me impressiona, mas ele dói quando vê uma injustiça… dói tanto que eu estou
convencida de que o maior mal neste mundo é a injustiça.
Tudo aqui corre como um sonho… a criançada só cuida de
duas coisas: brincar e aprender. Dona Benta e Tia Nastácia só cuidam de nos
ensinar o que sabem e de ver que tudo ande à hora e a tempo. A Vaca Mocha vive
bem quieta no seu pasto e na cocheira, onde nunca lhe faltam boas palhas de
milho. O Burro Falante está bem velho, coitado… está tão velho e filosófico que
só a Dona Benta o compreende bem. Conversam altas filosofias.
Dona Benta… como é maravilhosa! Só isso de me aturar,
quanto não vale? E como sabe coisas a diaba! O que eu mais gosto nela é seu
modo de ensinar… de explicar qualquer coisa. Tia Nastácia não sabe nada dos
livros, mas nas coisas práticas da vida é uma verdadeira sábia. Para um
tempero, um bolinho, um remendo no meu pé… lavar e passar, é uma danada! Eu
vivo lhe dizendo desaforos, mas não é de coração, não. Eu adoro ela!
Quero também muito bem à Narizinho. Brigamos muito. E
Pedrinho… um excelente menino! Muito sério, de muita palavra e bem valente! Um
menino que vale a pena… ah, o Visconde, o Zé Carneiro, o Tio Barnabé… queria
fazer um capítulo para cada um deles. Falar também das árvores que não falam,
que não saem do seu lugarzinho, não se intrometem na vida alheia, só tratam de
preparar as flores e as frutas de todos os anos. A que eu acho mais
interessante é a jabuticabeira… que festa aqui no Sítio quando as jabuticabas
pretejam!
Bem, vou acabar com essas Memórias. Já contei quase
tudo que sabia. Já disse várias asneiras, já dei minhas opiniões filosóficas
sobre o mundo e as minhas impressões sobre o pessoal aqui da casa. Resta agora
me despedir do respeitável público. Respeitável público, até logo! Disse que
escreveria minhas memórias, e escrevi. Se gostar, muito bem! Se não gostaram,
pirulas! Tenho dito”
E é UMA DAS
COISAS MAIS LINDAS do “Sítio do Picapau
Amarelo”. A emoção na voz de Reny de Oliveira, colocando sentimento em cada
palavra, enquanto faz essa verdadeira declaração às pessoas ao seu redor, a
todos que, muitas vezes, a Emília atormenta, mas apenas porque ela os ama… uma
bonequinha de pano travessa, cheia de histórias e, às vezes, desaforos, mas de
um coração bom e puro. Para mim, essa sequência final coroa “Memórias de Emília” como uma das
melhores histórias contadas no “Sítio do
Picapau Amarelo”. É uma história repleta de elementos de várias outras
histórias e, ainda assim, repleta de novidades, de diferentes cenários, de
diversão e, por fim, de emoção… não tem como não se emocionar com as lindas
palavras da bonequinha.
Essas
palavras tão sinceras e tão emotivas sempre me acertam em cheio… amo!
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