“Live life
at full brightness”
Eu tenho a
sensação de que não entendi o propósito
do filme, ou que ele foi superficial
demais… eu até gostaria de saber qual seria minha opinião em relação ao
filme se eu não tivesse lido o maravilhoso livro de Jennifer Niven no qual o
filme é baseado, e comumente eu não gosto de fazer uma reviews comparando livro e filme – no passado, eu já fiz muito
isso, mas acho que eu amadureci conseguindo separar diferentes mídias. Não vejo
problema algum nas imensas diferenças existentes entre os livros e os filmes de
“Maze Runner”, por exemplo, porque
acho que foram escolhas cinematograficamente inteligentes, mas eu não posso dizer o mesmo de “Por Lugares Incríveis” e, por isso, eu
não vou conseguir manter as obras separadas… acho que o filme peca em suas escolhas, o que acaba
deixando o filme raso demais ao falar
de assuntos sensíveis.
Faltou a
profundidade e a emoção que o livro trazia!
No início do
filme, eu ainda estava curioso para entender os rumos do roteiro, achando que
entendia qual era a escolha: manter o ponto de vista central na Violet e
surpreender com uma “reviravolta” no final, no melhor estilo
“A Culpa é das Estrelas”: você passa a
história toda esperando a morte de Hazel, e então as coisas mudam e acabamos
perdendo o Gus. E eu acho que, dentro do possível e do tempo disponível, o
filme conseguiu
mesmo explorar mais
da Violet, mas isso acabou deixando o Finch de lado… senti que o filme colocou
várias pistas que foram sacadas apenas por aqueles que leram o livro e,
consequentemente, já conheciam o Finch: os olhares perdidos, a cena da
banheira, algumas anotações nos post-its do quarto… no livro, temos a voz de
Finch se alternando com a voz de Violet, o que faz com que o conheçamos e
saibamos o que se passa em sua mente.
Violet tem
um trauma em seu passado: ela perdeu a irmã em um acidente de carro, e ela era
sua melhor amiga –
então, ela está meio
perdida agora. Ela não tem vontade de muita coisa, não entra em carros, mal
sai de casa, e no aniversário da irmã, ela está no parapeito da ponte onde
Eleanor morrera, e é lá que Finch a encontra no início do filme…
e ele a tira de lá. Aqui percebemos como
o foco
está nela, porque Finch não
estava naquele parapeito, não estava disposto
a fazer o mesmo que ela… Finch acaba se interessando no mistério da
“garota no parapeito”, e se aproxima dela graças a um trabalho de geografia que
pede que eles visitem lugares de Indiana para um projeto, e ele precisa
insistir um pouco para que ela queira fazer o trabalho, em primeiro lugar, e,
depois, para que aceite
fazer o trabalho
com ele… mas ele consegue.
O filme
mistura elementos do livro inteiro, fora de ordem e quase sem sentido, e eu não
me importaria, de modo geral. Percebi depressa que isso aconteceria, quando
Finch e Violet visitam juntos
a árvore
dos sapatos e é o conselheiro da escola quem lhe indica o grupo de apoio
“Vida É Vida”. Para mim, o problema foi que, ao fazer isso e misturar
elementos, o filme acabou se esquecendo de lugares e momentos importantes, como
a Torre Purina, ou mesmo as cenas em que Violet visita o quarto de Finch… o
roteiro do filme só começa a prestar atenção em Finch quando eles visitam o
“Buraco Azul”, o lago
sem fundo no
qual ela se preocupa com ele, por ficar tempo demais embaixo da água, e então
eles brigam e ele fala um pouco sobre ele, sobre os seus problemas… ali, eles
se conectam de uma forma mais intensa do que antes, porque é como
se se conhecessem de verdade.
Mas, como eu
disse, tudo é superficial. O ponto de vista central sendo o de Violet e a
omissão de momentos e lugares importantes acabam
não dando a Finch o background que ele precisava para fazer o que fez…
não sabíamos o que se passava em sua mente, a ideação suicida que
sempre esteve dentro dele, o trauma do
passarinho na infância, as anotações sobre métodos de suicídio, estatísticas e
suicídios famosos da história; também não vimos problemas sérios como a mãe
ausente (que não é por viagens; ela está em casa e, ainda assim, ausente, o que
é infinitamente pior), ou o pai que
é um
desgraçado e o agride duas vezes durante a história, ou mesmo os babacas da
escola, que se tornaram pessoas
muito
pontuais no filme, enquanto era uma escola inteira que o chamava de
“aberração” e o tratava como o estranho, o diferente, o excluído…
Tampouco
vemos o momento em que ele
realmente
tenta se matar, com os remédios, e acaba no hospital… porque aquele é o momento
em que percebemos, talvez, que Finch
realmente
podia fazer isso, mesmo que ele acabe tentando vomitar e correndo até o
hospital, pedindo que eles tirem os comprimidos dele. Isso mostra uma certa
consciência que é parte da personalidade
dicotômica de Finch: às vezes ele está muito bem, às vezes a sua saúde mental e
os problemas externos
acabam com ele.
E, de modo geral, estar com Violet lhe faz bem:
ele quer estar desperto, por ela. Ele quer poder ajudá-la, porque isso
faz com que, de certa maneira, ele se sinta importante, se sinta útil… é só
depois dessa tentativa de suicídio que ele vai ao grupo de apoio, por escolha
própria, e encontra Amanda lá. Faltou tudo para ser mais humano e sensível.
Faltou uma
preocupação de Violet porque
ela era a
única pessoa que o conhecia de fato. No filme, podemos pensar que os dois
brigaram porque
ele desapareceu, ou
que foi isso que levou Finch a se matar, mas não é bem assim. Uma briga com a
Violet, por um motivo
completamente
diferente, é o estopim que o leva a fazê-lo, mas amando Violet em cada
segundo, deixando toda uma trilha para ela seguir antes e depois da sua morte,
até um presente final. Enquanto a família e os
amigos não se importavam com ele e tratavam seus sumiços como
“normais”, dizendo que
“O Finch é assim
mesmo”, Violet passou meses ao seu lado e o conheceu melhor do que ninguém,
para saber que
eles precisavam se
preocupar… eles precisavam fazer alguma coisa para ajudá-lo, para salvá-lo.
É muito diferente do desespero de Violet porque ele sumiu, ou porque “ela o
pressionou”.
É muita
coisa que simplesmente foi ignorada, e o roteiro então parece apressado para
colocar umas coisas enquanto omitiu outras, e tudo, para mim, pareceu uma grande
salada. Não vi a evolução de Violet como vi no livro, não vi a conexão deles
tão intensa e real como vi no livro, e não são tão
íntimas as coisas que levam Violet a saber
exatamente onde Finch está quando ele envia as mensagens de
despedida… para mim, a morte/suicídio de Finch, no filme, pareceu avulsa,
forçada, sem a devida preparação que nos mostrava que
era inevitável que isso acontecesse. Achei o filme muito falho ao
retratar um assunto tão importante, enquanto Jennifer Niven faz isso
tão bem em seu livro, o que é bem
triste. Nem mesmo as andanças pareceram
tão
importantes, portanto não houve a
emoção
das cinco andanças restantes no final…
Sei lá,
achei fraquíssimo. Acho que deixou a desejar.
Acho que não é útil, informativo e comovedor
como o livro.
Aconselho a
leitura do livro. O filme… estou deixando para lá.
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