Por Lugares Incríveis (All the Bright Places, 2020)

“Live life at full brightness”

Eu tenho a sensação de que não entendi o propósito do filme, ou que ele foi superficial demais… eu até gostaria de saber qual seria minha opinião em relação ao filme se eu não tivesse lido o maravilhoso livro de Jennifer Niven no qual o filme é baseado, e comumente eu não gosto de fazer uma reviews comparando livro e filme – no passado, eu já fiz muito isso, mas acho que eu amadureci conseguindo separar diferentes mídias. Não vejo problema algum nas imensas diferenças existentes entre os livros e os filmes de “Maze Runner”, por exemplo, porque acho que foram escolhas cinematograficamente inteligentes, mas eu não posso dizer o mesmo de “Por Lugares Incríveis” e, por isso, eu não vou conseguir manter as obras separadas… acho que o filme peca em suas escolhas, o que acaba deixando o filme raso demais ao falar de assuntos sensíveis.

Faltou a profundidade e a emoção que o livro trazia!

No início do filme, eu ainda estava curioso para entender os rumos do roteiro, achando que entendia qual era a escolha: manter o ponto de vista central na Violet e surpreender com uma “reviravolta” no final, no melhor estilo “A Culpa é das Estrelas”: você passa a história toda esperando a morte de Hazel, e então as coisas mudam e acabamos perdendo o Gus. E eu acho que, dentro do possível e do tempo disponível, o filme conseguiu mesmo explorar mais da Violet, mas isso acabou deixando o Finch de lado… senti que o filme colocou várias pistas que foram sacadas apenas por aqueles que leram o livro e, consequentemente, já conheciam o Finch: os olhares perdidos, a cena da banheira, algumas anotações nos post-its do quarto… no livro, temos a voz de Finch se alternando com a voz de Violet, o que faz com que o conheçamos e saibamos o que se passa em sua mente.

Violet tem um trauma em seu passado: ela perdeu a irmã em um acidente de carro, e ela era sua melhor amiga – então, ela está meio perdida agora. Ela não tem vontade de muita coisa, não entra em carros, mal sai de casa, e no aniversário da irmã, ela está no parapeito da ponte onde Eleanor morrera, e é lá que Finch a encontra no início do filme… e ele a tira de lá. Aqui percebemos como o foco está nela, porque Finch não estava naquele parapeito, não estava disposto a fazer o mesmo que ela… Finch acaba se interessando no mistério da “garota no parapeito”, e se aproxima dela graças a um trabalho de geografia que pede que eles visitem lugares de Indiana para um projeto, e ele precisa insistir um pouco para que ela queira fazer o trabalho, em primeiro lugar, e, depois, para que aceite fazer o trabalho com ele… mas ele consegue.

O filme mistura elementos do livro inteiro, fora de ordem e quase sem sentido, e eu não me importaria, de modo geral. Percebi depressa que isso aconteceria, quando Finch e Violet visitam juntos a árvore dos sapatos e é o conselheiro da escola quem lhe indica o grupo de apoio “Vida É Vida”. Para mim, o problema foi que, ao fazer isso e misturar elementos, o filme acabou se esquecendo de lugares e momentos importantes, como a Torre Purina, ou mesmo as cenas em que Violet visita o quarto de Finch… o roteiro do filme só começa a prestar atenção em Finch quando eles visitam o “Buraco Azul”, o lago sem fundo no qual ela se preocupa com ele, por ficar tempo demais embaixo da água, e então eles brigam e ele fala um pouco sobre ele, sobre os seus problemas… ali, eles se conectam de uma forma mais intensa do que antes, porque é como se se conhecessem de verdade.

Mas, como eu disse, tudo é superficial. O ponto de vista central sendo o de Violet e a omissão de momentos e lugares importantes acabam não dando a Finch o background que ele precisava para fazer o que fez… não sabíamos o que se passava em sua mente, a ideação suicida que sempre esteve dentro dele, o trauma do passarinho na infância, as anotações sobre métodos de suicídio, estatísticas e suicídios famosos da história; também não vimos problemas sérios como a mãe ausente (que não é por viagens; ela está em casa e, ainda assim, ausente, o que é infinitamente pior), ou o pai que é um desgraçado e o agride duas vezes durante a história, ou mesmo os babacas da escola, que se tornaram pessoas muito pontuais no filme, enquanto era uma escola inteira que o chamava de “aberração” e o tratava como o estranho, o diferente, o excluído…

Tampouco vemos o momento em que ele realmente tenta se matar, com os remédios, e acaba no hospital… porque aquele é o momento em que percebemos, talvez, que Finch realmente podia fazer isso, mesmo que ele acabe tentando vomitar e correndo até o hospital, pedindo que eles tirem os comprimidos dele. Isso mostra uma certa consciência que é parte da personalidade dicotômica de Finch: às vezes ele está muito bem, às vezes a sua saúde mental e os problemas externos acabam com ele. E, de modo geral, estar com Violet lhe faz bem: ele quer estar desperto, por ela. Ele quer poder ajudá-la, porque isso faz com que, de certa maneira, ele se sinta importante, se sinta útil… é só depois dessa tentativa de suicídio que ele vai ao grupo de apoio, por escolha própria, e encontra Amanda lá. Faltou tudo para ser mais humano e sensível.

Faltou uma preocupação de Violet porque ela era a única pessoa que o conhecia de fato. No filme, podemos pensar que os dois brigaram porque ele desapareceu, ou que foi isso que levou Finch a se matar, mas não é bem assim. Uma briga com a Violet, por um motivo completamente diferente, é o estopim que o leva a fazê-lo, mas amando Violet em cada segundo, deixando toda uma trilha para ela seguir antes e depois da sua morte, até um presente final. Enquanto a família e os amigos não se importavam com ele e tratavam seus sumiços como “normais”, dizendo que “O Finch é assim mesmo”, Violet passou meses ao seu lado e o conheceu melhor do que ninguém, para saber que eles precisavam se preocupar… eles precisavam fazer alguma coisa para ajudá-lo, para salvá-lo. É muito diferente do desespero de Violet porque ele sumiu, ou porque “ela o pressionou”.

É muita coisa que simplesmente foi ignorada, e o roteiro então parece apressado para colocar umas coisas enquanto omitiu outras, e tudo, para mim, pareceu uma grande salada. Não vi a evolução de Violet como vi no livro, não vi a conexão deles tão intensa e real como vi no livro, e não são tão íntimas as coisas que levam Violet a saber exatamente onde Finch está quando ele envia as mensagens de despedida… para mim, a morte/suicídio de Finch, no filme, pareceu avulsa, forçada, sem a devida preparação que nos mostrava que era inevitável que isso acontecesse. Achei o filme muito falho ao retratar um assunto tão importante, enquanto Jennifer Niven faz isso tão bem em seu livro, o que é bem triste. Nem mesmo as andanças pareceram tão importantes, portanto não houve a emoção das cinco andanças restantes no final…

Sei lá, achei fraquíssimo. Acho que deixou a desejar.

Acho que não é útil, informativo e comovedor como o livro.

Aconselho a leitura do livro. O filme… estou deixando para lá.

 

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